Tubarão completou 50
anos de seu lançamento nos Estados Unidos no último dia 20 de junho. O filme
de Steven Spielberg marca a indústria de diversas formas:
- Criou o termo blockbuster, ou
arrasa-quarteirão em bilheteria, especialmente no verão americano.
- Fez do diretor uma grife em Hollywood e
- É a primeira trilha marcante de John
Williams.
O lado ruim de tudo isso?
- Muitos acusam os blockbusters de
terem infantilizado o cinema,
- O surgimento da obsessão por bilheterias
miliardárias e
- Pior de tudo: fez com que a pesca esportiva de
tubarões atingisse números alarmantes na época
O megassucesso repercutiu aqui,
na periferia do mercado cinematográfico, por meio de imprensa. Meu pai era
dentista, e por isso assinava a revista Manchete para colocar
na sala de espera do consultório.
Naturalmente, antes delas
distraírem os pacientes, eu devorava a sessão de cinema e – porque não
confessar? – a cobertura de Carnaval (quem nunca, nos anos 70?).
O problema é que, há meio século,
os filmes lançados no verão americano chegavam no Brasil no nosso verão, ou
seja, pelo menos seis meses depois. Isso nas capitais e cidade importantes.
No interiorzão, caso da pacata
Indaiatuba de então, o prazo era indeterminado.
Segundo o IMDB, Tubarão estreou
no Brasil no Natal de 1975, com enorme sucesso.
Enquanto eu aguardava
ansiosamente a chegada do bichão ao Cine Alvorada (ainda
existia o Cine Rex, mas a essa altura, não recebia mais os lançamentos
importantes), meus primos paulistanos foram me contando o filme… na época ainda
não havia o conceito de SPOILER ALERT.
Pois bem, quando Jaws (nome
original, Mandíbulas) chegou a Indaiatuba, em junho de 1978
(fonte: Retrovisões, de Antônio da Cunha Penna) além de saber onde
aconteciam os jump scares, já faltavam alguns dentes no bichão, por
conta dos dois anos e meio de utilização das cópias brasileiras.
Naquele tempo, as mídias eram
rolos de celuloide bastante caros que, depois de prontos, viajavam por todo o
Brasil.
Em sua difícil jornada, estes
rolos recebiam como manutenção, única e exclusivamente, emendas com durex a
cada rompimento da fita, além de cortes e a exclusão de pedaços quando se
queimavam.
Em dois anos e meio, o que chegou
ao Alvorada era bem menos do que havia sido visto pelos meus primos em São
Paulo. Provavelmente, não fui o único frustrado com o Tubarão que
me coube.
Guerra nas Estrelas
Guerra nas Estrelas, hoje
conhecido como Star Wars IV: Uma Nova Esperança, chegou ao Brasil
no mesmo ano de 1978 com muito mais cópias, a ponto de tê-lo visto umas dez
vezes no período de um ano em vários cinemas diferentes.
Por via das dúvidas, na estreia
nacional, fui até Campinas, no hoje finado Cine Regente, e assisti na primeira
sessão disponível.
É bom notar que, se Tubarão tornou-se
a maior bilheteria da história em 1975, foi superado apenas dois anos depois
por Star Wars IV, que era censura livre… e o cinema nunca mais foi
o mesmo.
Hoje, assistimos aos grandes
lançamentos não apenas simultaneamente aos americanos, mas muitas vezes até um
dia antes, já que as exibidoras locais tornaram as quintas-feiras o dia das
estreias, enquanto nos Estados Unidos elas acontecem às sextas.
E a cópias, hoje digitais, não se
deterioram com cada exibição. Sem falar no som, muito melhor que no século
passado.
É algo inevitável no capitalismo:
se antes o mercado brasileiro era secundário, hoje ele é bastante relevante, a
ponto das estrelas dos grandes filmes virem ao País para divulgarem seu
produto, como é o caso do diretor e elenco principal de Superman esta
semana.
Os tempos mudam, a tecnologia
avança, mas Tubarão está por aí, rondando…