sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Padre Luiz Del Giudice - Pároco da Matriz Nossa Senhora da Candelária


Padre Luiz Del Giudice foi o quarto pároco da paróquia Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba e teve essa função entre os dias 25 de dezembro  de 1884 até o dia 27 de julho de 1890 (1), assumindo após a morte - em 19 de outubro de 1884 - do padre Antônio Cassemiro da Costa Roris, que teve a função por 43 anos e de um curto período de dois meses em que a paróquia de Indaiatuba esteve anexada à de Jundiaí, sob o comando do padre João José Rodrigues.


Padre Luiz Del Giudice foi o primeiro padre estrangeiro da paróquia e o primeiro batizado que fez foi um filho de escravo - no dia em que assumiu, no Natal de 1884. Já no dia seguinte, registrou o primeiro óbito e celebrou o primeiro casamento no dia 10 de janeiro de 1885.


Ele era presbítero secular da diocese de Polycastro Bussentino, na Itália e veio para a diocese de São Paulo em 1884. Logo que chegou foi servir como coadjutor na paróquia do Bom Jesus do Braz, em São Paulo, lá permanecendo por cinco meses antes de vir para Indaiatuba nomeado como vigário encomendado da paróquia Nossa Senhora da Candelária.


Em fins de 1886 o Imperador Pedro II passou de trem por Indaiatuba a caminho de Piracicaba. Na estação, para saudá-lo, entre as autoridades locais, pessoas gradas, povo e a banda de música dirigida pelo maestro José Mico, lá estava o padre Luiz Del Giudice comandando a queima de fogos, subvencionados pela Câmara. (SAMPAIO, S. L.; SAMPAIO, C. C., 1998) (2).


Em 2 de setembro de 1887 ele se naturalizou brasileiro, prestando juramento perante a Câmara de vereadores de Indaiatuba que passaria a cumprir fielmente a constituição do Império. 


Em 30 de setembro de 1888 ele inaugurou o atual cemitério da Rua Candelária, o “Cemitério de Taipas”, que foi assim chamado por causa da técnica do muro ao seu redor, construído com a técnica de taipa de pilão por Elias Augusto da Silva, que foi contratado pela Câmara dos vereadores, mas que recebeu o pagamento pelo seu trabalho da Assembléia Provincial.


Padre Giudice foi um amante da música e auxiliado por Antonio Gonçalves Ribeiro, organizou uma subscrição popular para conseguir dinheiro para comprar instrumentos para uma banda de músicos amadores, destinada a animar as festas da igreja e outros eventos, tais como a citada passagem de Dom Pedro II por Indaiatuba. A “vaquinha” conseguiu fundos para comprar 16 instrumentos que formou um grupo musical, registrado pelo pesquisador Nilson Cardoso de Carvalho no texto abaixo:


Padre Luís Del Giudice e a "Lyra Indaiatubana"


Antônio Reginaldo Geiss, presidente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba descobriu recentemente em Itu uma foto que lança luzes sobre um texto que copiei na Cúria Metropolitana de Campinas em 1997. O texto é do padre Luís Del Giudice (1) que foi pároco de Indaiatuba desde o final de 1884 ao início de 1890. Antes de deixar Indaiatuba ele escreveu na folha n.o 96 do 2.o livro tombo da Matriz o seguinte:


E também um facto que está no dominio publico que os instrumentos de muzica, que são nas mãos de diversos amadores d’esta arte pertencem a Igreja, tendo sido comprados por meio de uma subscripção popular por mim pessoalmente promovida e auxiliado pelo Sn.r Antonio Gonçalves Ribeiro. Os instrumentos são dezaseis. A saber: um bombardão, dous saxes, dous pistões, uma requinta, duas clarinettas, um flautim, um bombardino, um rufo, um bumbo, um par de prattos.(2) = // Todos estes instrumentos foram dados aos muzicos responsabilizando-se por elles o Sn.r José Manoel da Fonseca (3) . // Indaiatuba 12 de janeiro de 1890 // Vigr.o Luis Del Giudice (4)


Em fins de 1886 D. Pedro II visitou cidades do interior paulista. De passagem para Piracicaba, o Imperador almoçou em casa de Francisco de Campos Araújo, o ‘Chico da Estação’, em Itaici, juntamente com toda a comitiva. Diz Scyllas Leite de Sampaio que “Apesar de não estar no programa parada em Indaiatuba, a passagem foi assinalada com espocar de fogos, comparecendo à estação as autoridades locais, vereadores, o pároco Luís de Giudice, pessoas de destaque na localidade, além da Corporação Musical, sob batuta de seu regente José Mico, como era chamado.” (5)


Complementando informações sobre os músicos e instrumentos mencionados pelo padre, encontramos no Almanaque de Canuto Thorman de 1895 a informação de que Indaiatuba possuía uma banda de música cujo professor era José Luiz de Moraes e o presidente era o Major Alfredo de Camargo Fonseca (6) . A banda chamava-se “Lyra Indaiatubana”.


Nabor Pires de Camargo informa, em publicação póstuma recente (7) , que antes de 1912 o maestro Hilário Dias de Almeida havia regido uma banda durante alguns anos da qual pertenceram entre outros músicos José Mário (celebre pistonista nas redondezas de Indaiatuba), Vicente Tanclér, Rafael Tanclér, Luiz Laurenciano (Canivete), Carlos Montebello e Alziro Pires de Camargo, o “Miloca”. Depois do maestro Hilário, esteve na direção da banda o maestro Francisco Fávero, pai do grande jurista Flamínio Fávero. Em 1912 o maestro José Lopes dos Reis, o “Dunga”, assumiu a direção da “Primeira Banda Oficial de Indaiatuba”, isto é a primeira banda subvencionada pela Prefeitura. Nesta atuaram elementos das bandas anteriores, e mais: Hermenegildo Pinto, João Nunes, Afonso Bonito, Sylvio Talli, Rêmulo Zoppi, José Minas, Alfredo Coppini, Higino Coppini, Atílio Minioli, Godofredo Pires de Camargo, Jaime Pires de Camargo e Nabor que era o mais jovem dela.


Antônio Zoppi conta que os instrumentos usados pela banda do maestro Dunga eram tão velhos que o trombone do mestre tinha que ser consertado com cera, para tampar os buracos que tinha (9) .


A conclusão é que os dezesseis instrumentos adquiridos pelo padre Giudice foram os responsáveis pela origem da “Lyra” e de outras corporações musicais que tão fortemente atuaram para desenvolver uma cultura musical em Indaiatuba.



Padre Giudice retirou-se do bispado, registrando seu último batizado no dia 27 de julho de 1890. Voltou para Policastro, cidade da Província de Salerno, sul da Itália.



(1)  Livro “A Paróquia de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba - 1832-2000” - de Nilson Cardoso de Carvalho, Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, 2004.

(2)Livro “Indaiatuba - Sua História” - Syllas Leite de Sampaio e Caio da Costa Sampaio, Rumograf, 1998.


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No dia 11 de agosto de 2020 o Padre Luiz Del Giudice foi homenageado através de um Projeto de Lei apresentado pelo vereador Alexandre Peres que você pode ler na íntegra aqui.

Após aprovação por unanimidade na Câmara Municipal de Indaiatuba, o prefeito Nilson Alcides Gaspar assinou a Lei Municipal nº 7417 que você pode ler na íntegra aqui.

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