Todos
os logradouros ou vias que tem nome na cidade representam uma referência, um
símbolo ou uma homenagem, sendo que para essas atribuições de nomenclatura
usualmente costumamos trocar o que é mais antigo, que se tornou
menos significativo, ou que acabou por cair em desuso, por novas reverências,
insinuando sutilmente, assim, que alguns fatos históricos podem - ou devem -
perdurar na memória mais do que que outros em diferentes épocas. Isso pode nos
dar um panorama do que compõem nossa memória coletiva, do que foi apenas um
relâmpago de oportunidade, e do que foi efêmero ou fútil que acabou por se
gastar com o tempo.
Dentro
desta perspectiva, este texto tem como objetivo demonstrar a dança dos
nomes das ruas na cidade de Indaiatuba, ilustrando, desta forma, as diferentes
épocas pelas quais se urbanizou ou desenvolveu nosso Centro histórico e as
respectivas nomenclaturas atribuídas em diferentes períodos.
- RUA CANDELÁRIA é
a única das primeiras oito ruas da antiga Indaiatuba que manteve seu nome
desde a sua origem, no Brasil Imperial. É homenagem à padroeira da Igreja
Matriz de Indaiatuba; embora a primeira capela edificada por Pedro
Gonçalves, ou melhor, o Tenente
Pedro Gonçalves Meira, ainda no fim do século XVIII, ter sido dedicada
a N.
Sra. da Conceição, também padroeira de Campinas, onde Meira tinha
grande influência política.
- RUA NOVA era
o limite da cidade na época do Império, onde acabaram por se instalar a
Praça Prudente
de Morais, a Casa
de Câmara e Cadeia e o coreto
original formando uma grande área de convívio na cidade, era
o “parque ecológico” do final do século XIX até início do
XX. O nome foi substituído por RUA
BERNARDINO DE CAMPOS em alusão à Bernardino José de Campos
Júnior (Pouso Alegre, 6 de setembro de 1841 - São Paulo, 18 de
janeiro de 1915) que foi um advogado e político brasileiro. Formado em
direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi segundo
(1892-1896) e sexto (1902-1904) presidente do governo do estado de
São Paulo.
- RUA DA QUITANDA era
o nome inicial da atual RUA SIQUEIRA CAMPOS. A rua SIQUEIRA CAMPOS e RUA 5
DE JULHO, são duas ruas que homenageiam o mesmo evento. Antônio de
Siqueira Campos foi um militar e político brasileiro que participou do
movimento tenentista e da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 5 de
julho de 1922.
- RUA DO COMÉRCIO foi
o primeiro nome da RUA 7 DE SETEMBRO. O Dia da Independência (também
chamado Dia da Independência do Brasil, Sete de Setembro, ou Dia da
Pátria) é um feriado nacional do Brasil celebrado na data, que comemora a
Declaração de Independência do Brasil do Império Português no dia 7 de
setembro de 1822.
- RUA DIREITA era
a o nome da atual RUA AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO. Nos primórdios da
urbanização das cidades brasileiras, a Rua Direita era aquela que, na
tradição católica, conduzia diretamente a uma capela ou igreja, podendo
uma cidade ter mais de uma Rua Direita. Seu nome atual é em homenagem a
AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO, que com sua esposa Leonor, foram os
idealizadores do Hospital que leva seu nome. A rua em questão liga o
Largo da Matriz da Candelária até a entrada do Hospital.
- RUA DE SÃO JOSÉ era
o nome da atual RUA DOM JOSÉ. Uma linda ilustração de como as reverências
a personagens da fé católica, em âmbito mais amplo, passam a ser derivadas
a personalidades locais, mais próximas da população. Neste caso, em
especial, mesmo separados por muito tempo, foi mantido o foco na temática
religiosa. Dom
José de Camargo Barros nasceu em Indaiatuba, no dia 24 de abril
de 1858, destacou-se como bispo, jornalista, literato, orador sacro entre
outras funções. Além do nome da rua, é também homenageado com a Escola
Estadual Dom José de Camargo Barros, e seu busto está defronte à Igreja
Matriz em estátua com tombamento. Dom José morreu no naufrágio do
navio Sírio, que afundou perto do Cabo de Palos, na Espanha em 1906 e seu
corpo nunca foi encontrado.
- RUA DA PALMA era
paralela a fachada da Candelária, fazendo o limite do seu Largo, que era
adornado por palmeiras imperiais, que aliás, ali, trocaram algumas vezes
de local. As palmeiras que deram nome a rua ainda estão lá, mas nomes
derivados da natureza parecem ser facilmente substituídos por
personalidades ou eventos. Por exemplo, o Chafariz é
agora a praça Elis Regina e o Córrego Indayatyba, que doou seu
nome a cidade, que literalmente quer dizer “muita fruta de rachar a casca”
em tupi antigo, parece não fazer mais sentido depois que a palmeira foi
praticamente extinta desta área, e agora é o Córrego Barnabé. A Rua da
Palma é atualmente é a RUA 15 DE NOVEMBRO, menção ao dia da Proclamação da
República.
- RUA DAS FLORES foi
primeiro o nome da via que foi chamada também de RUA 24 DE OUTUBRO e
posteriormente de RUA PEDRO DE TOLEDO. É um exemplo delicioso de
como a história de um país marca a cidade em suas memórias. As designações
originais, da época do Império, de nossas primeiras ruas, não possuem
grandes homenagens, a não ser que sejam religiosas católicas, o que
reflete a organização social da cidade na época, em torno da Igreja. Com a
República, iniciam as homenagens a pessoas e datas comemorativas, sendo
que a Guerra do Paraguai, foi o evento que mais proporcionou referências
para nossas ruas no Centro, utilizando datas ou locais de batalhas,
marcando as vias que são implantadas em cerca do final do século XIX e
início do sec. XX. Após 1932, a Revolução Constitucionalista passa a
ser o evento histórico que predomina nas homenagens concedidas às
designações das vias. A RUA DAS FLORES passa a usar um outro nome em
homenagem ao Golpe de Estado que empossou Getúlio Vargas no poder na data
de 24 DE OUTUBRO, a chamada de Revolução de 30. Muda novamente seu nome
para o do Governador PEDRO DE TOLEDO, homenagem ao gestor do estado de São
Paulo na época da Revolução de 32, que lutou contra as tropas do próprio
Getúlio Vargas. Essa via foi renomeada após 1951, pois ainda é citada
no mapa oficial desta época, a mudança pode ter ocorrido no
mesmo período, ou logo após a edificação do Mausoléu do Soldado
Constitucionalista em 1956, que exumou o corpo do Combatente Voluntário
João dos Santos em Indaiatuba, e o transferiu para onde se encontra hoje,
ao lado dos restos mortais do próprio Pedro de Toledo, tendo sido,
ambos, uns dos primeiros a serem homenageados lá, levados numa
grande festividade em comemoração aos 25 anos da revolução. PEDRO
MANUEL DE TOLEDO (São Paulo, 29 de junho de 1860 — Rio de Janeiro,
29 de julho de 1935) foi um advogado, diplomata e político brasileiro. Foi
o quarto interventor federal a ocupar o governo do estado de São Paulo e
governador do estado durante a Revolução de 32.
Como
podemos notar, nos exemplos acima, os nomes das vias e logradouros de
Indaiatuba possuem grande correlação na cronologia que envolve a história,
datas de eventos ou da morte dos homenageados com a data aproximada da
urbanização ou pavimentação da via.
Como
exemplo mais recente desta relação social, econômica e histórica entre as vias
e logradouros públicos e sua nomenclatura, podemos considerar a história do
Parque Ecológico, projetado por Ruy Otake e promulgado por decreto do então
prefeito Clain Ferrari em 1991 com nome de “Parque Ecológico Presidente
Fernando Collor de Mello” - uma descarada homenagem, em vida,
que tinha intenção de trazer mais verbas federais para o projeto. Todos sabem a
história do impeachment deste presidente, e após os fatos que o retiraram do
poder, o nome foi mudado rapidamente, passando genericamente para “Parque
Ecológico de Indaiatuba”. Mais recentemente, tendo falecido o Prefeito que
viabilizou a obra, passou a se chamar “Parque Ecológico Dr. Clain Ferrari” (que
nunca foi um doutor, pois não obteve esse título, oriundo apenas de quem tem
grau de pós-graduação stricto sensu avançado). Vale registrar
que o “Dr.” Clain também foi muito discutido na ocasião em que ele próprio se
auto homenageou com a designação do Ginásio Municipal Dr. Clain Ferrari: mas
isso foi outra história, que também ilustra o muda-muda dos
nomes e a relação com eventos históricos, sociais e econômicos, sem os quais
não se pode avaliar nenhum evento de maneira séria.
- RUA ALEGRE se torna RUA
JOÃO PESSOA no meio do Século XX, homenageando um político da esfera
federal, cujo assassinato o tornou símbolo da opressão das oligarquias.
Posteriormente passou a se chamar RUA NOVE DE JULHO, data que foi lembrada
Deflagração da Revolução Constitucionalista de 1932. Mais um exemplo
de um nome relacionado a um evento nacional que foi substituído por outro
nome mais próximo, do estado ou cidade.
- RUA DA ESTRADA
tornou-se RUA 13 DE MAIO, e ambas são referências da época do Império. A
ESTRADA que se refere, ou melhor, é
exatamente o traçado da via pavimentada no final do Século XVIII, entre
Itu e São Carlos (atual Campinas), e que tinha Indaiatuba como ponto médio
da viagem de dois dias a cavalo. A área do atual Centro da cidade foi
adquirida pelo Tenente Pedro Gonçalves Meira, pouco tempo antes da
execução da pavimentação da estrada que marcaria o início do Caminho dos
Goyases, desde Itu até o Sertão do Brasil, onde o próprio Pedro Gonçalves
fez fortuna. Chamada originalmente Parada de Indayatyba, às
margens do Córrego de mesmo nome, o local prosperou como povoado que deu
início a Indaiatuba. Dizem as más línguas - e longe de querer
apresentar um fato histórico incontestável diante desta detração - que de
todos os aglomerados urbanos dos quatro bairros originais daqui, a cidade
só prosperou quando alguém ganhou com “especulação
imobiliária” (me perdoem o anacronismo), valorizando a terras recém
adquiridas de uma sesmaria devoluta, com benfeitorias que o próprio
Gonçalves ajudou a viabilizar entre os administradores de Itu e da atual
Campinas, através da pavimentação de uma estrada, que entre outras coisas,
será a mais importante via de escoamento do açúcar na capitania de São
Paulo até a chegada da ferrovia na década de 70 do Século XIX.
- O atual nome RUA 13 DE MAIO, é
referência ao Dia da Abolição da Escravatura, celebrado em 13 de maio no
Brasil. Esta data homenageia a Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de
1888. Quem assinou a lei da Abolição da Escravatura foi Dona Isabel,
Princesa Imperial do Brasil.
- RUA PEDRO GONÇALVES,
é a homenagem ao fundador de Indaiatuba, que de Paragem de Indayatyba,
acabou por se tornar o Centro de Indaiatuba. Já citado, sua identificação
completa era TENENTE PEDRO GONÇALVES MEIRA.
- RUA CERQUEIRA CÉSAR em
alusão a José Alves de Cerqueira César (Guarulhos, 23 de maio de 1835 —
São Paulo, 26 de julho de 1911), que foi presidente interino do estado de
São Paulo, governou de dezembro de 1891 a agosto de 1892. Foi secretário e
presidente do Partido Republicano Paulista e, em 1889, Inspetor do Tesouro
do Estado.
- RUA PADRE BENTO PACHECO -
em homenagem a Bento Dias Pacheco, nascido em 1819 e falecido em 1911.
Mais conhecido por Padre Bento, foi um padre ituano, conhecido por sua
dedicação aos portadores de hanseníase (lepra). Segundo o historiador
Francisco Nardy Filho, "durante 42 anos, aqueles pobres parias
tiveram nele pai, o amigo, o médico que cuidava de suas feridas, o Cireneu
que os ajudava a carregar a pesada cruz de sua temida doença. Indiferente
ao cansaço, ao perigo de contágio, procurava acender, em cada coração
sofredor, a lâmpada da esperança num mundo melhor, sem as adversidades
deste vale de lágrimas".
- RUA 11 DE JUNHO - A
Batalha Naval do Riachuelo, ou simplesmente Batalha do Riachuelo,
travou-se a 11 de junho de 1865 às margens do arroio Riachuelo, um
afluente do rio Paraná, na província de Corrientes, na Argentina. Essa
é considerada pelos historiadores militares como uma das mais importantes
batalhas da Guerra do Paraguai (1864-1870).
- RUA HUMAITÁ -
Humaitá foi uma operação militar de cerco prolongado organizada pelos
aliados da tríplice aliança que ocorreu na Fortaleza de Humaitá, no Rio
Paraguai. Humaitá foi cercada por terra em 2 de novembro de 1867, por água
no dia 19 de fevereiro de 1868 se rendendo em 25 de julho.
- AVENIDA ITORORÓ - A
Batalha de Itororó foi a primeira batalha ocorrida na Dezembrada, série de
batalhas vencidas pela Tríplice Aliança durante a Guerra do Paraguai. A
batalha ocorreu em 6 de dezembro de 1868, sob o comando do então Marquês
de Caxias, depois da queda da Fortaleza de Humaitá (em 25 de julho de
1868), quando os países da aliança, Brasil, Argentina e Uruguai,
perceberam que haviam superestimado o poderio militar do Paraguai. O
período de campanha na direção da conquista de Assunção, capital do
Paraguai, deu-se no mês de dezembro e essa época ficou conhecida na
história como Dezembrada.
- A RUA RIO BRANCO, era homenagem
ao Barão do Rio Branco falecido no início do século XX, um dos grandes
diplomatas brasileiros que se destacou na determinação das fronteiras do
nosso território. Muda de nome na 2ª metade do século XX para RUA ADEMAR
DE BARROS. Ademar de Barros (1901-1969) foi um político
brasileiro. Foi prefeito da capital paulista e Governador do Estado por
dois mandatos. Concorreu à presidência da república em 1955 e em 1960.
- RUA TUIUTÍ
e RUA 24 DE MAIO, ambas homenagens a mesma batalha, indicado a data
e o local em duas diferentes vias da cidade A Batalha de Tuiuti ou
Primeira Batalha de Tuiuti foi a maior e mais sangrenta batalha campal de
toda a Guerra do Paraguai e do continente sul-americano, por ter envolvido
mais de 55 mil homens. Foi travada no dia 24 de maio de 1866, em uma
região pantanosa, arenosa e de difícil locomoção chamada Tuyutí, no
sudoeste do Paraguai.
- RUA VOLUNTÁRIO JOÃO DOS SANTOS - Herói Indaiatubano da revolução de 32, caiu em Itararé, lutando contra tropas federalistas gaúchas dando cobertura para retirada de seus colegas, seu corpo foi transportado e sepultado com honras de oficial, seus restos estão no mausoléu do soldado constitucionalista no Obelisco do Ibirapuera. Em observação, a Rua em Homenagem ao Voluntário já era urbanizada e tinha seu nome, na ocasião das festividades de 25 anos da revolução, quando ele foi exumado e levado para o obelisco de São Paulo, o que indica que a reverência a sua pessoa, foi imediata ao seu falecimento, e sincera tendo perdurado até os dias atuais.