[Publicado em: ZEQUINI, Anicleide. Francisco Emydio da Fonseca Pacheco: O Totô Fonseca. Itu Presença Ilustres. Academia Ituana de Letras. Itu,SP, vol. 4, p. 59-63, 2017. Edição Comemorativa Jubileu de Prata]
Francisco Emygdio da Fonseca Pacheco formou-se Bacharel pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco de São Paulo em 1851. Filho de Joaquim Manuel da Fonseca Pacheco e D. Ignacia Joaquina de Almeida, proprietários de inúmeros bens, entre eles o Engenho de açúcar do Pirapintingui.
Em dezembro de 1860 casou-se em Itu, no oratório particular de D. Leonor Garcia de Vasconcellos, com D. Anna de Almeida Prado Vasconcellos, irmã de Carlos e José Vasconcellos de Almeida Prado, republicanos e Convencionais de 1873.
Emygdio da Fonseca iniciou sua carreira política em 1857, quando foi eleito pela primeira vez Deputado Provincial, fazendo parte da comissão de orçamento e contas das Câmaras Municipais, num momento em que as Câmaras Municipais não tinham autonomia para decisões orçamentárias, tendo que levar os projetos para serem discutidos e avaliados pela Assembleia Legislativa Provincial. Entre os anos de 1854 a 1861, sucessivamente foi eleito Deputado e, em 1897, ocupou o cargo no Senado de São Paulo.
Participou também, de vários empreendimentos como acionista e membro da Direção da Cia de Estradas de Ferro Ytuana tendo, por conta de sua atuação, recebido em 1877, data da inauguração do ramal até Piracicaba, dos empregados daquela companhia, um retrato a óleo e uma “riquíssima escrivaninha de prata”, vinda especialmente da corte do Rio de Janeiro (Correio paulistano, 22/02/2877, p. 02). A sua ligação com os trabalhos desta estrada de ferro, o motivou em 1888 a solicitar a Assembleia Provincial autorização para a construção de uma nova ferrovia, ligando as localidades de Itupeva até Santos. Embora tenha recebido a devida autorização, esta estrada de ferro não foi construída.
Também atuou na área industrial. Em 1886, se associou com o Tenente Coronel Luiz Antonio de Anhaia, um dos fundadores da Fabrica de Tecidos São Luiz em Itu e com o seu filho o engenheiro Luiz Anhaia Mello, na fundação da fábrica de tecidos Anhaia & Companhia na cidade de São Paulo.
Como fazendeiro de café, adquiriu em 1868 a Fazenda Floresta de Itu, cuja propriedade se destacou no ano de 1888, como uma das mais importantes produtoras de café da província de São Paulo. Em 1901, possuía trezentos mil pés do fruto. Em 1908, já falecido Francisco Emygdio da Fonseca, a Fazenda Floresta foi pioneira em receber 170 imigrantes japoneses do navio Kasato Maru, primeiro projeto instituído pelo Estado de São Paulo para a introdução de imigrantes japoneses.
Em Itu, o Dr. Fonseca se destacará como um dos mais importantes “chefes político” do grupo republicano Maragato até a seu falecimento em 1901. Sua atuação com o movimento político local se iniciou como membro da primeira Diretoria do clube republicano de Itu fundado nas dependências da casa dos Almeida Prado, em 1871, que tinha como presidente João Tibiriçá Piratininga, o mesmo que em 1873 viria a presidir a “Convenção de Itu”. O ituano Dr. Fonseca participou desta Convenção, que reuniu 133 representantes dos clubes republicanos da província de São Paulo, dando as bases e direcionamento para a formação do Partido Republicano Paulista.
No ano seguinte, com o inicio da organização da sociedade para a criação do Jornal A Província de São Paulo, primeiro veiculo da propaganda republicana, o Dr. Fonseca fez severas criticas ao mesmo por ter admitido entre os seus associados membros do Partido Liberal e, assim, dizia ele em correspondência enviada a Américo Brasiliense em 17 de outubro de 1874, não iria contribuir com sua fundação, pois o jornal não tinha “cor política”, ou seja: não estava composto apenas por republicanos. (Aranha, José Mariano de Camargo. A Fundação da Província de São Paulo. Revista do Arquivo Municipal, XXXI, Departamento de Cultura, São Paulo, 1936. pp. 42-43).
Mas, a sua atuação política ficou marcada na historia da cidade após a proclamação da Republica, quando o Partido Republicano Paulista passou a sofre algumas fragmentações. Em Itu, se formou dois grupos politicamente opostos, mas que se identificavam como representativos do movimento republicano local. Estes dois grupos passaram para a História política de Itu como os Jagunços, liderados pelo médico Cesário Gabriel de Freitas e a dos Maragatos, liderados pelo Dr. Francisco Emygdio da Fonseca Pacheco.
As questões políticas ficaram afloradas em 1891. Itu como em outras localidades do Estado de São Paulo deram-se conflitos por vezes armados que tiveram a finalidade destituir todas as intendências que haviam sido nomeadas pelo então governador de São Paulo Américo Brasiliense este, nomeado por Deodoro da Fonseca. Em Itu, a liderança do movimento ficou a cargo do Dr. Fonseca e dos fonsequistas, como passaram a serem também conhecidos aqueles pertencentes ao seu grupo político. Assim, em dezembro de 1891, um grupo de moradores da cidade e outros do bairro do Pedregulho, região onde estava concentrada os maiores produtores rurais da cidade, bem como, a Fazenda Floresta de sua propriedade, armados apossaram-se da casa da intendência, hasteando no edifício a bandeira Nacional e destituindo o governo local (Estado de São Paulo, em 19 de dezembro de 1891).
O que se iniciou em 1891, prolongou-se até o ano de 1901. Assim, em 1898 Dr. Fonseca, contrata o maestro João Narciso do Amaral para organizar a Banda de Musica 13 de março, do partido Maragato. Neste mesmo ano, seu grupo disputou as eleições locais em oposição ao então Diretório Republicano que se considerava o verdadeiro e legítimo formado por outro agrupamento político, o dos jagunços.Nesta eleição, os candidatos de Francisco Emydio da Fonseca, obtiveram a maioria dos votos, fato que levou o seu filho, Godofredo da Fonseca a se destacar como o mais votado para o cargo de vereador. Ficando desta forma, oficializada a divisão política da cidade.
Esta divisão, não ficou restrita apenas aos resultados eleitorais, mas ganharam as Ruas com conflitos armados, configurando assim uma divisão espacial, social e cultural entre os moradores, baseada na disputa política pelo poder local. O Dr. Fonseca pertencia ao chamado grupo de baixo ou maragatos, compostos por moradores das adjacências de sua residência, adquirida da viúva do Barão de Itu e localizada num dos sobrados da Rua Direita.
Os ânimos se exaltaram após o ano de 1898, após um outro conflito ocorrido na Casa do português Antonio Marinho e, em 1899, com o assassinato de João Fogaça de Souza Freitas, irmão do Chefe Jagunço Cesário Gabriel de Freitas. Por conta destas disputas, em 1899 a cidade passou a contar com dois clubes que se transformaram em sedes políticas sendo as dos Maragatos o Clube Recreio Ituano e a dos Jagunços o Clube da Lavoura e Comercio fundado em 1899. Também, havia duas Bandas de Musica, a 13 de Março e a 30 de Outubro, fundada em 8 de janeiro de 1899, que tinha como Maestro José Victorio de Quadros. Mas em janeiro de 1900, o conflito entre os grupos políticos resultou em algumas mortes e feridos, quando a Banda 13 de Março e seu Maestro João Narciso do Amaral estavam se apresentando no coreto do largo da Matriz.
Em 1901, os Maragatos e o Dr. Fonseca, embora já debilitado e destituído da política local, ainda representava uma força política importante, na pessoa de seu sobrinho Dr. Edmundo da Fonseca, que fazia oposição ao Governo de Rodrigues Alves, governador do Estado de São Paulo. O fato é que, em 20 de novembro de 1901, a casa do administrador de sua Fazenda Floresta Sr. Jesuino Martins de Mello, a casa de máquinas e a casa de ensaio de uma banda de musica foram vistoriadas pela policia do Estado de São Paulo, a procura de armamentos, mas nada encontraram. Em 03 de dezembro de 1901, falece em São Paulo e seu sepultamento se deu no Cemitério do Araçá, daquela mesma cidade.
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