quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

A história da Igreja da Candelária é a história de muitas Marias

Charles Fernandes 

 

Arquiteto e urbanista


A história da Igreja da Candelária é a história de muitas Marias


Não havia outra solução para Portugal! Era necessário estruturar a Capitania de São Paulo para dar suporte logístico e militar contra as invasões espanholas que ocorriam no sul do Brasil em meados do século XVIII. Para tanto, o Morgado de Mateus, governador da Capitania, trouxe, de Portugal para a região, qualquer um que tivesse renda para construir um engenho e produzir açúcar. A regra era simples: ocupar para não entregar - ou perder. A região entre Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí formaram um quadrilátero que se destacava pela crescente economia açucareira.  

A Vila de Itu localizava-se nesse quadirlátero e, dentre seus diversos bairros, havia um que abrangia a bacia hidrográfica do Rio Jundiaí, e era chamado pelo mesmo nome. Nesta época a hidrografia era a referência geográfica que nomeava a maioria das localidades.  

Em 1791, após cinco anos enveredando o caminho dos Goyases,  o ituano Pedro Gonçalves Meira volta com fortuna considerável e adquire terras as margens do “Ribeirão Indayatuba”, no Bairro de Jundiaí da Vila de Itú (atual Itaici). A escritura de compra destas terras é o documento onde, pela primeira vez, encontramos menção ao “Ribeirão Indayatuba” (atual córrego Barnabé). 

Em 1793, parte destas terras foram doadas para que um padre constituísse patrimônio eclesiástico, na escritura de doação, estas terras eram descritas como pertencentes a Paragem de Indayatuba, fazendo parte do Bairro de Jundiaí da Vila de Itu. 

Em 1796, Pedro Gonçalves Meira, anteriormente recenseado no Bairro de Jundiaí de Itú passa a ser recenseado no Bairro de Indaiatuba, da Vila de Itú. 

Com base em documentos de propriedade e recenseamentos da Vila de Itu, podemos dizer que ainda no final dos anos 1700 Indaiatuba passa a ser uma localidade, inicialmente uma paragem e depois bairo rural de Itu. 

Em 1813, cerca de 22 anos após a compra de suas terras, Pedro Gonçalves Meira foi o curador de uma capela, onde segundo relatos já estava em construção uma igreja muito maior, cuja nave cercava a capela. Esta capela fora curada anteriormente por Joaquim Gonçalves Bicudo, irmão de Pedro Gonçalves Meiraem homenagem a N. Sra da Conceição, a mesma padroeira da Vila de São Carlos (atual Campinas); no mesmo ano Meira falece e é enterrado dentro desta capela. 

Em 1819, há despachos de casamento realizados na Capela de Indaiatuba, que fora curada novamente como Capela do Santíssimo Coração de Maria do Santíssimo. 

Acerca deste ano de 1819, o Padre Dias Paes Leme escreveu no livro de registros sobre a história das capelas de Indaiatuba:

“Foi primeiramente capella sem ser Curada, e depois passou a ser Curada, e depois deixou de ser curada, os tempos em que estas alternativas tiverão lugar, não achei documento, nem pessoa que me pudesse informar, com tudo haverá mais ou menos 23 annos”. 

Em 1830, foi finalizada a construção da Igreja cuja nave cercava a capela inicialmente chamada de Capela de N. Sra da Conceição, e que mudou de nome para Capela do Sagrado Coração de Maria. Com a finalização da grande igreja de Indaiatuba, acabou por ser demolida a Capela que ficava localizada no seu interior. Esta igreja, que já estaria em construção há mais tempo que os autos de doação destas capelas, fora chamada, a partir de 1830, de Igreja de N. Sra da Candelária.

Apesar de ser curada (doada ou registrada a igreja) em 1830, há ao menos 39 anos de história que precedem a finalização da igreja da Candelária, remontando a história da paragem de Indaiatuba a uma ocupação setecentista, e que são marcadas pela construção da capela original destas terras nas margens do Ribeirão Indaiatuba, onde, em curto espaço de tempo, deu-se a construção da obra da igreja grande em taipa de pilão que circundava a capela, mais singela feita em pau a pique.  

Nestes 233 anos (1791/2024) que remontam a história de nosso povoado desde os tempos onde se construiu a primeira capela, podemos dizer que nossa tradição sempre foi homenagear Maria, a Mãe de Jesus, e o fizemos em toda a sua santa trajetoria, desde a concepção da Virgem, representada por N. Sra da Conceição, passando pela purificação do nascimento, representada por N. Sra. da Candelária até a dor da crucificação e o luto, representada pelo Sagrado Coração de Maria.




Na peça de teatro popular "Auto de Nossa Senhora da Candelária" apresentado no interior da Matriz de Indaiatuba,  foram representados três  momentos da vida de Maria. A peça foi parte das festividades em homenagem a padroeira de Indaiatuba.



Poucos sabem, mas a imagem da padroeira do Brasil, é chamada de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Nossa Senhora da CONCEIÇÃO é a representação da concepção de Jesus em Maria Virgem, onde a imagem se apresenta em oração, que também era padroeira da primeira capela da Paragem de Indaiatuba, construída entre o final do Sec. XVIII e início do XIX.



Imagem de Nossa Senhora da Candelaria da Matriz de Itu, representa Maria, com um candeia nas mãos e o menino Jesus no colo, em procissão na ocasião onde realizou ritual de purificação  após o nascimento de Jesus. 
Candelária é a representação do Nascimento, do ato de ser mãe de Jesus.


A capela do "Santissimo Coração de Maria", 
segundo nome de nossa primeira capela do então bairro rural de Itu (que se chamava Cocais e depois Indaiatuba), é homenagem a representação do luto de Maria após a crucificação.



Retábulo do altar mor da Igreja da Candelária de Indaiatuba, feito em 1951 para instalação do órgão de tubos, está sob a magnífica abóbada em arco pleno, também chamada de abóbada de canhão que cobre o presbitério, entre o arco cruzeiro e o Retábulo. A estrutura desta abóbada é uma das  mais arrojadas obras de engenharia em madeira realizadas na cidade até os dias atuais, e representa enorme capacidade técnica dos construtores do inicio do sec XIX, com recursos limitados e ferramentas manuais. A capela original da Paragem de Indaiatuba era localizada exatamente no centro da nave da atual igreja, e sua porta era voltada para este altar exatamente ao contrário da posição atual.


Imagem da Nossa Senhora da Candelária da Matriz de Indaiatuba


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Fontes:
Indaiatuba - Sua História, livro de Scyllas Leite de Sampaio e Caio da Costa Sampaio
A Paróquia de Nossa Senhora da Candelaria de Indaiatuba, livro de Nilson Cardoso de Carvalho




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