sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Crime do Poço - Capítulo 2 - A Imigração Italiana

Antes de 1870, a vinda de italianos para o Brasil pode ser considerada numericamente insignificante. Os irmãos genoveses Adorno, por exemplo, vieram com Martim Afonso de Sousa, o primeiro capitão-mor designado para iniciar a colonização da colônia portuguesa na América.


Para tentar defender as riquezas dessa terra, que por direito dado através do Tratado de Tordesilhas era sua, Portugal decretou em 1591 que todos os portos do Brasil estariam fechados a qualquer estrangeiro, principalmente piratas e corsários. A medida não impediu totalmente o saque das riquezas do território brasileiro, feito principalmente por franceses, ingleses e holandeses, mas restringiu de certa forma, a vinda de colonizadores estrangeiros que chegavam apenas modestamente, em pequeno número, como marinheiros, viajantes, cientistas e mercadores advindos de vários países europeus, entre eles a Itália.

Outros poucos italianos vieram para cá como membros da Igreja, caso de alguns padres jesuítas, sendo o mais célebre deles, o padre Giovanni Antonio Andreoni, nascido em Lucca, na Toscana em 1706, que publicou o livro Cultura e Opulência no Brasil pelas suas Drogas e Minas, sob o pseudônimo de André João Antonil.

As poucas famílias italianas que vieram para trabalhar em engenhos de açúcar, também podem ser consideradas como casos isolados, como os Dória, Cavalcanti e Accioli.

Já em 1820 e 1837 registraram-se duas correntes emigratórias italianas forçadas: na primeira vieram alguns “facínoras”  (1) em consequência de longa negociação feita entre a corte brasileira e a corte das duas Sicílias. Na segunda vieram condenados políticos, obrigados pelo Estado Pontifício a exilarem-se a fim de aliviar a superpopulação das prisões do Vaticano. Ao lado desses dois grupos, houve outra corrente entre 1820 e 1848, só que esta em caráter espontâneo. Neste período veio o médico Líbero Badaró e Giuseppe Garibaldi , (2) o “herói de dois mundos.”

A partir da década de 1870 a corrente imigratória para o Brasil se intensificou e até 1907 entraram no Brasil mais de 2.300.000 imigrantes, sendo que a maioria – cerca de 1.200.000 – era de italianos que vieram para o estado de São Paulo (3) , o que assegurou a produção de café e mais tarde ajudaria a viabilizar a implantação da indústria. Desse total, temos hoje aproximadamente 25.000.000 italianos e descendentes no Brasil . (4)


FATORES DE ATRAÇÃO

Inicialmente, a política imigratória do governo brasileiro teve como fio norteador o povoamento do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com o objetivo de proteger e defender a fronteira sul do Império. O direito de trazer imigrantes era apenas do governo e medidas adotadas por D. João VI e por seu filho D. Pedro I refletiram que estavam preocupados em perder terras para a Argentina, Paraguai e Uruguai. Neste primeiro momento, a doação de terras feita pelo governo imperial foi um forte fator de atração. Ali, ao contrário dos grandes latifúndios monocultores de café, onde os colonos italianos lavravam a terra para produzir este único produto para exportação, foram instaladas pequenas colônias de povoamento, fundamentalmente produtoras de gêneros diversos necessários ao consumo próprio.




Família Boff com a produção diversificada em Caxias do Sul (SC) final do século XIX
Foto capturada no site http://www.fotostorica.it em setembro de 2007




Muitos italianos, oriundos principalmente das províncias venetas, vieram para essa região, onde fundaram as cidades de Urussanga (1778), Criciúma (1880) e Nova Veneza (1892). Trabalhavam na agropecuária de subsistência, na exploração da madeira, manufatura de instrumentos agrícolas, processamento de cereais e comércio da produção excedente.


Em pouco tempo esse núcleo cresceu

“...para a conquista do oeste catarinense e oeste do Paraná... [não sem antes organizarem colônias que se transformaram em prósperos municípios, como] ...Içara, Turvo, Meleiro, Siderópolis, Treviso, Jacinto Machado, Maracajá, Orleans, Lauro Muller, Sangão, Morro Grande e tantos outros... [dando] enorme impulso a urbanização catarinense ”. (5)



Escola Italiana di Rio Pio em 1914, da colônia de Nova Veneza (atual Nova Treviso – SC)
Foto capturada no site http://www.fotostorica.it em setembro de 2007

Essa fórmula usada desde o tempo de D. João VI, deu certo na medida em que atraia estrangeiros para o povoamento e servia – mesmo que parcialmente - a uma política demográfica. Mas não funcionou para atraí-los para a lavoura monocultura de café, que substituiu o açúcar como o principal produto de exportação após 1840. Os grandes cafeicultores das elites agrárias tinham interesse nos emigrantes como braço para a lavoura do café e este interesse aumentou com a proibição do tráfico de escravos (1850) e com o crescimento da campanha pela abolição da escravatura.

Assim, o governo passou a dividir com a iniciativa privada o interesse pela imigração, iniciativa que ganhou força com a regulamentação da Lei de Terras em 1854, que aboliu a doação de terras para os imigrantes estabelecendo a compra como única forma de posse.


Em 1886 alguns fazendeiros paulistas uniram-se e fundaram a Sociedade Promotora da Imigração que se tornou responsável, junto com o governo da província de São Paulo, em promover meios para facilitar a vinda de imigrantes. O governo imperial emprestava dinheiro, “em média dez contos de réis, que os latifundiários devolveriam em seis anos, sem juros. Com esse dinheiro, contratavam empresas para aliciar e transportar imigrantes europeus ”. (6)

Eram atraídos principalmente pelas “...propagandas, onde o Brasil era retratado como sendo um paraíso. Cartazes, folhetos, livros e fotografias foram distribuídos na Europa, através de agências contratadas, visando estimular a vinda de imigrantes .” (7)

A Sociedade Promotora da Imigração também recebeu subsídios para construir hospedarias para receber e alojar imigrantes nos seus primeiros dias no Brasil. Em dezembro de 1878 foi instalada uma hospedaria no bairro de Santana e em março de 1882 foi a vez da hospedaria no bairro Bom Retiro, que se mostraram insuficientes para a demanda que só crescia. Em junho de 1887 começou a funcionar a Hospedaria de Imigrantes no bairro do Brás, que contava com “...lavanderia, cozinha, pavilhão de desinfecção de roupas, farmácia, laboratório, enfermaria, hospital, capela, correios, uma estação de trem ”. (8)

“A propaganda intensa feita pelos agentes e companhias de navegação, promessas sedutoras e numerosas vantagens oferecidas – moradia, alimentação, salário e a possibilidade de compra de terras – juntamente com o financiamento das passagens influenciaram a emigração voluntária de muitos europeus ”.(9)


Colonos italianos chegando à Hospedaria de Imigrantes no Brás, no final do século XIXFoto capturada em http://www.projetoimigrantes.com.br/ em agosto de 2007.

Os colonos – como eram chamados, eram contratados na Europa e trazidos para as fazendas de café. Tinham sua viagem paga, assim como o transporte até as fazendas. Essas despesas, entretanto, entravam como adiantamento feito ao colono pelo proprietário, assim como, igualmente, lhe era adiantado o necessário à sua manutenção, até que ele pudesse se sustentar. Vendido o café, o fazendeiro era obrigado a entregar aos colonos parte lucro líquido.



O trabalho dos imigrantes nas fazendas de café da província de São Paulo era realizado de sol a sol. Tinham várias tarefas, desde a derrubada da vegetação nativa, plantio, colheita, beneficiamento até o despacho do café. Mulheres e crianças também trabalhavam e a família ganhava pelo número de pés de café que cuidavam. Também era facultado o plantio, em certos locais pré-determinados pelo fazendeiro, dos mantimentos necessários ao seu sustento da família. Moravam nas “colônias” das fazendas, onde tinham que ficar, por contrato, por um determinado tempo, geralmente um ano. Inclusive, o colono não podia abandonar a fazenda sem ter previamente comunicado por escrito a sua intenção de retirar-se, e só o poderia fazer após saldar todos os seus compromissos.

Além das casinhas dos colonos, geralmente a fazenda de café contava com a sede geralmente feita de taipa de pilão, com larga fachada e com muitas janelas. Havia também senzalas, moradias de feitores ou administradores, locais destinados à guarda de equipamentos, depósitos de arreios e carros de boi, paióis, horta, chiqueiros, jardins e, é claro, a plantação de café, a tulha e o terreiro de secagem.


Fazenda de café Santa Silveira, s/d.  - Álbum Vista de São Paulo - DAESP

Assim como na região sul, muitos municípios do estado de São Paulo, tiveram um considerável desenvolvimento econômico a partir da implantação do núcleo colonial (Colônias Oficias), a maioria próxima de estradas de ferro, como por exemplo: São Caetano (em São Paulo, 1877), Sabaúna (Mogi das Cruzes, 1889), Cascalho (em Limeira, 1885), Canas (em Lorena, 1885), Quirim (Taubaté, 1890), Nova Veneza (Campinas, 1910) e outros. (11) 

FATORES DE EXPULSÃO

Aliados aos fatores de “atração” no Brasil, diversos fatores de “expulsão” podem ser elencados na Europa e mais especificamente na Itália, de onde partiu a família De Luca: crescimento populacional, unificação do país, pequena área territorial, topografia acidentada que dificultava a expansão da agricultura numa época de restrita tecnologia, razões políticas e pessoais.

A Península Itálica era constituída por um grupo de antigas províncias habitadas por vários grupos étnicos, com dialetos e aspectos culturais distintos. No período entre 1860 e 1870, após várias guerras, estas províncias, entre elas o Reino de Sardenha, Lombardia, Vêneto, Reino das Duas Sicílias, Ducado de Módena e Reggio, Toscana, Ducado de Parma e Estados Pontifícios, uniram-se formando o reino da Itália, cuja capital passou a ser Roma. O governo unificado tratou logo de taxar serviços, construir obras públicas e criar novos impostos. Pagavam-se impostos sobre quase tudo, “havia impostos sobre os produtos que os agricultores cultivavam para o seu próprio consumo e até mesmo pela posse de animais domésticos .”(12)  A terra também passou a ser tributada e os pequenos proprietários que não perdiam sua plantação por causa das dívidas, passavam a oferecer seus produtos a preços inferiores aos de mercado. Empobrecidos, humilhados e endividados, alguns ainda tentavam ir para as cidades, passando a conviver com outros problemas: desemprego, marginalidade e fome.

Esse processo de unificação também chamado de Risorgimento escancarou ainda uma grande discrepância: o processo de industrialização da região Norte, enquanto o Sul tinha sua economia fundamentalmente baseada na agricultura de subsistência, com inexpressivo e quase inexistente comércio. O capitalismo industrial avançou no Norte com ferrovias, túneis, fábricas e novas técnicas. Ricos proprietários de terras passaram a usar as extensões exclusivamente para criar carneiros que abasteciam com a lã as crescentes indústrias, expulsando os poucos camponeses assalariados.

Para o governo unificado, que incentivou esse processo, a emigração passou a representar a única possibilidade de sobrevivência - não só dessa massa formada principalmente por uma multidão de camponeses, embora houvesse operários, artesãos, pequenos comerciantes e industriais - mas também para a outra parcela da população, que ficou na Itália: “uma parte do povo precisava partir para que a outra pudesse sobreviver .” (13) 

“Deserdados na Itália que acabara de se unificar, enganados pelo império do Brasil que os largara a própria sorte, eles sobreviveram, trabalharam a terra, mantiveram a fé e guardaram no fundo da alma a saudade da terra distante. A mágoa pelo abandono só era notada nos longos suspiros ou no olhar distante, meio perdido, que caracteriza o imigrante exilado da sua terra, buscando em outros lugares a oportunidade que a Pátria não deu .” (14) 


OS EMIGRANTES DE LUCA

 Foi desse cenário da história da Península Itálica que partiu Modesto De Luca, com seus pais, em 1893.


A irmã Elisabete, a mãe Vincensa Martinelli, o irmão Nicola, o pai Modesto De Luca, Domenico (com aproximadamente 12 anos de idade) e o irmão Antônio.
Foto cedida pela família especialmente para ilustrar o livro "O Crime do Poço"

 

Mas não foi em seu ofício que o Sr. Modesto ficou trabalhando no bairro do Brás. Três meses depois da chegada da família em 1894, (16) resolveu tentar a sorte negociando com cereais. Ao que parece foi bem sucedido, pois, com o passar dos anos, não querendo que o filho Domenico crescesse ocioso, pensou - e com recursos pôde aplicar o planejado - em mandá-lo para a Itália, a fim de aprender o ofício de seleiro, com o que o filho concordou de boa vontade.


Segundo relato de Márcia De Luca (17) , o Sr. Modesto De Luca...



“...trouxe uma imagem de São Vito Mártir (ver anexo III) para o Brasil em sua primeira vinda para cá. Assim como ele, outros imigrantes de Polignano a Mare que se estabeleceram nesse bairro também eram devotos de São Vito Mártir e fundaram a Associação Beneficente São Vito Mártir em 1919, que é responsável pela execução de uma das festas mais tradicionais da cultura italiana em São Paulo”.


OS IMIGRANTES ITALIANOS EM INDAIATUBA

Indaiatuba também recebeu muitas famílias italianas que migraram “expulsos” da Itália e “atraídos” para o Brasil nas condições descritas. Foi o caso (17) de Adriana Barnabé (que chegou em 1885), Lazareno e Luiza Belli Boldrini (1901), Angelo e Hermídia Borsari (1891), Júlio Candello, Antonio e Maria Rosa Milani Ciciliato (1891), Luiz Coppini (1880), Nicola e Maria Banone D´Ercoli (1898), Luigi e Ana Danieli França (1890), Paschoal e Rosa Marino Limongi, Vincenzo Vittório e Pacífica Lui (1888), Gáspero e Tereza Mattioni, os irmãos Napoleão, Maximiliano, Carlos e Benevenuto Paratello, Ernesto Pedrina, Paschoal e Rosa Beatrice Petrilli (1898), Angelo e Próspera Prandini, os irmãos Antonio e Carlos Talli, José e Maria Tancler, Carlos e Maria Ferri Zerbini e muitos outros. (18) (19)


Essas famílias trabalharam muito no país que os adotou, principalmente nas roças de café e milho da antiga Indaiatuba. Pais, mães e filhos pequenos labutaram de sol a sol, e fizeram crescer muitas propriedades rurais, como por exemplo a Fazenda Engenho D Água, Fazenda Boa Vista, Fazenda Quinta Paulista, Fazenda Itaguaçu, Fazenda Engenho Pau D Água, Fazenda Pau Preto, Fazenda Barroca Funda, Fazenda Bela Vista, Fazenda Sapezal, Fazenda Taipas dos Jesuítas, Fazenda Vila Mariana, Sítio Recreio, Sítio Solidão, Sítio Lagoa Preta. De colonos, alguns se transformaram em donos das terras.

Todos eles, imigrantes que vieram para a região sul do Brasil que trabalharam nos pés de café, que ficaram no Brás ou que vieram para Indaiatuba possuem uma história onde vários fatos são únicos. Todos eles viveram aventuras e desventuras, decepção e renovação, tristeza e esperança. Araram a terra, colheram os frutos e pouco gozaram do lucro. Desbravaram sertões, construíram casas e ergueram cidades. Fizeram suas ferramentas, educaram seus filhos, edificaram capelas, igrejas e escolas. Luta, perseverança, saudade, revolta e esperança; sentimentos muitas vezes contraditórios, que fortaleceram essa brava gente. Que de tão valente enfrentou muito trabalho, sem luxo e sem lazer em ambientes de trabalho muitas vezes hostis e autoritários. Foram – e ainda são - camelôs, mecânicos, artífices, funileiros, sapateiros, fundidores, moveleiros, gráficos, forjadores, serralheiros, estampadores, carroceiros, barbeiros. Foram operários e empresários. Educadores, padres, médicos, advogados.

Cantinas, pizzarias, o vinho e pão italiano. Bocha, malha, tômbola. Suas marcas e tradições, seu legado cultural, a música lírica, os hábitos alimentares, fazem com que não seja exagero afirmar que parte do Brasil fez-se italiano. Mas o expressivo número de descendentes fez-se brasileiro, vivendo hoje os desafios do século XXI.

Muitos cuidam dos fatos passados, preservam as raízes; mas vivem no presente e o fortalecem com a identidade histórica. Brasileiros agora são, e a profecia da canção Itália bella, mostrati gentile, que tão bem retratou o espírito italiano dos emigrantes do século XIX se cumpriu: a maior parte já não se lembra de retornar...


Itália bela, mostre-se gentil
e os filhos seus não a abandonarão,
senão, vão todos para o Brasil,
e não se lembrarão de retornar.
Aqui mesmo ter-se-ia no que trabalhar
sem ser preciso para a América emigrar.
O século presente já nos deixa,
o mil e novecentos se aproxima.
A fome está estampada em nossa cara
e para curá-la remédio não há.
A todo momento se houve dizer:
eu vou lá, onde existe a colheita do café.


Itália bella, mostrati gentile

e i tuoi figli non ti abbandoneranno,
Se no, tutti in Brasile andranno
E non si ricorderanno più di tornar.
Anche qui dovrebbe esserci da lavorare,
Senza andare in America a emigrare.
Il secolo presente già ci lascia,
Il mille e novecento si avvicina,
La fame è impressa nella nostra faccia
E medicina non c'è per curarla.
Ogni momento si sente dire:
Io vado là, dove c'è la raccolta del caffè.

 


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(1) TRENTO, Ângelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. São Paulo: Nobel: Instituto Italiano de Cultura di San Paolo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1988.

(2) Giuseppe Garibaldi nasceu na França em 4 de julho de 1807 e faleceu em Caprera, na Sardenha, Itália, em 02 de junho de 1882. Foi um guerrilheiro que lutou contra a tirania, tanto na Europa, como na América, participando da Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul.

(3) Memorial do Imigrante (SP- Brasil). Histórico da Hospedaria: Links de Estatística. Capturado em julho de 2007: http://www.memorialdoimigrante.sp.gov.br/historico/e3.htm

(4) 25.000.000 é o número estimado citado pela fonte: Presenza italiana in Brasile. Embaixada da Itália, 2000. Já segundo o Jornal Ítalo Brasileiro, ano 1, no. 1, 1996, p. 08, citando quadro divulgado pelo Ministério das relações Exteriores Italiano, esse número é de 22.753.000.

(5) DE LUCA, Derlei Catarina. Dando um Futuro ao Nosso Passado nas Comemorações dos 130 anos da Presença Veneta em Santa Catarina. Tribuna de Criciúma (SC). Agosto de 2007.

(6) IOTTI, Luiza Horn. Imigração e Colonização: artigo publicado no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2003

(7) FRANCESCO Nelson Di. Imigração Alemã no Brasil. SP. Memorial do Imigrante/Museu da Imigração, 2000, p.7

(8) FREITAS, Sônia Maria de. E chegaram os imigrantes... O Café e a imigração em São Paulo. São Paulo, 1999. p.47

(9) RODRIGUES Ondina Antônio. Imigração Italiana no Estado de São Paulo. São Paulo: Memorial do Imigrante/Museu da Imigração, 2006, p.8

(10) DE LUCA, Derlei Catarina. Dando um Futuro ao Nosso Passado nas Comemorações dos 130 anos da Presença Veneta em Santa Catarina. Tribuna de Criciúma (SC). Agosto de 2007.

(11) FREITAS. 1999. p. 56

(12) RODRIGUES. 2006, p.8

(13) Id. 2006, p.6

(14) DE LUCA, 2007.

(15) No final de 1960 o jornal indaiatubano Tribuna de Indaiá publicou durante 04 semanas consecutivas, todos os domingos, a tradução do livro (encarte?) “Domenico De Luca Barbaramente Assassinado em Indaiatuba” em alusão ao 53º. aniversário do Crime do Poço. O livro, originalmente escrito em italiano, foi traduzido pelo Sr. Raffaello Fantelli, que nos informou em abril de 2007 que ele chegara ao jornal provavelmente pelas mãos do antigo proprietário, Sr. Renato Talli. Os irmãos Manoel Ferreira de Miranda e José Luís da Silva Miranda informaram, em maio de 2007, que infelizmente não possuem nenhuma referência atual sobre o livro. Assim a Tribuna de Indaiá será citada como fonte toda vez que informações advindas desse livro forem citadas.

(16) Informações da Tribuna de Indaiá – 1960.

(17) Filha do Sr. Paschoal De Luca, por sua vez filho de Antonio De Luca, irmão de Domênico de Luca.

(18) SILVA, Denise Stein R. Famílias Tradicionais e Ilustres Indaiatuba. 1997. Novo Enfoc Editora

(19) Pós escrito: No Bairro Tombadouro, estabeleceram-se as famílias italianas Ratti, Mazzetto, Pietro Bom e outros. (Informação de Leca Pietro Bom)

O Crime do Poço - Capítulo 1 - O Assassinato

Capítulo I – O Assassinato

- “Cadê o milho?”, disse Domenico De Luca (1) , jovem imigrante italiano de 17 anos de idade.

- “Aqui está o milho!”, respondeu Antônio N., que ao mesmo tempo deu uma forte pancada na cabeça de sua desavisada vítima, que nem teve tempo para virar-se de frente para seus algozes.

O relógio carrilhão assentado acima da janela central da matriz Nossa Senhora da Candelária, na época sem as duas torres, marcava três horas da tarde.

A vítima desmoronou por terra ficando deitada sobre o seu lado direito, quando levou outra forte bordoada, também na cabeça. Com a pancada virou-se de costas e debatendo-se, mexia derradeiramente braços e pernas em rápido tremor. Mas não se defendia, agonizava e emitia fundo estertor, movimentando-se involuntariamente. Como a autópsia revelaria dias mais tarde, já era naquele instante, portador de duas fraturas cranianas.

Rapidamente, Adão R. pegou uma pesada pedra que servia de encosto da porta, levantou-a acima da cabeça e com os braços erguidos, aproximou-se do moribundo e a socou com força em seu peito exposto, sobre o coração (2) .

Eugênio C., que sorrateiramente também havia se aproximado da vítima, firmou seu pé contra o lesado peito, tirou do lado esquerdo da cinta uma faca de sapateiro com aproximadamente um palmo de lâmina, segurou no queixo de Domenico e desferiu dois profundos e vigorosos golpes, degolando-o quase que totalmente, dando àquele quadro sinistro, a mais intensa feição de sanguinário horror.

Após o sinistro consórcio que premeditou o crime 24 horas antes, jazia agora o jovem Domenico, num cenário repulsivo, covarde e repreensível, sucumbido à desgraça.

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(1) Exceto a citação 2, as informações deste capítulo são advindas dos autos do processo.
(2) DOTTA, Mário. A Tragédia da Rua Candelária. Indaiatuba (SP). 1985. Mimeografado. p.11


LEIA O CAPÍTULO 2


Livro publicado em 2007

domingo, 22 de abril de 2012

Minúsculo tratado sobre a evolução da comunicação e a cidadania

Os nossos mais antigos ancestrais, aqueles muito parecidos com macacos - mas que não era macacos - e sim, primatas peludos (para alívio de alguns, há diferença entre eles!), provavelmente já se comunicavam com seus semelhantes em uma linguagem rudimentar, mesmo que através de uma linguagem corporal ou grunhidos e gritos.

Aos poucos, essas formas de comunicação evoluíram para a palavras mais articuladas relacionadas à objetos do cotidiano – comida, principalmente; até que culminou com a linguagem escrita, ou melhor desenhada, obviamente usada para relatar como que se pegava ela, a comida novamente.

De pictórica, essa linguagem escrita passou a ser ideográfica, passando a representar não mais apenas coisas, mas ideias. E assim surgiram as primeiras pedras de argila e mais tarde os pergaminhos para registrar as leis de regras sociais, inicialmente para contabilizar o quê? A comida.

Mas como há pessoas que são diferentes de mim, que não pensam privilegiadamente na comida, surgiram também poemas, leis, regras, tratados, contos e tudo o mais. A grande dificuldade dessa época era a reprodução de tudo isso, feita de maneira artesanal. Na Idade Média, por exemplo, houve uma evolução nesse sentido: nos grandes mosteiros haviam os monges que ficavam horas à fio escrevendo cópias de manuscritos e miniaturas de gravuras. Obviamente apenas de textos relacionados à ideologia católica; mas mesmo censurada, a prática trouxe bons resultados do ponto de vista da divulgação.

Até que ele – que adorava comer – Gutenberg inventou a tipografia em 1445, ou seja há pouco tempo atrás se considerarmos que aquele primata peludo do começo do texto já vivia há 40.000 mil anos antes. Lá no passado os decretos, as leis, as notícias e outros textos eram difundidos por um correio rudimentar, basicamente monopolizado pela classe dominante: cavaleiros galopavam por estradas quase sempre poeirentas – se existentes!, levando os documentos para serem conhecidos a longa distância.

Mas com Gutenberg isso mudou: documentos começaram a ser copiados e geraram as valorosas bibliotecas do Renascimento, os jornais que insuflaram a Revolução Francesa, os panfletos que fizeram eclodir a Reforma Religiosa e muito mais que não se pode mensurar, tamanha a grandeza do impacto. Depois surgiu a Internet, e principalmente as redes sócias. Inicialmente a comunicação pela web gerou uma discussão sobre o fim dos jornais, revistas e livros em papel.

Profetizou-se o fim deles, assim como aconteceu com o cinema, na época do advento do videocassete. Embora isso não tenha acontecido, pois o prazer de se ler com o “papel” na mão não foi e nem será substituído por um tablet, o fato é que a internet mudou o modo de divulgação da informação. Antes, precisávamos esperar o horário do Jornal Nacional para ouvir as notícias do dia, precisávamos esperar a revista semanal para estar por dentro das análises.

Agora não: todos os cidadãos plugados são repórteres e a profissionalização da divulgação da notícia não existe mais. Qualquer um, mas qualquer um mesmo, anda com seu celular, com sua máquina fotográfica digital e na hora do seu almoço, entra na rede e espalha notícias como bem entende.

Claro que se espalha muito lixo, muita gente exagera na exposição vulgar ou desnecessária de sua – ou do vizinho – vida privada. Mas a Cidadania, essa sim, ganhou e pode ganhar muito mais. E esse ganho tem sido mundial, sendo que o maior exemplo é a Primavera Árabe, uma sucessão de acontecimentos que têm derrubado ditaduras seculares através de movimentos sociais organizados no Facebook.

Em nossa Indaiatuba, na mesma plataforma, temos vários grupos cidadãos. Inicialmente foi o grupo Dinossauros de Indaiá, que começou com uma brincadeira entre amigos para relembrar o passado, e hoje é o principal acervo iconográfico da História de Indaiatuba, com mais de 6000 fotos identificadas e o que é mais importante: compartilhadas.

Há o grupo que se organiza para discutir sobre o Pedágio, há grupo que se organiza para discutir sobre o Trânsito. Há também o Indaiatuba Ativa, que possui um foco mais amplo, debatendo, denunciando, questionando e fiscalizando vários focos diferentes, todos relacionados à Indaiatuba e suas dimensões diversas como Educação, Saúde, Segurança, Política.

Com isso, surge um novo conceito de analfabetismo: o analfabeto digital. Se você é um daqueles que ainda não entrou na rede e por motivos vários ainda não quis enfrentar um computador, lembre-se que esse meio de informação e divulgação está fazendo História, está legitimando o nosso direito de exercermos nossa liberdade de falar, de ser ouvido, de ser comentado.

De mudar de pensamento após conhecermos a opinião do outros, de sermos mais flexíveis e mais próximos, mesmo na correria dessa vida. Ali tudo mundo vê e é visto, e essa liberdade, se bem empregada, é um importante meio para que possamos exercer nossa cidadania. V

enha para a rede também e surpreenda-se com o dinamismo, o nível de criticidade e comprometimento de nossa gente indaiatubana. Ou, simplesmente...divirta-se!


Alguns dos grupos de Indaiatuba:
http://www.facebook.com/#!/groups/indaiatubaativa/ http://www.facebook.com/#!/groups/dinossaurosdeindaia/
http://www.facebook.com/#!/groups/antipedagio/

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vende-se um Cemitério

Vejam que texto curioso, sobre a autorização que a então Villa de Indaiatuba recebeu do Presidente da Província de São Paulo, no ano de 1865 - para vender o cemitério do local, após ser profanado pela própria autoridade eclesiástica. (SIC!). Há algum leitor que conheça mais sobre essa história?

Crédito da pesquisa: Osvaldinho Crocco





LEI N. 53, DE 12 DE ABRIL DE 1865

O Doutor João Crispiniano Soares, do Conselho de S.M.O Imperador, e Presidente da Provincia de São Paulo etc. Faço saber a todos os seus habitantes, que a Assembléa Legislativa Provincial decretou e eu sanccionei a Lei seguinte :

Art. 1.º A camara municipal da villa de Indaiatuba fica autorisada á vender o cemiterio publico da mesma villa, depois de profanado pela autoridade ecclesiastica, confórme as prescripções do direito canonico, e applicar seu producto na factura de outro em lugar mais conveniente.

Art. 2.º Ficam revogadas as disposições em contrario

Mando portanto a todas as Auctoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nella se contém. O Secretario desta Provincia a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palacio do Governo de São Paulo aos doze dias do mez de Abril de mil oitocentos e sessenta e cinco.

(L.S.) João Crispiano Soares.

Carta de Lei pela qual Vossa Excellencia manda executar o decreto da Assembléa Legislativa Provincial, que houve por bem sanccionar, autorisando á camara municipal da villa de Indaiatuba, á vender o cemiterio publico da mesma villa, depois de profanado pela autoridade ecclesiatica, conforme as prescripções do direito canonico, e applicar seu producto na lactura de outro em lugar mais conveniente, como acima se declara.

Para Vossa Excellencia vêr

Julio Nunes Ramalho da Luz a fez.

Publicada na Secretaria do Governo de S. Paulo aos doze dias do mez de Abril de mil oito centos e sessenta o cinco.

João Carlos da Silva Telles.


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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Desde 2009 aproximadamente 20 mil pessoas visitaram o Museu Ferroviário

A Prefeitura de Indaiatuba por meio da Fiec (Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura) incentiva a cultura oferecendo a visitação gratuita ao Museu Ferroviário, considerado um dos mais importantes pontos históricos de Indaiatuba. Administrado pela Fiec, o Museu recebeu desde 2009, aproximadamente 20 mil visitantes, sendo 2.669 visitantes de Indaiatuba, 2.202 visitantes de outras cidades do Estado de São Paulo e 516 visitantes de 24 Estados do Brasil.

O Museu também entrou no circuito turístico de 109 pessoas vindas de 26 países. São eles: África, Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Bolívia, China, Equador, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Inglaterra, Itália, Japão, México, País de Gales, Peru, Portugal, República Tcheca, Suíça, Uruguai, Venezuela e Taiwan. Porém, o maior número de visitas, refere-se às escolas do município e da região, que somados aos professores, inspetores e diretores resultaram no expressivo número de 8.887. Com os registros de faculdades, entidades, associações, entre outros, o Museu Ferroviário de Indaiatuba recebeu ao longo destes três anos o total de mais de 18.140 visitas.

Além de abrigar em perfeitas condições de funcionamento a locomotiva a vapor, fabricada em 1874, que pertenceu ao Imperador D. Pedro II, a Fiec conseguiu adquirir mais 55 peças nestes últimos anos para o seu acervo, todas devidamente registradas e catalogadas. São 403 objetos referentes a história da ferrovia.

Para o superintendente da Fiec, João Neto, a captação de objetos para o acervo é fundamental para o registro de Indaiatuba, da ferrovia e dos ferroviários que nela trabalharam. “Faço o pedido a quem possuir uma peça que entre em contato e tenha a certeza que o objeto será catalogado, restaurado se necessário e o seu nome constará, para sempre, no relatório do acervo”, avisa João Neto.

Os programas da Prefeitura “Colhendo Frutos com o Turismo” e “Passeios da Memória”, são visitas agendadas de escolas municipais, estaduais e particulares realizadas pelo Departamento de Turismo da Secretaria Municipal de Esportes, que serve de estudo para as crianças e onde podemos mostrar também aos turistas que visitam Indaiatuba, o trabalho criterioso realizado no Museu Ferroviário.

Em razão da importância da ferrovia no desenvolvimento de Indaiatuba e sua ligação com a população e a memória histórica, a Fiec foi responsável pela elaboração de um projeto de resgate e revitalização do conjunto de prédios da antiga estação ferroviária, onde passou por uma completa restauração, a fim de abrigar o Museu Ferroviário de Indaiatuba.

No cotidiano da cidade, o espaço é utilizado pela população durante todo o ano, com aulas gratuitas de pintura em tela, tecido e artesanato, que fazem parte do programa Fiec e a Comunidade. Anualmente dois grandes eventos culturais, com o intuito de resgatar tradições, são realizados também neste espaço. As tradicionais festas de São João na Estação e Natal na Estação, os quais fazem parte do calendário cultural da cidade, passaram a contar com recordes de público, pois são eventos ao ar livre e que podem e devem ser compartilhados por toda a família.

Neste mesmo contexto está o Espaço Cultural Estação Helvetia, o qual a Fiec administra um mini museu e oferece as mesmas aulas de pintura em tela, tecido, artesanato, aulas de informática básica e devido a parceria com a Secretaria da Saúde, viabilizamos a oportunidade de criar no local, um consultório odontológico com a finalidade de atender as necessidades bucais da comunidade.



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O Espaço Cultural Estação Helvetia fica localizado na Alameda Pedro Wolf, 883 – Jd. Brasil.

O Museu Ferroviário fica na Praça Newton Prado próximo a Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária.
Visitas de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Sábados e domingos
das 9h às 13h. Entrada gratuita



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