segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Estação Ferroviária de Indaiatuba é (re)inaugurada com Museu Ferroviário e Locomotiva trazendo Papai Noel

Na sexta-feira p.p. (10 de dezembro de 2021) aconteceu a reinauguração do Museu Ferroviário de Indaiatuba, sediado na Estação Ferroviária de Indaiatuba, como parte integrante dos eventos que comemoraram o 191º ano em que Indaiatuba foi elevada à freguesia. Logo após o descerramento da placa, a Locomotiva nº 1 da Ytuana e nº10 da Sorocabana trouxe o Papai Noel, para alegria dos presentes e principalmente da criançada que pode testemunhar, pela primeira vez, o funcionamento de uma "vaporosa". 

O restauro/reforma

Embora não seja tombado, o edifício da antiga Estação Ferroviária de Indaiatuba pode ser classificado como um dos mais importantes Patrimônios Culturais Edificados de Indaiatuba e como tal, faz parte de um conceito em constante mutação conquanto são construção, interferências e preservação. Mesmo com a mutabilidade desses conceitos, há praticamente um consenso que determina a maior imutabilidade possível quando um item desses tem que passar por uma obra. 

O responsável pela obra feita na Estação Ferroviária, o engenheiro civil Eduardo Constantino Gomes informou que algumas partes do patrimônio teve que passar por reforma, ou seja, foi total ou em grande parte substituída por elementos novos, os mais próximos dos originais possíveis. Foi o caso do madeiramento do telhado, que estava podre e não protegia o acervo do museu de umidade, principalmente com chuva forte. Já as telhas também foram substituídas "por idênticas às originais", segundo informou o prefeito Nilson Alcides Gaspar.

Outro sistema que precisou ser trocado, segundo o engenheiro responsável, foi o elétrico. Além de partes antigas obsoletas, ainda havia um conjunto de instalações que foram feitas conforme o uso do prédio foi mudando ao longo do tempo, inclusive tendo sido sede da Guarda Civil Municipal de Indaiatuba por muito tempo. O engo. Eduardo Gomes informou que a fiação/cabeamento foram retirados e substituídos por novos, o que provê não só melhoria técnica, mas mais adequação quanto a segurança e saúde de funcionários e usuários.

Outro aspecto que o engenheiro responsável destacou foi que foram instaladas paredes de gesso na frente das originais, que podem ser utilizadas sem comprometer a estrutura original. Completou informando que muitos componentes foram apenas restaurados - o que é melhor ainda - como por exemplo as janelas e portas de madeira, que foram mantidas e pintadas para durarem mais. A área externa do prédio foi pintada de branco e amarelo, preservando - o máximo possível - as cores originais.

Engenheiro Eduardo Constantino Gomes
Responsável técnico pela obra


De Fiec para Departamento de Preservação e Memória

Por pressão da extinta Fundação Pró-Memória de Indaiatuba teve início, em 2002, um projeto para preservar o Centro Histórico de Indaiatuba e a Estação Ferroviária era um dos elementos considerados. O então prefeito Reinaldo Nogueira passou para a FIEC as atribuições para elaborar o projeto de restauração e revitalização da antiga estação. Após negociações com a Rede Ferroviária Federal S/A e sobretudo com a ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, assinou-se um convênio no dia 17 de fevereiro do mesmo ano, no qual a locomotiva foi cedida para Indaiatuba. Após dois anos, no dia 1º de outubro de 2004 foi inaugurado o "Espaço Cultural Estação Indaiatubana Museu Ferroviário, que passou a ser administrado pela escola Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura (FIEC) - decisão que causou sempre muita estranheza, uma vez que a Fundação Pró-Memória tinha tal atribuição - de cuidar de museus - em nossa cidade. Após a extinção da Fundação, o Departamento de Preservação e Memória assumiu as funções dela e no evento, o superintendente da FIEC - Geraldo Garcia, passou formal e publicamente a gestão  do Museu Ferroviário para a Secretaria da Cultura, gerida pela profa. Tânia Castanho, que, além de fazer um resumo sobre a s ações feitas, demonstrou afetividade pessoal ao patrimônio: "essa estação está profundamente ligada à minha história e de minha família; meu avô foi Chefe da Estação e minha bisavó era encarregada de abrir e fechar a porteira que existia ali", do lado da estação, na atual Rua Augusto de Oliveira Camargo.

A importância de um Chefe de Estação também foi citada de forma afetiva pelo vereador Alexandre Carlos Peres, que relembrou que o avô dele exerceu também esse ofício, que era, durante o período em que existiu, de muita importância e status. Não por acaso, ambos -  o vereador Alexandre e a secretária Tânia, preservaram essa memória. O Chefe da Estação era responsável pela conservação do prédio, da produção e qualidade dos processos, da comunicação (inclusive por telégrafo), da supervisão e treinamento dos funcionários e da coordenação das cargas e das composições, entre ouras funções. Seu cargo era tão relevante que ganhava o benefício de ficar alojado com sua família em uma casa sempre próxima da estação.

O prefeito Nilson Gaspar relembrou um marco que classificou a população de Indaiatuba desde quando a ferrovia foi instalada até praticamente quando a última composição por ali passou passou, na década de 1980: a linha do trem classificava e delimitava a população. "Tinha quem morava "do outro lado" e os que moravam do lado de cá. Os que moravam "dotrolado" (forma de falar dos indaiatubanos da época) eram mais humildes, uma população mais pobre. Meu pai que era do outro lado, vinha namorar minha mãe, que era do "lado de cá" da linha do trem. A memória afetiva do prefeito Gaspar procede e não é isolada. Muitos contam que "tinham medo" de ir namorar as meninas do outro lado e até não passavam da linha do trem após certo horário com receio  de "apanhar". Parte exagero, parte não - isso só as memórias de cada um podem dizer com acurácia - é fato que a linha do trem era uma linha não-imaginária de divisão de espaço e classe social, inclusive de forma bem preconceituosa uma vez que muitos diziam que "só preto" morava "dotrolado".

Descerramento da placa feito por (da esquerda para a direita): Arthur Spíndola, Tânia Castanho, 
Nilson Alcides Gaspar, Alexandre Carlos Peres e Geraldo Garcia.


Antes tarde...

Além do vereador Alexandre Peres, esteve no evento o vereador Arthur Spíndola, que destacou a importância da (re)inauguração chamando a atenção para a locomotiva, "um objeto imperial que faz parte da História do Brasil e que agora está guardado com mais cuidado ainda, fazendo parte do acervo do Museu Ferroviário de Indaiatuba, possibilitando a recriação do cenário histórico de uma época." Essa materialização destacada pelo vereador é de muita relevância para o estudo e compreensão do passado, principalmente das crianças dos primeiros anos.

Arthur Spíndola  ainda destacou um fato relevante: "todo esse cuidado garante a preservação e  a posse" desse importante fragmento histórico, que inclusive já foi motivo de disputa no passado, por outras prefeituras que a queriam em seus acervos históricos. A locomotiva, como bem ele pontuou, foi "inteiramente restaurada e retornou às suas cores originais". A obra foi feita por técnicos da ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, que inclusive, foram os responsáveis por colocá-la em funcionamento, trazendo em sua janela acenando para o público presente, nada mais, nada menos, do que o Papai Noel, sacudido suavemente ao som da vaporosa, todinha restaurada.

Técnicos da ABPF



Desde a inauguração do Museu da Água ocorrido em 30 de abril de 2016 não se via em nossa cidade tamanho investimento em sua história, memória e patrimônio. 

E de minha parte, que defendo há anos esses meios como estratégias de educação, turismo, lazer, cidadania, identidade e geração de emprego e renda, nenhum evento foi tão relevante como este desde que o ex-prefeito José Onério assinou o tombamento de vários patrimônios em nossa cidade; patrimônios esses que precisam de mais atenção, mas essa texto fica para outro post, pois hoje é dia de escrever apenas sobre uma festa.

Aquela que, em 2021, trouxe o Papai Noel na locomotiva restaurada para o Museu Ferroviário, também restaurado. 

Viva "Indaiatuba sem par" em seu 191º ano de elevação à freguesia!

Viva!




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