segunda-feira, 25 de abril de 2022

JUSTIÇA SEJA FEITA - Biblioteca municipal passará a chamar "Biblioteca Municipal Antonio Modanesi"

Na Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Indaiatuba na noite de hoje (segunda-feira, dia 25 de abril de 2022), por unanimidade, os vereadores aprovaram o Projeto de Lei 62/2022 apresentado pelo vereador Arthur Machado Spíndola que renomeia a biblioteca municipal, que passará a se chamar "Biblioteca Municipal Antonio Modanesi".

Assim que o prefeito municipal Nilson Alcides Gaspar sancionar o PL, nossa cidade estará corrigindo uma grande injustiça feita com o homenageado pois reconhecerá - mesmo que só agora - o verdadeiro patrono de nossa biblioteca, que até então recebia o nome de Biblioteca Rui Barbosa.

A "Biblioteca Municipal Antonio Modanesi" fica na "Casa da Memória Prof. José Luiz Sigrist", junto com o Arquivo Público Municipal "Nilson Cardoso de Carvalho".

Quem foi Antonio Modanesi

Antonio Modanesi em 1952
Formatura na Escola Agrícola de Espírito Santo do Pinhal



Foi Antonio Modanesi quem criou, na década de 1940 - em caráter particular, uma biblioteca com acervo estimado em 1300 volumes, que servia a população na Rua 15 de novembro, 771 em um imóvel que ele mesmo comprou e organizou.

Em 1964, através da lei 825 de 25 de março, o acervo que ele organizou foi doado para a Prefeitura Municipal e passou a funcionar na Rua 15 de Novembro, esquina com a Rua Cerqueira César, no próprio Paço Municipal, sendo organizada pelo então estudante de Direito Fernando Stein. Em 1976 ganhou um prédio próprio (vide foto abaixo), e até mudar para o atual endereço, na Casa da Memória "José Luiz Sigrist" no dia 27 de junho de 2019, passou por vários locais, inclusive no Casarão Pau Preto.

Biblioteca Pública Rui Barbosa, inaugurada em 1976, em um dos diversos prédios que ocupou


Para colocar o Projeto de Lei em votação e discussão na Casa de Leis de Indaiatuba, o vereador Arthur Spíndola justificou que

"Antonio Modanesi, nascido em 10 de Maio de 1903, é um entre muitos que, não nascendo na cidade de Indaiatuba, adotou-a, mesmo assim, como cidade do coração. Autodidata, conhecido também por sua honestidade, Antonio trabalhou durante grande parte do começo do séc. XX como funcionário da Light, antiga companhia de energia da cidade. Àquela época, os pagamentos de conta de energia eram feitos diretamente em suas mãos. Periodicamente, Modanesi se dirigia até a sede da empresa, em São Paulo, para efetuar as baixas dos boletos. Nessas viagens, ao longo do tempo, o homenageado trazia livros da mais diversa gama de assuntos: Artes, Filosofia, Engenharia, Direito, Botânica, etc. Perto dos seus 50 anos de idade, tendo aplicado na cidade uma série de ofícios elétricos que aprendera em seus anos de trabalho na Light, Antonio emprestava livros de sua residência para quem viesse à sua porta. A procura foi ficando cada vez maior, junto com seu acervo que também continha doações. Até que, realizando um sonho, empreendeu-se na compra de um imóvel na rua XV de Novembro, nascendo assim a primeira Biblioteca Municipal de Indaiatuba. Por ocasião do recebimento de "Cidadão Indaiatubano" Antônio de Pádua Constant Pires, amigo do então falecido Antonio Modanesi, comentou que teria sido Modanesi — depois de anos aprendendo os ofícios de eletricista - quem levara energia elétrica para o seu sítio.

Sócrates, filósofo grego da antiguidade, era filho de Fenerate, uma doula. Platão, seu discípulo, nos conta que Sócrates dizia que seu ofício era o mesmo que o da sua mãe. Porém, ao invés de parir crianças, ele paria ideias. Antonio Modanesi, assim como Sócrates, também foi um parteiro, mas um parteiro de Luz: a elétrica — trazendo fios de energia para alguns pontos da cidade -; e uma que Luz não se apaga: o conhecimento democratizado, materializado na forma de livros. Por isso, proponho o Projeto de Lei que nomeia a Biblioteca Pública Municipal como "Biblioteca Pública Antonio Modanesi".


O presidente da Câmara Municipal, Jorge Luis Lepinsk "Pepo" manifestou-se favorável à homenagem, citando o histórico do homenageado, destacando que ele "doou todo o acervo que ele construiu em uma vida toda para os leitores da nossa cidade" e ainda parabenizou o autor do PL.

Antonio Modanesi nasceu em Atibaia e morou em Indaiatuba durante 41 anos, quando trabalhou na Light como eletricitário. Foi casado com Eva Moraes Modanesi com quem teve nove filhos. Chegou a candidatar-se à vereança, mas não foi eleito. O reconhecimento ao seu trabalho honesto e dedicado foi dado pela empresa Light Serviços de Eletricidade S/A, que o premiou por várias vezes pela competência e dedicação.

Antonio Modanesi faleceu em Piracicaba, no dia 11 de dezembro de 1964 e agora, passados mais de 57 anos de sua morte, a Câmara Municipal reconhece seu valor para nossa terra e nossa sua gente.


MUITO JUSTO!

Se um homem é gentil com desconhecidos, isto mostra que ele é um cidadão do mundo, e que seu coração não é uma ilha que foi arrancada de outras terras, mas um continente que se une a eles. (Francis Bacon)



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quarta-feira, 20 de abril de 2022

Quando problemas de saúde mental eram caso de polícia

 O jornal "Imprensa Ytuana" de 5 de novembro de 1887 noticia que um indaiatubano com problemas de saúde mental, categorizado como "alienado" fora enviado, de trem, para a delegacia de Itu. Neste ano, Indaiatuba não tinha força policial e era vinculada àquela cidade. Na mesma nota, o autor comemora que a ação foi "acertada" refletindo a cultura de uma época onde ainda não havia normativas sobre a saúde mental no Brasil. Isso só aconteceria em 1903, com o de Decreto nº 1.132 de 22 de dezembro de 1903 – quando a República começou a legislar sobre a assistência aos "alienados" no Brasil. O recorte mostra o quanto os portadores de doenças mentais eram indesejados e marginalizados



terça-feira, 19 de abril de 2022

Eleições 1881 - Edital para chamamento de eleitores - QUEM PODIA VOTAR?

No jornal "Imprensa Ytuana" de 26 de fevereiro de 1881, foi publicado um edital contendo os requisitos necessários para que um cidadão pudesse ser eleitor na Comarca de Ytu, na qual estavam Indaiatuba e Cabreuva.

As exigências para que a pessoa fosse um eleitor, eram: 

  • ser do sexo masculino;
  • ser brasileiro;
  • ter mais do que 25 anos ou 21 no caso dos casados, militares, bacharéis ou membros do clero;
  • ter renda comprovada não inferior a 200$0



























19 de abril - Dia do Indígena

Pela primeira vez em sua história, Câmara Municipal apresenta demanda sobre o estudo dos indígenas na região de Indaiatuba

Crédito: Jaime Trindade, óleo sobre tela

Estima-se que a população indígena no Brasil era de 8 milhões na época do descobrimento - hoje, chega a 10% disso

O "Dia do Índio" foi criado pelo presidente Getúlio Vargas - após muita insistência do Marechal Rondon - através Decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943 em referência ao dia 19 de abril de 1940, em que lideranças indígenas das Américas decidiram participar do Primeiro Congresso Indígena Interamericano, realizado em Patzcuaro, no México.

Temos, em nossa cidade uma herança indígena incontestável, que é o nome "Indaiatuba"(yinayá´tyba) cuja topologia de origem tupi-guarani significa "local com muitas palmeiras de indaiá".

coquinho da palmeira de indaiá

Apesar desse vínculo com a população indígena, temos poucos estudos publicados sobre os indígenas em nossa cidade. Há o texto da historiadora Maria Luisa da Costa Villanova (que você pode ler aqui), o artigo da também historiadora Adriana Carvalho Koyama que propõe reflexões sobre o assunto com base em algumas pistas (leia o texto aqui) e um texto no site wikipedia (que você pode ler abaixo)

Há portanto, uma lacuna a ser preenchida neste campo do conhecimento e embora essa demanda proporcione um vazio em nossa história, há também alguns avanços para diminuir esse silêncio na historiografia local.

Trata-se da Indicação nº 695/2022 proposta ontem, 18 de abril de 2022 na Câmara Municipal de Indaiatuba, que foi apresentada pelo vereador Arthur Spíndola, que solicita ao Poder Executivo para que sejam feitas ações de conscientização acerca da origem indígena em Indaiatuba. O vereador consultou dois cientistas da UFRJ que pesquisam sobre o tema e justificou o pedido da seguinte forma:

        A formação territorial, cultural e política do Brasil é matéria de debate há vários séculos e mobiliza uma série de grupos sociais, histórias e matérias sobre o assunto. Nessa discussão, alguns elementos configuram pauta obrigatória e central. Um deles, que é o tópico dessa Justificativa, diz respeito à nossa origem Indígena. Para auxiliar-nos na compreensão – e seguinte indicação de campanha de conscientização – dois Antropólogos da Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, Igor Ramos¹ e Helena Young² comentaram, em entrevista: “Conhecido como Pindorama, o território que hoje compõe o nosso país abrigava milhões de indígenas, organizados em diferentes sociedades, que influenciaram a cultura brasileira em termos amplos. No quesito linguístico a marca indígena é profunda, nos legando palavras utilizadas até hoje, seja através do nome de alimentos, de utensílios, de animais e plantas ou de partes do território, como a nomenclatura de rios e cidades”. O nome “Indaiatuba”, em tupi-guarani, significa “região coberta de indaiás”, sendo “indaiá” uma palmeira de pequeno porte. O indaiá é um dos elementos presentes no brasão da cidade, à qual formalmente esta câmara de vereadores serve.   

Sobre nossas florestas e matas, que muitas vezes são consideradas “dadas” e frutos do acaso, os pesquisadores comentam que, na realidade, são grandes jardins, cultivadas ao longo de milhares de anos por populações Indígenas no território onde, hoje, é o Brasil. Além disso, Ramos e Young chamam nossa atenção sobre o caráter indígena de uma série de atividades que chamamos de “rurais” e “religiosas”: “A influência indígena sobre as diversas formas de tradição popular também é importante. O encontro entre indígenas e as várias partes da população gerou práticas sociais que existem até hoje: algumas das tradições de coco, seja de influência indígena mais delimitada ou inserida no contexto quilombola; a absorção da ontologia indígena na religiosidade bantu, viva hoje no candomblé angola; ou então os saberes práticos da vida na mata de forma geral, que sobrevive em muitas comunidades do interior do Brasil. Além disso, os próprios ecossistemas das terras baixas-sul americanas estão intimamente ligados aos povos indígenas. A Amazônia tem sido apontada por ecologistas como uma floresta antropogênica, formada ao longo do tempo pela ação humana. Práticas como a difusão de sementes e espécies diversas através das migrações, originalmente muito comum entre os povos originários, foram fundamentais na formação do ecossistema como ele veio a ser.”

Arthur Spíndola concluiu, ainda, que indica o estudo para que "sejam feitas campanhas de conscientização sobre a origem indígena de Indaiatuba composta por território, linguagem. atividades econômicas, religiosas e culinárias". Essas campanhas podem visar um público de todas as faixas etárias (...) e podem valer-se de pesquisadores para a produção de materiais didáticos e informacionais. Por fim, a possibilidade de mutirões educacionais para o plantio da palmeira de indaiá em áreas previamente planejadas e autorizadas.


Povoamentos pré-coloniais

A região do atual município de Indaiatuba provavelmente começou a ser ocupada por grupos caçadores-coletores e agricultores há cerca de 5000 anos. De acordo com as fontes históricas disponíveis, indígenas falantes de idiomas relacionados ao tronco linguístico Tupi-guarani[7][8] habitavam a região quando as primeiras expedições europeias começaram a cruzar os caminhos terrestres e fluviais do atual estado de São Paulo. Por conseguinte, as pesquisas arqueológicas desenvolvidas nessa região apontam para a existência de diversos sítios por toda sua extensão, sendo registrados (até o momento) 39 sítios arqueológicos, distribuídos por Itu (13), Campinas (05), Indaiatuba (03), Monte Mor (04) e Salto (14).

Identificado em 2005, o sítio arqueológico Buruzinho[9] está localizado nas proximidades do Córrego Garcia (Buruzinho), sendo caracterizado pela presença de ferramentas de pedra (também conhecidos como instrumentos líticos) e fragmentos cerâmicos de uso cotidiano de populações indígenas associadas a tradição cerâmica Tupiguarani, assim como, vestígios de ocupação histórica colonial e imperial (séculos XVIII e XIX, portanto), demostrando ao menos dois momentos históricos de ocupação do local. Apesar das informações esparsas, acredita-se que o material deste sítio se encontra no Museu Elizabeth Aytai, localizado no município de Monte Mor. O sítio arqueológico Cambará, localizado nas proximidades do rio Capivari-Mirim, também conta com presença de instrumentos líticos e fragmentos cerâmicos de uso comum entre populações indígenas, assim como vestígios de ocupação do século XIX, mais especificamente do período imperial brasileiro. Esse último sítio foi identificado em 2018, durante as atividades de acompanhamento arqueológico de um empreendimento residencia,sendo que os materiais encontrados (já bastante fragmentados) foram posteriormente enviados ao Museu Raphael Toscano, localizado no município de Jaú. Embora nenhum dos dois sítios arqueológicos foi alvo de pesquisas que determinassem a idade do material pré-colonial, é possível afirmar que toda a região se encontrava no entorno da rota que ligava diversas microbacias hidrográficas a diferentes pontos do rio Tietê, a qual foi utilizada por séculos pelas populações indígenas.[10] Dessa forma, é provável que os sítios de Indaiatuba façam parte do mesmo contexto de ocupação.

O último sítio, denominado Capivari-Mirim, foi descoberto em 2018. No local foram identificados instrumentos líticos feitos em quartzito, no que provavelmente foi um antigo acampamento de caça. Localizado próximo às margens do córrego Jacaré, afluente do rio Capivari-Mirim, esse sítio arqueológico é mais um testemunho da recorrente presença de grupos indígenas na região de Indaiatuba.[11]

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Semana Santa de 1904 - Festividades financiadas por Augusto de Oliveira Camargo

 

Fonte: Jornal "A Cidade de Ytu" de 4 de fevereiro de 1904

Lar de Velhos Emmanuel: 58 anos de história

O Lar de Velhos e Espaço Dia Emmanuel completou 58 anos em março passado. 

Atualmente a entidade tem 60 idosos e 75 funcionários. 

Todos recebem assistência alimentar, médica, de vestuário e lazer, bem como assistência afetiva, como se estivessem em sua própria casa. 

O Lar de Velhos é aberto a visitas, todas às quintas-feiras e domingos das 14h às 16h. O endereço do Lar é rua Pedro Gonçalves nº 106, Vila Candelária, Indaiatuba/SP. 

O telefone para contato é o (19) 3834-3802. 

A presidente do Lar de Velhos, Dinha Lopes, participou do Jornal das Onze e de talhou a respeito da entidade. 


Dinha Lopes
Crédito: Jornal Indaiatuba 107.1 FM
Ano 1 | Edição 006 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA | Indaiatuba, 14 de abril de 2022



Confira mais informações nos QR Codes abaixo.





O que aconteceu entre os irmãos Joaquim e Pedro?

 Eliana Belo Silva

COLUNA DEMANDAS NA NOSSA HISTÓRIA

Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 | Edição 006  | Indaiatuba, 14 de abril de 2022


Periodicamente esta coluna trará não apenas informações e dados sobre a História de Indaiatuba, mas proporá reflexões sobre questões ainda não respondidas, que são muitas, e carecem de mais pesquisa, análise, produção e divulgação. Hoje, a demanda apresentada é sobre a fundação da cidade e uma provável relação de conflito fraternal. 

Oficialmente Indaiatuba foi fundada no dia 9 de dezembro de 1830, quando a capelinha rural católica existente passou a ser curada. Esse fato elevou até então o local, que era um bairro rural de Itu chamado Cocaes, à condição de “Freguesia de Indaiatuba”. 

Até onde a documentação histórica conhecida até hoje nos aponta, foi o latifundiário escravocrata Tenente Pedro Gonçalves Meira, dono da fazenda açucareira Pau Preto quem doou bens para a capelinha e a transformou na paróquia Nossa Senhora da Candelária, por isso, ele é considerado o fundador de Indaiatuba. 

No entanto, documentos também apontam que o proprietário da Sesmaria de Cocaes, uma subdivisão da Capitania Hereditária de São Vicente, Joaquim Gonçalves Bicudo, irmão de Pedro Gonçalves Meira, já tinha sido o curador de uma capela no mesmo lugar com o nome de Nossa Senhora da Conceição. 

Assim, podemos afirmar que Indaiatuba teve uma capela curada por Joaquim como Nossa Senhora da Conceição, que ela foi “descurada” e em seguida curada pelo irmão Pedro como Nossa Senhora da Candelária. 

A partir desses fatos devidamente documentados, sobra-nos especular com base na organização da sociedade da época: as capelas eram a materialização do poder e das riquezas dos Senhores e Pedro Gonçalves empenhou-se em erigir/reformar a capela e associar seu nome ao empreendimento.

Com isso, ele seria reconhecido pelo Bispo e pela Coroa, obtendo vários privilégios do padroado local, além do prestígio e posição de destaque nos arredores. Ele e sua família passariam a ter assentos especiais nos cultos e à precedência em cerimônias e procissões e, quando mortos, teriam jazigos perpétuos na capela. 

Pelo prestígio que um fazendeiro tinha em ser o curador de uma capela, resta-nos apresentar as demandas: o que aconteceu entre os irmãos Joaquim e Pedro? 

As informações disponíveis permitem concluir que houve um conflito entre os dois curadores? 

Quais circunstâncias direcionaram historiadores e memorialistas a considerar Pedro como fundador? 

O que aconteceu para Joaquim desaparecer dessa história? 

Silêncios também ensinam e as ausências podem, e muito, explicar sobre nossas origens na medida em que, muitas vezes, há narrativas que se sobrepõem, principalmente pelo poder econômico de quem conta a História. 



* Eliana Belo Silva é indaiatubana - neta, filha e mãe de indaiatubanos - historiadora, pedagoga, pesquisadora sobre a história local e apresentadora do canal BODEcast.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Negado pedido de tombamento da Fazenda Bela Vista

O pedido de tombamento da Fazenda Bela Vista foi indeferido na terça-feira p.p., dia 12 de abril de 2022, através da Resolução 02/2022, publicada na Imprensa Oficial da Prefeitura Municipal de Indaiatuba pela Secretaria Municipal de Cultura. 

Tulha e terreiro da Fazenda Bela Vista (2018)

O pedido de tombamento havia sido feito via Processo Administrativo nº 5102/2018 - ainda na época em que existia a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba - e foi submetido para análise do atual Conselho Municipal de Preservação - Biênio 2021/2023, sendo o segundo tombamento recusado desde a posse, sendo o anterior da Igreja Santa Rita de Cássia.

A Secretária da Cultura, Tânia Castanho Ferreira e o Conselho de Preservação decidiram, com o poder que as leis lhes atribuem,  recusar o tombamento com base em um relatório que afirmou que o processo de tombamento trata-se...

... "de um conjunto de fatos complexos, com excesso de vícios de tramitação e repetidos descasos a lei e aos ritos processuais. Sugiro seu encerramento, considerando os graves erros em afronta a lei e seu rito processual, que contaminaram todo o processo de análise e indicação processual(...) 

A Resolução, na qual não consta quem foi responsável por esse relatório, ainda destaca que "no máximo interesse público, um novo processo deva ser aberto para acolher futura indicação de estudos, para fins de tombamento da Fazenda Bela Vista ou parte dela Tulha e Casarão e nesse caso deverá ser iniciado e conduzido sob a égide da Lei nº 7628 de agosto de 2021, artigo terceiro.


Fazenda Bela Vista - Patrimônio Cultural Rural


A Fazenda Bela Vista era um grande latifúndio de café de propriedade de José Manoel da Fonseca Leite, cuja administração era feita pelos filhos José e Jesuíno que a venderam, no dia 19 de agosto de 1895, para  Francisco Alves Barroso. Foi no século XIX que as construções da fazenda foram feitas com a técnica de taipa-de-mão (vide foto), inclusive a Sede  e uma casa do antigo administrador (que seria depois de caseiro).

Em 14 de novembro de 1919 ela foi adquirida pelos irmãos Amstalden: Benedito, João e José - sendo que nesta época um fato curioso é digno de nota: a fazenda passou a ter uma parada particular exclusiva para que a filha de Vandelino Amstalden - Ivete - pudesse se deslocar com segurança pela via férrea da Estrada de Ferro Sorocabana até Itupeva, onde estudava.

A família Amstalden foi desmembrando a fazenda, dando origem a:

  • uma fazenda de propriedade de Klaus Bouillon, que plantava acerola (1992),
  • empreendimento que deu origem ao bairro Altos da Bela Vista (herdeiros de João),
  • empreendimento que deu origem ao bairro Jardim Europa,
  • empreendimento que deu origem ao bairro Residencial Amstalden e;
  • área remanescente da Fazenda Bela Vista (herdeiros de José).

Em 2015, as proprietárias da parte remanescente do latifúndio cafeeiro eram Donatila Amstalden e Jacinta Amstalden. A sede da fazenda continha, na data, uma tulha com máquina de beneficiamento de café e outra de arroz, com piso de madeira e parede de taipa de mais cômodos que funcionam como depósito. Em outra parte da antiga sede sede, com uma entrada separada, a família, conservava, na data, o mobiliário, quadros e enxoval da época e o teto de madeira envernizada em bom estado de conservação. Há, ainda, dois terreiros de café, edificação lateral com paredes de taipa (caseiro), caixa d´água de alvenaria e edificações recentes (cunhada).

Detalhe da taipa-de-mão - Fazenda Bela Vista (2018)




terça-feira, 5 de abril de 2022

Parque Ecológico de Indaiatuba recebe o nome de "Prefeito Dr. Clain Ferrari"

Foi publicada na imprensa oficial de hoje, 05 de abril de 2022, a Lei Municipal Nº 7.760, sancionada pelo prefeito Nilson Alcides Gaspar em 30 de março de 2022 que denomina o maior parque de Indaiatuba e um dos maiores parques lineares da América Latina como "Parque Ecológico Prefeito Dr. Clain Ferrari"

O Projeto de Lei foi elaborado pelo vereador Arthur Spíndola, foi assinado por todos os vereadores da base e aprovado por todos os vereadores da Câmara Municipal de Indaiatuba, tanto da base como da oposição - demonstrando que o professor Clain Ferrari, que foi prefeito de Indaiatuba por dois mandatos - foi reconhecido por todos os legisladores.

A justificativa no Projeto de Lei foi a seguinte:

"Clain Ferrari é mais um de muitas pessoas que, não nascendo em Indaiatuba, adotaram-na como cidade do coração. Trabalhou como professor de Educação Física e como advogado na cidade. Entretanto, é conhecido por conta de seus dois mandatos como prefeito. Durante esses anos como chefe do executivo, foi responsável pela construção de diversas obras de relevância ímpar para o município:  o Cemitério Parque dos Indaiás, a Praça da Liberdade, o Ginásio Municipal de Esportes, o Centro Esportivo do Trabalhador, o Terminal Rodoviário Alberto Brizola, a Avenida Itororó, Avenida do Trabalhador e a Avenida Visconde de Indaiatuba. De acordo com a Historiadora Eliana Belo, foi de Clain a responsabilidade de: “Dar início às obras do maior projeto urbanístico de Indaiatuba: o Parque Ecológico, assinado pelo arquiteto Ruy Othake — que completou 30 anos em 2021 — e que se transformou no no maior símbolo paisagístico de Indaiatuba”. Além disso, a obra do Parque Ecológico “propiciou a mobilidade urbana em diversos modais (automóveis, motocicletas, bicicletas e transporte público), também agrega equipamentos públicos esportivos, recreativos, educacionais, contemplativos e culturais”. Hoje em dia, a obra também se caracteriza como lar de diversas espécies da Mata Atlântica da região: são aves, insetos, peixes e répteis que se beneficiam da vegetação local.   Por último, a principal qualidade do Parque Ecológico “é ser um agente de integração social urbana que conseguiu aproximar os extremos norte e sul, facilitando o desenvolvimento desta segunda região, que paulatinamente foi sendo pavimentada e ligada através de várias alças à via expressa do Parque, que recebeu o nome de Avenida Engenheiro Fábio Roberto Barnabé, um sistema viário composto, na verdade, por duas vias expressas perimetrais”. O congestionamento no tráfego também é um problema da modernidade. Uma das soluções para esse problema é o planejamento urbano, aqui executado de forma exemplar. São conhecidas as histórias do que o então prefeito Clain Ferrari teve que fazer para executar essa obra grandiosa e diretamente ligada à melhoria da qualidade de vida da população Indaiatubana. Diversas áreas consideradas “intocáveis” foram desapropriadas, quitadas, e transformaram-se em bem público. Sua ousadia, digna de chamá-lo também de “visionário”, junto da responsabilidade de ter encomendado e executado o projeto, configuram motivos mais que suficientes para que seja adicionado o nome “Prefeito Clain Ferrari” ao Parque Ecológico de Indaiatuba."

Arthur Spíndola destaca que o "Parque Ecológico é conhecido como a identidade de Indaiatuba, é um dos maiores parques da América Latina e foi construído por iniciativa dele; nada mais justo do que nomear dessa forma, para homenagear seu criador." Arthur ainda completa que conheceu o ex-prefeito quando pequeno, quando andava com o famoso "golzinho preto" dirigido por ele. "Meu pai trabalhava como superintendente do SAAE e ambos, muitas vezes conversavam dentro do veículo, em algumas vezes eu testemunhei isso, sentado no banco de trás, ainda pequeno. "

Por essa memória afetiva e reconhecimento do vereador que teve a iniciativa de elaborar o Projeto de Lei, pela aprovação dos demais vereadores e do prefeito, agora temos o "Parque Ecológico de Indaiatuba Prefeito Dr. Clain Ferrari."

Homenagem merecida, embora o substantivo "doutor" seja dispensável pela total inadequação.

Foto: Divulgação - Prefeitura Municipal de Indaiatuba



Museu Ferroviário de Indaiatuba abre temporada de visitação guiada

 Escolas e grupos conhecerão ainda o Ponto de Informações Turísticas

A Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Departamento de Turismo, retoma o programa de visitas guiadas ao Museu Ferroviário de Indaiatuba para escolas e demais grupos. Entre os destaques do espaço, estão cerca de 400 peças históricas, além da Locomotiva a Vapor Nº 10.

Inaugurado em 2004, o Museu Ferroviário de Indaiatuba ocupa a antiga Estação Ferroviária da Sorocabana Railway em Indaiatuba, cuja obra foi concluída em 1911. Em 2021, o prédio passou por revitalização e foi entregue à população em dezembro.

A Locomotiva a Vapor Nº 10, que pertenceu ao Imperador Dom Pedro II, também foi inteiramente revitalizada, seguindo todas as diretrizes da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), responsável pelo restauro.

Atualmente, o Museu Ferroviário conta com cerca de 400 peças, além de uma maquete lúdica de mesa e uma maquete aérea do trenzinho. O prédio abriga ainda o recém-inaugurado PIT - Ponto de Informações Turísticas, onde os visitantes podem saber mais sobre as atrações turísticas de Indaiatuba e programar novos passeios.

Agendamento

“Durante essa visita guiada, os alunos e a população serão acompanhados por José Henrique Dercole, profundo conhecedor da história e das peças que integram o acervo do Museu Ferroviário de Indaiatuba”, destaca a secretária municipal de Cultura, Tânia Castanho. “Além disso, poderão conversar com a equipe do PIT - Ponto de Informações Turísticas e conhecer mais sobre os pontos turísticos de nossa cidade”.

Para mais informações e agendamento das visitas guiadas, é só ligar para (19) 3816-4917. Terças e quartas-feiras são destinadas às escolas municipais e estaduais. Escolas particulares e grupos de interessados podem agendar sua visita às quintas-feiras.

O Museu Ferroviário de Indaiatuba e o PIT - Ponto de Informações Turísticas ficam na Praça Newton Prado, s/nº, no Jardim Pompeia, e funcionam de terça a sexta, das 8h às 17h, e aos sábados e domingos, das 9h às 12h.



segunda-feira, 4 de abril de 2022

O prédio do Correio

 Nossa linda Agência dos Correios da Praça Prudente de Morais

Texto de Charles Fernandes

Arquiteto e Urbanista


A atual "Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos", ou simplesmente "Correios", empresa pública federal responsável pela execução do sistema de envio e entrega de correspondências no Brasil iniciou seu processo de modernização a partir de 1931 quando Getúlio Vargas criou o Departamento de Correios e Telégrafos (DCT). 

Nesta época, seus edifícios são caracterizados pelo estilo eclético ART DECO que utiliza volumes e composições geométricas. Assim como diversos outros edifícios públicos de meados do século XX, as novas unidades do DCT vão sofrendo influência do Movimento Modernista e assumindo uma nova linguagem arquitetônica. Somente em 1969 o DCT torna-se a Empresa de Correios e Telégrafos subordinada ao Ministério das Telecomunicações.

O prédio do correio de Indaiatuba foi projetado no ano de 1947, tendo sofrido seguidas paralizações na obra, somente foi entregue no ano de 1962, quando a responsabilidade da construção foi passada para o engenheiro Abílio Aranha. 

Longe de Indaiatuba,  na primeira metade do século XX, o Edifício do MEC no Rio de Janeiro, torna-se o primeiro prédio corbusiano no mundo e um marco para a arquitetura modernista mundial, tendo sido projetado em 1936 por Lucio Costa e tendo na equipe o jovem arquiteto Oscar Niemeyer,  definitivamente concluído e entregue em 1945. Isso ilustra como o uso dos pilotis, e de outros elementos modernistas, no prédio do correio de Indaiatuba, já no ano de 1947, apenas dois anos após a entrega do prédio do MEC, acompanha a vanguarda da arquitetura mundial. 

Na agência de Indaiatuba podem ser observadas ideias inovadoras, e que se mantém extremamente atuais, e tornam o prédio referência para a época e local. São destaques no edifício: o uso de estrutura em pilotis, que se remetem a Le Corbusier, famoso arquiteto que influenciou Niemeyer e Lúcio Costa no Brasil; planta livre, janelas contínuas, brise soleil e estrutura independente do pavimento superior. Estas soluções fizeram com que este prédio fosse influência para muitas construções da época, tanto residenciais, quanto comerciais. 

O movimento modernista na arquitetura do início do século XX apresenta oposição ao ecletismo já em declínio na época. As plantas ecléticas baseadas em cômodos, são substituídas pelo "espaço livre" enquanto a "composição de fachada eclética" em geral adotando algum "estilo" da moda, foi substituída pela estrutura aparente, espaços, volumes geométricos que derivam da função e aberturas contínuas, típicos de uma construção que tende ao racionalismo. 

No prédio modernista indaiatubano, o uso de telhado de telhas de marselha, as esquadrias em ferro fundido pequenas dentro de molduras largas e o excesso de vedações no pavimento térreo, expõe algumas dificuldades, tanto de projeto em lotes urbanos, quanto de disponibilidade de materiais e mão de obra na época, para se implantar ideias modernistas.

Assim como muitas construções de uso público, ou prédios executados para receber equipamentos importados, em um país em constante desenvolvimento, Indaiatuba conta com vários ícones de sua arquitetura, construídos a partir de um projeto TIPO, ou um projeto padronizado, criado para ser implantado em várias localidades que, em determinada ocasião, necessitavam do mesmo serviço. O mais importante projeto TIPO de nossa cidade é a Estação Ferroviária Urbana, cujo projeto também foi implantado com pequenas diferenças nas cidades de Angatuba e Piapara; outros exemplos são a Caixa d'água metálica da Estação de Itaici, a Estação Pimenta, a tuia do Casarão do Pau Preto e o Pontilhão Ferroviário da rua 9 de Julho. Não seria de se espantar, que um prédio tão à frente de sua época, como os correios de Indaiatuba, não tivesse similares no país, indicando que nossa cidade embarcou no projeto de desenvolvimento dos correios iniciado por Getúlio Vargas em 1931. Ao que se sabe nossa agencia dos correios de Indaiatuba, possui alguns similares no país, ao menos nas cidades de Montenegro e Lajeado no Rio Grande do Sul, Missão velha no Ceará e Lapa no Paraná.

Lajeado (RS) 

Missão Velha (CE)

 Lapa (PR)

 Montenegro (RS)

O edifício dos Correios foi reformado na década de 90 e perdeu muito de sua linguagem original, paradoxalmente recebendo molduras e adornos, elementos aos quais, a renúncia de seu projeto original conferiu-lhe originalidade e vanguarda. Ilustrando como símbolos antigos da arquitetura vernacular podem prevalecer, apesar da modernidade e de forma tão tardia.


Vista aérea da Praça Prudente de Morais, prédio do Correio está na esquina do lado esquerdo



A construção do prédio do correio de Indaiatuba foi interrompida várias vezes, e em seguida retomada. Essa imagem é de uma das vezes que a obra estava parada. O local servia de moradia para um conhecido "tipo popular" da cidade: o Dito de Jeró, que o primeiro sentado, à esquerda.



Correio de Indaiatuba - Praça Prudente de Morais
Na rua Candelária, onde se vê o ônibus estacionado, era a "Rodoviária"




Rua Candelária, do lado esquerdo é o prédio do Correio. Nessa época, do lado direito era a Barbearia do Clóvis e a loja do Chain (produtos expostos na calçada).
Acervo pessoal de Jaime José Pozzan (Dinossauros de Indaiá)



Esquina das ruas Candelária e Cerqueira César. Do lado do prédio do Correio, vê-se o antigo estacionamento da Prefeitura Municipal


Correio de Indaiatuba -  década de 1960



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