quarta-feira, 25 de junho de 2025

O ponto de vista caipira dos 50 anos de Tubarão

 Texto de Marcos Kimura



Tubarão completou 50 anos de seu lançamento nos Estados Unidos no último dia 20 de junho. O filme de Steven Spielberg marca a indústria de diversas formas:

  • Criou o termo blockbuster, ou arrasa-quarteirão em bilheteria, especialmente no verão americano.
  • Fez do diretor uma grife em Hollywood e
  • É a primeira trilha marcante de John Williams.

O lado ruim de tudo isso?

  • Muitos acusam os blockbusters de terem infantilizado o cinema,
  • O surgimento da obsessão por bilheterias miliardárias e
  • Pior de tudo: fez com que a pesca esportiva de tubarões atingisse números alarmantes na época

O megassucesso repercutiu aqui, na periferia do mercado cinematográfico, por meio de imprensa. Meu pai era dentista, e por isso assinava a revista Manchete para colocar na sala de espera do consultório.

Naturalmente, antes delas distraírem os pacientes, eu devorava a sessão de cinema e – porque não confessar? – a cobertura de Carnaval (quem nunca, nos anos 70?).

O problema é que, há meio século, os filmes lançados no verão americano chegavam no Brasil no nosso verão, ou seja, pelo menos seis meses depois. Isso nas capitais e cidade importantes.

No interiorzão, caso da pacata Indaiatuba de então, o prazo era indeterminado.

Segundo o IMDB, Tubarão estreou no Brasil no Natal de 1975, com enorme sucesso.

Enquanto eu aguardava ansiosamente a chegada do bichão ao Cine Alvorada (ainda existia o Cine Rex, mas a essa altura, não recebia mais os lançamentos importantes), meus primos paulistanos foram me contando o filme… na época ainda não havia o conceito de SPOILER ALERT.

Pois bem, quando Jaws (nome original, Mandíbulas) chegou a Indaiatuba, em junho de 1978 (fonte: Retrovisões, de Antônio da Cunha Penna) além de saber onde aconteciam os jump scares, já faltavam alguns dentes no bichão, por conta dos dois anos e meio de utilização das cópias brasileiras.

Naquele tempo, as mídias eram rolos de celuloide bastante caros que, depois de prontos, viajavam por todo o Brasil.

Em sua difícil jornada, estes rolos recebiam como manutenção, única e exclusivamente, emendas com durex a cada rompimento da fita, além de cortes e a exclusão de pedaços quando se queimavam.

Em dois anos e meio, o que chegou ao Alvorada era bem menos do que havia sido visto pelos meus primos em São Paulo. Provavelmente, não fui o único frustrado com o Tubarão que me coube.

Guerra nas Estrelas

Guerra nas Estrelas, hoje conhecido como Star Wars IV: Uma Nova Esperança, chegou ao Brasil no mesmo ano de 1978 com muito mais cópias, a ponto de tê-lo visto umas dez vezes no período de um ano em vários cinemas diferentes.

Por via das dúvidas, na estreia nacional, fui até Campinas, no hoje finado Cine Regente, e assisti na primeira sessão disponível.

É bom notar que, se Tubarão tornou-se a maior bilheteria da história em 1975, foi superado apenas dois anos depois por Star Wars IV, que era censura livre… e o cinema nunca mais foi o mesmo.

Hoje, assistimos aos grandes lançamentos não apenas simultaneamente aos americanos, mas muitas vezes até um dia antes, já que as exibidoras locais tornaram as quintas-feiras o dia das estreias, enquanto nos Estados Unidos elas acontecem às sextas.

E a cópias, hoje digitais, não se deterioram com cada exibição. Sem falar no som, muito melhor que no século passado.

É algo inevitável no capitalismo: se antes o mercado brasileiro era secundário, hoje ele é bastante relevante, a ponto das estrelas dos grandes filmes virem ao País para divulgarem seu produto, como é o caso do diretor e elenco principal de Superman esta semana.

Os tempos mudam, a tecnologia avança, mas Tubarão está por aí, rondando…




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