segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Il Tragico Naufragio Della Nave Sirio

A música "Il tragico naufragio della nave sirio" foi composta em alusão ao naufrágio do navio que vitimou Dom José de Camargo Barros (leia abaixo).

Com sugestão de Eduardo Mano, publico a letra da melodia, que você pode ouvir aqui:


E da Genova 
In Sirio partivano 
Per l'America varcare 
Varcare i confin

Ed a bordo 
Cantar si sentivano 
Tutti allegri 
Del suo destin

Urtò il Sirio 
Un orribile scoglio 
Di tanta gente 
La misera fin

Padri e madri 
Bracciava i suoi figli 
Che si sparivano 
Tra le onde del mar

E fra loro 
Un vescovo c'era 
Dando a tutti 
La sua benedizion

Em 4 de agosto de 1906, um navio de passageiros, o Sírio, naufragou nas costas da Espanha, próximo às Ilhas Formiga, junto ao Cabo Palos, em viagem regular na linha de Gênova (de onde saíra dois dias antes) para o Brasil e países da Bacia do Prata. Eram 16 horas, e o capitão José Piconne (de 68 anos e 46 de experiência na profissão) estava descansando, ficando o comando da embarcação sob a responsabilidade do terceiro oficial, quando se ouviu um ruído ensurdecedor e um grande impacto fez o navio inteiro sacudir. O comandante, além de não controlar o pânico resultante, foi um dos primeiros a abandonar o navio.

Construído em 1883 em Glasgow, na Escócia, o Sírio era um moderno transatlântico na época, com 129 metros de comprimento e 4.141 toneladas, com motor de 5.323 cavalos-vapor, tendo feito sua primeira viagem em 15/6/1883. A embarcação transportava cerca de 1.700 passageiros (embora só pudesse levar 1.300, e 127 tripulantes), entre eles cerca de 700 imigrantes italianos, dos quais 300 morreram no ato e 200 ficaram desaparecidos. Os que conseguiram se salvar, perdendo todos os seus pertences, foram abrigados pelas populações do Cabo Palos, de Cartagena e de Alicante.

A embarcação espanhola Jovem Miguel recolheu cerca de 300 náufragos, mas foi obrigada a se afastar, deixando ainda centenas de pessoas no mar, já que a explosão das caldeiras do Sírio e seu rápido afundamento colocaram essa embarcação em perigo. Já o navio francês Marie Louise, mais distante, ao chegar ao local da tragédia só encontrou destroços.

O comandante do Sírio foi preso em Cartagena, como culpado pelo sinistro, pois costumava aumentar seus rendimentos embarcando clandestinos no litoral espanhol e teria para isso se aproximado demais dos arrecifes. Além disso, como havia uma espécie de competição entre os navios quando à rapidez nas viagens, o Sírio viajava em velocidade elevada (17 nós, ou 31,5 km/h), incompatível com o local (o Bajo de Fuera, que se transformaria num cemitério de embarcações) e mais perto da costa do que deveria. O naufrágio foi presenciado por outros navios mercantes, por ser região de intenso tráfego marítimo.

Entre os passageiros, estavam também inúmeras autoridades religiosas que voltavam de Roma. Assim, morreu nessa tragédia o monsenhor José Camargo de Barros, bispo de São Paulo, com 48 anos de idade, além do prior da Ordem dos Beneditinos de Londres, oito missionários que vinham para o Brasil, salvando-se entretanto o arcebispo do Pará, Homem de Melo.

Testemunhas afirmam que dom José Camargo de Barros morreu devido à agressão de um tripulante que lhe tirou o salva-vidas, quando ele abençoava aqueles que iam se atirando nas águas. Também morreu o cônsul da Áustria no Rio de Janeiro, Leopoldo Poltzer.

Esse naufrágio ficou marcado profundamente na memória da colônia italiana no Brasil, que - três gerações depois - ainda canta, com muita tristeza: "Sírio, Sírio, la misera squadra; per molta gente la misera fin...". Nessas famílias, há um dito ritmado, transmitido de pai para filho: "quem não souber por quem rezar, reze por aqueles que estão no mar".

Cerca de um ano após essa tragédia, Benedito Calixto produziu em 1907 este óleo sobre tela, com 160 x 222 cm, denominado Naufrágio do Sírio, e que é preservado no acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo, na capital paulista:


Imagem in CD-ROM Benedito Calixto - 150 anos,
editado em 2003 pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Santos/SP

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