terça-feira, 15 de novembro de 2022

Há sentido na comemoração dos 133 anos da Proclamação da República Brasileira?

DANIEL BELO 

Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 - Edição 36 de 11 de novembro de 2022

Antes de saber se há sentido comemorar ou não, é preciso saber do que estamos falando. Para a Ciência Política, definições e explicações bem fundamentadas são essenciais. Um bom começo para o entendimento, que na maioria das vezes não chega nem perto de ser suficiente, é observarmos a origem das palavras: “Res publica”: em latim, língua principal falada pelos romanos, significava “coisa do povo”.

Historicamente – e isso se repetirá no Brasil -, a república foi sendo gradualmente criada em Roma como uma nova forma de governo que fosse oposta à tirania dos monarcas (reis), que governavam como bem queriam e sem serem escolhidos pelos cidadãos através do voto. Hoje em dia, a maioria dos países do mundo são repúblicas, mesmo tendo tantas diferenças políticas, econômicas e culturais entre si. Em geral, república é uma forma de governo que busca ser “do povo, pelo povo e para o povo” (nas palavras do abolicionista Abraham Lincoln) e que se difere da monarquia no seguinte sentido: o governo é sustentado através de algum sistema capaz de medir a vontade dos governados (normalmente esse sistema é o voto) - e não herdado ou justificado divinamente, como acontece nas monarquias.

No caso brasileiro, não dá para pensar monarquia sem pensar na escravidão. Neste território, a monarquia começou quando os primeiros humanos foram cruelmente subjugados à condição de escravizados. E, neste território, a monarquia acabou junto da abolição da escravidão.  Para você ter ideia de como isso se confirma: foram meses, literalmente, que separaram o fim da escravidão (1888) do fim da monarquia brasileira (1889), depois de séculos de muita luta do povo negro brasileiro, somado aos esforços dos poucos, mas barulhentos brancos abolicionistas nas cidades e no Senado.

O último monarca do Brasil, Pedro II, não pagou por seus crimes, manteve a escravidão até não conseguir mais, foi expulso do país por um governo transitório de militares e morreu de velhice. Pedro II deixou um país fundado na violência generalizada, faminto de fome, de cultura, de fraternidade, de liberdade e de igualdade.

Há sentido, então, em comemorar os 133 anos da Proclamação da República Brasileira? 

Sim, e muito: pelo fim da escravidão, pelo fim da monarquia e pela república ser o “apito inicial” para conseguirmos trilhar um caminho difícil mas bonito, cujo fim deve ser a construção de uma nação democrática “do povo, pelo povo e para o povo”.

 

"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927).


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