segunda-feira, 7 de julho de 2025

Estação Ferroviária de Helvetia é tombada


📣 PATRIMÔNIO HISTÓRICO GARANTIDO!


Após um longo tempo de solicitação pela então Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (agora extinta), finalmente a Estação Ferroviária de Helvetia é oficialmente tombada como bem cultural de interesse histórico para o município de Indaiatuba, conforme estabelece a Resolução nº 007/2025, publicada na Imprensa Oficial do Município hoje, dia 07 de julho de 2025, edição nº 3301 (veja a resolução na íntegra abaixo).


A ESTAÇÃO

A Estação Ferroviária de Helvetia, localizada no distrito de mesmo nome em Indaiatuba, interior de São Paulo, carrega em sua estrutura antiga uma parte significativa da história da imigração suíça e do desenvolvimento ferroviário paulista. Helvetia foi fundada em 1888 por imigrantes suíços, principalmente de regiões de língua alemã, que buscavam estabelecer uma colônia agrícola baseada em trabalho familiar, organização comunitária e preservação cultural.

A chegada da ferrovia à região foi um marco fundamental para o crescimento da colônia. A Estação de Helvetia foi inaugurada em 1914, mas já embarcava passageiros desde o ano anterior, como parte do ramal Ituana, da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, que interligava Indaiatuba a outras cidades como Itu e Sorocaba. Esse ramal foi essencial para escoar a produção agrícola da colônia — milho, algodão, leite e outros gêneros — além de facilitar o transporte de pessoas, bens e notícias, integrando a comunidade suíça ao restante do Estado de São Paulo.

Durante décadas, a estação serviu como ponto de encontro e de circulação de ideias, mercadorias e pessoas. Sua presença consolidou Helvetia como um polo rural articulado com as dinâmicas econômicas da região. No entanto, com o passar dos anos e o crescimento do transporte rodoviário, a importância do trem foi diminuindo. Na década de 1970, o ramal foi desativado e a estação deixou de operar. Desde então, o prédio entrou em desuso, embora sua estrutura ainda resista ao tempo, sendo alvo de olhares atentos de quem reconhece seu valor histórico.

A Estação de Helvetia é hoje um símbolo da influência da ferrovia na formação das cidades do interior paulista e da força da imigração suíça na identidade local. Preservar sua memória é preservar também as narrativas de trabalho, solidariedade e desenvolvimento que moldaram a região. Como patrimônio cultural, ela representa não apenas uma construção física, mas também um elo entre o passado e o presente da comunidade de Indaiatuba.


Leia mais sobre a Estação aqui: https://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2020/12/a-estacao-ferroviaria-helvetia-foi.html



Composição da Sorocabana parado na Estação da Helvetia, provavelmente década de 1940



Mapa do bairro de Helvetia, próximo aos entroncamentos de Itaici e Francisco Quirino 
(data imprecisa, talvez década de 1940)

Trem nas proximidades da Estação Ferroviária da Helvetia, provavelmente década de 1930
(foto tratada por Antônio da Cunha Pena - cedida para o Arquivo Público Municipal)

Imagem na Estação Ferroviária de Helvetia, acervo pessoal meu (Eliana Belo Silva) - meu bisavô materno está na carroça (Benedito Estevam de Araújo)

Passageiros na Estação Ferroviária de Helvetia (sem data precisa - provavelmente década de 1930)
Art-Foto - Sérgio Ueda


Estação Ferroviária de Helvetia após a restauração, foto de Cássio Sampaio (abril de 2012)

Veja mais fotos aqui: http://www.estacoesferroviarias.com.br/h/helvetia.htm

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RESOLUÇÃO Nº007/2025

A Secretária Municipal da Cultura, Tânia Castanho Ferreira, no uso das atribuições legais de seu cargo, inclusive aquelas conferidas pela Lei Municipal 7.628 de 12 de agosto de 2021,

CONSIDERANDO as atribuições conferidas à Secretaria Municipal de Cultura, a serem exercidas por meio do Departamento de Preservação e Memória;

CONSIDERANDO a necessidade do Poder Público Municipal proteger bens imóveis dotados de interesse histórico localizados no município; CONSIDERANDO a importância histórica e cultural dos bens imóveis que se situam nas áreas urbanas e rurais de Indaiatuba;

CONSIDERANDO o todo constante nos Autos do Processo Administrativo nº 24235/2024;

CONSIDERANDO pôr fim a aprovação unânime dos conselheiros presentes na reunião de 17 de junho de 2025 do Conselho Municipal de Preservação;

RESOLVE:

Art.1º - Efetivar o tombamento, nos termos do artigo 9º da Lei Municipal 7.628/2021 o seguinte bem imóvel na cidade de Indaiatuba, São Paulo:

I.                         O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Helvetia, localizado na Colônia Helvetia.

Art. 2º - Os projetos, obras e intervenções físicas cuja realização venha a alterar ou comprometer a preservação dos bens protegidos pela presente resolução ou o seu entorno, deverão ser submetidos a análise da Secretaria Municipal de Cultura, nos termos da Lei 7.628 de 12 de agosto de 2021.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Indaiatuba, 07 de julho de 2025.

Memória viva. 

Patrimônio protegido. 

Futuro em construção.


Estação Ferroviária de Itaici é tombada

 


📣 PATRIMÔNIO HISTÓRICO GARANTIDO!

1947: passageiros embarcam na Estação Ferroviária de Itaici


Após um longo tempo de solicitação pela então Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (agora extinta) e graves ameaças, atualmente sanadas (veja aqui), finalmente a Estação Ferroviária de Itaici é oficialmente tombada como bem cultural de interesse histórico para o município de Indaiatuba, conforme estabelece a Resolução nº 005/2025, publicada na Imprensa Oficial do Município hoje, dia 07 de julho de 2025, edição nº 3301, página 6.





















🏛️ Por que isso importa?
O tombamento é um instrumento legal de preservação do patrimônio cultural. 
A partir dessa resolução, a Estação de Itaici passa a ter sua estrutura, características arquitetônicas (preservadas até hoje, mesmo após sucessivas reformas e restauros) e valor histórico protegidos por lei. 

Isso também significa que qualquer intervenção ou uso futuro deverá respeitar sua integridade cultural e simbólica.

🚉 A estação é um dos marcos do desenvolvimento urbano de Indaiatuba, tendo sido um elo estratégico na formação do bairro de Itaici, da economia local e estadual e das conexões regionais por meio dos trilhos. 

Preservar esse espaço é reconhecer sua importância na memória coletiva e no desenho da cidade que conhecemos hoje.

Preservar a história não é coisa do passado — é atitude de presente! 

Valorizar bens culturais é também entender de onde viemos para decidir para onde queremos ir

A Estação de Itaici é, agora ainda mais, um espaço com potencial para ações educativas, culturais e turísticas, que podem (e devem!) envolver principalmente a juventude de forma ativa e criativa.

Na mesa edição também foram tombadas as estações de Indaiatuba e da Helvetia.

Memória viva. 

Patrimônio protegido. 

Futuro em construção.

Veja mais sobre a Estação Ferroviária de Itaici: aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.




Imagens: Prefeitura Municipal de Indaiatuba (divulgação)
2025


quarta-feira, 25 de junho de 2025

O ponto de vista caipira dos 50 anos de Tubarão

 Texto de Marcos Kimura



Tubarão completou 50 anos de seu lançamento nos Estados Unidos no último dia 20 de junho. O filme de Steven Spielberg marca a indústria de diversas formas:

  • Criou o termo blockbuster, ou arrasa-quarteirão em bilheteria, especialmente no verão americano.
  • Fez do diretor uma grife em Hollywood e
  • É a primeira trilha marcante de John Williams.

O lado ruim de tudo isso?

  • Muitos acusam os blockbusters de terem infantilizado o cinema,
  • O surgimento da obsessão por bilheterias miliardárias e
  • Pior de tudo: fez com que a pesca esportiva de tubarões atingisse números alarmantes na época

O megassucesso repercutiu aqui, na periferia do mercado cinematográfico, por meio de imprensa. Meu pai era dentista, e por isso assinava a revista Manchete para colocar na sala de espera do consultório.

Naturalmente, antes delas distraírem os pacientes, eu devorava a sessão de cinema e – porque não confessar? – a cobertura de Carnaval (quem nunca, nos anos 70?).

O problema é que, há meio século, os filmes lançados no verão americano chegavam no Brasil no nosso verão, ou seja, pelo menos seis meses depois. Isso nas capitais e cidade importantes.

No interiorzão, caso da pacata Indaiatuba de então, o prazo era indeterminado.

Segundo o IMDB, Tubarão estreou no Brasil no Natal de 1975, com enorme sucesso.

Enquanto eu aguardava ansiosamente a chegada do bichão ao Cine Alvorada (ainda existia o Cine Rex, mas a essa altura, não recebia mais os lançamentos importantes), meus primos paulistanos foram me contando o filme… na época ainda não havia o conceito de SPOILER ALERT.

Pois bem, quando Jaws (nome original, Mandíbulas) chegou a Indaiatuba, em junho de 1978 (fonte: Retrovisões, de Antônio da Cunha Penna) além de saber onde aconteciam os jump scares, já faltavam alguns dentes no bichão, por conta dos dois anos e meio de utilização das cópias brasileiras.

Naquele tempo, as mídias eram rolos de celuloide bastante caros que, depois de prontos, viajavam por todo o Brasil.

Em sua difícil jornada, estes rolos recebiam como manutenção, única e exclusivamente, emendas com durex a cada rompimento da fita, além de cortes e a exclusão de pedaços quando se queimavam.

Em dois anos e meio, o que chegou ao Alvorada era bem menos do que havia sido visto pelos meus primos em São Paulo. Provavelmente, não fui o único frustrado com o Tubarão que me coube.

Guerra nas Estrelas

Guerra nas Estrelas, hoje conhecido como Star Wars IV: Uma Nova Esperança, chegou ao Brasil no mesmo ano de 1978 com muito mais cópias, a ponto de tê-lo visto umas dez vezes no período de um ano em vários cinemas diferentes.

Por via das dúvidas, na estreia nacional, fui até Campinas, no hoje finado Cine Regente, e assisti na primeira sessão disponível.

É bom notar que, se Tubarão tornou-se a maior bilheteria da história em 1975, foi superado apenas dois anos depois por Star Wars IV, que era censura livre… e o cinema nunca mais foi o mesmo.

Hoje, assistimos aos grandes lançamentos não apenas simultaneamente aos americanos, mas muitas vezes até um dia antes, já que as exibidoras locais tornaram as quintas-feiras o dia das estreias, enquanto nos Estados Unidos elas acontecem às sextas.

E a cópias, hoje digitais, não se deterioram com cada exibição. Sem falar no som, muito melhor que no século passado.

É algo inevitável no capitalismo: se antes o mercado brasileiro era secundário, hoje ele é bastante relevante, a ponto das estrelas dos grandes filmes virem ao País para divulgarem seu produto, como é o caso do diretor e elenco principal de Superman esta semana.

Os tempos mudam, a tecnologia avança, mas Tubarão está por aí, rondando…




sexta-feira, 23 de maio de 2025

Municipalidade doa terreno para construção da sede da Polícia Militar em Indaiatuba

      Eliana Belo Silva

A História enquanto Ciência

Um fato histórico pode ser escrito de formas diferentes, como por exemplo, com o uso de abordagens específicas quanto aos seus pressupostos filosóficos - sendo que o positivismo e o materialismo histórico são métodos bem distintos e muito usados. De início quero destacar neste texto, mesmo que de forma muito resumida, as principais estratégias e objetivos desses métodos.

O positivismo praticamente reduz a História à uma ciência baseada em documentos oficiais observáveis e verificáveis de forma inquestionável, focando geralmente em um grande personagem como sendo o responsável heroico do fato abordado, com a função principal de ordenar uma linha do tempo auditável e neutra. Exemplos: (1) com base na Carta de Pero Vaz de Caminha, Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil em abril de 1500 ou (2) com base na Lei 8303/2025 o prefeito Custódio Tavares viabilizou a doação do terreno para a Polícia Militar em Indaiatuba em maio de 2025.

Já o materialismo histórico pode fazer  uso das mesmas fontes, pode citar nomes de envolvidos mas não é reducionista, uma vez que seu principal foco é descrever o processo histórico de forma ampla, escancarando os conflitos e disputas de todos os envolvidos, com foco principalmente nos interesses econômicos, mas também políticos, sociais e culturais. 

Enquanto o positivismo busca uma análise exclusivamente documental e empírica para produzir uma narrativa supostamente imparcial e neutra, a abordagem do materialismo histórico busca compreender os interesses em jogo, as contradições das relações, buscando descrever os mecanismos de dominação e exploração, visando o desenvolvimento da criticidade e, com ela, as ferramentas para a transformação da sociedade. Em resumo, para o materialismo histórico, a História é uma ferramenta de emancipação humana através do senso crítico.


A História da doação do terreno para a sede da Polícia Militar em Indaiatuba e a disputa pelo protagonismo

  • Em 29/01/2008 o primeiro Projeto de Lei 9/2008 que dispunha sobre a doação de terreno municipal para a Polícia Militar do Estado de São Paulo para a construção da 4a. Companhia foi protocolado pelo então prefeito José Onério da Silva. 
  • No dia 15/07/2008, José Onério da Silva protocolou o segundo projeto de autoria dele - o PL 159/2008, que em vez de doar para a Polícia Militar, doava para a Secretaria da Fazenda do Estado, com destino à Secretaria de Estado de Negócios da Segurança Pública, com direcionamento à Polícia Militar.  Pelo conteúdo da ementa, conclui-se que o PL anterior estava errado e foi corrigido por este. 
  • Em 05/12/2008, 25 dias antes do final do mandato, o prefeito José Onério da Silva apresenta a terceira tentativa, o PL 235/208, cuja emenda propõe um 'convênio' com o Governo do Estado de São Paulo para o mesmo fim. Esses três projetos de lei constam no site da Câmara Municipal  com o status de 'tramitação encerrada' e 'aprovado', mas não há acesso  ao repositório do processo de cada um deles para análise de informações e dados complementares.
  • Em 31/12/2008 o prefeito José Onério terminou o seu mandato e assumiu, pela segunda, vez, o prefeito Reinaldo Nogueira Lopes Cruz, que não apresentou nenhuma iniciativa no Legislativo para doar terreno para a Polícia Militar. O assunto, por iniciativa do Executivo, voltaria à Câmara mais de dez anos depois, em 2017, por iniciativa do então prefeito Nilson Gaspar. Durante esse período e até a data de publicação deste texto (23/05/2025) a Polícia Militar de Indaiatuba continua sediada em um imóvel alugado e adaptado.

Prefeito José Onério da Silva foi o pioneiro em tentar melhorias para a sede da Polícia Militar 
em Indaiatuba no Poder Executivo.




Após cinco anos sem iniciativas para melhorar a estrutura da Polícia Militar, o então vereador Bruno Ganem coloca em pauta o pedido de mais viaturas; os demais vereadores citavam a PM apenas para pedir intensificação das rondas.


  • Em 19/08/2016 o vereador Djalma César de Oliveira apresenta, pela primeira vez na Câmara Municipal, a Indicação para que seja construído um batalhão para a Polícia Militar em Indaiatuba. A justificativa da Indicação resume-se no fato de "a população indaiatubana estar próxima a 250 mil pessoas". 
  • Em 31/03/2017 a história da construção de uma sede própria para a Polícia Militar em Indaiatuba começa a ter um capítulo mais sólido. O vereador Alexandre Carlos Peres apresenta uma Indicação detalhada  solicitando uma concessão de terreno público para construção da sede da 4a. Companhia da Polícia Militar do 479o. Batalhão da Polícia Militar de Indaiatuba. Só que desta vez, o vereador executou ações práticas para viabilizar a Indicação (em vez de só protocolar a Indicação, jogar no colo do Prefeito e fazer vídeo nas redes sociais divulgando o pedido). 
    • Na data em que o vereador Alexandre Peres defendeu a Indicação no púlpito, o Líder do Governo na Câmara, o vereador Luiz Alberto ‘Cebolinha’ Pereira leu o agradecimento do Comandante Capitão Alexandre Valério de Freitas no Plenário, destacando que “tal doação beneficiará todo o efetivo fixado na CIA PM, bem como o público externo que utiliza as instalações quando há necessidade de pronto atendimento em nossa subunidade no período de 24 horas”.
    • Menos de um mês após o vereador Alexandre Peres retomar essa demanda no Parlamento de Indaiatuba, o vereador Jorge Luiz Lepinsk 'Pepo' também apresenta esse pedido através da Indicação 453/207. Essa prática, de um vereador da Base reapresentar pautas da Oposição é recorrente na Câmara Municipal e é um exemplo evidente de um dos objetivos deste post: mostrar a disputa pelo protagonismo. O contrário também é aplicável e bastante recorrente: recentemente um vereador da Oposição apresentou e defendeu no púlpito melhoria para a Guarda Civil Municipal, pauta que já tramitava há tempos e já estava na mesa do prefeito Custódio para ser aprovada. Por um lado, puro (1) marketing político - o que na linguagem do senso comum é apelidado de politicagem (dos dois lados); por outro, (2) pressão política legítima para a pauta virar ação (dos dois lados).


Junto com o vereador Januba da Banca e o então Capitão Valério da PM (Alexandre Valério de Freitas), o vereador Eng. Alexandre Peres visitou várias áreas públicas; estudaram a viabilidade técnica considerando (1) o Plano Diretor da cidade (o planejamento é que a cidade cresça em direção à Cardeal) e (2) as vias planejadas no Plano de Mobilidade Urbana. Juntos, escolheram um terreno no Jardins do Império.

  • Em 08/05/2017 o prefeito Nilson Alcides Gaspar promulgou a Lei n° 6.718 de 05 de junho de 2017, concedendo, por 30 anos - um terreno no Solar do Itamaracá em favor da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública — Polícia Militar do Estado de São Paulo. Esse imóvel é onde se encontra a atual sede do  Corpo de Bombeiros, na Avenida Conceição. Essa sede havia sido inaugurada em 1993, na gestão do prefeito Flávio Tonin.
  • Logo depois, em 25/10/2017 o prefeito Nilson Alcides Gaspar promulgou  a Lei 6825 de 2017 dispondo sobre a intenção de doar o terreno - escolhido pelo vereador Alexandre Peres, vereador Januba e o Capitão Valério da PM - do Jardins do Império para a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo para a construção da sede da 4a Companhia PM, do 47° Batalhão de Polícia Militar do Interior
    • Esta lei, em seu artigo 6o. exigia que a obra tivesse início  no prazo de até  de até 36 (trinta e seis) meses, sob pena de rescisão e devolução do imóvel à doadora, condição que não foi aceito pelo Governo do Estado. A recusa é fundamentada no Parecer Referencial AGI n.o 04-2023.
    • Com o fim da legislatura 2017/2020, o assunto parou totalmente: primeiro, por conta do Regimento Interno da Câmara Municipal, todas as Indicações foram arquivadas; em segundo, por conta do vereador Alexandre Peres sair da Oposição e ir para a Base a partir da Legislatura que teve início em 2021, na qual o vereador Januba não foi reeleito.
Ex-prefeito Nilson Alcides Gaspar, autor do Projeto de Lei que regulamentava a doação de área institucional para a Secretaria de Estado de Segurança Pública, com a destinação para construção da primeira sede da Polícia Militar em Indaiatuba


  • Em 18/05/2023, mais de cinco anos depois da Lei 6825 de 2017 ter sido sancionada e ficar abandonada sem viabilidade por conta da negativa do Estado em aceitar os termos para registrar o terreno, o vereador Eng. Eduardo Tonin retoma o assunto apresentando a Indicação 1081 de 2023. A Indicação foi ignorada e até hoje está localizada na Secretaria de Relações Institucionais e Comunicação, sem resposta.

O vereador Du Tonin retoma a pauta na Legislatura 2021/2024 junto ao Capitão André Luiz Barbosa Menezes, 
da PM de Indaiatuba e a Secretaria de Estado de Segurança Pública.
A Secretaria de Estado reitera o interesse em receber o terreno e construir a sede, mas continua afirmando que não aceita prazo de construção, conforme a Lei sancionada pelo prefeito Nilson Gaspar em 2017.

  • Em 06/09/2023 o vereador Du Tonin se reúne com o Secretário de Segurança Pública em São Paulo, com a presença do Deputado Federal Bruno Ganem e Deputados Estaduais Ricardo França e Clarice Ganem. Essa comitiva teve como objetivo a obtenção do compromisso da construção, desde que Prefeitura doasse o terreno. Tratou-se que o vereador Du Tonin continuaria as tratativas para a doação na esfera municipal, enquanto os deputados destinariam Emendas para o projeto.

Bruno Ganem, Clarice Ganem, Capitão Derrite, Ricardo França e Du Tonin. Essa reunião foi divulgada amplamente, de forma compartilhada, nas redes sociais dos envolvidos no dia 06 de novembro de 2023.

  • No dia 10/11/2023, quatro dias depois da divulgação dos políticos do PODEMOS, há uma reunião na Prefeitura com prefeito Nilson Gaspar com o objetivo de tentar compactuar forças e obter o compromisso para a doação do terreno. Participaram da reunião o Deputado Federal Bruno Ganem, os deputados estaduais Ricardo França, Clarice Ganem e Rogério Nogueira.
    • Quebrando qualquer protocolo de bom censo e de educação, o prefeito Nilson Gaspar impede que o vereador Du Tonin participe da reunião.
    • Nesta mesma data o prefeito publica nas redes sociais da prefeitura a notícia sobre a doação do terreno (confira aqui)
    • Nessa reunião, o deputado estadual Rogério Nogueira assume o compromisso de destinar verba para a construção da nova sede, mas até no momento da publicação deste post isso não pode ser comprovado.
    • O compromisso firmado com o deputado Federal Bruno Ganem e deputados estaduais Ricardo França e Clarice Ganem para que todos providenciassem o envio de Emendas, foram cumpridos.

O Deputado Federal Bruno Ganem providenciou a destinação, através de Emenda Parlamentar, no valor de 
R$ 3 milhões para a construção da nova sede da Polícia Militar em Indaiatuba



O Deputado Estadual Ricardo França providenciou a destinação, através de Emenda Parlamentar, no valor de 
R$ 500 mil para a construção da nova sede da Polícia Militar em Indaiatuba



A Deputada Estadual Clarice Ganem providenciou a destinação, através de Emenda Parlamentar, no valor de 
R$ 500 mil para a construção da nova sede da Polícia Militar em Indaiatuba


  • Em 03/05/2024, para viabilizar a Lei 6825 de 2017 o vereador Du Tonin apresentou um projeto de lei para retirar o impeditivo, ou seja, tentou revogar o artigo 6o para que o terreno fosse registrado para o Estado e a construção, iniciada. Esse Projeto explica certinho os motivos da necessidade da revogação (você pode ler aqui). Após ficar 180 dias (prazo máximo) retido no Jurídico da Câmara Municipal, o PL foi lido no Plenário e, em seguida rejeitado por todas as Comissões Internas que também votaram pelo arquivamento do Projeto. 
    • Necessário lembrar que 2024 foi ano de eleição municipal e foi mais relevante, para os vereadores, rejeitar o PL nas Comissões do que dar o crédito da solução para um vereador da Oposição, que inclusive estava sistemática e repetidamente denunciando que houve não-conformidade no processo de licitação da obra de reforma do Ginásio de Esportes.
  • Em 12/02/2025, o vereador reeleito Du Tonin insiste com outra tentativa de viabilizar o registro para o Estado registrar o terreno e viabilizar a construção. Apresenta o PL 13/2025 revogando o artigo 6º da Lei nº 6.825 de 16 de novembro de 2017. 
  • Em 14/04/2025, quase oito anos depois da Lei sancionada pelo prefeito Gaspar, o prefeito Custódio protocola o Projeto de Lei 43/2025 retirando (como havia feito o legislador Du Tonin conforme os dois itens acima) o prazo obrigatório de até 36 meses para a construção da sede. 
    • O Projeto de Lei foi aprovado por unanimidade. 
    • Na discussão, o vereador Du Tonin relembrou as ações que ele fez para que isso fosse viável.
    • Em seguida o vereador Alexandre Peres, afirmando que ia colocar "os pingos nos is" relembrou que foi ele quem escolheu o terreno e mesmo sendo da Oposição na época, convenceu o prefeito Gaspar a apresentar o PL que originou a Lei 6825. O vereador Januba ficou fora do 'pingo no i'.
    • Para concluir, o vereador Cebolinha, que é Líder de Governo, deu a palavra final: disse que as verbas destinadas pelos deputados Bruno Ganem, Ricardo França e Clarice Ganem "não tinham chegado ainda no município" (claro que não, elas irão para o Estado) e disse que "irá cobrar desses deputados o envio do dinheiro". 
    • Sobre a promessa do deputado Rogério Nogueira feita na reunião citada, ele nada comentou. Registre-se que esse deputado não fez - até a data da publicação deste artigo - a destinação à qual tinha se comprometido. 
    • Detalhe: enquanto o PL do Prefeito foi aprovado por unanimidade, o PL com a mesma intenção de viabilidade apresentado pelo vereador Du Tonin continuava engavetado.
Após 17 anos do pioneirismo do ex-prefeito José Onério da Silva;
 8 anos após os vereadores Alexandre Peres e Januba lutarem pelo terreno;
7 anos após o ex-prefeito Gaspar sancionar a lei (inaplicável) da doação do terreno;
2 anos após o vereador Du Toni retomar o assunto junto ao Secretário de Estado Derrite,
o atual prefeito Custódio Tavares sancionou a lei que retira a condicional de tempo de construção para viabilizar a continuidade do processo de doação do terreno e finalmente, tentar construir a sede que já tem 4 milhões em Emendas para acontecer.

  • No dia 23/04/2025, mais de dois meses após o protocolo do vereador Du Tonin, o Departamento Jurídico da Câmara Municipal apresenta parecer para o Presidente da Casa de Lei,  "deixe de receber" esse PL, justificando que, entre outras medidas, o Executivo Municipal estava revogando o artigo 6o.
  • No dia 07/05/2025 o vereador Dr. Túlio José Tomass do Couto, presidente da Câmara Municipal, deixa de receber o PL do vereador Du Tonin, depois de presidir a Sessão em que a aprovação ficou por conta do Prefeito Custódio, que é quem entrará para a História narrada do ponto de vista positivista e, para quem faz marketing político sem comprometimento com a verdade, mas com foco na eleição/reeleição.
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Este post é de leitura complexa, não é uma leitura agradável em tempos de internet líquida e será lido e analisado por poucas pessoas que realmente estarão dispostas a entender o desperdício de recursos públicos utilizados para aprovar uma Lei necessária e óbvia. O Governo de Estado não aceita ter prazo para construir um imóvel em terreno doado pela municipalidade e a resolução do impasse foi estendida e nutrida por vaidade, competição, narcisismo e outras qualificações que deixarei de digitar, mas quem ler com a atenção devida, entenderá e proverá suas próprias qualificações.

O marketing político SEMPRE utiliza do método positivista para narrar a História. E na próxima eleição, caso o prefeito Custódio sobreviva (não encontro verbo melhor nesse momento, embora reconheça que esse não é o mais adequado) em seu grupo e se candidate à reeleição, o que será repetido à exaustão é que ELE viabilizou esse terreno. A nós, historiadores do presente e do futuro, cabe a tarefa de continuar a afirmar que nunca um fato é feito por um homem só

A maneira como produzimos a História tem impacto direto sobre a forma como compreendemos o passado e, por consequência, o presente. Uma diferença fundamental na historiografia — ou seja, na escrita da história — está entre atribuir a criação de um fato histórico à ação de um único indivíduo ou compreendê-lo como o resultado de um processo coletivo. 

Essa narrativa tem apelo por sua simplicidade e força dramática: é mais fácil se identificar com personagens do que com estruturas sociais complexas. No entanto, essa perspectiva tende a apagar o papel das forças coletivas, sociais, econômicas e culturais que moldaram o contexto em que esses indivíduos atuaram. Ela cria uma ilusão de que a história depende apenas da vontade e da ação de poucos. Ela coloca personagens políticos como se fossem heróis ou salvadores, o que não são. O político é, no máximo, um funcionário caro, muitas vezes incompetente, delegado pela maioria que prefere delegar sua responsabilidade a alguém.


"Paixão política é o fim do pensamento. 

É a prova de que o indivíduo deixou de ser indivíduo para virar instrumento. 

O que era cidadão, virou servo. 

O que era opinião, virou obediência."



Em contraste, uma abordagem que entende os fatos históricos como fruto de processos coletivos de luta e resistência busca analisar os múltiplos agentes envolvidos e o contexto mais amplo. Nessa visão, nenhum indivíduo atua isoladamente; ele é, na verdade, parte de uma rede de ações, conflitos, pressões e lutas que vêm de baixo, do cotidiano das pessoas comuns, dos grupos sociais organizados ou espontâneos.

Por que isso importa

Essa diferenciação não é apenas uma questão de escolha de método ou simples estilo narrativo — ela tem implicações pedagógicas, mas sobretudo, políticas. Atribuir os fatos a uma única pessoa pode reforçar ideias de liderança autoritária ou messiânica, desestimulando a participação coletiva. Já reconhecer os processos coletivos fortalece a noção de que a transformação social depende da ação de muitos e que o poder é construído em rede, não centralizado em indivíduos excepcionais.

Em resumo, enquanto a narrativa centrada no indivíduo tende a criar heróis e mitos, a narrativa coletiva revela a profundidade e a complexidade dos processos históricos. A escolha entre essas formas de contar a história diz tanto sobre o passado quanto sobre os valores que queremos afirmar no presente.

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Perguntas de um operário que lê

Bertolt Brecht

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis.
Foram os reis que transportaram as pedras?
E a Babilônia, destruída tantas vezes,
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os operários?
Para onde foram os pedreiros na noite em que
terminou a Muralha da China?
Roma, a grande,
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares?
A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Na noite em que o mar a tragou
Os que se afogavam gritavam por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou quando sua armada
Foi afundada. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem mais venceu com ele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava os banquetes?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas perguntas.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Plano Municipal da Educação e a contribuição da Câmara Municipal

HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

     
Eliana Belo Silva


Plano Nacional de Educação de 2014

O último Plano Nacional da Educação aprovado através da Lei 13.005 de 2014, tinha vigência até 2024 e teve como uma de suas estratégias a atuação conjunta da União, dos Estados e Municípios, que, atuando em regime colaborativo, deveriam agir para atingir várias metas, sendo que mecanismos locais poderiam ser adotados pelos gestores dos municípios como medidas para o alcance delas.

O cumprimento das 20 metas estabelecidas enfrentou, além da pandemia da Covid 19, muitos outros desafios. Em 2016 já se apontavam atrasos como a definição de um custo mínimo para garantir a qualidade do ensino e a implementação de uma política unificada de formação de professores (1). Em 2022, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação apontou que 45% das metas estavam em retrocesso (2) - algo que não surpreende com um governo federal de extrema direita, cujo representante maior manifestou-se verbalmente por várias vezes contra a Ciência, as Universidades e os Professores, utilizando-se de uma pauta pseudomoral e várias fake news para isso. O chamado "Apagão de Dados" resultou em escassa análise dos números e, por consequência, dificuldades na avaliação de políticas educacionais devido à falta de transparência e informações. Ainda em 2024 o cenário continuou preocupante - para não dizer desesperador: apenas 4 das 20 metas foram cumpridas ou parcialmente cumpridas (3), incluindo avanços na educação profissional e técnica, na formação de mestres e doutores e na formação de professores de ensino superior. No entanto, metas essenciais, como a universalização da educação infantil e a erradicação do analfabetismo, apresentaram avanços muito tímidos ou retrocessos .​


Plano Municipal de Educação de 2015

Em vistas ao cumprimento dessa lei federal, Indaiatuba aprovou seu Plano Municipal de Educação, também com vigência de dez anos, à obsoletar em 24 de junho de 2025, daqui há menos de dois meses. O atraso na apresentação do novo Plano para a Câmara Municipal é esperado, pois o Plano Nacional foi adiado para 31 de dezembro de 2025, e, por consequência, o Projeto de Lei que instituirá o novo PNDE 2024-2034 está em análise, também sendo debatido pelo Senado Federal.  

Enquanto ente, nem a Câmara Municipal, nem sua Comissão de Educação - presidida pelo vereador Prof. Sérgio Teixeira - ainda não estão promovendo debates com especialistas para promover o diálogo e a reflexão sobre os rumos da educação de Indaiatuba na próxima década. Fica a sugestão para a organização de um "Ciclo de Debates sobre o Plano Municipal da Educação" para oportunizar a participação da população indaiatubana.

Mas como vereador e em matéria protocolada de forma individual - mesmo sem citar o Plano Municipal da Educação - o vereador Prof. Sérgio protocolou sugestão para o Prefeito sobre uma estratégia que julgo relevante para a discussão do PME, aliás, mais do que relevante: é primordial: a intensificação do desenvolvimento da Inteligência Emocional (QE) em nossos educandos da Rede.

Vereador Prof. Sérgio protocolou a Indicação 826/2025 defendendo o desenvolvimento socioemocional dos alunos da rede.


Na legislatura passada (2021/2024), o vereador Leandro Pinto defendeu, por duas vezes, a criação de um Programa de Inteligência Emocional nas escolas, mas focado na Saúde Mental. Essas duas proposições estão - conforme o site da Câmara - paradas até hoje, sem resposta - na Secretaria de Relações Institucionais e Comunicação. Os demais vereadores têm citado, ao longo de seus mandatos, sugestões pontuais sobre conteúdo a ser inserido na Rede, mas todas com foco para "abastecer" o QI - o coeficiente de inteligência.

QI e QE

Desde o início do século passado o QI - coeficiente de inteligência - começou a ser usado para identificar crianças francesas com dificuldade de aprendizagem, mas a aplicação evoluiu para outros fins, sendo utilizada até hoje, principalmente através de um dos testes mais aplicados, o WAIS - Wechsler Adult Intelligence Scale na Educação (com o mesmo fim), na Psicologia Clínica, em pesquisas e notadamente em processos de seleção e desenvolvimento profissional, acadêmico e até militar. 



Tabela com a classificação das faixas de QI, com base na escala mais comum (média 100, desvio padrão 15), usada em testes como o WAIS 


"Durante algum tempo, o QI elevado foi relacionado como critério de excelência de vida. A pontuação do QI pode prognosticar muito bem se podemos arcar com desafios cognitivos que uma determinada posição oferece; centenas de estudos acadêmicos demonstram que é inquestionável que o QI possa prever quais níveis uma pessoa pode exercer numa carreira"(4) No entanto, é um método que mede um único tipo de inteligência quantificável, formada pela inteligência lógica, matemática e verbal. (5)

As críticas ao QI como foco único foram crescendo: (a) GOLD (6) critica a ideia de que a inteligência é uma característica fixa e argumenta que essa visão reduz o ser humano a uma medida simplista, ignorando aspectos culturais, sociais e contextuais; (b) GARDNER (7) defende que a inteligência não é uma capacidade única e generalista (como sugere o QI), mas sim composta por múltiplas inteligências (linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal, interpessoal, intrapessoal, naturalista).


A urgência da Inteligência Emocional nas escolas

Neste fim de semana (último de abril de 2025) as redes sociais foram tomadas por ofensas ao Papa Francisco, um humanista adepto da paz, da inclusão, da proteção ao meio ambiente, da justiça social. Ofensas também foram disparadas para a cantora Preta Gil, uma paciente com câncer terminal que subiu ao palco amparada pela sua irmã, para cantar, talvez pela última vez publicamente, com seu pai Gilberto Gil. 

Atitudes como essas, de ofensas virtuais e presenciais, o preconceito, a segregação, o racismo, o machismo, a LGBTQI+fobia, o etarismo, as simplificações e generalizações, as difamações e calúnias, o fanatismo religioso, o armamentismo, a anticiência e outros tipos de violência têm se expandindo de forma assustadora, a ponto de influenciar na Saúde Mental da sociedade e, como extensão, do ambiente escolar, onde urge aplicar os princípios da neurociência afetiva. Temos que - urgentemente - compreender e ensinar como as emoções são reguladas e podem ser controladas pelo cérebro.

Precisamos considerar essa realidade e inserir em nosso Plano Municipal da Educação programas de aprendizado social e emocional. Em tempos que o óbvio precisa ser registrado, digo que isso não vai substituir os conteúdos clássicos (não é isso que estou defendendo!), mas é necessário ensinar concomitantemente as habilidades de inteligência emocional para nossos educandos.

Os alunos devem aprender (1) como reconhecer e classificar com precisão seus sentimentos e como eles os levam a agir; (2) devem ser capazes identificar as pistas não verbais de como outra pessoa se sente; (3) devem ser capazes de analisar o que gera estresse nelas ou o que as motiva para desempenho melhores e, por último (4) devem começar a aprender ouvir e falar de modo a solucionar conflitos individuais e coletivos em vez de agravá-los, negociando saídas para que todos ganhem.

Volte e leia as quatro fases de desenvolvimento de habilidades emocionais para crianças. 

Você aprendeu isso? 

Na escola, não. Talvez tenha aprendido na vida ou talvez - como muitos - passe a vida sem aprender, ou aprenda e aplique apenas parcialmente.

Apreendendo essas fases, haverá uma redução de problemas entre alunos, entre alunos e professores, em todo ambiente escolar e, em última instância, haverá melhoria no desempenho escolar dos estudantes. Crianças (e adultos, mesmo que tardiamente) devem aprender a gerenciar suas vidas emocionais com serenidade e autoconsciência, afastando emoções perturbadoras e relacionamentos e julgamentos nocivos, como pré-requisitos para uma vida individual e coletiva mais saudável e justa.


"O impacto na modelagem do circuito neural em desenvolvimento da criança, principalmente as funções executivas do córtex pré-frontal, que controlam a memória funcional - e que guardamos na cabeça durante o aprendizado - inibem impulsos emocionais destrutivos". (4)

 

Os legisladores da nossa cidade precisam exercer a aceitação da inteligência emocional e suas técnicas para melhorias na Educação como um todo e promover essa discussão, principalmente neste ano de replanejamento.

Ou podem deixar prevalecer em si, em nossa Legislação e em práticas escolares - que a solução é fazer uso de sistema de vigilância e punição (argh!) - agravando o sistema de violência que legitima as práticas como as que permitem ofender um Papa humanitário como nenhum outro foi, ou uma cantora em estágio terminal.

E isso é uma escolha.



"Governar corpos, é fácil, governar mentes, é arte. 
E o medo é o pincel dos tiranos sutis. 
Um povo aterrorizado se agarra às algemas que lhe são oferecidas com a mesma ânsia que um náufrago se agarra a uma tábua podre."

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(1) https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-06/plano-nacional-de-educacao-completa-dois-anos-com-atraso-no-cumprimento-de

(2) https://www.brasildefato.com.br/2022/06/20/a-tres-anos-do-fim-plano-nacional-de-educacao-tem-45-de-metas-em-atraso-e-apagao-de-dados/

(3) https://www.sinteal.org.br/2024/06/plano-nacional-de-educacao-pne-completa-10-anos-com-apenas-4-das-20-metas-parcialmente-cumpridas-alerta-entidade/
e https://institutoorizon.org/blog/plano-nacional-de-educacao/

(4) Citado no livro "Inteligência Emocional" de Daniel Goleman, ph.D. Editora Objetiva.

(5) Conceito reduzido, simplificação aplicável para o fim ao qual esse texto se destina.

(6) Stephen Jay Gould, paleontólogo, biólogo evolutivo e historiador da ciência, autor de "A Falsa Medida do Homem" (The Mismeasure of Man, 1981).

(7) Howard Gardner, autor de "Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas" (1983)

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