Vista Interna do Campanário da Igreja da Candelária
01 – CÔMODO EM TAIPA DE PILÃO, NO CASARÃO PAU PRETO
Construído entre o fim do Século XVIII ou início do século XIX, o cômodo é retratado na carta do padre Cassimiro da Costa Roriz como moradia singela, utilizada pela igreja, e dataria da época em que foram edificadas as primeiras capelas, de Nossa Senhora da Conceição e do Sagrado Coração de Maria, anteriores a Igreja da Candelária, esta última demolida quando a obra da Matriz terminou. O cômodo original (veja post aqui), existente antes da chegada do padre Cassimiro, possuía um alpendre que era voltado para o sol do meio dia, voltado para olhar o vale do Córrego Votura, também chamado de Córrego Indaiatuba e recentemente de Córrego Barnabé. Este cômodo é uma das primeiras edificações de Indaiatuba possivelmente de época em que a localidade não era, sequer, reconhecida como bairro rural de Itu.
02 – PORTA DE ACESSO AO RELÓGIO DA IGREJA DA CANDELÁRIA
Foi Pedro Gonçalves Meira, que era proprietário de terras a beira do Rybeirão Indayatuba quem construiu a capela de Nossa Senhora da Conceição, que era localizada onde hoje é a nave da Igreja da Candelária, fora construída por Pedro Gonçalves Meira, e já existia em 1807, sendo sua construção anterior a esta data, possivelmente na época da ocupação das terras devolutas que vieram se tornar a paragem de Indaiatuba no fim do século XVIII.
A atual matriz de Nossa Senhora da Candelária foi construída, literalmente, em torno desta capela que mudaria o nome de para Nossa Senhora da Conceição para Capela do Santíssimo Coração de Maria.
A porta da primeira capelinha da Conceição, foi guardada e reaproveitada em uma reforma, em cerca de 1879, tendo sido instalada para dar acesso ao mecanismo do relógio inserido no frontão, nesta ocasião. Considerando esses fatos, é plausível afirmar que essa porta setecentista é a última peça remanescente da capela original das terras da paragem de Indaiatuba.
Em 1819, a capela já seria Curada com outro nome, como Capela do Santíssimo Coração de Maria Santíssima, segundo registros de casamento da época. Em Outro registro, o Padre Pedro Paes Leme escreve: “Foi primeiramente capella sem ser Curada, e depois passou a ser Curada, e depois deixou de ser curada, os tempos em que estas alternativas tiverão lugar, não achei documento, nem pessoa que me pudesse informar, com tudo haverá mais ou menos 23 annos”.
03 – FRONTÃO ALTEADO DA IGREJA DA CANDELÁRIA
A construção da igreja da Candelária teve início na primeira década do século XIX, cerca de 1807. Foi edificada conforme as normas estabelecidas na contrarreforma da igreja católica, indicadas no Concílio de Trento, no início do século XVI, possuindo uma planta com altar, presbitério, nave, coro, capelas laterais, tribunas elevadas e balcões - todos estes elementos dispostos de maneira a criar soluções acústicas, luminotécnicas e de conforto térmico, para proporcionar melhor acolhimento e, por consequência, apreciação e entendimento das missas. Chamada de frontispício, a fachada principal das igrejas maneiristas e barrocas brasileiras é coroada por um elemento usualmente em formato triangular, que é chamado de frontão; mas que na igreja da Candelária possui um desenho incrivelmente incomum.
O maior mestre da arquitetura colonial brasileira, o Alejadinho, teria usado esta segmentação do frontão na igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, em 1642; cortou o frontão, torceu e perspectivou-o sobre o frontispício, como se o templo explodisse em esplendor para receber o fiel; um gênio, se não à frente, igualável aos maiores arquitetos de Europa.
Originalmente, a cobertura dos campanários da Candelária possuía frontões curvos, exatamente como os do Carmo, mas foram reformados em 1915 quando foram elevados e receberam coberturas em formato de pináculos e os coruchéis barrocos de pedra, idênticos aos do Carmo, foram substituídos por imagens de anjos.
04 – AS VERGAS ABATIDAS E BALAUSTRADAS DOS BALCÕES DA CANDELÁRIA.
O Barroco é um movimento artístico caracterizado pelos excessos, pelo movimento, pelas curvas, pela luz e sombra percorrendo as superfícies rebuscadas. A folha de acanto estilizada e as conchas do mar, são temas muito utilizados, e os formatos destes elementos “rocaille” são características muito fortes desta arte que floresceu na época do Brasil Colonial. A primeira carta que descreve a Candelária, escrita pelo padre Roriz, indica que o altar mor possuía um retábulo muito liso e simples; muito tempo depois, foi substituído, em 1875, por outro retábulo já com elementos do repertório eclético, entalhado por Monsieur Bernard, um artista francês que levou cinco anos para terminar esta obra, que também foi retirado em 1951 para instalar o órgão de tubos que atualmente adorna a capela-mor.
Pouquíssimos elementos do barroco original restaram na Candelária, e possivelmente parte, ou a totalidade, dos seis primeiros balcões cegos sobre o presbitério, são remanescentes desta rica arte. As VERGAS das aberturas “rasgadas por inteiro” destes falsos balcões sustentam a parede de taipa, e são em arco abatido, acabadas com sobrevergas e ombreiras, finamente entalhadas, tipicamente barrocas. Destaca-se também o desenho da balaustrada, em arco abatido, com arranques laterais adornados de acantos rococó, entalhados em madeira que se projeta em leve balanço sobre o Presbitério.
Na Candelária, o pavimento acima das capelas laterais originalmente adjacentes a nave, formam uma tribuna, onde, nos tempos antigos, personalidades assistiam as missas, de local separado do público geral, que ficava abaixo. Os primeiros balcões sobre a nave, eram reservados para que as pessoas mais importantes da cidade assistissem a missa nas tribunas no pavimento superior. A nave termina no arco cruzeiro, e depois, mais estreito vem o presbitério e a capela do altar mor; nesta parte não há tribunas sobre os corredores laterais e a Capela do Santíssimo, mas existem balcões falsos, com nichos na parede de taipa que possuem óculo para a estrutura do telhado. Apesar destes balcões terem apenas funções decorativas, são entalhes incríveis ainda preservados.
Existem dois entalhes em madeira dignos de citação e memória em Indaiatuba, este balcão é meu preferido por ser o mais antigo e representativo, dada sua importância histórica; o outro é o retábulo de Nossa Senhora de Lourdes na Colônia Helvetia, a peça mais completa e preservada do gênero na cidade.
05 – O LARGO DA CANDELÁRIA
Largo é um pátio externo e descoberto, que pode ser localizado em frente ou junto a igrejas, também chamado de Adro, utilizados especialmente no Brasil Colonial. Embora o Largo da Candelária já tenha sido reformado e, por algum tempo, ocupado por uma praça com caminhos e canteiros lembrando jardins europeus, ele voltou a sua configuração original, como espaço cívico e de convívio. O Adro da Candelária foi também o primeiro cemitério, tendo sido também, o local onde se levavam pessoas enfermas a procura de cura. Era, e ainda é, o local das festas religiosas, também o início e fim das procissões. Você pode descrever dezenas de cidades brasileiras afirmando que a procissão sai do Largo da Matriz pela rua lateral, vai até o cemitério, e volta. Algumas cidades possuem além do Adro, o Rossio, que é um espaço comum onde os moradores faziam pequenas plantações, se pegava lenha e onde se deixavam as montarias quando em visita a cidade. O LARGO da Candelária, chamado erroneamente de “Praça” Leonor Barros de Camargo, é um espaço que reafirma a construção da Matriz da Candelária na época e nos costumes do Brasil Colonial.
06 – O ORATÓRIO DO CASARÃO PAU PRETO
Na parte edificada em taipa de pilão do Casarão, citada anteriormente, pode-se notar a estrutura de um antigo alpendre, que foi fechado em reformas posteriores. A construção original em taipa, é uma das mais antigas da cidade, fora concebida com o raciocínio da arquitetura vernacular da São Paulo colonial, e que depois se perdeu em meio a tantas reformas do prédio. Originalmente, uma construção central em taipa sustentava a cobertura de onde projetava-se um alpendre, que é uma varanda de receber visitas ou marcar a entrada da casa, voltada a norte para barrar o sol e o calor excessivos. Nestas épocas de Colônia, as visitas eram recebidas no alpendre, que usualmente possuía cômodos de visitantes e uma capela, ou oratório, assim como algumas casas bandeiristas ainda existentes. Este oratório, era voltado para o o vale onde se avistava o Ribeirão Votura (atual Córrego do Barnabé), como também era voltada a porta da capela do Sagrado Coração de Maria, localizada onde hoje é a nave da Candelária. As capelas e igrejas coloniais, eram voltadas para os pontos de interesse, trabalho ou convívio. Nesta época, anterior a criação de um Centro Urbano em Indaiatuba, a população se assentava ao longo dos rios, e segundo documentos antigos, não havia um só rio ou córrego, que pudesse mover uma roda água, que não chegou a ter um engenho de cana nestas terras. A hidrografia coordenava a ocupação do espaço colonial, usualmente nomeava localidades, e podia proporcionar também, pontos de interesse dos aglomerados de fogos (casas) e capelas. Inicialmente, a sede da Fazenda Pau Preto era junto ao seu engenho, no Córrego Belchior, próximo de onde hoje é a feira noturna.
Já o embrião do que hoje é o Casarão (vide item 1), uma humilde edificação de taipa, era utilizada inicialmente pela igreja para pousada e moradia de padres, tendo neste singelo oratório, ainda existente, um dos primeiros abrigos para imagens de santos da cidade, possivelmente esculpidos em madeira, muito expressivos, caricatos, dramáticos, como são as imagens de entalhe barroco. Este oratório, junto ao cômodo de taipa, pode ligar a construção original do Casarão a um passado muito representativo de história das terras onde hoje está Indaiatuba ao período colonial.
07 – OS SANTOS DE ROCA DA CANDELÁRIA
Foi no setecentos que houve larga produção de imagens, prática advinda do já citado Concílio de Trento, que confirmou esse tipo de culto.
Em meio a algumas peças existentes no acervo do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Campinas, que pertenceram ao acervo da Igreja da Candelária, existem duas cabeças de santo de roca (ou santo de vestir), um São Jorge e um São Francisco. Santos de roca eram figuras com cabeças, mãos ou bustos esculpidas e estruturadas em madeira, utilizadas em altares, oratórios, procissões e festas, que eram vestidas com roupas de tecido, o que dava mais teatralidade advinda da influência barroca. Eram também levadas em procissões e cortejos para dar dramaticidade e proporcionar maior comoção dos fiéis, que emocionadamente oravam, inflamados pela devoção. Geralmente, quanto mais antiga a imagem sacra brasileira, mais caricata será sua aparência. Imagens de roca barrocas são exageradamente expressivas. Com o fim do século XIX e início do século XX as novas imagens tornaram-se menos dramáticas e supostamente mais leves, e as antigas imagens de roca foram sistematicamente substituídas por santos de gesso.
Existem ainda outros três santos de roca que foram levados em 1920, para a capela da sede da fazenda Cachoeira do Jica, (1) um São José, (1) uma Nossa Senhora Candelária, e o popular e querido São Benedito, cuja procissão pedia chuva em épocas de seca. Segundo informações recentes estas imagens foram recuperadas e estariam guardadas no acervo histórico da Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba.
Embora se tenha certeza que estas imagens são oitocentistas, há discordância entre memorialistas locais, que datariam o São Jorge como setecentista. Caso esta afirmação venha a ser comprovada, este poderia ser o patrimônio artístico material mais antigo de Indaiatuba e... quem sabe? Possamos até inferir que ele já tenha estado ornando, para os devotos, o oratório da então casa paroquial, aquele que chamamos de Casarão Pau Preto.
08 – O BAIRRO DE ITAICI E SUAS CONSTRUÇÕES COLONIAIS
Sem sombra de dúvida a ocupação da área do atual município de Indaiatuba não teve início no local chamado de Paragem de Indaiatuba, atual Centro - em local denominado "Praça da Nascente", isso só veio a acontecer no fim do século XVIII. A população da área que atualmente compõe o município de Indaiatuba era recenseada em quatro bairros rurais pertencentes a Itu, que no século XVIII eram chamados de Burú, Mato Dentro, Jundiaí (de Itu) e Piraí. Parte dos bairros do Piraí e Jundiaí hoje são conhecidos como Itaici e detinham as maiores populações da área, que usavam os abundantes recursos hídricos da região para mover rodas de engenhos e produzir açúcar, que era transportado por mula, utilizando os caminhos imperiais que partiam do interior da capitania (Caminho dos Goyases), passavam por Itu (Caminho do Peabiru) e São Paulo, e finalmente destinavam-se a Santos.
Entre as diversas edificações das fazendas de Itaici destaca-se a sede da Fazenda Taipas, que, junto com a Fazenda Tranqueiras, mais tarde receberia o nome de Sitio Itaici que deu nome a área. Neste local, já em 1723, Antonio Pires de Campos mantinha aldeados 600 índios Bororós que o acompanhavam em suas entradas no caminho dos Goyases. A estrutura de taipa da sede da Fazenda Taipas ainda permanece, tendo conhecidamente sido reformada no séc. XIX por João Tibiriça Piratininga, e é atualmente chamada de Vila Manresa, patrimônio pertencente à Vila Kostka. Ainda não há estudos que indiquem quais partes desta edificação são originais ou anteriores a essa e outras reformas, e qual a precisa data em que foi edificada.
09 – AS CONSTRUÇÕES EM PAU A PIQUE QUE RESTAM NO CENTRO HISTÓRICO
Há ao menos duas edificações remanescentes em pau a pique no centro histórico de Indaiatuba. O pau a pique, ou taipa de sopapo, ou taipa de mão, é caracterizado por uma estrutura de madeira que forma os principais apoios de paredes e telhados, os vãos são fechados por uma malha de madeira e fibras vegetais, e preenchidos com barro. O barro é lançado por duas pessoas, uma de cada lado da parede, simultaneamente, por isso o nome, sopapo, ou mão. Partes do Casarão Pau Preto e da Casa Número 01 resistem bravamente como os últimos exemplares desta engenhosa técnica construtiva no Centro Histórico de Indaiatuba. Ambas não são totalmente em pau a pique, possuindo apêndices ou reformas em alvenaria de tijolos de barro, ou partes mais antigas em taipa de pilão.
Alguns casarios antigos do centro ainda podem ter as empenas laterais dos telhados feitas em pau a pique. Existem ainda alguns poucos casarões de fazendas em pau a pique, espalhados pela zona rural. Peças de madeira da estrutura do pau a pique do Casarão Pau Preto, não são serradas, são "falquejadas", aplainadas com ferramenta em forma de cunha ou facão, o que torna mais evidente as dificuldades técnicas e econômicas envolvidas em sua manufatura.
10 – OS MUROS DE TAIPA DO CENTRO
Em tempos onde não se tinha acesso a ferramentas elaboradas ou grande diversidade em materiais disponíveis para construção, construía-se com o que o local fornecia, e muitas vezes, era só o barro. Podemos dizer que as edificações mais antigas da cidade, são em taipa de pilão. As edificações de taipa, são o burro de carga das construções coloniais, feitas para enormes esforços estruturais, como na Igreja da Candelária, ou construções com ótima resistência utilizando materiais simples e abundantes, como nos muros de taipa do Centro, que estão em pé desde as primeiras construções da cidade. São apenas barro, socado entre formas de madeira, chamadas de taipais, unidas por caibros de madeira que serviam de tirantes internos, chamados de cabodás, e fixados com cunhas. Os taipais iam “subindo”, montados e desmontados a cada nova camada de barro que se socava, muitas vezes com a ajuda de um bezerro ou animal de pequeno porte, que era conduzido entre os taipais.
Existem dois muros remanescentes de épocas muito antigas, ambos tombados pelo patrimônio histórico de Indaiatuba. O muro de taipa, localizado do lado da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária foi recentemente tombado pela Resolução 03/2023, da Secretaria de Cultura de Indaiatuba. Outro muro faz parte da estrutura de um apêndice lateral do Casarão Pau Preto, tombado em 1997, que originalmente, não era parte da casa e sim apenas um muro. Estudos indicam que a edificação original do Casarão Pau Preto, ocupava parte da área atual, e era cercado parcialmente com muro de taipa. Esta parede do atual casarão, que inicialmente era muro, está a apenas 60 metros de distância do muro recentemente tombado pelo patrimônio histórico, e exatamente no mesmo alinhamento dele. Este muro do Casarão foi, em diversas épocas, usado como fechamento entre chácaras, parte de uma cobertura para animais e parte da área de serviços da sede da fazenda. Ambos os muros podem ter ligação com a construção da Matriz da Candelária cuja parte em taipa foi iniciada 1807, pois ambos possuem grande semelhança em sua manufatura e fazem divisa entre as propriedades adjacentes a matriz.
Por fim, existe ainda um terceiro muro de taipa mais recente edificado em 1886, para fazer o fechamento de parte do Cemitério da Candelária, quando se desocupou o antigo Cemitério São José, que ficava nos terrenos onde hoje são o Correio e a antiga Prefeitura.
As maiores paredes de taipa de Indaiatuba, são as da Igreja da Candelária que chegam a ter 1.30m de largura estendendo-se até os frechais da cobertura.
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