sexta-feira, 2 de junho de 2023

A HISTÓRIA DOS CORETOS DE INDAIATUBA E SUA LINDA PRAÇA DE PEDRA PORTUGUESA


A Casa de Câmara e Cadeia de Indaiatuba, foi importante edifício administrativo do final do século XIX, construída entre 1888 e 1889 na então "Praça da Cadeia", localizado onde hoje é a fonte luminosa da Praça Prudente de Morais em Indaiatuba, e era um interessante exemplar do ecletismo do século XIX. 

O projeto usado foi padronizado, restando no Brasil apenas alguns exemplares ainda edificados, como das cidades de Santa Cruz no estado do Espírito Santo e Lapa, no Paraná. O adorno em formato de arco pleno, sobre o entablamento do prédio, foi característica de muitos prédios públicos da época do  Brasil Império. 





Sua função inicial era acomodar o destacamento de polícia e cadeia usando para este fim 2/3 de sua área. Por acesso lateral separado, possuía uma ala de cerca de 50,00 m² onde também acomodava a Câmara Municipal e o gabinete do prefeito. Formava, com os prédios da Igreja Matriz da Candelária e a Estação Ferroviária, o conjunto arquitetônico que caracterizava a cidade de Indaiatuba final do século XIX.

Este edifício foi inaugurado ainda durante o Império; nesta época, a Indaiatuba imperial, organizava seus espaços cívicos, públicos e de convívio no que chamamos de largos, que consiste em um espaço aberto defronte às igrejas ou prédios públicos. O mais usado na cidade foi o Largo da Igreja da Candelária inaugurada em 1838, mas havia também o Largo das Caneleiras onde hoje é a Praça Rui Barbosa, fronteando a Igreja São Benedito.

É com a República, proclamada em 1889, no ano de inauguração de nossa Casa de Câmara e Cadeia, que vieram às cidades brasileiras, as primeiras ideias de europeias de jardim contemplativo, que aos poucos foram substituindo os largos urbanos e criando as nossas primeiras praças. 

No centro de Indaiatuba, durante a inauguração da Casa de Câmara e Cadeia, havia um descampado, um largo, e apenas em 1907, o intendente municipal Major Alfredo Camargo Fonseca, edifica ali, o traçado de metade da atual Praça Prudente de Moraes, criando um “jardim europeu” com caminhos em pedra portuguesa, ricamente desenhados, usando a parte do terreno que era frontal do edifício público que lá existia. 

Nove anos depois, em 1916, edificava ali o primeiro CORETO de Indaiatuba, exatamente defronte e no alinhamento da fachada do edifício que ocupava o centro da atual praça. 

No ano de 1907 o intendente municipal Major Alfredo Camargo Fonseca é autorizado a investir na construção de um jardim para o embelezamento da praça e após nove anos foi construído um coreto com estrutura de madeira. A imagem foi feita no dia 1º de maio de 1923, com a Corporação Musical 7 de Setembro.

Antigo coreto em 1927, em festa religiosa comandada pelo Padre Félix Ortega
Benção do Santíssimo Sacramento


É desta época, o incrível e rico desenho ondulado do piso executado em pedra portuguesa, e que foi usado, mais de 50 anos depois, pelo paisagista Burle Marx, em suas calçadas na Orla de Copacabana no Rio de Janeiro.  Nossa praça antecede Copacabana, em pelo menos em meio século. Na verdade, tanto nossa linda praça, quanto Copacabana, tem a Praça do Rossio, reconstruída após um terremoto em 1755 da cidade de Lisboa em Portugal, como base para as famosas “calçadas portuguesas”.  

Praça do Rossio - Lisboa



Imagens seguintes: mosaico de pedra portuguesa até hoje na Praça Prudente de Morais







Apenas dezesseis anos após a construção de nosso primeiro coreto, irrompe a Revolução Constitucionalista de 1932, sob a liderança de Pedro de Toledo, o governo constitucionalista de São Paulo durou apenas 03 meses. O saldo oficial foi de 934 mortos, mas estima-se que, entre combatentes e civis, houve mais que o dobro disso. Entre estas baixas estava um ilustre indaiatubano, o voluntário João Pereira dos Santos, que no dia 10 de setembro de 1932, mantinha sua posição enfrentando as tropas que invadiam São Paulo pelo setor sul, em local próximo a Itararé, enquanto garantia a retirada estratégica de 150 colegas combatentes, quando foi alvejado e morto. Por bravura além do dever, foi tomado e seu comandante ordenou que seu corpo fosse escoltado a Indaiatuba com honras e homenagens de um oficial, onde foi sepultado.  No ano de 1955, foi criado o Mausoléu do Herói Constitucionalista, para homenagear os heróis paulistas, desde então, a cada dia 9 de Julho, heróis combatentes da revolução de 32 são levados de seus locais de descanso originais, para serem sepultados neste local.  Para completar os 25 anos da revolução, em 1957, onze urnas, vindas da Capital e do Interior do Estado de São Paulo e do Estado do Rio de Janeiro, foram sepultadas no mausoléu, entre elas a do indaiatubano João Pereira dos Santos, que teve seu corpo transportado para lá. 

Neste ponto, a história da revolução cruza com a do primeiro coreto de nossa recém edificada praça, que foi demolido de seu local original, para dar lugar ao Busto do Voluntário João dos Santos, construído em 1957 , que fazia parte das comemorações dos 25 anos de revolução. Para o local de tão importante homenagem, foi escolhido o antigo coreto. Atualmente podemos ver, abaixo do busto de bronze, o piso arredondado onde se localizava o coreto demolido. 

Um novo coreto foi edificado, agora em estilo Art Decó, na parte posterior da Casa de Câmara e Cadeia, dando início a projeto da segunda parte da praça. É muito clara a diferença entre os materiais e aplicação das duas metades do jardim, e podemos aferir estas características atualmente observando o desenho da praça.  Apesar da diferença, o desenho continua sensacional e forma atualmente, um dos mais ricos patrimônios arquitetônicos de Indaiatuba.

Na década de 1960 a Casa de Câmara e Cadeia foi demolida para a construção de uma fonte luminosa, um modismo entre os equipamentos urbanos da época, e a Praça Prudente de Morais tornou-se a Praça do Footing, outro modismo de convívio. Antes escondido atrás da Casa de Câmara e Cadeia, o Coreto agora, passa a hierarquizar o espaço de seu entorno, tornando-se a mais imponente edificação da praça.






A praça foi novamente reformada na década de 1990 onde foram instalados quiosques, e reinaugurada em 1998. 


Linha do Tempo citada: 

1838 – Inauguração Igreja da Candelária

1888 – Inauguração Casa de câmara e Cadeia

1889 – Proclamação da República

1907 – Construção da Praça Prudente de Moraes

1916 – Construção do Primeiro Coreto

1932 – Revolução Constitucionalista

1955 a 1957 – Demolição do Coreto / Construção do Busto / Construção do novo Coreto

Década de 1960 – Demolição da casa de câmara e cadeia / Construção da Fonte Luminosa


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Nota de EBS:

Tanto a calçada de pedras portuguesas (Indicação 824 de 2017) como o busto do soldado constitucionalista (Indicação 1270 de 2017) foram sugeridos para tombamento. Passados 6 (seis) anos das Indicações, até agora nenhuma ação foi feita para viabilizar essas ações pelo Conselho de Preservação e órgão responsável - Departamento de Preservação e Memória.

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