Eliana Belo Silva
Como outras datas comemorativas ditas cívicas que se transformaram em eventos importantes dignos de comemorações anuais, o Sete de Setembro também foi inventado.
Podemos afirmar com base, inicialmente, nos anos consecutivos ao 7 de Setembro de 1822 - que entrou para a História do Brasil como sendo a data em que Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança Bourbon, filho de D. João VI, que se chamava João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança proclamou a Independência do Brasil de Portugal às margens do Ipiranga, em São Paulo - que a data não foi tão rapidamente reconhecida com a importância que viria a ter.
Essa informação é baseada em evidências históricas, entre elas (1) a pouca atenção que a imprensa do Rio de Janeiro deu para o assunto na época e (2) a ausência da data em uma lista de dias de gala publicada oficialmente no final do mesmo ano (1822). Outro argumento foi que (3) o "Dia da Festa Nacional" passou a ser, após a proclamação da independência, o 12 de outubro do mesmo ano, data em que D. Pedro deixou de ser Regente e passou a ser Imperador; ou seja, a data da aclamação do novo rei (mas mesma pessoa) passou a ser mais importante do que a data na qual o Brasil nasceu como nação. Registre-se que o 12 de outubro foi comemorado até o final da década de 1880.
Fato é que, apesar de ser comemorada a partir de 1823, a festa da Independência foi ofuscada pela festa de 12 de outubro pelo menos até o final da década.
Foi o próprio D. Pedro I quem aludiu o 7 de Setembro como sendo a sua primeira declaração em favor da independência, em um discurso que fez para abrir a Assembleia Constituinte em 3 de maio de 1823. Em setembro do mesmo ano, a mesma Assembleia decidiu que, mesmo temporariamente, a data seria feriado nacional, mandando uma delegação saudar o Imperador pelo evento, ou seja, uma manobra política para impor a data como mais relevante que o dia da aclamação.
Como em outras datas construídas e descontruídas como relevantes ou não, a Assembleia disputou pela narrativa e impôs o Sete de Setembro, tenso sido esse apenas um dos conflitos entre as crescentes tensões entre o órgão que defendia a Constituição e Pedro, que defendia - mesmo veladamente - que ELE tivesse o poder total. O fato é que ambas as datas reconheciam Pedro como herói, mas uma percorria um caminho que ousava a destacar que existia povo no império, procurava cravar que o processo popular que levou a Independência era mais relevante, como um todo, do que um ato feito por uma pessoa só.
"A História se repete, como tragédia ou como farsa."
Naquele ano de 1923 a imprensa também pouco falou sobe a data, embora viajantes tenham deixado relatos de ter havido uma festa de caráter militar, civil e religioso no 7 de Setembro.
Por fim, a partir de 1930 o sete de setembro ofereceu uma visão mais popular ou populista da independência do que o doze de outubro - que também era aniversário de D. Pedro.
Em 1831 D. Pedro abdicou do trono, o 12 de outubro foi eliminado do calendário de festividades nacional e, mesmo que o significado das ações dele tenham sido (e ainda são) foco de muitas pesquisas e debates, o Sete de Setembro nunca mais perdeu o lugar como dia em que os brasileiros celebram a independência do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário