sexta-feira, 29 de maio de 2009

Patrimônio Ferroviário de Itaici está ameaçado

Na próxima segunda feira, dia 1. de junho de 2009, vai para a segunda votação o projeto de lei número 9.609 de 15 de maio de 2009, assinado pelo prefeito Reinaldo Nogueira. O projeto tem como objetivo autorizar o Poder Executivo a vender uma das edificações da antiga estação do entroncamento ferroviário de Itaici, ocupada por família de baixa renda, para regularização de ocupação. Há algum tempo atrás a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba fez um projeto para restaurar, reurbanizar e revitalizar o entorno da estação, onde atualmente - parte dela - está sendo utilizada pelo padre Arthur da paróquia de Santa Terezinha para execução de projetos comunitários.

Embora o projeto ainda não tenha vingado (recuso-me a escrever "não vingou"), o conjunto formado pelo entorno da estação é um patrimônio que merece ser restaurado e não vendido. Começar a vender parte do conjunto é fragmentá-lo. É o começo do fim.

Cabe agora aos vereadores, votarem o projeto. Cada um de nós, eleitores, poderemos ver como será a escolha de cada um deles, por nós eleitos, para as respostas das seguintes questões:

  • É legal/legítimo vender um patrimônio público sem edital, sem licitação?
  • É legal/legítimo vender um patrimônio público por um valor de aproximadamente R$ 35.500,00, sem descrever de forma transparente no projeto de onde veio a avaliação financeira do bem?
  • É legal/legítimo vender um bem que possui valor histórico e que já está caracterizado como passível de tombamento?
  • É legal/legítimo vender um bem público ocupado irregularmente? Isso não seria um incentivo à esse tipo de ocupação?
  • O correto não seria assentar essas famílias em casas populares regulamentadas conforme a lei?
  • O correto não é viabilizar a obra de revitalização, restauro e reurbanização do entorno para a comunidade de Itaici, principalmente da comunidade da paróquia de Santa Terezinha? Quem sabe até ali abrir uma creche?
  • O correto não é respeitar nosso patrimônio edificado, nossa memória e nossa identidade?
  • O correto não seria pensar (ou sonhar?) em ligar a estação de Itaici, linda e restaurada ao Trem Republicado de Itu/Salto e fomentar nosso turismo?
Ficarmos atentos à escolha de cada um de nossos vereadores nessa votação é mais uma forma de conhecer como pensa cada um e quem escolhemos com nosso voto!

Para saber mais sobre a história de Itaici acesse: http://www.estacoesferroviarias.com.br/i/itaici.htm

Crédito das fotos: site http://www.estacoesferroviarias.com.br/

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Audiência Pública em Indaiatuba sobre EIA-RIMA de Viracopos

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Dou início a este post lamentando a ausência do CONAMA de Indaiatuba e registrando a nota de repúdio feito pelo vereador Linho à essa ausência na audiência pública realizada ontem.
Quarta-feira, dia 27 de maio de 2008, no auditório do CIAEI, aconteceu a audiência pública para discussão do conteúdo do EIA - RIMA relacionado ao projeto da expansão do aeroporto de Viracopos que, se aplicado, o elevará a categoria de maior da América Latina.

O evento teve mais de 5 horas de duração, tendo início pouco depois das 17:00 e terminando após as 22:00 horas. Mas de 400 pessoas estiveram no local. A grande maioria não arredou o pé dali enquanto a reunião não terminou. Exceção lamentável desse persiste e participativo grupo, infelizmente, foi do prefeito Reinaldo Nogueira, que permaneceu por pouquíssimo tempo, ficando praticamente apenas para assistir a apresentação do empreendedor - a INFRAERO - e da responsável técnica pela elaboração do EIA-RIMA.

Houve um pouco de atraso, mas esse tempo foi produtivo para que grupos afins se acomodassem juntos, como por exemplo, o pessoal de Friburgo e Helvétia, que tomou todo o centro do auditório com numeroso grupo. Também nesse período o pessoal responsável pela elaboração do site http://www.discutaviracopos.com.br/ distribuiu uma Carta Aberta (1) para todos os presentes alertando sobre os impactos da ampliação do sítio aeroportuário.

A reunião teve início com uma apresentação institucional do Superintendente de Meio Ambiente da INFRAERO, Mauro Covir, que veio de Brasília. Covir justificou o empreendimento com base no grande desenvolvimento da região sudeste do Brasil, mais especificamente da Região Metropolitana de Campinas. Colocou como fator de atração dessa ampliação a presença de uma rede de rodovias já instaladas, como se fossem elas um fator de facilitação do escoamento dos produtos e passageiros do megalomaníaco empreendimento. Creio que faltou a ele tentar fazer o simples trajeto de Indaiatuba até Campinas (nas proximidades desta segunda) entre as 6:00 e 9:00 da manhã ou mesmo entre as 17:00 e 19:00 para ver que a Santos Dumont, e aqui para falar só dela, está tão lenta quanto a Marginal Tietê no mesmo horário. A parte mais sedutora - para os que possuem pressupostos exclusivamente econômicos para interpretação dos fatos - foi o momento em que ele disse que haverá geração de 6.000 empregos na engenharia civil durante a obra e 20.000 empregos diretos e indiretos no final dela. Só não explicou a metodologia para essa otimista prospecção e nem tão pouco disse o que Indaiatuba e Campinas farão com 6000 pessoas (da construção civil) desempregadas após o final da construção.

Em seguida foi a vez da representante da empresa responsável pela elaboração do EIA-RIMA, a geóloga Regina Buratto. Justificou o empreendimento com 3 argumentos: (1) melhoria na infra-estrutura; (2) descentralização do tráfego de Cumbica, Congonhas e Guarulhos e (3) atendimento da demanda futura. Classificou os 37 impactos da seguinte forma: 75% deles serão negativos, 22% serão positivos e 3% podem ser positivos e negativos. Dos 37 impactos, 16 serão no meio físico, 16 no meio biótico e 6 no meio sócio-econômico. Embora tenha deixado muito clara a natureza dos impactos mais graves, citando o cerrado da região, as nascentes do Rio Capivari - Mirim, a fazenda Estiva, as colônia de Helvétia e Friburgo e mais aspectos da fauna e flora, classificou como de alta relevância apenas 4 % dos impactos, sendo que 39% são de média relevância e 57% de baixa. (Calma, gente, não mandem e-mail para corrigir-me; eu copiei isso da apresentação e fui de óculos).
Mesmo com esses números bastante passíveis de questionamentos - o que foi feito com muita propriedade pelas pessoas que se manifestaram em seguida, a própria parte interessada na expansão foi clara em dizer que Indaiatuba e Campinas serão os municípios mais afetados pelos impactos finais que (pasmem!) no final de toda sua apresentação foram classificados como de gravidade "mediana". Ainda bem que Nilson Alcides Gaspar estava lá para ouvir isso e, embora lamentavelmente não tenha se manifestado, vai avisar ao prefeito que - "Sim, que Indaiatuba será afetada sim!". (2)

Teve início, então as manifestações das outras partes interessadas, que em uma audiência pública, como o próprio nome já diz, estão ali para serem ouvidas sobre o assunto a ser debatido e posteriormente analisado pelo órgão responsável, neste caso, o CONCEMA, representado pelo Sr. Germano Filho, que conduziu a audiência de forma disciplinada e, ao mesmo tempo, democrática. Aliás, quem não foi, perdeu um dos exercícios de democracia mais intensos que eu já presenciei nos últimos tempos.
O grupo que se manifestou foi composto por entidades ambientalistas, representantes de entidades civis, representantes de órgãos públicos, representantes de Conselhos, representantes do poder legislativo e judiciário, associações de moradores e cidadãos em geral.


Caio do Amaral Sampaio, funcionário do SAAE manifestou-se com segurança e conhecimento de causa, destacando os problemas relacionados à bacia do rio Capivari Mirim que será altamente afetada, apresentando dados de maneira sólida.

Bruno Ganem e Linho foram os vereadores que se manifestaram, infelizmente os únicos de nossa Indaiatuba. Bruno já havia feito, no dia anterior, uma ação digna de registro para lá de honroso: saiu pelas ruas com um megafone convidando a população para o evento, caminhando muitos quilômetros com o intuito de sensibilizar e informar sobre a audiência pública. Sua fala transbordou seu compromisso e paixão pelas questões ambientais e quando terminou, deu vontade de abraçá-lo dizendo "meu garoooooooto". Que sua perseverança, compromisso, esforço e exposição sirvam de exemplos para quem têm uma causa. Amei.
Já o Linho...

O Linho, com aquela sua habilidade constantemente melhorada em aulas que ministra de História, com sua capacidade de análise profunda e ao mesmo tempo de verbalização resumida, nossa... Arrasou também. Demonstrou ter lido o EIA-RIMA, criticou - como quase todos - a elaboração do mesmo com muita propriedade e ressaltou a necessidade da execução de audiências públicas em outros municípios afetados.

Muitas outras pessoas se manifestaram, principalmente cidadãos de Friburgo e Helvétia (a quem quero dar enfoque especial) e durante os próximos dias farei posts sobre cada assunto abordado, destacando o que foi - no meu entendimento - as partes mais relevantes, para continuarmos nossa discussão, análise e posicionamento para com esse projeto. A geóloga Regina reconhece em seu EIA-RIMA que "a modificação da paisagem local será profunda e irreversível."
Se não ficarmos atentos aos próximos passos do projeto, se não participarmos ativamente do assunto, o que vai ser modificado para sempre e de forma irreversível será nossa vida, nosso futuro, nossa Indaiatuba.



(1) Carta Aberta estará colada em outro post, por motivos técnicos. Lá você poderá clicar nela para que o documento possa ser ampliado e lido com maior conforto.

(2) O prefeito Reinaldo Nogueira declarou para a jornalista Marina Torres, em reportagem publicada na Tribuna de Indaiá, que Indaiatuba não seria afetada pelo projeto. Apenas Friburgo. E que Friburgo não é de Indaiatuba. Não, eu não estou inventando isso. Acessem o site da Tribuna: http://www.tribunadeindaia.com.br/cidade1.asp.
Mas puxa vida né gente... um prefeito não consegue saber de tudo, foi falha dos assessores. Creio que daqueles mesmos que não avisaram para ele que não precisava viajar para a Europa para conhecer usinas de lixo, uma vez que aqui em São Paulo (ali mesmo... uns 100 quilômetros daqui ...) elas funcionam muito bem, obrigado.

Lançamento do livro "Praticando a Liberdade"


O superintende da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba é o autor do livro "Praticando a Liberdade: um estudo sobre resistências escravas em Itu (1850-1873)" que será lançado amanhã, em Itu.




As pesquisas foram feitas para sua tese de mestrado pela Universidade Federal de Uberlândia e o responsável pela edição é a Ottoni Editora (11-4022-5309) que destaca-se em nossa região pelo compromisso com publicações de autores e assuntos locais.
Marcelo também é autor de outras publicações:

  • Maria Graham e a escravidão no Brasil. Entre o olhar e o bico de pena de uma viajante inglesa do século XIX. Cadernos de História Social (Campinas), v. 10, p. 121-147, 2003.


  • O escravo, a família e sua vontade: aspectos do cotidiano escravo a partir de registro de escritura de compra e venda. História & Perspectivas, v. 25/26, p. 333-363, 2002.

Eu já tive o prazer de folhear o livro na ocasião em que ficou pronto, e a obra está com o capricho de sempre do"seo Ottoni".




terça-feira, 26 de maio de 2009

A Centenária Igreja de Friburgo

Quando os primeiros imigrantes (1) chegaram no local onde até hoje está a centenária colônia alemã de Friburgo (Campinas - SP), tudo era mata ou mato. Comprometidos fundamentalmente com a própria sobrevivência, trataram inicialmente de construir seus primeiros abrigos e plantar o que dar de comer para seus rebentos. Nesse tempo de desbravamento, os cultos religiosos resumiam-se em reuniões feitas à luz mortiça dos lampiões nos casebres, hora de um, hora de outro, onde os pioneiros se agrupavam para rezar.

Mas após quase 20 anos desse difícil início, mais exatamente no dia 26 de março de 1880, quando as casas já estavam maiores, a cultura já produzia uma parcela para revenda ou troca e já havia parcas cabeças de gado, a primeira celebração oficiada por um pastor aconteceu no local: foi o batizado de Frederico Gustavo Wellendorf, filho de Karl Wellendorf.

Para esse evento e por iniciativa dos irmãos Samuel e Nilklaus Krähenbühl, juntamente com João Steffen, foi recebido festivamente na colônia, o pastor Johann Jakob Zink, um dos principais (se não o principal) esteio do luteranismo no estado de São Paulo no final do século XIX.

O pastor Johann Jakob Zink nasceu em Unterensingen, Württemberg, em 20/8/1844 e faleceu em Campinas, em 31/3/1918. Foi enviado para o Brasil em 1870, através da Sociedade Missionária de Basiléia (Basler Missionsgesellschaft). Atuou não só na Comunidade Evangélica de Friburgo, mas também em várias cidades da região. Em Friburgo, vinha uma vez a cada trimestre até que Ricardo E. G. Gübel, que fazia os cultos fúnebres e o ensino religioso, assumiu o trabalho dos cultos dominicais. Durante 40 anos esses cultos foram feitos na sala da escola da colônia.

"Até que em 3 de julho de 1932, em uma reunião especialmente convocada, foi deliberada a construção de um templo, em terreno doado pela Sociedade Escolar para esse fim. Em 11 de junho de 1933 foi lançada a pedra fundamental da igreja. Estiveram presentes...representantes das comunidades de Campinas, Monte Mór, Indaiatuba, Rio Claro e outras. 

(...) A construção do templo foi possível graças à colaboração espontânea dos membros de doações em um livro-ouro das 84 famílias pertencentes à comunidade e também de outras, não pertencentes à comunidade. O custo total da construção do templo atingiu a soma de Cr$ 31.500,00 (trinta e um mil e quinhentos cruzeiros)." (3)



Imagem externa (atual) do templo luterano de Friburgo, cedida de acervo particular para este blog.


" O templo se destaca por suas características luteranas. Em seu interior, ao lado do altar, está exposto uma foto de Lutero, de 1517. Na parede dos fundos, onde se encontra o altar, se destaca a pintura artística de uma paisagem, que aparece por entre cortinas abertas, suspensas por cordas. (...) Do alto, acima do púlpito, de entre as nuvens do céu, nos advertem as palavras do profeta Jeremias, escritas em letras grandes, em língua alemã:
"Land, Land, Land, höre des Herr Wort"
"Terra, terra, terra, ouve a Palavra do Senhor"
(Jeremias 22,29) (4)



Imagem interna (atual) do templo luterano de Friburgo, cedida de acervo particular para este blog.


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(1) Segundo Walter Krähenbühl, que escreveu "Friedburg - Castelo da Paz" (1992, mimeo.), os primeiros que chegaram na região entre Indaiatuba, Campinas e Monte Mor onde hoje está a centenária colônia de Friburgo, foi a família de Frederico Thamerus. Logo em seguida vieram os irmãos Samuel e Niklaus Krähenbühl, sendo que esse último casou-se com a filha de Thamerus. Após este início, mas de 30 famílias de imigrantes alemães estabeleceram-se no local, entre eles os Steffen, Jürs, Klement, Armbrust, Quitzau, Wulf, Ulitzka, Albrecht, Schröder, Dolner e Skupien.


(2) Para ler e saber mais sobre pastor Johann Jakob Zink, acesse: http://www.ieclbhistoria.org.br/home/index.phpoption=com_content&task=view&id=3045&Itemid=28
(3) Krähenbühl, Walter. Obra citada, página 26.
(4) Idem, página 27.
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Leia mais sobre Friburgo em:

Solução para Viracopos?

Muitos pensam que o grupo de pessoas que está se mobilizando contra esse (atual) projeto de expansão de Viracopos é contra a expansão, contra o desenvolvimento, contra a modernidade, contra a geração de empregos. Não é isso. Como se diz popularmente, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Expandir o aeroporto todo mundo é a favor,
mas a forma como isso será feito sim,
é motivo de análise, reflexão, discussão
e... se necessário resistência organizada.
O último projeto elaborado, ou melhor, o penúltimo, antes desse que está sendo apresentado com o EIA-RIMA que será discutido amanhã no CIAEI (que contempla uma distância entre as novas pistas de três quilômetros) (SIC!), previa a distância de menos de um quilômetro entre as mesmas, o que faria com que a maior parte das áreas atingidas e onde está concentrada a maioria dos possíveis danos ambientais fosse preservada.
Por que a área para a expansão foi ampliada para quase 14 milhões de m2 é uma incógnita, uma vez que a quantidade de pistas permaneceu a mesma. Precisa tanto?
Precisa sim, se levarmos em conta somente (e tão somente, quero destacar) a especulação imobiliária decorrente desse “novo” e exagerado projeto. Corrijam-me, por favor, se eu estiver errada. Vamos dialogar sobre isso!
Vejamos: somente faz sentido essa grandiosidade toda e seus consequentes 37 impactos ambientais se futuramente propriedades industriais e comerciais se assentarem na área. Ou não? E o pior... o projeto original não avançava sobre áreas preservadas (um raro remanescente de cerrado), restringia-se à áreas já degredadas do entorno das pistas atuais.
O movimento de aeronaves com a ampliação será de um tráfego de um pouso ou decolagem a cada três minutos. A poluição ambiental e sonora desse sobe-e-desce não deixará a população dormir (a não ser que blindem suas casas) e em pouco tempo causará um fenômeno clínico denominado “síndrome do avião sobre a cabeça”, cujos efeitos são problemas respiratórios, surdez e stress crônico.

A solução seria, então, diminuir consideravelmente a distância entre as pistas, de modo o que o aeroporto expandido não alcance as áreas cultivadas, a vegetação nativa e as centenárias colônias alemã (Friburgo) e suíça (Helvétia) que por ali se estabeleceram a mais de um século e onde preservam seus costumes e tradições. Mesmo assim ainda deixaria exposta população – cerca de 40 mil pessoas - dos outros bairros que foram mantidos no entorno de Viracopos (povoados, na maior parte, de maneira irregular). O correto seria a desapropriação dos bairros, tirando aquele povo dali e dando condições para que ele se estabeleça em outro lugar através de uma indenização justa em dinheiro. E isso não é ideia minha, nem do grupo que está se mobilizando para participar da Audiência Pública. É simplesmente... o projeto original!
Que seja feito o correto, e não o que alimenta a ganância de políticos!
Leia mais:

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Os primeiros "Krähenbühl" de Friburgo

Os irmãos Samuel (então com 28 anos) e Niklaus Krähenbühl* (com 24) partiram de Signal, estado de Berna - na Suíça e chegaram ao Brasil, mais precisamente no porto de Santos, no dia 15 de abril de 1857. Os dois eram filhos do casal Magdalena e Johanes e irmãos de mais seis filhos: Elisabeth, Barbara, Johanes, Christian, Peter e Ulrich. Enfrentaram uma viagem de mais de 10.000 quilômetros em uma embarcação de "42 passos de comprimento por 6,5 de largura, o equivalente à aproximadamente 63 metros de comprimento por 10 de largura".

Inicialmente foram trabalhar na Colônia de São Lourenço, entre Piracicaba e Rio Claro, propriedade de cafeicultor Luiz Antonio de Souza Barros, onde permaneceram por três anos para pagar as dívidas da viagem. Seguiram então para trabalhar na Fazenda Sete Quedas, onde já havia muitos imigrantes de origem alemã. Nessa fazenda Niklaus casou-se com Philipina, filha do alemão Frederico Thamerus e Samuel casou-se com Maria Úrsula Margareth Item.

A família de Frederico Thamerus, os irmãos Niklaus e Samuel e mais 34 famílias de outros imigrantes estabeleceram-se, então, em

“...terras muito férteis, medindo no mínimo 800 alqueires de 24.200 m2, pouco acidentada, cortada por vários riachos... localizada em um triângulo entre Campinas, Indaiatuba e Monte Mór”. Reunidos certo dia, decidiram nomear o lugarejo onde se agrupavam as casas de FRIEDBURG, que significa “castelo da paz”, hoje FRIBURGO."

No início, as casinhas eram modestas, de três cômodos, mobiliadas com móveis feitos de caixotes trazidos na viagem ou ainda manufaturados com madeiras e varas do local, amarradas com cipó. Sobre as camas, um saco de capim servia como colchão. Plantaram para sobreviver e também para comercializar. A principal cultura, na época, era a batata; mas plantavam também arroz, feijão, milho, café. Vendiam esses produtos na região, principalmente em Campinas, para onde eram transportados em caminhos mal conservados no “cargueiro”, que consistia na união de dois sacos de couro postos sobre lombo de um cavalo, que carregava aproximadamente 30 quilos de cada lado.

Com dificuldade, as famílias começaram a adquirir cabeças de gado. Como não havia condições de acesso para fazer cercas como as de hoje em dia, cavavam valas de mais ou menos 2 metros de largura por dois de profundidade, que ainda hoje podem ser vistas em alguns locais de Friburgo.

“Assim lutaram... lutaram arduamente...”
Por muitos anos, para ir de Friburgo para Campinas, era necessário passar por Helvétia e ali tomar a estrada que corria paralela à estrada de ferro. Somente com a estrada municipal que passava por Viracopos, a distância encurtou bastante.

Hoje, com a necessidade do aumento da infra-estrutura aeroportuária não só em nossa região, mas no Brasil inteiro, a histórica comunidade erigida pelos primeiros Krähenbühl está ameaçada. Com a globalização, importações e exportações são feitas em grande volume e a classe média, que até a poucos anos atrás não tinha possibilidade para usar o avião como meio de transporte, agora superlota os aeroportos, causando sucessivos caos, escancarando que a infra-estrutura não aumentou na proporção desse acesso.

Viracopos possui um plano de expansão para se adequar a essa necessidade atual e ninguém negaria que o desenvolvimento é bem vindo em nossa região.

Mas... a qual custo? Seria esse desenvolvimento "sustentável"?

Não. Pois além da provável dizimação de Friburgo, de suas casas centenárias, de sua escola, igreja e cemitérios, a expansão ameaça o pouco de mata nativa da região e muitas nascentes. São mais de 30 impactos ambientais já mapeados pelos próprios responsáveis pela obra. E nós não podemos ficar à deriva dos fatos, vendo a História passar e dando adeus ao nosso passado, tradições, e infelizmente poucas riquezas naturais. É necessário analisar quais são esses impactos, verificar quais ações estão sendo propostas para mitigá-los e sem pestanejar – se necessário - unirmo-nos para impedir essa expansão.




*Krähenbühl é uma palavra originária da junção de outras duas: krähen, que significa gralhas e bühl, que significa colina. Gralha era uma ave muito comum na Europa, principalmente na Suíça, onde há muitas montanhas, montes e colinas, onde essas aves pernoitam. Então, krähenbühl significa “colina das gralhas”. Desde há muito tempo, as famílias que residiam nas proximidades destas colinas já eram identificadas como “as que moram perto das colinas das gralhas”. Die famile von bühl der krähen ou então die famile von krähen bühl.



Abaixo, imagens atuais da casa contruída por Niklaus no final do século XIX, atualmente restaurada, cedida para esse blog, de acervo particular:



Krahenbühl    Krähenbuhl Krahenbuhl

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As citações e informações deste post são do trabalho mimeografado feito por Walter Krähenbühl em 1992: "Friedburg - O Castelo da Paz", com 81 páginas. Agradeço a Antonio Reginaldo Geiss pela cessão deste trabalho.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Ampliação de Viracopos e os Impactos na Saúde Pública

Um grupo multidisciplinar (1) da região do entorno do Aeroporto de Viracopos produziu um estudo e apresentou-o ao Secretário da Saúde de Campinas, expondo alguns dos riscos para a saúde que a ampliação desse aeroporto pode causar.

Os riscos descritos não expõem apenas a população de Campinas, mas atinge a população de Indaiatuba proporcionalmente! Por isso, convido-o a ler, refletir e participar da reunião que vai acontecer na próximo dia 27 no CIAEI.

Um dos maiores benefícios que está sendo divulgado a favor da ampliação é a geração de empregos. Quais empregos? Os relacionados à engenharia civil durante a obra? Ou os relacionados à logística, advindos da ampliação dos armazéns no entorno? Estamos comprando essas parcas vagas - muitas delas temporárias - por um preço de mais de 30 impactos ambientais?

Compareça à audiência pública no CIAEI para verificar se os riscos e perigos para a saúde foram mapeados, se há ações de mitigação e principalmente, faça sua escolha: se essas vagas podem compensar os riscos e perigos para a saúde que estão expostos no link abaixo:

http://elianabelo.pbworks.com/f/Impactos%20da%20Amplia%C3%A7%C3%A3o%20de%20Viracopos%20na%20Sa%C3%BAde%20P%C3%BAblica.doc
(1) Grupo que assina o documento:

  •   Elizabeta Novak Associação de Moradores dos Bairros do Entorno de Viracopos 
  •    Eneida Ramalho de Paula Geógrafa 
  •    Valdomiro Sérgio Tivelli Associação de Moradores do Bairro Friburgo 
  •    José Ming Fazenda Estiva 
  •    Márcia Corrêa Associação Protetora da Diversidade das Espécies – PROESP 
  •    Jeffer Castelo Branco Associação de Combate aos Poluentes - ACPO 
  •    José Luiz Muller Instituto Jequitibá
  • Hélio Shimizu Associação de Desenvolvimento Sustentável do Jd. Santa Genebra 
  •    Mayla Yara Porto Representante Macrozona 04 – Comdema 
  •    Victor Petrucci Representante Macrozona 02 – Comdema 
  •    Ângela Podolsky Representante Macrozona 01 – Comdema 
  •    Ney Hoffmann Arquiteto 
  •     Raquel Gouvêa SOS Mata de Santa Genebra – Mobilização da Sociedade ATESQ-Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas 
  • Diretor - Antonio Marco Rasteiro Dionete Santini Unicamp - Universidade Estadual de Campinas Deise Mara Nascimento Instituto Árvore da Vida 
  •    Roseli B. Torres IAC - Instituto Agronômico de Campinas Conselheira no COMDEMA

POSICIONE-SE!

Reunião dia 27 no CIAEI - Ampliação de Viracopos

Reunião pedida por ambientalistas está marcada para o dia 27 em Indaiatuba.

O Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) da ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos será submetido a mais uma audiência pública, desta vez em Indaiatuba.

O Conselho Estadual de Meio de Ambiente (Consema) acatou pedido de ambientalistas feito na primeira audiência, em Campinas, e marcou para o próximo dia 27 uma discussão, de forma que Indaiatuba possa também opinar sobre o estudo, uma vez que a cidade será afetada pela ampliação do aeroporto.

Ainda não há prazo para que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente avalie o EIA-Rima para que as obras possam ser iniciadas.

A audiência ocorrerá às 17h, no Centro Integrado de Apoio à Educação. A Infraero planeja iniciar as obras de construção da segunda pista em setembro, mas esse calendário poderá ser prejudicado por causa do tempo necessário à aprovação do EIA-Rima.

Os Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) já receberam o estudo, mas ainda não foi marcada a data da reunião que irá deliberar sobre o conteúdo do documento.

Segundo o EIA-Rima que será discutido na audiência publica, a ampliação do aeroporto vai provocar 37 impactos ambientais, sendo 30 deles negativos, na área da Bacia do Rio Capivari.

Para a Infraero, a maioria dos impactos ambientais poderá ser plenamente mitigada, compensados ou potencializados através das medidas de controle ou programas ambientais propostos no próprio EIA-Rima. (MTC/AAN).

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Escravos ou Bestas


"Quando os que compram escravos, ou bestas, os poderão enjeitar, por doenças ou manqueiras"
(Ordenações Manoelinas, livro 4 título XVI)
Nilson Cardoso de Carvalho (+ em 09/12/2001)*

Contrariando os desejos do ministro Ruy Barbosa de apagar pela destruição de documentos a mancha da escravidão no Brasil, em todos os arquivos ligados à memória histórica encontramos esta mancha representada por uma grande diversidade de papéis. São processos de vários tipos nos cartórios judiciais, escrituras diversas nos cartórios de notas, registros nos livros das coletorias de rendas e assentos nos livros paroquiais, entre outros. Os livros de batismos nos dão conta da presteza com que o senhor batizava o escravo africano recém adquirido, muitas vezes em lotes, não só pela determinação das Ordenações do Reino, mas também por ser o batistério registro seguro da nova propriedade. Nos cartórios judiciais encontramos processos envolvendo escravos por furtos praticados contra propriedades de outros senhores ou por assassinato de seu próprio senhor ou ainda e principalmente, por assassinatos de seus feitores; crime este dos mais comuns, praticados em legítima defesa contra a brutalidade do tratamento no eito. E, - coisa curiosa - neste caso o escravo deixava de ser considerado 'coisa', 'objeto' e se transformava em pessoa para receber o exemplar castigo. Todos os tipos de transações que se faziam com qualquer tipo de bem móvel ou de raiz encontramos realizadas com escravos devidamente registradas nos livros dos cartórios de notas, com a descrição do nome, sexo, idade e qualificação das peças, em transações tais como venda e compra a dinheiro, escritura de troca por bens móveis e imóveis, escritura de arrematação em hasta pública, escritura de hipoteca e outras. Um dos registros mais curiosos dos que tenho examinado e que caracterizam enfaticamente o escravo como coisa, objeto ou mercadoria é um processo comercial que transcrevi recentemente e que tem como autor da ação uma figura de relevo no passado de Indaiatuba. José Estanislau do Amaral foi importante senhor de engenho e cafeicultor no município de Itu, com engenho em terras da sesmaria do Quilombo, situada no território depois pertencente aos municípios de Indaiatuba e Jundiaí, na então Província de São Paulo. Iniciou-se muito cedo nas atividades da lavoura. Seu pai emancipou-o aos dezesseis anos de idade, em 1834, ocasião em que passou a gerir seus próprios negócios, e o fez sempre com tal eficiência e dedicação ao trabalho, que ao final do século era um dos homens mais ricos do Estado de São Paulo. Através da documentação cartorial examinada sabemos tratar-se de pessoa de comportamento ético condizente com os padrões de seu tempo.
Pretendo através de documento oficial revelar particularidades do tratamento dispensado ao escravo no Império e o dispositivo legal que o amparava. Trata-se de processo arquivado no Cartório do Primeiro Ofício de Itu, atualmente sob custódia do Museu Republicano Convenção de Itu (Nota 1), (da Universidade de São Paulo).

fls. 1 "Anno de 1860 Juizo Municipal da Cidade de Itu e seu Termo Auto de depositoem que são: José Estanisláo do Amaral Camargo ..............Supplicante Romão Teixeira Leomil.........................................Supplicado Escrivão Andrade

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e sessenta, trigesimo nono da Independencia, e do Imperio aos vinte e hum dias do mes de Setembro do dito anno, nesta Cidade de Itu, Comarca do mesmo nome da Provincia de São Paulo, e meu Cartorio faço esta autuação a huma petição de José Estanisláo do Amaral Camargo, despachada pelo Doutor Juis Municipal Supplente Francisco Emygdio da Fonseca Pacheco, afim de se proceder nos devidos termos do deposito, e exame requeridos; de que faço esta autuação, eu Francisco José de Andrade Escrivão que escrevi.


fls 2 Illmo S.r D.or Juiz Municipal Supplente

Diz José Estanisláo do Amaral Camargo da Villa de Indaiatuba que elle Supplicante comprou a Romão Teixeira Leomil da Cidade de São Paulo cinco escravos pelo preço de 9:000$000 reis em data de 21 de Julho ultimo e como em o numero desses entrou um de nome André de nação de trinta annos com pouco de differença, o qual tem molestia chronica e antiga, que o impede de trabalhar na lavoura fim para que o Supplicante os comprou a todos tem o Supplicante de o enjeitar ao vendedor protestando haver perdas e dannos e não lhe pagar o preço constante de huma obrigação, e como para segurança de seos direitos é mister que o dito escravo seja depositado e examinado por algum medico em presença de V.S.a vem o Supplicante requerer a V.S.a que haja de mandar depositar em mão de pessoa segura e que o trate e o mande examinar em presença de V.S.a por algum medico, e que dê o seo parecer por escripto mandando V.S.a notificar desse deposito e exame ao dito vendedor Romão Teixeira Leomil por precatoria ao Juizo Municipal de S.Paulo e mandando lhe tão bem intimar o protesto que faz o Supplicante de haver delle as perdas e dannos ja ocorridas e as quaes sobre vierem até afinal solução deste negocio //

fls 4 Remessa
Aos dous dias do mes de Outubro de mil oitocentos e sessenta annos, nesta Cidade de Itu, e meu Cartorio faço remessa destes autos ao Doutor Juis Municipal Supplente Francisco Emygdio da Fonseca Pacheco, que serve de contador do Juizo, para proceder na contagem das custas; de que faço este termo, eu Francisco José de Andrade Escrivão que o escrevy..."
O processo se encerra com a anotação das custas. Não há menção de envio de precatória ao Juízo Municipal de São Paulo, mas presume-se que o comprador José Estanislau do Amaral tenha sido ressarcido dos prejuízos pelo traficante Romão Teixeira Leomil
.
Comentário
Verifica-se a existência de norma jurídica, aplicada a este caso, tão corrente na época que até dispensava-se o suplicante de apresentar-se assistido por advogado.
De fato, no livro 4 das Ordenações Filipinas, título XVII se encontrava o texto da lei que regia o caso:

"Qualquer pessoa que comprar algum scravo doente de tal enfermidade, que lhe tolha servir-se delle, o poderá enjeitar a quem lho vendeu, provando que já era doente em seu poder de tal enfermidade, com tanto que cite ao vendedor dentro de seis mezes do dia, que o scravo lhe for entregue."
(Nota 2)

Os autos aqui transcritos e o texto da lei que regulava a matéria são demais eloqüentes e dispensam outras considerações para enfatizar o tratamento dispensado ao escravo, conceituado simplesmente como 'coisa', 'objeto' ou 'mercadoria'; de tal forma que, se a situação fosse transposta para os dias de hoje, José Estanislau do Amaral com certeza recorreria ao PROCON alegando perdas e danos, para não pagar uma das prestações devidas a Romão Teixeira Leomil.

Hipótese sobre a moléstia do escravo André

Chama-nos também a atenção nesse processo o exame médico procedido pelo Dr. Kellin, o qual constatou "que o refferido escravo se achava sofrendo de inflamação chronica do baço - oppilação - sub'aguda, ou em estado chronico ..."
Ao lermos este laudo do Dr. Kellin ocorreu-nos a hipótese de que o escravo André sofresse de anemia falciforme, doença crônica hereditária que acomete indivíduos da raça negra. De fato uma das características da doença é o aumento do volume do baço no processo de destruição dos glóbulos vermelhos - que são eliminados pelo organismo por conter um tipo de hemoglobina anormal - , o que leva o indivíduo a apresentar anemia tornando-o imprestável para "trabalhar na lavoura fim para que o Supplicante os comprou a todos".
Concorre para tornar plausível esta hipótese o fato de os dados estatísticos informarem que de cada grupo de quatrocentas pessoas da raça negra, uma é portadora do gen falciforme. Se considerarmos que estes dados - que são atuais - aproximam-se das condições existentes em 1860, podemos afirmar que a existência de escravos portadores de gens falciformes não era rara, levando os traficantes do tipo Romão Teixeira Leomil a executar esse tipo de trapaça, colocando num lote de escravos um, portador da doença hereditária.
Fato curioso referente a essa anemia foi a descoberta, na década de 50, de que em regiões da África onde a malária era endêmica, os portadores do gen falciforme não são acometidos de malária porque seus glóbulos vermelhos resistem ao ataque do protozoário causador da doença.

(nota 1) Cartório do Primeiro Ofício da Comarca de Itu / Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu-USP, maço 76, ano 1860.

(nota 2) Ordenações Filipinas, vols. 1 a 5; Edição de Cândido Mendes de Almeida, Rio de Janeiro, 1870, vol. 4, p. 798 - Título XVII do livro 4.

O autor agradece a colaboração da Prof.a Anicleide Zequini, curadora do Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu.

Nilson Cardoso de Carvalho - falecido em 09/12/2001
Membro do Conselho Administrativo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba
Pesquisa História de Indaiatuba SP - séculos XVIII-XIX e História de Barretos SP - colonização dos vales do Rio Grande e Pardo - século XIX

P.deferimento
E.R.M.ce[a]
Jose Estanisláo do Amaral Camargo

Nomeio para depositario a Antonio Dias Ferras. Marco o dia 24 do corrente as 11 horas para ser examinado o escravo sendo notificado o D.r Patricio Killiam para esse fim. Itu 21 de Setembro de 1860
[a] Francisco Pacheco

Certifico eu Escrivam abaixo assignado que notifiquei ao Depositario nomeado Antonio Dias Ferras para assignar o competente deposito de que ficou sciente. O refferido é verdade, de que dou fé. Itu 21 de Setembro de 1860

[a] Francisco José de Andrade Auto de deposito

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oitocentos e sessenta, trigesimo nono da Independencia, e do Imperio, aos vinte e hum dias do mes de Setembro do dito anno, nesta Cidade de Itu, e meu Cartorio compareceu Antonio Dias Ferrás, e por elle foi dito que havia recebido em deposito o escravo André, constante da petição retro, e do mesmo se obrigava não dispôr sem expressa ordem deste Juizo, sugeitando se as penas da Lei. De como assim disse lavrei este que assigna com testemunhas, eu Francisco José de Andrade Escrivão que o escrevi.
[a] Antonio Dias FerrazComo testemunhas
[a] Antonio Augusto da Silva
[a] Antonino Carlos de Camargo Teixeira
Fls 3

Certifico eu Escrivam abaixo assignado que notifiquei ao Doutor Patricio Hart Kellin para proceder no exame requerido, tido na forma do despacho retro; de que ficou sciente. O referido é verdade, de que dou fé. Itu 24 de Setembro de 1860
[a] Francisco José de Andrade
Auto de exame
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oitocentos e sessenta, trigesimo da Independencia e do Imperio aos vinte e quatro dias do mes de Setembro do dito anno, nesta Cidade de Itu, e casa do Doutor Juis Municipal Supplente Francisco Emygdio da Fonseca Pacheco, onde fui vindo eu Escrivão de seu cargo ao diante nomeado, sendo ahi presente o Doutor Patricio Hart Kellin, pelo Juis lhe foi defferido juramento dos Santos Evangelhos em hum livro d' elles, a cargo do qual lhe encarregou que bem e fielmente, com boa e sã consciencia procedesse o exame do preto André, e declarasse as infermidades que por ventura encontrasse no mesmo, como fora requerido, cujo juramento sendo por elle recebido assim prometteu cumprir; e passando a examinar o escravo André, que lhe fora appresentado pelo Depositario Antonio Dias Ferrás, declarou o seguinte = que o refferido escravo se achava sofrendo de inflamação chronica do baço - oppilação - sub' aguda, ou em estado chronico, que pode ceder, porem mediante huma medicação conveniente, - Nada mais declarando mandou o Juis lavrar este auto, que assigna com o examinador, e depositario, e eu Francisco José de Andrade Escrivão que o escrevy
[a] Francisco Pacheco
[a] Patricio Hart Killin

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Itaici e a CNBB

Padre Xico da paróquia de Santa Rita anunciou, no último sábado, na Tribuna de Indaiá, que a partir do ano que vem o pessoal da comunidade não precisará mais fazer o trabalho voluntário de "carona solidária" feito para transportar os religiosos que vinham para Indaiatuba, na Vila Kostka em Itaici nas reuniões anuais da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A reunião será transferida para Aparecida do Norte.

Durante 33 anos, os voluntários ficavam na rodoviária de Indaiatuba, recebendo cardeais, bispos, padres e também leigos para transportá-los para Itaici, onde vinham na reunião anual dessa instituição católica permanente que

"congrega bispos que, a exemplo dos Apóstolos, conjuntamente e nos limites do direito, exercem algumas funções pastorais em favor de seus fiéis e procuram dinamizar a própria missão evangelizadora, para melhor promover a vida eclesial, responder mais eficazmente aos desafios contemporâneos, por formas de apostolado adequadas às circunstâncias, e realizar evangelicamente seu serviço de amor, na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária, a caminho do Reino definitivo." (1)

Ainda conforme padre Xico, o movimento dos religiosos, testemunhado não apenas pelos solidários motoristas, mas por todo o Brasil, que acompanhava anualmente as discussões da CNBB pela mídia -que também comparecia em peso nas reuniões-, foi um exemplo atual do Cristo Peregrino.

Por muitas vezes, algumas pessoas apenas reclamaram que essa mídia insistia em dizer que a reunião era em Itaici, como se aquele bairro não fosse apenas um dos pertencentes à Indaiatuba. Observando apenas esse equívoco (que também acho grave, indaiatubana fanática que sou) creio que muitos deixaram de observar os temas sugeridos, sempre atuais, sempre provocadores de reflexão e ação, muitos com cunho político e social - e por isso, muitas vezes também criticados por alguns que acham que religião não deve andar de mãos dadas com cidadania.

Não só os caronistas solidários ficarão com saudade do evento. Com certeza, nossa cidade perdeu um acontecimento que acolhia com muito amor, e porque não dizer... com orgulho. Que os religiosos de nosso Brasil, que aqui estiveram, sejam abençoados em sua missão e fé, e que guardem para sempre em seus corações lembranças queridas dessa cidade que os acolheu!

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Histórico das Reuniões da CNBB*

A CNBB, fundada em 14 de outubro de 1952, no Rio de Janeiro (RJ), transferiu sua sede para Brasília (DF), em 1977. Desde então realiza anualmente sua Assembléia Geral Ordinária. A seguir as datas, locais e temas das Assembléias Gerais.
(1ª) - 17 a 20/08/1953 - BELÉM (PA) 1. Plano Nacional de Combate ao Espiritismo. 2. A igreja e a reforma agrária.
(2ª) - 09 a 12/09/1954 - APARECIDA (SP) 1. Situação da família brasileira. 2. Ajuda espiritual, cultural e econômica ao clero.
(3ª) - 10 a 12/11/1956 - SERRA NEGRA (SP) 1. Paróquias ajustadas ao nosso tempo e ao nosso meio. 2. Formação da opinião pública através da publicidade.
(4ª) - 03 a 11/07/1958 - GOIÂNIA (GO) 1. Renovação paroquial. 2. Influência das estruturas sociais sobre a vida religiosa.
(5ª) - 02 a 05/04/1962 - RIO DE JANEIRO (RJ) 1. Plano de Emergência para mobilização geral da Igreja no Brasil. 2. Renovação do ministério sacerdotal, educandários e paróquias.
(6ª) - 26 e 27/09/1964 - ROMA (ITÁLIA) 1. Avaliação do plano de emergência. 2. Estatutos da CNBB.
(7ª) - 11 a 17/10/1965 - ROMA (ITÁLIA) 1. Plano de Pastoral de Conjunto (PPC). 2. Campanha da Fraternidade.
(8ª) - 06 a 09/05/1967 - APARECIDA (SP) 1. Sustentação e distribuição do clero. 2. Liturgia.
(9ª) - 15 a 20/07/1968 - RIO DE JANEIRO (RJ) 1. Eleição para delegados à Conferência de Medellín. 2. Movimento de Educação de Base (MEB).
(10ª) - 21 a 30/07/1969 - SÃO PAULO (SP) 1. Tríduo Teológico-Espiritual. 2. Seminários do Brasil.
(11ª) - 16 a 27/05/1970 -BRASÍLIA (DF) 1. Leigos. 2. Meios de Comunicação Social.
(12ª) - 09 a 18/02/1971 - BELO HORIZONTE (MG) 1. Regimento e Estatuto Civil da CNBB. 2. Catequese.
(13ª) - 06 a 15/02/1973 - SÃO PAULO (SP) 1. Igreja Particular. 2. Direitos da pessoa humana.
(14ª) - 19 a 27/11/1974 - ITAICI (SP) 1. Diretrizes da Ação Pastoral da Igreja no Brasil. 2. Dízimo.
(15ª) - 08 a 17/02/1977 - ITAICI (SP) 1. Exigências cristãs de uma ordem política. 2. Regiões missionárias no Brasil.
(16ª) - 18 a 25/04/1978 - ITAICI (SP) 1. Evangelização no presente e futuro da América Latina. 2. Pastoral Familiar.
(17ª) - 18 a 27/04/1979 - ITAICI (SP) 1. Conclusões de Puebla: Diretrizes da Ação Pastoral da Igreja no Brasil. 2. Prioridades e atividades pastorais da CNBB.
(18ª) - 05 a 14/02/1980 - ITAICI (SP) 1. Pastoral da Terra. 2. Catequese: aplicação da “Catechesi Tradendae”.
(19ª) - 17 a 26/02/1981 - ITAICI (SP) 1. Vocações, vida e ministério do Presbítero. 2. Catequese: apresentação do roteiro para “Catequese Renovada”.
(20ª) - 09 a 18/02/1982 - ITAICI (SP) 1. Solo urbano e ação pastoral. 2. Catequese: educação permanente da fé.
(21ª) - 06 a 15/04/1983 - ITAICI (SP) 1. Avaliação global da caminhada da CNBB. 2. Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil.
(22ª) - 25/04/1984 a 04/05/1984 - ITAICI (SP) 1. Legislação cristã complementar ao código de direito canônico. 2. Formação dos presbíteros da igreja no Brasil.
(23ª) - 10 a 19/04/1985 - ITAICI (SP) 1. Liberdade cristã e libertação. 2. Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e libertação.
(24ª) - 09 a 18/04/1986 - ITAICI (SP) 1. Exigências cristãs de uma nova ordem constitucional. 2. Participação popular na Assembléia Constituinte”.
(25ª) - 22/04/1987 a 01/05/1987 - ITAICI (SP) 1. Avaliação global da caminhada da CNBB. 2. Diretrizes da ação pastoral da Igreja no Brasil.
(26ª) - 13 a 22/04/1988 - ITAICI (SP) 1. Igreja: comunhão e missão na evangelização dos povos. 2. No mundo do trabalho, da política e da cultura.
(27ª) - 05 a 14/04/1989 - ITAICI (SP) 1. Exigências éticas e nova ordem Constitucional. 2. Por um novo impulso à vida Litúrgica.
(28ª) - 25/04/1990 a 04/05/1990 - ITAICI (SP) 1. Educação: exigências cristãs.
(29ª) - 10 a 19/04/1991 - ITAICI (SP) 1. Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil.
(30ª) - 29/04/1992 a 08/05/1992 - ITAICI (SP) 1. Educação: exigências cristãs. 2. 4ª Conferência do Episcopado Latino (Santo Domingo).
(31ª) - 28/04/1993 a 07/05/1993 - ITAICI (SP) 1. Ética: Pessoa e sociedade. 2. Santo Domingo, Prioridades e Compromissos Pastorais.
(32ª) - 13 a 22/04/1994 - ITAICI (SP) 1. Igreja no Brasil: Desafios e Protagonistas da Missão.
(33ª) - 10 a 19/05/1995 - ITAICI (SP) 1. Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil.
(34ª) - 17 a 26/04/1996 - ITAICI (SP) 1. Rumo a um novo Milênio - Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil - 1996-2000.
(35ª) - 09 a 18/04/1997 - ITAICI (SP) 1. A Igreja e Comunicação Rumo ao Novo Milênio. (36ª) - 22/04/1998 a 01/05/1998 - ITAICI (SP) 1. Ministérios e Missão dos Leigos na Perspectiva do novo Milênio.
(37ª) - 14 a 23/04/1999 - ITAICI (SP) 1. Avaliação do Quadriênio e a Atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
(38ª) - 26/04/2000 a 03/05/2000 - PORTO SEGURO (BA) 1. Brasil 2000, 500 anos de fé.
(39ª) - 12 a 21/07/2001 - ITAICI (SP) 1. CNBB: Vida e Organização a Serviço de sua Missão.
(40ª) - 10 a 19/04/2002 - ITAICI (SP) 1. CNBB - 50 anos: presença histórica, desafios e prospectivas.
(41ª) - 30/04/2003 a 09/05/2003 - ITAICI (SP) 1. Anteprojeto das DGAE 2003-2006
(42ª) - 21 a 30/04/2004 - ITAICI (SP) 1. Vida e Misericórdia dos Presbíteros.
(43ª) - 09 a 17/08/2005 - ITAICI (SP) 1. Evangelização e Profetismo.
(44ª) - 09 a 17/05/2006 - ITAICI (SP) 1. Evangelização da Juventude.
(45ª) - 01 a 09/05/2007 - ITAICI (SP) 1. Rumo à Conferência de Aparecida.
(46ª) - 02 a 11/04/2008 - ITAICI (SP) 1. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
(47ª) - 22/04/2009 a 01/05/2009 - ITAICI (SP) 1. Formação Presbiteral: Desafios e Diretrizes. Aprovação das Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil.
* Colaboração Maria Aparecida Oka Gianezi (Cidinha), da Biblioteca Padre Armando Cardoso SJ, da Vila Kostka de Itaici

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nabor Pires Camargo - Uma Biografia Musical






O livro Nabor Pires Camargo - Uma biografia Musical é a biografia do compositor, professor e clarinetista indaiatubano Nabor Pires Camargo, autor do Método para Clarinete, editado pela Irmãos Vitale, em 1948.




Escrita pelo pianista, compositor, arranjador e maestro Marco Antonio Bernardo, a obra que aborda a trajetória da carreira de Nabor agora pode ser vista no link da biblioteca virtual do Google:









Mais detalhes:

Autor: Marco Antonio Bernardo
Publicado por Irmãos Vitale, 2002
ISBN 8574071587, 9788574071589
124 páginas








Para quem, como eu, prefere o prazer de ler "em livro" em vez de tela de computador,


a obra está à venda no Casarão do Pau-Preto.






Para quem não conhece a grandiosidade do maestro Nabor (ou quem, como eu, acha que sua genialidade ainda não foi tão exposta como deveria), veja o arquivo no link, para "tomar gosto" pela excelente obra desse músico - que revelou-se um "musicólogo", e que é um dos maiores talentos da atualidade. E em seguida... corra para o Casarão para deleitar-se com esse livro, fruto de pesquisa séria e com texto bem elaborado!








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