segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Muro de Taipa do Cemitério da Candelária é demolido para passar caminhão de poda

Na segunda-feira dia 21/11/2022, a parte lateral do Cemitério da Candelária do lado esquerdo sentido Centro-Bairro teve seu portal demolido, na Rua Humaitá. Informação obtida no local justificou que o motivo da destruição foi a necessidade da entrada de um caminhão para carregar material advindo de uma poda feita em uma árvore, conforme imagem abaixo.

Sítio Histórico

A discussão em relação à configuração dos cemitérios como patrimônio cultural ainda é incipiente, principalmente no Brasil. Há dificuldade de se reconhecer que todo cemitério é um sítio histórico, arqueológico[1], rica fonte de informações, fonte de preciosas espécies de arte tumular[2] e, como tal, deve ser adotado de forma preciosa, através de processo de tombamento, conservação, recuperação. 

O Cemitério da Candelária teve sua construção autorizada em técnica de taipa em 7 de julho de 1886, ou seja, há 136 anos , cujos custos foram dispendidos pela Câmara (100$000 réis para pilares e portão e 200$00 réis para destocamento e terraplenagem). 

Em 1887, a Diretoria Geral de Obras Públicas da Câmara Municipal despachou ofício pedindo para levantar a quantia de 466$52 réis para pagar os empreiteiros das obras do cemitério[3], mais especificamente, o taipeiro Elias Augusto da Silva. Naquela época da construção do chamado "Cemitério de Taipas", ainda era aplicada a regra de separação do terreno por um arame fixo em dois postes de madeira: de um lado, sepultados os católicos, de outro, os não católicos e suicidas.

Em 25 de janeiro de 1905, novamente, a Câmara Municipal de Indaiatuba mandou ofício para o governo do estado; dessa vez, para solicitar a vinda de um inspetor a fim de examinar o local onde deveria ser construído o (outro) cemitério, dessa feita, o conhecido Cemitério de Pedras (pedras de granito-rosa, para quem não sabe), na rua Candelária (que durante um tempo se chamou Avenida Dom José), em frente ao Cemitério de Taipas.

Ações do Poder Público

            A Secretária da Cultura, Tânia Castanho, informou que a parte do muro que é de taipa (do lado direito da entrada - do lado esquerdo é tijolo comum) ruiu por acidente, o caminhão poderia ter entrado apenas com uma abertura na qual apenas o muro comum fosse demolido. Lamentou o ocorrido explicando que foram tomadas as medidas imediatamente após o Departamento de Preservação e Memória de Indaiatuba ter sido informado e completou que medidas à médio e longo prazo também serão tomadas para que os outros patrimônios já tombados e em fase de tombamento não fiquem expostos à qualquer outro evento como este:

                "De imediato, a obra foi paralisada para que pudéssemos avaliar o impacto. Do lado direito - onde está o muro de taipa-, foi demolido cerca de 27 cm que serão restaurados com a melhor técnica possível a fim de manter o aspecto visual original do muro, preservando o patrimônio da forma que garanta sua história e memória. Sobre a necessidade da obra, a Secretária informou que a árvore da parte interna do cemitério oferecia riscos aos frequentadores e após análise, a poda foi julgada como necessária para impedir perigos, sendo essa medida de prevenção de acidentes uma prioridade. Para completar, a secretária informou ainda que "também tomaremos medidas de médio e longo prazos. Já demos início ao pedido de tombamento do Muro de Taipa e do Muro de Pedras. Esses patrimônios materiais serão identificados com placas informativas e com QR Code, para que todos possam conhecer a importância desses patrimônios. Isso também será feito, em futuro breve, nos demais patrimônios tombados e em fase de tombamento em nossa cidade. A Secretária também afirmou que o Prefeito Nilson Alcides Gaspar lamentou o ocorrido e pediu que tudo fosse feito de modo a mitigar os danos e garantir - o máximo possível - a originalidade do patrimônio.

                Ainda acrescentou que na obra de restauro, a Secretaria responsável atenderá a um pedido que muitas pessoas já fizeram: incluir o antigo portão no local, devidamente restaurado, como grade. "É uma forma de matermos esse item que está no acervo técnico em seu lugar. Ele não terá a função de portão, será uma grade, mas vai corroborar com a meta de deixar o local avariado da melhor forma e até mais próximo do original."

                Por fim, a Secretária reiterou o compromisso da Secretaria da Cultura, do Departamento de Preservação e Memória e do Conselho Consultivo de Preservação em cumprir os requisitos para restaurar e proteger não só os muros, mas os demais patrimônios de natureza material de nossa Indaiatuba, além de anunciar outras medidas que, em breve, publicarei.

                



Passagem aberta no muro de taipa do Cemitério da Candelária - novembro/2022



Vista do muro de taipa (lado direito da abertura) - sem tapumes


Vista do muro de taipa (lado direito da abertura) após colocação de tapumes




[1]  São cemitérios tombados pelo IPHAN: o Cemitério de Santa Isabel de Mucugê (BA), Cemitério do Batalhão (PI), Cemitério de Nossa Senhora da Soledade (PA), Cemitério do Imigrante em Joinville (SC) e o Cemitério da Candelária (Estrada de Ferro Madeira Mamoré) (RO). Há ainda alguns bens cemiteriais tombados, entre eles: Inscrições tumulares da Igreja da Vitória (BA), Lápide tumular de Estácio de Sá (RJ), Túmulos do Dr. Pedro Lund e seus colaboradores (MG), Portão do Cemitério de Arez (RN), Estátua do Mausoléu da família do Barão de Cajaíba (BA), entre outros.

[2] O vereador Arthur Spíndola propôs ação à respeito há pouco tempo, veja aqui: http://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2022/10/cemiterio-da-candelaria-um-museu-ceu.html

[3] Correio Paulistano, terça-feira, 5 de abril de 1887 – nº 9178.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens mais visitadas na última semana