sexta-feira, 7 de março de 2025

OS NOMES DAS RUAS DA CIDADE DE INDAIATUBA TAMBÉM FALAM DE NOSSA HISTÓRIA

    




Todos os logradouros ou vias que tem nome na cidade representam uma referência, um símbolo ou uma homenagem, sendo que para essas atribuições de nomenclatura usualmente costumamos trocar o que é mais antigo, que se tornou menos significativo, ou que acabou por cair em desuso, por novas reverências, insinuando sutilmente, assim, que alguns fatos históricos podem - ou devem - perdurar na memória mais do que que outros em diferentes épocas. Isso pode nos dar um panorama do que compõem nossa memória coletiva, do que foi apenas um relâmpago de oportunidade, e do que foi efêmero ou fútil que acabou por se gastar com o tempo. 

Dentro desta perspectiva, este texto tem como objetivo demonstrar a dança dos nomes das ruas na cidade de Indaiatuba, ilustrando, desta forma, as diferentes épocas pelas quais se urbanizou ou desenvolveu nosso Centro histórico e as respectivas nomenclaturas atribuídas em diferentes períodos. 

 

  • RUA CANDELÁRIA é a única das primeiras oito ruas da antiga Indaiatuba que manteve seu nome desde a sua origem, no Brasil Imperial. É homenagem à padroeira da Igreja Matriz de Indaiatuba; embora a primeira capela edificada por Pedro Gonçalves, ou melhor, o Tenente Pedro Gonçalves Meira, ainda no fim do século XVIII, ter sido dedicada a N. Sra. da Conceição, também padroeira de Campinas, onde Meira tinha grande influência política.

 

  • RUA NOVA era o limite da cidade na época do Império, onde acabaram por se instalar a Praça Prudente de Morais, a Casa de Câmara e Cadeia e o coreto original formando uma grande área de convívio na cidade, era o “parque ecológico” do final do século XIX até início do XX.  O nome foi substituído por RUA BERNARDINO DE CAMPOS em alusão à Bernardino José de Campos Júnior (Pouso Alegre, 6 de setembro de 1841 - São Paulo, 18 de janeiro de 1915) que foi um advogado e político brasileiro. Formado em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi segundo (1892-1896) e sexto (1902-1904) presidente do governo do estado de São Paulo.

 

  • RUA DA QUITANDA era o nome inicial da atual RUA SIQUEIRA CAMPOS. A rua SIQUEIRA CAMPOS e RUA 5 DE JULHO, são duas ruas que homenageiam o mesmo evento. Antônio de Siqueira Campos foi um militar e político brasileiro que participou do movimento tenentista e da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922.

 

  • RUA DO COMÉRCIO foi o primeiro nome da RUA 7 DE SETEMBRO.  O Dia da Independência (também chamado Dia da Independência do Brasil, Sete de Setembro, ou Dia da Pátria) é um feriado nacional do Brasil celebrado na data, que comemora a Declaração de Independência do Brasil do Império Português no dia 7 de setembro de 1822. 

 

  • RUA DIREITA era a o nome da atual RUA AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO. Nos primórdios da urbanização das cidades brasileiras, a Rua Direita era aquela que, na tradição católica, conduzia diretamente a uma capela ou igreja, podendo uma cidade ter mais de uma Rua Direita. Seu nome atual é em homenagem a AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO, que com sua  esposa Leonor, foram os idealizadores do Hospital que leva seu nome.  A rua em questão liga o Largo da Matriz da Candelária até a entrada do Hospital.

 

  • RUA DE SÃO JOSÉ era o nome da atual RUA DOM JOSÉ. Uma linda ilustração de como as reverências a personagens da fé católica, em âmbito mais amplo, passam a ser derivadas a personalidades locais, mais próximas da população. Neste caso, em especial, mesmo separados por muito tempo, foi mantido o foco na temática religiosa.  Dom José de Camargo Barros nasceu em Indaiatuba, no dia 24 de abril de 1858, destacou-se como bispo, jornalista, literato, orador sacro entre outras funções. Além do nome da rua, é também homenageado com a Escola Estadual Dom José de Camargo Barros, e seu busto está defronte à Igreja Matriz em estátua com tombamento.  Dom José morreu no naufrágio do navio Sírio, que afundou perto do Cabo de Palos, na Espanha em 1906 e seu corpo nunca foi encontrado. 

 

  • RUA DA PALMA era paralela a fachada da Candelária, fazendo o limite do seu Largo, que era adornado por palmeiras imperiais, que aliás, ali, trocaram algumas vezes de local. As palmeiras que deram nome a rua ainda estão lá, mas nomes derivados da natureza parecem ser facilmente substituídos por personalidades ou eventos.  Por exemplo, o Chafariz é agora a praça Elis Regina e o Córrego Indayatyba, que doou seu nome a cidade, que literalmente quer dizer “muita fruta de rachar a casca” em tupi antigo, parece não fazer mais sentido depois que a palmeira foi praticamente extinta desta área, e agora é o Córrego Barnabé. A Rua da Palma é atualmente é a RUA 15 DE NOVEMBRO, menção ao dia da Proclamação da República.

 

  • RUA DAS FLORES foi primeiro o nome da via que foi chamada também de RUA 24 DE OUTUBRO e posteriormente de  RUA PEDRO DE TOLEDO.  É um exemplo delicioso de como a história de um país marca a cidade em suas memórias. As designações originais, da época do Império, de nossas primeiras ruas, não possuem grandes homenagens, a não ser que sejam religiosas católicas, o que reflete a organização social da cidade na época, em torno da Igreja. Com a República, iniciam as homenagens a pessoas e datas comemorativas, sendo que a Guerra do Paraguai, foi o evento que mais proporcionou referências para nossas ruas no Centro, utilizando datas ou locais de batalhas, marcando as vias que são implantadas em cerca do final do século XIX e início do sec. XX.  Após 1932, a Revolução Constitucionalista passa a ser o evento histórico que predomina nas homenagens concedidas às designações das vias.  A RUA DAS FLORES passa a usar um outro nome em homenagem ao Golpe de Estado que empossou Getúlio Vargas no poder na data de 24 DE OUTUBRO, a chamada de Revolução de 30. Muda novamente seu nome para o do Governador PEDRO DE TOLEDO, homenagem ao gestor do estado de São Paulo na época da Revolução de 32, que lutou contra as tropas do próprio Getúlio Vargas. Essa via foi renomeada após 1951, pois ainda é citada no mapa oficial desta época,  a mudança pode ter ocorrido no mesmo período, ou logo após a edificação do Mausoléu do Soldado Constitucionalista em 1956, que exumou o corpo do Combatente Voluntário João dos Santos em Indaiatuba, e o transferiu para onde se encontra hoje, ao lado dos restos mortais do próprio  Pedro de Toledo, tendo sido, ambos, uns dos primeiros a serem homenageados lá,  levados numa grande festividade em comemoração aos 25 anos da revolução. PEDRO MANUEL DE TOLEDO (São Paulo, 29 de junho de 1860 — Rio de Janeiro, 29 de julho de 1935) foi um advogado, diplomata e político brasileiro. Foi o quarto interventor federal a ocupar o governo do estado de São Paulo e governador do estado durante a Revolução de 32.

 

Como podemos notar, nos exemplos acima, os nomes das vias e logradouros de Indaiatuba possuem grande correlação na cronologia que envolve a história, datas de eventos ou da morte dos homenageados com a data aproximada da urbanização ou pavimentação da via. 

Como exemplo mais recente desta relação social, econômica e histórica entre as vias e logradouros públicos e sua nomenclatura, podemos considerar a história do Parque Ecológico, projetado por Ruy Otake e promulgado por decreto do então prefeito Clain Ferrari em 1991 com nome de “Parque Ecológico Presidente Fernando Collor de Mello” - uma descarada homenagem, em vida, que tinha intenção de trazer mais verbas federais para o projeto. Todos sabem a história do impeachment deste presidente, e após os fatos que o retiraram do poder, o nome foi mudado rapidamente, passando genericamente para “Parque Ecológico de Indaiatuba”. Mais recentemente, tendo falecido o Prefeito que viabilizou a obra, passou a se chamar “Parque Ecológico Dr. Clain Ferrari” (que nunca foi um doutor, pois não obteve esse título, oriundo apenas de quem tem grau de pós-graduação stricto sensu avançado). Vale registrar que o “Dr.” Clain também foi muito discutido na ocasião em que ele próprio se auto homenageou com a designação do Ginásio Municipal Dr. Clain Ferrari: mas isso foi outra história, que também ilustra o muda-muda dos nomes e a relação com eventos históricos, sociais e econômicos, sem os quais não se pode avaliar nenhum evento de maneira séria.  

 

  •  RUA ALEGRE se torna RUA JOÃO PESSOA no meio do Século XX, homenageando um político da esfera federal, cujo assassinato o tornou símbolo da opressão das oligarquias. Posteriormente passou a se chamar RUA NOVE DE JULHO, data que foi lembrada Deflagração da Revolução Constitucionalista de 1932. Mais um exemplo de um nome relacionado a um evento nacional que foi substituído por outro nome mais próximo, do estado ou cidade. 

 

  • RUA DA ESTRADA tornou-se RUA 13 DE MAIO, e ambas são referências da época do Império. A ESTRADA que se refere, ou melhor,  é exatamente o traçado da via pavimentada no final do Século XVIII, entre Itu e São Carlos (atual Campinas), e que tinha Indaiatuba como ponto médio da viagem de dois dias a cavalo. A área do atual Centro da cidade foi adquirida pelo Tenente Pedro Gonçalves Meira, pouco tempo antes da execução da pavimentação da estrada que marcaria o início do Caminho dos Goyases, desde Itu até o Sertão do Brasil, onde o próprio Pedro Gonçalves fez fortuna. Chamada originalmente Parada de Indayatyba, às margens do Córrego de mesmo nome, o local prosperou como povoado que deu início a Indaiatuba. Dizem as más línguas - e longe de querer apresentar um fato histórico incontestável diante desta detração - que de todos os aglomerados urbanos dos quatro bairros originais daqui, a cidade só prosperou quando alguém ganhou com “especulação imobiliária” (me perdoem o anacronismo), valorizando a terras recém adquiridas de uma sesmaria devoluta, com benfeitorias que o próprio Gonçalves ajudou a viabilizar entre os administradores de Itu e da atual Campinas, através da pavimentação de uma estrada, que entre outras coisas, será a mais importante via de escoamento do açúcar na capitania de São Paulo até a chegada da ferrovia na década de 70 do Século XIX.  

 

  • O atual nome RUA 13 DE MAIO, é referência ao Dia da Abolição da Escravatura, celebrado em 13 de maio no Brasil. Esta data homenageia a Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888. Quem assinou a lei da Abolição da Escravatura foi Dona Isabel, Princesa Imperial do Brasil. 

 

  • RUA PEDRO GONÇALVES, é a homenagem ao fundador de Indaiatuba, que de Paragem de Indayatyba, acabou por se tornar o Centro de Indaiatuba. Já citado, sua identificação completa era TENENTE PEDRO GONÇALVES MEIRA. 

 

  • RUA CERQUEIRA CÉSAR em alusão a José Alves de Cerqueira César (Guarulhos, 23 de maio de 1835 — São Paulo, 26 de julho de 1911), que foi presidente interino do estado de São Paulo, governou de dezembro de 1891 a agosto de 1892. Foi secretário e presidente do Partido Republicano Paulista e, em 1889, Inspetor do Tesouro do Estado.

 

  • RUA PADRE BENTO PACHECO - em homenagem a Bento Dias Pacheco, nascido em 1819 e falecido em 1911. Mais conhecido por Padre Bento, foi um padre ituano, conhecido por sua dedicação aos portadores de hanseníase (lepra). Segundo o historiador Francisco Nardy Filho, "durante 42 anos, aqueles pobres parias tiveram nele pai, o amigo, o médico que cuidava de suas feridas, o Cireneu que os ajudava a carregar a pesada cruz de sua temida doença. Indiferente ao cansaço, ao perigo de contágio, procurava acender, em cada coração sofredor, a lâmpada da esperança num mundo melhor, sem as adversidades deste vale de lágrimas".

 

  • RUA 11 DE JUNHO - A Batalha Naval do Riachuelo, ou simplesmente Batalha do Riachuelo, travou-se a 11 de junho de 1865 às margens do arroio Riachuelo, um afluente do rio Paraná, na província de Corrientes, na Argentina. Essa é considerada pelos historiadores militares como uma das mais importantes batalhas da Guerra do Paraguai (1864-1870).

 

  • RUA HUMAITÁ - Humaitá foi uma operação militar de cerco prolongado organizada pelos aliados da tríplice aliança que ocorreu na Fortaleza de Humaitá, no Rio Paraguai. Humaitá foi cercada por terra em 2 de novembro de 1867, por água no dia 19 de fevereiro de 1868 se rendendo em 25 de julho.

 

  • AVENIDA ITORORÓ - A Batalha de Itororó foi a primeira batalha ocorrida na Dezembrada, série de batalhas vencidas pela Tríplice Aliança durante a Guerra do Paraguai. A batalha ocorreu em 6 de dezembro de 1868, sob o comando do então Marquês de Caxias, depois da queda da Fortaleza de Humaitá (em 25 de julho de 1868), quando os países da aliança, Brasil, Argentina e Uruguai, perceberam que haviam superestimado o poderio militar do Paraguai. O período de campanha na direção da conquista de Assunção, capital do Paraguai, deu-se no mês de dezembro e essa época ficou conhecida na história como Dezembrada.

 

  • A RUA RIO BRANCO, era homenagem ao Barão do Rio Branco falecido no início do século XX, um dos grandes diplomatas brasileiros que se destacou na determinação das fronteiras do nosso território. Muda de nome na 2ª metade do século XX para RUA ADEMAR DE BARROS.  Ademar de Barros (1901-1969) foi um político brasileiro. Foi prefeito da capital paulista e Governador do Estado por dois mandatos. Concorreu à presidência da república em 1955 e em 1960.

 

  • RUA TUIUTÍ e RUA 24 DE MAIO, ambas homenagens a mesma batalha, indicado a data e o local em duas diferentes vias da cidade A Batalha de Tuiuti ou Primeira Batalha de Tuiuti foi a maior e mais sangrenta batalha campal de toda a Guerra do Paraguai e do continente sul-americano, por ter envolvido mais de 55 mil homens. Foi travada no dia 24 de maio de 1866, em uma região pantanosa, arenosa e de difícil locomoção chamada Tuyutí, no sudoeste do Paraguai.

 

  • RUA VOLUNTÁRIO JOÃO DOS SANTOS - Herói Indaiatubano da revolução de 32, caiu em Itararé, lutando contra tropas federalistas gaúchas dando cobertura para retirada de seus colegas, seu corpo foi transportado e sepultado com honras de oficial, seus restos estão no mausoléu do soldado constitucionalista no Obelisco do Ibirapuera. Em observação, a Rua em Homenagem ao Voluntário já era urbanizada e tinha seu nome, na ocasião das festividades de 25 anos da revolução, quando ele foi exumado e levado para o obelisco de São Paulo, o que indica que a reverência a sua pessoa, foi imediata ao seu falecimento, e sincera tendo perdurado até os dias atuais.

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