Na segunda-feira dia 21/11/2022, a parte lateral do Cemitério da Candelária do lado esquerdo sentido Centro-Bairro teve seu portal demolido, na Rua Humaitá. Informação obtida no local justificou que o motivo da destruição foi a necessidade da entrada de um caminhão para carregar material advindo de uma poda feita em uma árvore, conforme imagem abaixo.
Sítio Histórico
A discussão em relação à configuração dos cemitérios como patrimônio cultural ainda é incipiente, principalmente no Brasil. Há dificuldade de se reconhecer que todo cemitério é um sítio histórico, arqueológico[1], rica fonte de informações, fonte de preciosas espécies de arte tumular[2] e, como tal, deve ser adotado de forma preciosa, através de processo de tombamento, conservação, recuperação.
O Cemitério da Candelária teve sua construção autorizada em técnica de taipa em 7 de julho de 1886, ou seja, há 136 anos , cujos custos foram dispendidos pela Câmara (100$000 réis para pilares e portão e 200$00 réis para destocamento e terraplenagem).
Em 1887, a Diretoria Geral de Obras Públicas da Câmara Municipal despachou ofício pedindo para levantar a quantia de 466$52 réis para pagar os empreiteiros das obras do cemitério[3], mais especificamente, o taipeiro Elias Augusto da Silva. Naquela época da construção do chamado "Cemitério de Taipas", ainda era aplicada a regra de separação do terreno por um arame fixo em dois postes de madeira: de um lado, sepultados os católicos, de outro, os não católicos e suicidas.
Em 25 de janeiro de 1905, novamente, a Câmara Municipal de Indaiatuba mandou ofício para o governo do estado; dessa vez, para solicitar a vinda de um inspetor a fim de examinar o local onde deveria ser construído o (outro) cemitério, dessa feita, o conhecido Cemitério de Pedras (pedras de granito-rosa, para quem não sabe), na rua Candelária (que durante um tempo se chamou Avenida Dom José), em frente ao Cemitério de Taipas.
Ações do Poder Público
A Secretária da Cultura, Tânia Castanho, informou que a parte do muro que é de taipa (do lado direito da entrada - do lado esquerdo é tijolo comum) ruiu por acidente, o caminhão poderia ter entrado apenas com uma abertura na qual apenas o muro comum fosse demolido. Lamentou o ocorrido explicando que foram tomadas as medidas imediatamente após o Departamento de Preservação e Memória de Indaiatuba ter sido informado e completou que medidas à médio e longo prazo também serão tomadas para que os outros patrimônios já tombados e em fase de tombamento não fiquem expostos à qualquer outro evento como este:
"De imediato, a obra foi paralisada para que pudéssemos avaliar o impacto. Do lado direito - onde está o muro de taipa-, foi demolido cerca de 27 cm que serão restaurados com a melhor técnica possível a fim de manter o aspecto visual original do muro, preservando o patrimônio da forma que garanta sua história e memória. Sobre a necessidade da obra, a Secretária informou que a árvore da parte interna do cemitério oferecia riscos aos frequentadores e após análise, a poda foi julgada como necessária para impedir perigos, sendo essa medida de prevenção de acidentes uma prioridade. Para completar, a secretária informou ainda que "também tomaremos medidas de médio e longo prazos. Já demos início ao pedido de tombamento do Muro de Taipa e do Muro de Pedras. Esses patrimônios materiais serão identificados com placas informativas e com QR Code, para que todos possam conhecer a importância desses patrimônios. Isso também será feito, em futuro breve, nos demais patrimônios tombados e em fase de tombamento em nossa cidade. A Secretária também afirmou que o Prefeito Nilson Alcides Gaspar lamentou o ocorrido e pediu que tudo fosse feito de modo a mitigar os danos e garantir - o máximo possível - a originalidade do patrimônio.
Ainda acrescentou que na obra de restauro, a Secretaria responsável atenderá a um pedido que muitas pessoas já fizeram: incluir o antigo portão no local, devidamente restaurado, como grade. "É uma forma de matermos esse item que está no acervo técnico em seu lugar. Ele não terá a função de portão, será uma grade, mas vai corroborar com a meta de deixar o local avariado da melhor forma e até mais próximo do original."
Por fim, a Secretária reiterou o compromisso da Secretaria da Cultura, do Departamento de Preservação e Memória e do Conselho Consultivo de Preservação em cumprir os requisitos para restaurar e proteger não só os muros, mas os demais patrimônios de natureza material de nossa Indaiatuba, além de anunciar outras medidas que, em breve, publicarei.
[1] São cemitérios tombados pelo IPHAN: o
Cemitério de Santa Isabel de Mucugê (BA), Cemitério do Batalhão (PI), Cemitério
de Nossa Senhora da Soledade (PA), Cemitério do Imigrante em Joinville (SC) e o
Cemitério da Candelária (Estrada de Ferro Madeira Mamoré) (RO). Há ainda alguns
bens cemiteriais tombados, entre
eles: Inscrições tumulares da Igreja da Vitória (BA), Lápide tumular de Estácio
de Sá (RJ), Túmulos do Dr. Pedro Lund e seus colaboradores (MG), Portão do
Cemitério de Arez (RN), Estátua do Mausoléu da família do Barão de Cajaíba
(BA), entre outros.
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