Considero que Indaiatuba carece de registros
de sua História, mesmo com algumas pessoas (poucas) gostando e estudando o
assunto, sempre ávidos por “novidades do passado”e com pouquíssimas que pesquisam, escrevem e divulgam sobre isso.
Uma das obras que diminui essa ânsia pela busca de
nossa história, memória e identidade é o livro escrito por Elzira Ferrarezi Carotti publicado pela
Fundação Pró-Memória de Indaiatuba chamado “Elzira... Na Ribalta da Vida”.
A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA
Memória
não é História.
A História como ciência, possui métodos de análise
específicos, que busca em fontes diversas o material para ser estudado,
analisado, contextualizado, publicado e novamente re-estudado, formando um
ciclo de produção científica que não termina nunca com verdades absolutas, mas
sim, em um esforço de narrativas com maior objetividade e representatividade
possível.
Nessa perspectiva, a memória é uma das diversas
fontes que o historiador utiliza para alimentar esse ciclo de produção do
conhecimento; e em Indaiatuba temos a prazerosa fonte produzida por Dona
Elzira, com suas memórias que testemunham, acima de tudo, sua vida como
artista.
E através de suas memórias pessoais, o
funcionamento das relações de nossa Indaiatuba se desvenda, expondo a
identidade social, econômica, religiosa, artística e de outras esferas,
principalmente do trabalho.
LEMBRANÇAS E IDENTIDADE SOCIAL
Entre
outras memórias, Elzira conta que, ainda menina, trabalhou em uma Olaria
produzindo tijolos e, mais tarde “quando completou 10 anos” foi trabalhar como
cozinheira da família Sannazzaro, período em que ia buscar água nas torneiras
públicas de Indaiatuba, tanto para a família que a empregava, como para sua
própria casa, quando terminava sua jornada. Fazia os afazeres sempre cantando,
talento que era admirado por todos. “A música e o canto sempre foram as
maiores motivações da minha vida”.
Pobre e sem condições de ter uma boa roupa, certa vez Elzira foi convidada pela professora do Grupo Escolar que frequentava a cantar em um dia de festa. Só que com uma condição: ela ficaria escondida atrás do palco, e uma menina com condições financeiras para apresentar-se “adequadamente” a dublaria, dançando suavemente com seu lindo vestido rodado. Essa memória acompanhou Elzira por toda sua vida, e foi uma das poucas que ela levou da escola, uma vez que saiu do Grupo assim que aprendeu a ler, ao terminar o primeiro ano, exclusivamente para continuar na rotina de seu trabalho infantil.
Pobre e sem condições de ter uma boa roupa, certa vez Elzira foi convidada pela professora do Grupo Escolar que frequentava a cantar em um dia de festa. Só que com uma condição: ela ficaria escondida atrás do palco, e uma menina com condições financeiras para apresentar-se “adequadamente” a dublaria, dançando suavemente com seu lindo vestido rodado. Essa memória acompanhou Elzira por toda sua vida, e foi uma das poucas que ela levou da escola, uma vez que saiu do Grupo assim que aprendeu a ler, ao terminar o primeiro ano, exclusivamente para continuar na rotina de seu trabalho infantil.
Além da pobreza extrema, Elzira narra uma meninice
com doenças, típicas de uma época em que não tínhamos acesso rápido à remédios
contra infecções e inflamações típicas da infância e que levavam muitas
crianças à óbito.
Após chegar em casa da rotina como empregada
doméstica na residência dos Sannazzaro, Elzira e a irmã tinham, ainda, que
passar a roupa de muitas famílias, roupa essa que a mãe pegava para lavar na
lavanderia pública do Córrego do Belchior (ou Córrego Municipal), onde o Major
Alfredo Camargo Fonseca havia construído um puxadão para proteger as
mulheres do sol e da chuva.
Nos dias de folga, Elzira ou um de seus irmãos
(seus pais tiveram doze filhos e três das meninas faleceram pequenininhas, com
pneumonia) tinham mais tarefas domésticas: ajudar a mãe e levar a marmita do
pai na Olaria que ele empreitava. Com 15 anos, Elzira mudou-se para uma casa em
Itu, onde exercia a função de babá, rotina que lhe tomava todo o tempo e
possibilitava que visitasse a família apenas quinzenalmente.
Cantar
no coral da matriz foi uma das maiores alegrias de Elzira, que nasceu em 08 de
março de 1920 e passou a vida cantando, com a ilusão de que sua vida era uma ribalta, até quanto faleceu em 15 de outubro de 2008.
POR ELVIRA E PELAS MÚLTIPLAS INTELIGENCIAS
No dia 2 de maio de 2016, foi publicada uma lei que inclui as artes visuais, a dança, a música e o teatro obrigatoriamente nos currículos dos diversos níveis da educação básica. A nova estabelece o prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino promovam a formação de professores para implantar esses componentes curriculares no ensino infantil, fundamental e médio.
Em homenagem póstuma à menina que Elvira foi um dia e por tantas outras crianças, que nunca percamos a esperança de viabilizar as diferentes formas em que a inteligência se manifesta em cada pessoa.
PARA QUEM AINDA NÃO CONHECE
Elzira...
Na Ribalta da Vida
Edição:
Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
Data de
publicação: 2002
Autor: Elzira Ferrarezzi Carotti
Relata a história de sua família, desde a chegada
de seus pais vindos da Itália, e suas memórias pessoais.
Formato: 21.5 x15,5cm - Páginas: 129
HOMENAGEM PÓSTUMA
Em 01/04/2016 foi publicada na Imprensa Oficial do
Município a LEI N° 6.551 DE 31 DE MARÇO DE 2016, de autoria
do vereador Carlos Alberto Rezende Lopes que denominada "Elzira
Ferrarezi Carotti", a Rua Projetada 08 do loteamento "Vila
Verde".
Da esquerda para direita: Felício, Miguel Carotti, Archimedes Prandini, Octacíllio Groff, Francisco Borghezani, Arthur Soares Siqueira, Moacyr Ghimarães, Moacir Martins (garoto), Fortunato José Deltreggia, Elzira Ferrarezzi, Geraldo Minioli, Glória Ferrarezzi, Geny Ferrarezzi, Walfrido Miguel Carotti.
A Elzira com bebe no colo; sentados - os bonecos do Sr. Archimedes ''Juca e Tião''.
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