sábado, 29 de março de 2025

História do Esporte Clube Primavera

Eliana Belo Silva


Hoje,  sábado, dia 29 de março de 2025, o Esporte Clube Primavera conquistou uma posição histórica; pela primeira vez chegou na elite do futebol paulista após uma campanha notável na Série A2 do Campeonato Paulista de 2025, o que o levará para disputas junto ao seleto grupo de clubes paulistas no ano que vem. Para homenagear o nosso querido "Primavera", hoje o blog conta um pouco da história dele, com base em informações do livro "História de Indaiatuba na perspectiva biográfica de Antônio Reginaldo Geiss", de minha autoria.

 



Antecedentes - parte 1

Em 1908, nasceu o primeiro time de futebol de Indaiatuba: o Sport Club Primavera, cujo time jogava futebol com gravata, conforme você pode conferir na imagem abaixo. 

Primeiro time Sport Club Primavera, que existiu entre 1908-1916.

Esse primeiro "Primavera" - que não é o atual - treinava e jogava no "Largo das Caneleiras", que atualmente se chama Praça Rui Barbosa mas é apelidada de "praça dos peixes". A agremiação  durou até 1916, mas nem por isso deixou de ser notícia nos parcos jornais que existiam no início do século passado, há mais de cem anos atrás:


No domingo, 8 de novembro de 1914,286 o ‘Sport Athletico Club Primavera’ jogou, no “Pátio das Caneleiras”, um match com um team vindo de Salto. (1)

 Ou ainda:

No próximo domingo o Club de Foot-Ball de Capivary, para disputar um match no mesmo campo com o nosso ‘Primavera F.B. Club’. (2)

Houve uma tentativa de regulamentação desse time em 1909, mas não houve êxito. Vale registrar que nessa época, o chefe do poder executivo local era o Major Alfredo Camargo Fonseca, que tinha um grupo político rival comandado pelo comerciante Francisco Xavier da Costa, o Chico Boticário, dono na única farmácia que Indaiatuba teve por anos: a Farmácia Candelária. A rivalidade desses dois grupos foi tanta que, durante a primeira metade do século passado, a cidade se dividia em "grupo do Major" e o grupo do Boticário", sendo que cada grupo tinha lugares específicos para frequentar e com o futebol, não foi diferente. É relevante citar isso, pois esse primeiro Primavera foi formado pelo grupo do Major e, portanto, era boicotado pelo grupo do Boticário, que tentou, inclusive, formar outro time , mas o Major negou todos os pedidos formais, tendo essa negativa até sido motivo de informação em jornal da capital: 

“Indaiatuba tinha que ter um time só... para que desunir se um time só podia unir? (3)

Indaiatuba não tinha imprensa escrita e quando o time entrou em crise e se extinguiu, nossa cidade vivenciava o período subsequente ao episódio do ápice do conflito entre o Major Alfredo Camargo da Fonseca e o pároco local, o vigário Miguel Guilherme (episódio do Bispo D. Nery). Então, além do conflito político contra o grupo do Boticário, houve também esse confronto intenso que acabou gerando uma crise no futebol, colaborando para a extinção do time.


Antecedentes - parte 2

O primeiro Primavera foi extinto mas, no mesmo ano - 1916 - o Indaiatubano Futebol Clube, apelidado de Bitola Larga, e dois anos mais tarde, em 1918, surgiria o Corinthians Futebol Clube, oriundo de uma dissidência do Indaiatubano. 

Inicialmente, esses dois times jogavam – não entre si, em terrenos abertos, ou “largos”. Usavam principalmente o Largo das Caneleiras e o terreno onde mais tarde seria construído o Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes.

O Indaiatubano foi formado pela turma do Chiquinho Boticário, da Farmácia Candelária, formada pioneiramente pelos Lisoni, os Minioli, Nunes Beccari, Milani, Zoppi; tinha uma quadra gramada, cercada por pinhão paraguaio na antiga Rua da Palha (atual Pedro Gonçalves) na quadra entre ruas 11 de Junho, Candelária e 24 de Maio, propriedade que mais tarde foi do Vicentão Bernardinetti.

O Corinthians, do grupo do Major, originalmente, surgiu mais elitizado, cujo primeiro presidente foi Sebastião Teixeira de Camargo (Teté) formou-se com os Steffen, Skupien, Albrecht, Lyra, Araújo Campos, Nicolau, Guimarães, Pioli, sendo que um grupo dessa primeira formação ganhou da Prefeitura um terreno (que foi apelidado de terrenão ou areião) para fazer uso como um campo para o time, justamente onde mais tarde seria o primeiro campo do Primavera: a quadra entre as ruas 11 de junho e 24 de maio, entre as ruas 15 de Novembro e Pedro de Toledo, na frente da praça do Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes. Araticuns e indaiás foram retirados para fazer o descampadão.

Corinthians e Indaiatubano eram mais do que rivais de campo, chegavam a ser arqui-inimigos. Consta que jogaram apenas duas vezes um contra o outro, mas era tanta rivalidade que os “jogos não terminaram” (4). Contra os outros times de Salto, Itu, Capivari, Porto Feliz, Piracicaba, houve várias partidas, para onde os times iam de trem, em uma empreitada parecida com uma excursão: iam no sábado, voltavam na segunda-feira. As famílias acompanhavam os jogadores, era um evento chique, o futebol tinha aquele glamour de ascendência inglesa.

Há indícios que time, torcedores e simpatizantes de um time só frequentavam o Cine Internacional (na esquina da rua Pedro de Toledo com a rua Cerqueira César, onde mais tarde seria o Villanova) e o outro time com seus torcedores e simpatizantes só frequentavam o Cine Recreio (Praça Prudente de Morais) de Miguel João.

Era um ódio figadal.


E nasce o o Primavera

Com uma Indaiatuba do tamanho de um ovo, os dois times ficaram fracos, perdendo partidas e sem atrair torcida. O Major chamou os envolvidos e propôs uma união, para fortalecer o futebol de Indaiatuba, e os que não estavam desanimados, os que não haviam debandado, aceitaram a fusão. Em nome do esporte, hoje apontado como relevante estratégia de inclusão social, relevaram a rivalidade política e por um tempo prevaleceu a união.

Assim, quando estes dois times se tornaram um só, em ata lavrada no dia 27 de janeiro de 1927, a denominação escolhida foi em homenagem àquele pioneiro Sport Club Primavera do início do século. Essa ata foi feita em livro outrora pertencente ao Corinthians e como prova da união dos dois times, todas as taças, medalhas e prêmios até então conquistados pelos dois foram unidos em uma sede só, a do “novo” Esporte Clube Primavera no “Campo da Rua 15” (na quadra onde hoje é o Magazine Luiza).


Ata de Fundação de 27 de janeiro de 1927.

Sócios-fundadores que eram do Corinthians: Alberto Magnusson, Alfredo Delboni, Antônio de Oliveira Bueno, Antônio Magnusson, Antônio Nicolau, Benjamin Lyra, Berger Guimarães, Bruno Skupien, Cristhiano Steffen, Eduardo Stahl, Eduardo Steffen, Evaristo Delboni, Francisco Lanzi Tanclér, Gabriel Nicolau, Guilherme Magnusson, Hermenegildo Pinto, Humberto Lyra, Humberto Prandini, João Albrecht, João de Campos, João Gomes, João Vitorio Escodro, Jorge Nicolau, José Bannwart, José Gomes, José Pires Camargo, Júlio Luiz Escodro, Júlio Nicolau, Juvenal Fonseca, Luiz Delboni, Miguel João, Nabor Pires Camargo, Odilon Ferreira do Amaral, Otavio Pires de Camargo, Paulo Von Ah, Primo Groff, Ranulfo Fonseca, Ricieri Delboni e Sebastião Nicolau.

Sócios-fundadores que eram do Indaiatubano: Adamo Estrada, Afonso Bonito, Alberto Ferrarezzi, Ângelo Bruni, Antônio Balduíno de Campos, Antônio Sarain, Arnaldo Estevam de Araújo, Benedito Estevam de Araújo, Celso Arthur Martini, Ciamo Minioli, Constantino Civolani, Eduardo Leite, Eduardo Miguel Ferreira, Efídio Mosca, Elpídio Gazzignatto, Eutemiro José Lisoni, Felício Gadia, Gentil Lopes, Guerino Lui, Henrique Dércoli, Hercules Tomazi , Humberto Milani, Ildo Martini, Ítalo Pínfari, João Batista Nunes Beccari, João Ferrari, João Sarain, João Tomazi , José Minioli, José Munhoz Filho, José Quinteiro, Luiz Gonzaga Lopes, Manoel Quinteiro, Odilon de Oliveira Cordeiro, Rêmulo Zoppi Vitorio Zoppi.

O Major Alfredo Camargo Fonseca, que também assinou a ata, diferente dos demais, não se identificou como sendo anteriormente do Corinthians ou do Indaiatubano; mas ele era do Indaiatubano.


Mascote - "o fantasma da ituana"

Foi Francisco Tanclér, quem criou o apelido “Fantasma da Ituana”. Conta-se que o nome adveio do “pavor” que o time impunha, assustando os adversários. A mascote, um jogador com máscara e capa preta, era também vestido com o uniforme criado – por sugestão de Berger Guimarães - das cores dos times anteriores ao Esporte Clube Primavera: o Indaiatubano usava branco e preto e o Corinthians, vermelho. Com a fusão, o uniforme do Primavera passou a ter esse tricolor. O primeiro esboço do temível fantasma da ituana também foi desenhado por Chico Tanclér.  O memorialista Antonio Reginaldo Geiss conta que 

"...também foi ele quem criou o logotipo ou distintivo, que muitos dizem que o Primavera copiou do São Paulo Futebol Clube. Bobagem. O Primavera é mais antigo que o São Paulo, que foi fundado em 1930, três anos depois que o Primavera, e a inspiração adveio de um logotipo da APEA, e o próprio Francisco Tanclér confidenciou isso para Hélio Milani. Isso virou piada e não são poucos os indaiatubanos que, até hoje, dizem que o São Paulo copiou o símbolo do Primavera."

Logo após a fundação, jogos animados foram noticiados pela imprensa, entre eles, as partidas contra o Americano de Itu, em junho de 1929; contra o C. A. Ipiranga de Campinas logo em seguida, em agosto, no qual ganhou de cinco a zero e um especialmente infeliz, em 4 de setembro do mesmo ano, contra o Rocinhense. O time visitante estava ganhando de 2 a 1 quando os jogadores começaram a brigar, a ponto de se machucarem. Certo torcedor do time da Rocinha estava no meio da torcida do Primavera, que a certa altura, resolveu invadir o descampado para agredir o juiz. O solitário partiu para defesa do árbitro, apanhando até com pedaços de pau...


(...) ficando bastante ferido. A partida foi suspensa e, o que é de notar, nenhuma autoridade compareceu em campo, para remediar o ocorrido. (5)

Na década de 1930 o Primavera se inscreveu na APEA – Associação Paulista de Esportes Atléticos (originalmente Associação Paulista de Sports Athleticos), entidade de futebol de São Paulo. 

Em setembro de 1940 o Primavera solicitou filiação na Liga de Futebol do Estado de São Paulo e nessa década, a paixão já existente dos indaiatubanos pelo time explodiu, quando então conquistou vários jogos, entre eles em duas campanhas memoráveis para a época: Campeão Amador do Interior da 15a Região em 1944 e campeão da série “Carlos Rolim”, sagrando- se também campeão da 4a Região em 1949. Geiss conta que...


Na década de1940, início da 50, no domingo em que o Primavera jogava era um dia de festa. A gente ia ao campo de futebol, a banda ia junto, o campo ficava lotado, muita gente. A arquibancada não era muito grande, mas lotava. Ainda o campo era de terra, a grama só foi cuidada no meio da década de 1940 e isso era uma vantagem para nós. Os times que vinham aqui eram acostumados na grama e ao chegarem aqui naquele terrão, apanhavam mesmo. O Primavera jogava com paixão. Era um futebol puramente amador, jogado praticamente com jogadores locais, e ninguém ganhava nada. Os jogadores trabalhavam durante o dia, iam treinar depois das cinco da tarde. Terminada a jornada de cada um, corriam para o campo com suas bicicletas e suas chuteiras adquiridas com o próprio labor. O Bar Central do Olívio foi a sede do clube durante um tempo e ali, ganhavam uma barra de chocolate quando obtinham uma vitória e – olhe lá – às vezes, depois do treino.

Campo e time do juvenil do Primavera em 1946


Em 1949, um dos mais famosos capítulos do Esporte Clube Primavera até então, aconteceu. O jogo da final foi marcado para uma quarta-feira, 05 de outubro às 3 horas da tarde em Capivari, no campo do Capivariano. Caminhões e vagões lotados foram para o local, também incentivados pelo ponto facultativo declarado pelo prefeito Lita – Luís Teixeira de Camargo Júnior.

Somente em 1952 o Primavera competiu profissionalmente pela Federação Paulista de Futebol, quando disputou a 2a Divisão de Profissionais. Até aí, fora uma somente imensa paixão amadora. Logo em seguida, voltou à 3a Divisão quando a Federação Paulista de Futebol passou a exigir o mínimo de 50 mil habitantes para sede de clube daquela categoria. Disputou nessa categoria em 1954 e 1958 e só voltou a competir profissionalmente em 1976, novamente no Campeonato Paulista da 2a. Divisão, provavelmente ganhando um fôlego pelo ufanismo dado ao futebol no Regime Militar, que tomou os jogadores e o próprio esporte para fazer (de novo) propaganda “positiva” do seu execrável governo onde, à cada grito de gol, uma assinatura censurando, alguém torturando ou uma pessoa sumindo, era fato corriqueiro.

Em 1977, conseguiu o acesso à 1a Divisão (atual série A3) após sagrar- se campeão da 2a Divisão do Estado de São Paulo. Os anos se passaram e, com as mudanças no regulamento da competição, a equipe voltou à 2a Divisão, entre 1982 e 1986, disputando, em 1987, a Divisão Especial.


Laércio Milani - o goleiro primaverino que conquistou duas Libertadores

Até o início da década de 2010, o Primavera já havia conquistado mais de 190 troféus e competiu com grandes times como a Portuguesa de Desportos, Portuguesa Santista, C. A. Ipiranga, Guarani F. C., Ponte Preta e Olaria, todos que já pertenceram à divisão principal e contribuiu para capacitar craques reconhecidos como o goleiro Laércio José Milani, que atuou por vários clubes do Estado de São Paulo, mas se destacou no Santos Futebol Clube, no qual conquistou seus principais títulos: duas Libertadores (1962 e 1963), dois Torneios Roberto Gomes Pedrosa (1961 e 1964) e seis Campeonatos Paulistas (1958, 1960, 1961, 1962, 1964 e 1969). Laércio jogou com Pelé e faleceu com 54 anos em 29 de agosto de 1985.


Adeus, quadra. E nasce o Gigante da Vila

Em 29 de junho de 1961, o Primavera saiu do "Campo da Rua 15" (por conta de uma história que contarei à parte, com capítulos surpreendentes) e inaugurou o seu estádio Ítalo Limongi, onde, a partir do ano que vem, receberá times de primeira grandeza do Futebol Paulista.



O sonho de ir para a primeira divisão pareceu ficar mais próximo em 2007, quando o nosso Primavera fechou parceria com o time espanhol Real Racing Santander e passou a ser um clube empresa, com o nome de Real Racing Primavera. O então prefeito José Onério da Silva, em uma cerimônia que contou com a presença do presidente do Racing, Francisco Pernia, o presidente de futebol do Primavera, Marcos Rodrigues, o Magu, o presidente do Social do time, Tadeu Leite, e representantes do esporte da cidade, prometeu ceder um terreno de 34 mil m2 para as futuras instalações do novo projeto.

O contrato foi elaborado por cinco anos, no qual o clube espanhol prometeu investir dois milhões de euros. Os executivos do Racing Santander escolheram Indaiatuba após “visitar várias cidades” e segundo Pernia, a intenção seria levar, finalmente, o querido Primavera à elite do futebol.

Essa parceria, fechada após o término da série A3, foi um desastre. A identidade do Esporte Clube Primavera foi maculada, até parte do Gigante foi pintada de verde. O time sofreu derrotas com goleadas humilhantes e o brasão foi modificado: o escudo foi envolvido com um fundo verde, da cor do Real Racing e  não foi daquela vez que conseguiu a tão esperada vitória que conseguiu hoje, dia 27 de março de 2025.  Em 2010, após fim da desastrosa parceria, o Primavera passou a caminhar com suas próprias pernas, fazendo uma excelente campanha na Segunda Divisão quase rendeu o acesso de volta para a Série A3.



.....oooooOooooo.....


(1) Jornal Correio Paulistano de 9 de novembro de 1914 – Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

(2) Jornal Correio Paulistano de 26 de novembro de 1914 – Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

(3) Jornal Correio Paulistano de 9 de abril de 1909 – Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

(4) MILANI. Hélio. Hélio Milani (depoimento 1996, 2001, 2005), Indaiatuba. Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, 1996.

(5) Jornal Diário Nacional 04 de setembro – Hemeroteca da Biblioteca Nacional

segunda-feira, 24 de março de 2025

Câmara Municipal de Indaiatuba - 166 anos

 

Cronologia da Câmara Municipal de Indaiatuba

 

Eliana Belo Silva

 

  • 9 de dezembro de 1830 Indaiatuba foi oficialmente "fundada": passou a ser uma Freguesia. Até então era um bairro rural de Itu. O fato se deu quando e até então capela desse povoado se transformou em capela curada, tendo um patrimônio que justificaria a presença de um pároco  residindo aqui. Tornando-se uma Freguesia de Itu, Indaiatuba teve sua primeira eleição para juízes de paz e para vereadores aqui na Paróquia, mas que serviriam na Câmara Municipal de Itu. 

 

  • 1835 - Uma mulher chamada Maria Barboza moradora da Freguesia foi condenada há vinte dias de prisão, mas não cumpriu a pena, pois nem Indaiatuba, nem Itu, tinham cadeia. Os encarcerados, na época, ficavam detidos em dormitórios de casas particulares. Na época, as Câmaras Municipais funcionavam junto com as cadeias, raramente ficavam em edificações separadas, pois no Brasil Imperial os poderes judiciário, legislativo e religioso se misturavam para manter o poder da Monarquia.

 

  • Agosto de 1858 - Quase 30 anos após o caso Maria Barboza, a demanda dos moradores da Freguesia por uma cadeia parecia continuar a ser mais urgente do que por uma Câmara Municipal desvinculada de Itu. Essa reivindicação passou a inflamar políticos, entre eles, um que discursou na Assembleia Provincial, dizendo que apresentou um projeto de lei votando 600$000 (seiscentos mil réis) para construir a casa de detenção “naquela localidade onde não havia se quer um casebre da polícia correcional”. O defensor da Freguesia de Indaiatuba completou informado à Assembleia que as autoridades daqui eram obrigadas a mandar para Itu - que na época já tinha seu prédio de Câmara e Cadeia "até os borrachos e desordeiros que precisassem ser castigados passando uma só noite na cadeia, vindo assim sofrer a polícia, ou mais provavelmente o cidadão da Guarda Nacional, que é o verdadeiro castigado” ... "porquanto para o borracho é indiferente dormir aqui, ou acolá, em Indayatuba ou em Itu”, arrematou. Com certeza, nessa ocasião o político foi influenciado pela comunidade local, sensibilizada pelo caso de Maria Thereza, vítima das facadas de João Sertório Pires no dia 21 de agosto de 1857. João também teve que ser “remetido” para a cadeia de Itu.

 

  • 24 de fevereiro de 1859 - O jornal Correio Paulistano publica que os moradores de Indayatuba fizeram uma petição para pressionar o governo da província, através da Assembleia Legislativa Provincial, para que a Freguesia fosse elevada à categoria de Vila. Quando passou a ser um município (Vila), Indaiatuba tinha 200 fogos (casas) dispostos em oito ruas com cinco travessas.

 

  • 24 de março de 1859, depois de quase 30 anos como Freguesia, Indaiatuba passou a ser uma Vila, passando a ter autonomia para construir sua vida própria nos aspectos políticos e administrativos. Esta data é considerada a fundação - e, portanto, aniversário da Câmara Municipal de Indaiatuba.

 

  • 5 de julho de 1859 é realizada a primeira eleição para os vereadores na Vila de Indaiatuba. Foram 167 eleitores, dos quais 30 recebem votos, elegendo-se sete vereadores, sendo a Câmara Municipal presidida pelo mais votado, Vicente Ferrer do Amaral. Os demais foram: José Sampaio Bueno, Francisco Xavier de Almeida, Antonio Benedito de Castro, Antonio Almeida Campos, João Leite Sampaio Ferraz e José do Amaral Campos. 

 

  •  31 de julho de 1859 foi empossada a primeira Câmara Municipal, que legislou de julho de 1859 até 30 de dezembro de 1860. Esta data foi referenciada como o dia da instalação do município e houve uma pomposa celebração de missa solene pelo Padre Antonio Casemiro da Costa Roriz, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Candelária.

 

‘‘Nesse dia reuniram-se na casa de Francisco Xavier de Almeida, situada há poucos passos da Matriz (...) onde lavrou-se a ata. Em certo momento, os vereadores pararam a solenidade para irem até a igreja para que pudessem assistir um Te-déum, como era de praxe, tendo sido o ofício celebrado pelo vigário colado Padre Antônio Cassimiro da Costa Roriz. Terminada a cerimônia, todos voltaram para a casa do Sr. Francisco Xavier de Almeida Campos, o Chico Babão, a fim de prosseguirem os trabalhos para a instalação da primeira Câmara de Indaiatuba.’’

 

  • 1859 - após a instalação do município, as reuniões continuaram a acontecer na residência de Francisco Xavier de Almeida, mas a Câmara nomeou uma comissão para escolher um local onde deveria ser erigido futuramente um posto policial com cadeia para resolver a demanda que mais preocupava os moradores. A Comissão escolheu o quarteirão onde é atualmente a Praça Prudente de Moraes na Rua Nova (atual Bernardino de Campos com a Rua da Palma (atual 15 de Novembro). 

 

  •  14 de abril de 1860, seis dos sete vereadores fizeram uma Indicação conjunta para que fosse executada a compra de uma corrente, quatro algemas, dois colares e dois cadeados para que os presos pudessem pelo menos ficar “convenientemente algemados” na edificação provisoriamente alugada para funcionar a Câmara e a Cadeia, pertencente a João Bueno de Camargo Graminha Júnior o qual exercia graciosamente as funções de agente de correio, localizando-se sua casa rua Siqueira Campos entre a rua 15 de novembro e Pedro de Toledo.

 

  • 14 de julho de 1860 o arruador Joaquim da Costa Roriz, irmão do Pároco, fez o alinhamento da futura edificação da Casa da Câmara e Cadeia, tirando esse alinhamento pela casa de d. Maria de Almeida Prado por “ser o edifício de mais consideração”, fincando as estacas na rua Nova, fazendo face para a rua da Palma até a rua Nossa Senhora da Candelária. Passou a ser construída, então, pelo taipeiro Bento Manuel de Camargo Barros (tio do bispo Dom José), um prédio para servir de cadeia. Parte do dinheiro veio do Governo da Província, que prometeu que enviaria – pois consignara no orçamento do ano vigente – a quantia de um mil contos de réis para a obra em quatro prestações de 250$000 que seriam pagas a coletoria da Vila de Indaiatuba na medida em que fossem sendo gastas cada uma das parcelas anteriores. Nova ordem foi dada para que o valor total fosse pago, via coletoria de Campinas, em 2 de maio de 1863. Essa obra derreteu, literalmente, na primeira chuvarada diante de olhos assustados e de anedotas chulas, pois a “catanduva usada não oferecia liga suficiente”.

 

  • 1863 foi aprovado o nosso Primeiro Código de Posturas Municipais, elaborado pela segunda Legislatura, composta por sete vereadores eleitos. Os trabalhos dos vereadores foram executados em um cômodo da casa de morada do sr. Graminha, que continuava a emprestar sua moradia graciosamente, enquanto esperava a contrapartida de ser nomeado oficialmente para preencher o cargo remunerado de agente de correio. Consta que a sala utilizada na residência era tão pequena que algumas sessões mais conflituosas e longas - chegando a durar oito dias, uma vez que reuniam-se trimestralmente - eram feitas nas dependências da Matriz, sob protestos insistentes do fabriqueiro Joaquim Gomes Melgaço, que defendia que o funcionamento da Câmara no local sagrado era uma ofensa às santas imagens.

 

  • 1863, no final, do ano, após o primeiro prédio de taipa ruir vergonhosamente, a Câmara pediu novamente dinheiro ao governo provincial para que pudesse comprar a casa do Sr. Bento José Labre a fim de servir de Câmara e Cadeia. Outros e outros tantos pedidos foram feitos. Como não recebiam o dinheiro que,  através de vários ofícios pediam insistentemente ao presidente da Província, a Câmara mudou a estratégia e começou a pedir autorização para vender bens públicos para arrecadar a verba necessária, sendo um desses bens o cemitério (!). Enquanto um prédio próprio não era viabilizado, a Câmara e a Cadeia funcionaram, então, em uma casa alugada - do Sr. Germano José Coelho na antiga rua das Flores (Pedro de Toledo) entre as ruas Siqueira Campos e Sete de Setembro.

 

  • 1869 foi comprada a Casa do Sr. Coelho na então Rua das Flores Toledo, onde foi instalada a Câmara Municipal, que passou a ter "um armário para guarda de arquivo".

Edificação que pertenceu e onde funcionou a Câmara Municipal de Indaiatuba durante 21 anos.
Situava-se na Rua Pedro de Toledo, entre a 7 de Setembro e a Siqueira Campos e tinha o número 15.
Foi adquirida de Germano José Coelho por 420 mil réis e posteriormente vendida em concorrência pública. A aquisição aconteceu em 7 de junho de 1869.




  • 1882 a Câmara comprou um sino com a finalidade de chamar os “permanentes” (os guardas) e para dar o sinal de recolher às 20 horas, prática que foi aplicada até o final da década de 1930. Batido o sino nesse horário, todas as pessoas saiam das ruas e iam para casa; era a forma de manter a ordem e evitar arruaças, badernas e outros crimes.

 

  • 1882 – Ainda nesse ano, Joaquim Emígdio de Campos Bicudo foi nomeado para presidir uma Comissão para viabilizar a construção da Casa da Câmara e Cadeia. A Comissão foi nomeada pelo Presidente da Província de São Paulo, constituída também por Antonio Joaquim de Freitas e Júlio Cezar de Moraes Fernandes. A Comissão pediu dinheiro emprestado e em 1884, consta que a Comissão de Câmaras Municipais da Província havia analisado um pedido da Câmara Municipal da Vila de Indaiatuba pedindo autorização para “contrair um empréstimo de cinco contos de réis para construir uma cadeia”, uma vez que a Vila não tinha renda ordinária para tal empreendimento. Em 11 de março de 1884 o empréstimo foi autorizado, "desde que os juros não passassem de 10% ao ano".

 

  • 6 de agosto de 1888 a Câmara Municipal contratou com Constantino Cassabuona para construir – finalmente – o prédio para a Cadeia Pública e Câmara Municipal. O pagamento seria feito em três vezes à razão de 4:740$000.  A construção foi planejada com todo o rigor da época, obedecendo às leis da higiene, ou seja 0,8 m de porão e 5,0 m de pé direito e as quatro fachadas com abundância de iluminação e ventilação. A entrada principal era a da Cadeia, onde havia o gabinete do delegado, o alojamento dos praças e as celas com enormes grades de ferro. Ao lado do prédio existia a entrada da Câmara que era separada da Cadeia por uma parede central. Após a entrada havia um salão para os funcionários e o gabinete do prefeito. Consta que não havia banheiro no prédio, e os presos faziam suas necessidades em latas de querosene que, quando cheias, eram usadas para atirar detritos nos transeuntes distraídos, que andavam com seus ternos e chapéus no Largo.

 

  • 7 de julho de 1889, foi providenciado um prédio para funcionamento provisório da Câmara. Localizava-se na Rua das Flores entre a do Comércio, atual Sete de Setembro e a da Quitanda, atual Siqueira Campos.

 

  • 13 de maio de 1890 foi inaugurado, sem festas, o prédio da Câmara e Cadeia na Praça Prudente de Moraes. Embora os vereadores tenham se esforçado durante 30 anos, a construção só aconteceu por influência reconhecida de Jorge Tibiriçá Piratininga, que foi o governador da Província de São Paulo. De 1890 até 1963, esse foi o endereço da cadeia, da câmara e mais tarde – após a Proclamação da República, da prefeitura. Esse prédio foi demolido na gestão do prefeito Odilon Ferreira, sendo em seu lugar feita uma fonte luminosa. (Veja imagens aqui).

 

  • 1892 foi eleita a Primeira legislatura Municipal da República. Foram eleitos Francisco José de Araújo, José Tanclér, Telesphoro Campos Almeida, Benjamin Constant Almeida Coelho, José Schettino e Alfredo de Camargo Fonseca. Também assumiram os Juízes de Paz: Joaquim Pedroso de Alvarenga, Ignácio de Paula Leite de Barros e Lourenço Tibiriçá.

  • 1899 uma epidemia de febreamarela assolou Indaiatuba e foi tão devastadora que a Câmara Municipal teve que ser transferida para Itaici. Tão implacável foi a violência do surto amarílico que o governo estadual enviou à Indaiatuba uma comissão de médicos notáveis como Emílio Ribas, Paulo Bourroul, Evaristo Bacelar, Luiz de França, Assis Brasil Mineiro da Campanha, além de outros.

     

    ·        5 de outubro de 1899 procedeu-se no recinto da Câmara Municipal de Indaiatuba à eleição para preencher os cargos vagos de dois vereadores que haviam renunciado. Dos eleitores que compunham o colégio eleitoral compareceram 99, dos quais 30 eram italianos naturalizados brasileiros. Embora a votação fosse dirigida pelo "voto de cabresto", a presença de um terço de italianos entre os que escolhiam os dirigentes do município já demonstra a força que adquiria essa colônia de imigrantes em Indaiatuba ao final do século dezenove.

     

    ·        1935 a edificação passou a ser sede apenas da Câmara e Prefeitura. A cadeia, foi transferida para uma casa alugada na Rua Candelária, esquina com a Sete de Setembro e depois para o prédio construído especialmente para ser Delegacia, na esquina da atual rua Bernardino de Campos com Rua Ademar de Barros. Inicialmente feita para ser uma delegacia e cadeia para os encarcerados antes de transferências, o local se transformou no final do século XX, irregularmente, em presídio feminino, onde, após uma rebelião que colocou em risco os moradores do entorno por ter saído tiro para tudo quanto foi lado, foi reformada e votou a ser uma Delegacia “moderna” em 2012.

     

    ·      1963 - A Casa da Câmara e Cadeia de Indaiatuba é demolida na gestão do prefeito Odilon Ferreira e no local foi construído um chafariz. A Câmara passou a funcionar em um prédio na rua Bernardino de Campos.

     

    ·   17 de dezembro de 1966, a prefeitura e a Câmara Municipal passaram a funcionar na praça Prudente de Morais, nº 155, na esquina da rua Cerqueira César com a rua 15 de Novembro.

     

  • 1983 - foi inaugurada a atual sede do Legislativo Municipal, o Palácio Votura, na rua Humaitá. De lá para cá, muitas reformas foram feitas, sem, no entanto, tirar o estilo Brutalismo Paulista, marcado pelo concreto, em projeto assinado por José Carlos Tonin.


FUTURO

  • A Câmara Municipal de Indaiatuba possui, atualmente, pouca representatividade. São apenas doze vereadores representando uma população de mais de 255 mil habitantes, em um município que possui uma arrecadação que ultrapassará, em 2025, mais de R$ 2,5 bilhões. Quando comparada a outros municípios com números semelhantes, a baixa representatividade fica evidente. Importante registrar que o município já teve mais vereadores do que atualmente e, elevar a representatividade é um passo de muita relevância para quem elegeu apenas três vereadores diferentes da legislatura passada e que possui uma Câmara grandemente cooptada pelo Executivo há quase 30 anos.

  • Embora a produtividade da Câmara Municipal seja largamente disseminada por cada um dos vereadores e o site tenha melhorado muito nos últimos anos - principalmente por obrigatoriedade imposta por leis que exigem transparência e profissionalização da equipe de Comunicação - há uma demanda urgente a ser resolvida: as indicações apresentadas pelos vereadores - que não são poucas - são elencadas de forma minuciosamente organizada e podem ser consultadas de várias formas mas, após a apresentação no Plenário, elas caem em um limbo denominado "Gabinete de Coordenação Institucional", ou seja, ela é enviada para o Executivo e nesse status permanece, sem que o munícipe possa acompanhar a decisão e o encaminhamento da execução.







    

sexta-feira, 14 de março de 2025

3a. Sessão Ordinária da Câmara Municipal de 2025

 

HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE


Eliana Belo Silva


Aparentemente, os poucos estudos disponíveis sobre o legislativo municipal apontam para a manutenção de suas características seculares, relacionadas à baixa capacidade de legislar e a uma atuação fraca diante de um executivo forte. (1) 


  • IRONIA

A 3a. Sessão da Câmara Municipal ocorrida no dia 10 p.p. manteve uma prática estranha - ou, no mínimo irônica, que é a apresentação de Indicações protocoladas pelos Legisladores cobrando o Executivo para cumprir a Lei [SIC!].

"A Organização das funções de legislar e fiscalizar cabe à Câmara Municipal. Esta faz parte do governo municipal, como órgão legislativo. Deverá, portanto, cumprir as funções que lhe cabem, de acordo com a Carta Municipal: fazer leis e fiscalizar o Executivo"... mas ter que cobrar o Executivo para que ele cumpra as Leis... sim, é irônico.

Só neste ano, o vereador Leandro Pinto cobrou do Prefeito Custódio que ele faça cumprir a  Lei Municipal Nº 8225/2024, a vereadora Clélia dos Santos cobrou o cumprimento das Lei Estadual nº 17.949/24Lei Federal nº 13.935/2019 (e olha que é o primeiro mandato dela!), o vereador Othniel, a Lei nº 5478/2008o vereador Hélio Ribeiro as Leis 6.739 de 2017 e Lei 7678 de 2021, o vereador Alexandre Peres a Lei nº 7.306/2020,  o vereador Eduardo Tonin as Leis Federais nº 14.851/2024 e nº 14.685/2023 e a Lei Municipal 7.924 de 2022.

Ainda de autoria do vereador Eduardo Tonin, esta semana a ironia tomou um caráter diferenciado. Atendendo à pedidos de artistas locais - demanda esta que inclusive tomou as redes sociais e os grupos de WhatsApp, o vereador cobrou o Prefeito a respeito de uma inconsistência relacionada ao Fundo Municipal da Cultura. Em sua Indicação 336/2025 o vereador solicita mais clareza sobre a gestão do Fundo.  A Lei 6352 de 2014, que criou o Fundo Municipal da Cultura define que o orçamento será administrado por um "Conselho Diretor". Já a Lei 6514 de 2015, define que o COMCULT - Conselho Municipal de Política Cultural de Indaiatuba deve deliberar sobre esse Fundo, (atribuição corroborada com seu Regimento Interno - Decreto 1305 de 2017). Assim como os artistas locais, o vereador solicita que o aparente conflito de responsabilidade seja esclarecido, garantindo, assim, a transparência e alinhamento aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 

Aguardemos.


  • DIA INTERNACIONAL DA MULHER


Houve vários eventos em alusão à data comemorada em 8 de março e na Câmara Municipal não foi diferente: vereadora e a maioria dos vereadores fizeram referência à efeméride em suas falas, incluindo a frase "lugar de mulher é onde ela quiser". Mas dois destaques devem ser registrados com mais detalhes.

(1) MULHERES INSPIRADORAS

O primeiro é uma proposição feita pela vereadora Clélia dos Santos, em conjunto com o presidente, vereador Dr. Túlio Tomass. Ambos assinaram o primeiro Projeto de Resolução de 2025, que foi aprovado por unanimidade, derivando a Resolução 135 de 11/03/2025, que instituiu a "Campanha Mulheres que Inspiram" a ser realizada anualmente na semana do dia oito do mês de março, com a efetivação de ações relacionadas à valorização das mulheres.

Criar efemérides é um ato que os vereadores fazem aos montes e as datas comemorativas inseridas no Calendário Municipal compõem uma lista extensa (veja aqui) _ e isso não é uma crítica _ pois essas referências servem para provocar reflexões e ações... se assim fosse. Mas não é. Alguns vereadores (a maioria) cria a Lei sobre o "dia tal" ou "mês tal" e nunca mais faz referência ao Ato nem ao menos em suas redes sociais pessoais. 

Mas nas palavras de defesa ao PR proferidas pelo Dr. Túlio, a Campanha anual será feita pela própria Câmara, com sua iniciativa e orçamento (que não é pouco). Isso é uma Inovação a ser aguardada com expectativa positiva.

Não é comum a Câmara Municipal fazer atos dessa natureza por iniciativa própria, a não ser atribuir determinadas comendas. Sua prática é gerar leis e leis de efemérides e "autorizar o Executivo" a fazer as ações alusivas. Mas desta vez o compromisso é diferente: o próprio presidente da Casa, que é o gestor orçamentário, firmou compromisso de aplicar realmente essa matéria.


Até na Pandemia da COVID 19 a nossa Casa de Leis não se pronunciou oficialmente 
para defender as medidas proferidas pela Organização Mundial da Saúde. 
Enquanto centenas de indaiatubanos sucumbiram vítimas do vírus e/ou do negacionismo anticientífico advindo de ideologias e lideranças de cunho neonazifascistas, o nosso Parlamento SILENCIOU, deixando o prefeito Nilson Gaspar falando sozinho (e falava todos os dias incansavelmente). (2)



(2)  BILAU

Por falar nessa linha ideológica, o segundo destaque também adveio do vereador Dr. Túlio, esclarecendo objetivamente à uma matéria de cunho exclusivamente ideológico que defendia a castração química para pedófilos. 

Sim, você leu certo: o púlpito (e nosso tempo) foi tomado para defender uma pauta que não é de alçada do Parlamento local, pois trata-se de discussão exclusiva da instância federal. Dr. Túlio explicou, ou melhor, não explicou - ele emitiu laudo, pois tem autoridade acadêmica incontestável para isso - que a castração química não impede o estuprador de agir novamente pois seus atos são advindos de problemas de saúde mental. Ter um bilau impotente não impede o estuprador de estuprar, pelo contrário, já está provado por A + B que ele o faz por outros meios, na medida em que o 'prazer' que ele busca é de subjugar a vítima de qualquer forma. Há ainda, uma questão secundária, mas nem por isso, irrelevante: o processo é caro, ao ponto de o SUS ter restrições de aplicar até em casos de indicação médica não relacionada à pedofilia.

O silêncio de quem defendeu a castração química diz mais sobre o equívoco de sua fala: a verdade é que existe uma cultura de violência sexual, caraterizada por comportamento sexualmente violento; mas isso não foi dito. Há um conjunto complexo de crenças que encorajam vários tipos de agressões sexuais masculinas, que incluem comentários e contatos. É o patriarcalismo que subjuga a mulher de várias formas que deve ser combatido. E isso sim, é pauta relevante para ser exposto no Mês das Mulheres. Ponto.


  • INDÍGENA

O vereador Índio da 12 expôs, no púlpito, um problema no que tange à gestão da Secretaria da Saúde. Ele não citou em qual unidade a sucessão de fatos aconteceu, mas narrou que visitou uma Unidade Básica de Saúde na semana passada com o objetivo de fiscalizar o funcionamento do processos, notadamente ao que diz respeito à epidemia da Dengue, e se deparou com um problema que a população também reclama muito: os funcionários estavam sem crachás de identificação. 

Há uma Lei Municipal de autoria do então vereador e atual Deputado Estadual Ricardo França que obriga que todas as unidades de saúde tenham a escala de médicos exposta em placas expostas em locais visíveis (leia a lei aqui). O vereador afirmou que não foi possível identificar nem os médicos, nem funcionários. Agradeceu, ainda, a uma funcionária terceirizada da área da limpeza que o acolheu e explicou algumas coisas para ele.

Em sua matéria, o vereador registrou que "hoje se você for em qualquer UBS não é possível chamar a pessoa pelo nome, com a devida cordialidade ou até mesmo identificar se ela é funcionária daquele local. Isso impacta diretamente no atendimento e a falta de empatia entre os mesmos." E completou que "adotar um sistema de identificação com o uso destes itens, transforma o ambiente, promovendo autoridade e profissionalismo".


  • MOSQUITINHO EFICAZ 

Sobre a Epidemia da Dengue, há, sim responsabilidade (e até culpa) do poder público. Mas há também, a inegável inércia e descompromisso da população que não extingue os focos de criadouros dentro das próprias residências, não tomam vacina, não passam repelentes. Sem querer generalizar, mas já generalizando... o lado de cá também tem responsabilidade e culpa pelos caos nas unidades de saúde.

O mosquito aedes aegypti transmite várias arboviroses: o vírus da dengue, chikungunya, zika e febre amarela. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) pretende, entre 2026 e 2027, comtemplar toda a população de 2 anos a 59 anos com a vacina preventiva contra a Dengue.

Vereador da Oposição expôs toda as legítimas cobranças que fez do Poder Executivo sobre a Dengue na Palavra Livre e pontuou novamente que não recebe as respostas dos questionamentos. O presidente da Mesa respondeu que ele (vereador) "deveria ter vindo na reunião ao qual foi informado, que ocorreu antes da Sessão Ordinária, com a presença da Secretária da Saúde". Pelo que foi dito pelos vereadores da Base do Governo após a referida reunião, a Dra. Heloisa Carla Salatino, responsável pela pasta, conseguiu convencer os presentes de que o que pode ser feito, está sendo feito para combater e/ou mitigar o problema.



A Secretaria de Saúde de Indaiatuba informou que na quinta-feira, dia 13, Indaiatuba possuia 2.851 casos confirmados de Dengue, 1.025 casos estão aguardando resultado e duas mortes  confirmadas.
O Boletim Epidemiológico, com as atualizações diárias, será divulgado de segunda a sexta-feira, no período da tarde, no site www.indaiatuba.sp.gov.br e redes sociais da Prefeitura.



  • TEM ÁGUA PARA TODO MUNDO? 

    O que será que um paulistano pensa quando alguém afirma que ele está bebendo água do Rio Tietê? Proporcionalmente seria o mesmo pensamento de um indaiatubano quando se afirma que ele está bebendo água do Rio Jundiaí? 

    Há anos o projeto urbano para nossa cidade é de expansão territorial, com aprovação consecutiva de novos loteamentos, bairros, condomínios, prédios, distritos. A isso, muitos chamam de desenvolvimento, enquanto outros esperneiam sem serem ouvidos que é especulação imobiliária sem sustentabilidade. Independentemente da definição usada, a certeza é que não tem água para todo mundo e essa afirmação não é opinião; ela é oficial, pois está claramente escrita no Plano Municipal de Saneamento Básico, aprovado pela Câmara em 2023, que você pode ler aqui.

    O que já está ruim parece que pode piorar: na Palavra Livre, o vereador Du Tonin retornou com novas informações a respeito de denúncias feitas  em setembro do ano passado sobre duas supostas irregularidades cometidas pelo SAAE: a construção de um barramento ilegal no Rio Jundiaí e despejo irregular de efluente da ETA III sem tratamento, também no mesmo rio. Há três organizações envolvidas nas apurações das denúncias: (1) o GAEMA - Grupo de Atuação Especial de Defesa do Ministério Público, (2) a CETESB e (3) o SP Águas, Agência Reguladora do Estado de São Paulo.

    A existência do barramento irregular já foi confirmada pelo SP Águas, que multou o SAAE e estabeleceu prazo para regulamentação, incluindo análise da necessidade de recomposição/compensação de impactos causados nas margens do já sofrido Rio Jundiaí.

    O vereador Alexandre Peres, que presidia a seção no momento da Palavra Livre e é funcionário de carreira do SAAE, não respondeu às palavras proferidas pelo vereador Du Tonin.


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(1) KERBAUY, Maria Tereza Miceli; ROCHA, Marta Mendes da Rocha (Org.). Eleições, partidos e representação política nos municípios brasileiros. Juiz de Fora: Editora UFRJ, 2014. cap. 6 p.159-189.

(2) Eu vou escrever isso setenta vezes sete vezes, elevado a 70a. potência (nota da autora).

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