quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

ELZIRA, ARTISTA E MEMORIALISTA

Considero que Indaiatuba carece de registros de sua História, mesmo com algumas pessoas (poucas) gostando e estudando o assunto, sempre ávidos por “novidades do passado”e com pouquíssimas que pesquisam, escrevem e divulgam sobre isso.

Uma das obras que diminui essa ânsia pela busca de nossa história, memória e identidade é o livro escrito por Elzira Ferrarezi Carotti publicado pela Fundação Pró-Memória de Indaiatuba chamado “Elzira... Na Ribalta da Vida”.

A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA


Memória não é História.

A História como ciência, possui métodos de análise específicos, que busca em fontes diversas o material para ser estudado, analisado, contextualizado, publicado e novamente re-estudado, formando um ciclo de produção científica que não termina nunca com verdades absolutas, mas sim, em um esforço de narrativas com maior objetividade e representatividade possível.

Nessa perspectiva, a memória é uma das diversas fontes que o historiador utiliza para alimentar esse ciclo de produção do conhecimento; e em Indaiatuba temos a prazerosa fonte produzida por Dona Elzira, com suas memórias que testemunham, acima de tudo, sua vida como artista.

E através de suas memórias pessoais, o funcionamento das relações de nossa Indaiatuba se desvenda, expondo a identidade social, econômica, religiosa, artística e de outras esferas, principalmente do trabalho.

LEMBRANÇAS E IDENTIDADE SOCIAL


Entre outras memórias, Elzira conta que, ainda menina, trabalhou em uma Olaria produzindo tijolos e, mais tarde “quando completou 10 anos” foi trabalhar como cozinheira da família Sannazzaro, período em que ia buscar água nas torneiras públicas de Indaiatuba, tanto para a família que a empregava, como para sua própria casa, quando terminava sua jornada. Fazia os afazeres sempre cantando, talento que era admirado por todos. “A música e o canto sempre foram as maiores motivações da minha vida”

Pobre e sem condições de ter uma boa roupa, certa vez Elzira foi convidada pela professora do Grupo Escolar que frequentava a cantar em um dia de festa. Só que com uma condição: ela ficaria escondida atrás do palco, e uma menina com condições financeiras para apresentar-se “adequadamente” a dublaria, dançando suavemente com seu lindo vestido rodado. Essa memória acompanhou Elzira por toda sua vida, e foi uma das poucas que ela levou da escola, uma vez que saiu do Grupo assim que aprendeu a ler, ao terminar o primeiro ano, exclusivamente para continuar na rotina de seu trabalho infantil.

Além da pobreza extrema, Elzira narra uma meninice com doenças, típicas de uma época em que não tínhamos acesso rápido à remédios contra infecções e inflamações típicas da infância e que levavam muitas crianças à óbito.

Após chegar em casa da rotina como empregada doméstica na residência dos Sannazzaro, Elzira e a irmã tinham, ainda, que passar a roupa de muitas famílias, roupa essa que a mãe pegava para lavar na lavanderia pública do Córrego do Belchior (ou Córrego Municipal), onde o Major Alfredo Camargo Fonseca havia construído um puxadão para proteger as mulheres do sol e da chuva.

Nos dias de folga, Elzira ou um de seus irmãos (seus pais tiveram doze filhos e três das meninas faleceram pequenininhas, com pneumonia) tinham mais tarefas domésticas: ajudar a mãe e levar a marmita do pai na Olaria que ele empreitava. Com 15 anos, Elzira mudou-se para uma casa em Itu, onde exercia a função de babá, rotina que lhe tomava todo o tempo e possibilitava que visitasse a família apenas quinzenalmente.

Cantar no coral da matriz foi uma das maiores alegrias de Elzira, que nasceu em 08 de março de 1920 e passou a vida cantando, com a ilusão de que sua vida era uma ribalta, até quanto faleceu em 15 de outubro de 2008.


POR ELVIRA E PELAS MÚLTIPLAS INTELIGENCIAS

No dia 2 de maio de 2016, foi publicada uma lei que inclui as artes visuais, a dança, a música e o teatro obrigatoriamente nos currículos dos diversos níveis da educação básica. A nova estabelece o prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino promovam a formação de professores para implantar esses componentes curriculares no ensino infantil, fundamental e médio.

Em homenagem póstuma à menina que Elvira foi um dia e por tantas outras crianças, que nunca percamos a esperança de viabilizar as diferentes formas em que a inteligência se manifesta em cada pessoa.



PARA QUEM AINDA NÃO CONHECE

Elzira... Na Ribalta da Vida
Edição: Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
Data de publicação: 2002
Autor: Elzira Ferrarezzi Carotti
Relata a história de sua família, desde a chegada de seus pais vindos da Itália, e suas memórias pessoais.
Formato: 21.5 x15,5cm - Páginas: 129


HOMENAGEM PÓSTUMA

Em 01/04/2016 foi publicada na Imprensa Oficial do Município a LEI N° 6.551 DE 31 DE MARÇO DE 2016, de autoria do vereador Carlos Alberto Rezende Lopes que denominada "Elzira Ferrarezi Carotti", a Rua Projetada 08 do loteamento "Vila Verde".


Da esquerda para direita: Felício, Miguel Carotti, Archimedes Prandini, Octacíllio Groff, Francisco Borghezani, Arthur Soares Siqueira, Moacyr Ghimarães, Moacir Martins (garoto), Fortunato José Deltreggia, Elzira Ferrarezzi, Geraldo Minioli, Glória Ferrarezzi, Geny Ferrarezzi, Walfrido Miguel Carotti.
A Elzira com bebe no colo; sentados - os bonecos do Sr. Archimedes ''Juca e Tião''.




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