Historiadora pós graduada em Arqueologia
de 11 de junho de 2015.
Para quem está acostumado ao cinema de
hoje, com vários horários, diversas salas com um filme diferente em cada uma,
com tempo para “um passeio” na praça de alimentação, ou - para os mais
preguiçosos - assistir o que quer nos diversos canais de TV paga, sem sair de
casa, ou quem sabe ainda, pegar o filme que quiser na locadora, deve estranhar
se resolvesse assistir a um filme na de Indaiatuba de 1965. O cinema, no caso o Cine Teatro Rex, não estava em um shopping, ficava na Rua Candelária, em frete
a Praça Prudente de Moraes, onde hoje é o Bradesco.
O filme era o que estivesse em cartaz,
um, no máximo dois por semana. Os filmes vinham em rolos, dentro de latas,
entregues pela Estrada de Ferro Sorocabana e o frete não era muito barato não.
Quando chovia muito, como aconteceu em fevereiro desse ano, a ferrovia ficava
intransitável no trecho de Jundiaí até Indaiatuba e era necessário ir de Kombi
até Jundiaí para pegar os rolos.
Havia sessões todos os dias, exceto as
segundas-feiras, mas as mais importantes eram as dos finais de semana que
tinham as matinées as 14h e as duas soirées, ou sessões noturnas, as 19 e às
21 horas. As quartas-feiras eram passados filmes japoneses, em geral alugados
pela Toho Filmes América do Sul Ltda., com sede na Liberdade, em São Paulo e que
já não existe mais, ou pela Shochiku Filmes do Brasil Ltda., até hoje em funcionamento.
Algumas vezes, pelo acordo feito com o
prefeito da época, Romeu Zerbini, o cinema cedia gratuitamente a sala para empresas
que precisavam exibir filmes relativos à indústria, como aconteceu no dia 23 de
fevereiro de 1965, quando a Iseki de Máquinas Agrícolas (depois adquirida pela
Yanmar) fez uso das dependências, sendo cobrada apenas as despesas na
bombonière.
O valor das entradas era, em geral, de Cr$
200,00 a inteira e Cr$ 100,00 a meia, valor esse que não era alto, se
considerarmos que o salário mínimo da época de Cr$ 66.000,00. Para termos um
parâmetro para esses valores: o litro de leite custava Cr$ 140,00 (in natura,
no balcão), o pão (bisnaga de 200 gramas) Cr$ 56,00 e uma revista Seleções da
Reader’s Digest Cr$ 400,00.
A média de pessoas que assistiam às
sessões era de 300 a 400, sempre mais espectadores pagando inteira do que os
que pagavam meio ingresso, mas essa plateia podia ser maior, dependendo do
filme, como aconteceu com “Rômulo e Remo”, filme italiano de 1961, com Steve
Reeves e Gordon Scott, ou “O Manto Sagrado” com Richard Burton, Jean Simmons, ou
o brasileiro “A morte comanda o cangaço” (1). Se levarmos em conta que a população
de Indaiatuba em 1965 era de cerca de 30.000 habitantes, muita gente
frequentava o cinema.
Enquanto esperava o filme começar, os
espectadores ouviam música, tocada em vitrola ou toca-discos como também era
conhecida, com discos de vinil ou LP (abreviatura do inglês long play), que
possuía cerca de 31 cm de diâmetro, pesava de 120 a 180 gramas e tinha capacidade
normal de 20 minutos de música cada lado.
Não podemos esquecer-nos da bombonière,
que vendia balas, mentilla, frutella e melloment da Melbras Indústria de
Caramelos, drops da Chocolate Dulcora e chocolates, saquinhos de gomas,
confeitos de gomas e amendoins da Nestlé. Do lado de fora do cinema havia o
carrinho de pipoca Cruzeiro do Sul, com pipocas doces e salgadas sempre quentinhas
e cheirosas.
Precisamos lembrar que o Cine Rex, não
apenas em 1965, mas durante todo o tempo que funcionou, não foi somente o
representante da “sétima arte” na nossa cidade, era também gerador de empregos
e também fazia um papel social importante, pois, não esqueçamos que os
personagens do cinema eram vistos como exemplos a serem seguidos (nem sempre os
exemplos eram bons, como fumar, beber), mas a forma de vestir, de agir, a
aparência ao mesmo tempo gentil e viril, eram em geral copiados pelos rapazes e
derretiam dos corações das mocinhas que viam neles o noivo ideal.
Permitia ao
espectador se divertir e viajar para outros mundos e lugares, além de um
percursor de cultura.
Cine Rex, Prédio à direita da imagem (sobrado) na Rua Candelária, década de 1960
Obs.: as informações de valores aqui usadas são referentes
aos meses de janeiro e principalmente fevereiro de 1965; a partir de março, o
governo militar passa a permitir constantes reajustes, que leva a inflação.
Veja mais sobre cinema dessa época:
(1) O Indaiatubano Wolney Figueira foi figurante deste filme, cuja atuação você pode ver aqui.
Um excelente texto sobre vários filmes do cinema nacional que foram rodados aqui em nossa região você pode ler aqui.
inema antigocinema de indaiatuba
cine rex
CINE REX
Imagem doada por Antonio da Cunha Penna
CINE REX - década de 1940 - antes da reforma
Imagem do arquivo de Antonio Reginaldo Geiss
CINE REX - 1948 - antes da reforma
Imagem do arquivo de Antonio Reginaldo Geiss
Crédito: Roberto Ulitska | Facebook
muito interesante lembrar o passado e ao mesmo tempo conhecer coisas que a gente não sabia sobre o que assistiamos
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