quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Grandes homens da História do HAOC: Enfermeiro SEBASTIÃO PEREIRA DA SILVA


Veja se a nova parte do HAOC não merece o nome dele!

Hospital "Enfermeiro Sebastião Pereira da Silva"


Sebastião Pereira da Silva nasceu em 1922.

Com 16 anos, em 1938, começou a trabalhar no Hospital Augusto de Oliveira Camargo como enfermeiro e só parou  50 anos depois, em 1987, ano de sua morte.


Aprendeu a profissão de enfermeiro na prática, atendendo os pacientes do Hospital Augusto de Oliveira Camargo ao lado do médico Dr. Jácomo Nazário e com as freiras da Imaculada Conceição que trabalhavam Hospital, acumulando experiência para prestar exame no Rio de Janeiro e se diplomar como enfermeiro, em 1952. (na imagem a cima, foto dele no dia da formatura, que ele tinha muito orgulho).


No ano de 1963 o enfermeiro Sebastião completou 25 anos de trabalho dedicados ao HAOC. Veja as imagens seguintes.


Enfermeiras do HAOC e Irmãs da Imaculada Conceição oferem cartão de homenagem ao Jubileu de Prata ao Enfermeiro Sebastião - 25 anos de serviços prestados ao HAOC.


Sebastião ficaria ainda mais 25 anos cuidando dos doentes de nossa Indaiatuba, até que faleceu.
Uma vida inteira como enfermeiro do HAOC.
Foi um dia de festa, onde houve missa e festividades que duraram o dia inteiro no HAOC


Enfermeiro Sebastião e o médico Dr. Jácomo Nazário em imagem rara, no momento em que trabalhavam.   O enfermeiro aprendeu na prática a trabalhar com um dos primeiros médicos que atuou no HAOC.

 
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Esse texto e essas imagens fazem parte de um treinamento dado aos funcionários do HAOC em 2010 sobre a História do Hospital, elaborado por mim, Eliana Belo Silva, com base nos seguintes créditos:
 
Créditos de Informações:

Informações da Família Paula Leite através dos Srs. Roberto e Renato e Dr. Edmir Deberaldini.
Exposição sobre o HAOC - Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, crédito para Silvane Rodrigues Leite Alves.
AVILA, Danilo Ribeiro, “ Uma pequena história do Hospital Augusto de Oliveira Camargo”, texto digitado, não publicado.

Créditos das imagens:

Acervo da Família de Augusto de Oliveira Camargo, cedidas através da Fundação Leonor de Barros Camargo.
Silva & Penna Fotografias (cortesia).


Post atualizado em 15/02/2024, com a inclusão do Decreto que nomeou o "Hospital Dia", que na verdade - atualmente - se chama Hospital Renato Riggio Júnior -  inicialmente como "Hospital Municipal Sebastião Pereira da Silva" 




segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Crime do Poço - Capítulo 12

Capítulo XII – Premonição e Busca


Foi assim que, na manhã do dia seguinte (1) , quinta-feira, 12 de dezembro, acompanhado pelo amigo Leonardo Simione e pelo sobrinho Antônio Lelário, tomou o trem da estação de Piracicaba e veio para Indaiatuba.

Comumente, muitas pessoas do lugarejo deslocavam-se para a estação a cada trem que chegava. Poucos para esperar intencionalmente alguém, a maioria só para ver o movimento. Mas aquele trem, particularmente, teve um fator de atração maior ainda: o delegado de Piracicaba avisou o delegado de Indaiatuba, o Sr. João Fermiano de Souza sobre a chegada do pai de Domenico no trem das 11:45h, que viria de Piracicaba. Imagine o leitor o que aconteceu quando a população “ouviu falar” que o delegado João Fermiano, o prefeito Major Alfredo e o escrivão Luiz Teixeira de Camargo estavam indo para a Estação!

Após a recepção que poderia ser definida até como “calorosa” se não fosse a triste situação, juntos chegaram até a pensão da viúva Bertolotti onde Modesto ficou, enquanto as autoridades saíram com a promessa de procurar notícias.

A viúva, comovida pelo desespero do homem, pôs-se a chorar e contou a Modesto que tinha perdido o marido e que tinha ficado com cinco filhos pequenos. Disse, depois, que no dia cinco, Domenico tinha alugado um quarto e que tinha saído antes da refeição, não voltando mais.

Teve uma perturbação imprevista quando ouviu aquela senhora dizer “cinco filhos pequenos”. Até àquela impactante frase, não estava pondo atenção ao que ela dizia, introspectivo que estava, em sua angústia. Mantinha uma postura educada, praticamente fingindo-lhe atenção. Mas ali teve um sobressalto, suas palavras que até então eram sussurros ininteligíveis, ecoaram eu sua mente, repletas de significado e suas mãos se molharam de frio suor. Olhou-a então com mais atenção, sentiu a garganta engasgada na dor que a surpresa intensificava mais ainda, e disse:

“-Sim, eu reconheço a senhora! A senhora estava no sonho, com seus cinco filhos. Sei também como é a casa onde está meu filho morto; é aquela!”

E assim dizendo indicou uma casinha que se divisava a pouca distância pela janela.

A mulher, então, respondeu:

“-Mas aquela é a casa do Adão R.!”




O Armazém de Adão R está à direita nesta foto, com "letreiros" de identificação em cima.
Ao fundo, à direita, é possível ver as torres da Matriz Nossa Senhora da Candelária.
É muito provável, pela qualidade da imagem (e outros motivos), que essa foto tenha sido feita no dia da autópsia do corpo de Domênico, uma vez que há uma foto muito parecida (em qualidade de imagem) do corpo sendo autopsiado.


Sem poder compreender aquilo tudo de forma concreta, Modesto sentia apenas sua tristeza aumentar. Não compreendia que o sonho havia cumprido um papel de mensageiro entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos. E embora acreditasse cada vez mais nessa informação, não lhe dava crédito o suficiente para utilizá-la como combustível para seu corpo e mente, cansados e confusos. Afinal, sonho era sonho, não havia provas e a realidade é coisa bem diversa. Renunciar à razão e entregar-se ao sonho significava enfrentar a dor do luto. Talvez por isso, a clara mensagem sobrenatural não se sobrepunha à razão: urgia continuar procurando o filho.

Neste meio tempo a notícia da chegada de Modesto à procura do filho tinha corrido a cidade e todo mundo comentava o fato. Alguém lembrou que naquele dia 5 de dezembro tinha visto Domenico ser convidado pelo Adão a entrar em sua casa para ver alguma mercadoria. Também correu a voz pequena que, justamente naqueles dias, ninguém lembrava ao certo, tinham aterrado o poço no quintal da casa do Adão.

O prefeito Major Alfredo foi até o largo da Cadeia, mas precisamente na esquina das atuais ruas Cerqueira César com 15 de Novembro (onde está o Banco do Brasil) (2) , na casa do amigo Cesare Lisone 45 anos (3), casado, italiano, negociante, e contou que o pai de Domenico De Luca, cujo desaparecimento estava impressionando a cidade toda, achava-se no hotel da Dona Meritá Bortolotti. Cesare foi até o hotel, provavelmente a pedido do próprio prefeito, para oferecer os préstimos que as autoridades não poderiam no momento, uma vez que estavam empenhados na procura do moço.




Armazém de Cesare Lisone, onde atualmente é o Banco do Brasil
Esquina da Rua Cerqueira César com Rua XV de Novembro
(sem data)


O capitão Benedicto de Salles Passos, 32 anos, casado, funcionário público que trabalhava na Câmara e natural de Itatiba, que já estava lá, informado que havia sido pelo escrivão Luiz Teixeira de Camargo, apresentou-o à Modesto De Luca. Terminadas as formalidades das apresentações, Modesto perguntou se Cesare sabia de seu filho ou das pessoas com quem tinha negociado. Cesare disse que, infelizmente, só poderia responder à segunda pergunta, pois era de seu conhecimento que Antônio N. havia vendido uma partilha de cereais para Domenico De Luca.

O senhor Modesto e seus acompanhantes Antônio Lelário e Leonardo saíram então do hotel, com a intenção de ir até a casa de Antônio, conduzidos pelos solícitos Cesare e Benedicto. Subiram calados pela rua Candelária onde se ouvia apenas o surdo ruído dos passos da comitiva no chão de terra batida. Estranhamente e quebrando o silencio, sem nenhum motivo aparente a não ser sua própria intuição, Modesto observou novamente a casa de Adão. Perguntou por três vezes, naquele e em outros dois momentos, por que a casa estava trancada.

O que ou quem lhe falava ao coração?

De onde vinha aquele pressentimento?

Que motivos racionais explicariam aquela insistente e estranha percepção?

Cesare estranhou a insistência da pergunta, mas explicou que ali morava Adão R., que mantinha uma pequena venda no local, que seus pais eram colonos da Fazenda Bicudo e por esse motivo, era muito provável que ele estivesse, por razões que ignorava, visitando-os. Enquanto Cesare dava suas explicações, o capitão Benedicto se lembrou que a venda estava fechada há uns quatro ou cinco dias, fato que só lhe causou estranheza naquele momento. Pensou mas nada disse que aquilo era no mínimo curioso, uma vez que a venda estava sempre movimentada com desocupados jogando bocha ou baralho. Dias mais tarde, em seu depoimento, Cesare Lisone declarou que, só após saber que Adão estava envolvido no crime, é que obtivera uma explicação plausível, embora sobrenatural, da insistência do pai: a “telepatia” (4) .

Viram a esquina e entraram na rua do Comércio (atual rua Sete de Setembro); foram até a rua da Palha (atual Pedro Gonçalves) a qual subiram até a esquina da rua Boa Vista, onde ficava a barbearia de Antônio N. Ao saírem da Boa Vista e já há uns quinze ou vinte passos da barbearia, que também era um ponto de negócios, perceberam que ele, que estava na calçada, passou rapidamente para o lado de dentro assim que avistou o pequeno grupo. Não se retraiu apenas, mas também começou a mastigar o charuto que fumava, não disfarçando a ansiedade. Capitão Benedicto, que muito conhecia Antônio e percebeu também indisfarçável mudança em sua fisionomia, disse:

- “Seu Antônio, este é o pai do moço que consta ter desaparecido daqui no dia cinco. E ele soube que o moço esteve na sua casa a negócios com o senhor, então ele vem pedir-lhe informações sobre o paradeiro do mesmo.”

Estremecido e visivelmente pálido ele respondeu que


"... já sabia que o pai do mocinho [referindo-se a Domenico] o estava procurando, mas que ele não sabia onde estava... e que o mocinho havia estado ligeiramente [ali] no dia em que sumiu, não tendo entretanto feito nenhum negócio com ele... e que tinha prometido de voltar lá, mas não... [voltou].”


Respondera movimentando os lábios roxos, pálido, com as olheiras de costume... Sua feição se modificava a cada pausa e a voz tremia mais e mais... Tentou acender o charuto por três vezes durante a resposta, sem êxito, prolongando sua fala por um tempo longo e comprometedor. Dias depois, em seu depoimento , o capitão Benedicto (5) disse que sua voz ...”revelava sempre grande perturbação de espírito e desconfiança...com olhares muito desconfiados para com Modesto... [a ponto de ele achar que tivesse, para com ele]... qualquer causo ou agressão.”

Modesto agradeceu e estendeu-lhe a mão.

Antônio retribuiu, apertando sua mão com a mesma frieza e força com que havia dado a paulada em seu filho.

Virou as costas e não acompanhou os visitantes até a porta do negócio. A poucos passos dali, até os companheiros de Modesto, Lelário e Leonardo, que não o conheciam, comentaram a indisfarçável alteração.




Família de Domênico de Luca, em imagem doada po Márcia de Luca para o livro "O Crime do Poço"
Sr. Modesto está do lado do filho Domênico que o quinto menino, de gravatinha borboleta.

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(1) Parte das informações deste capítulo são advindas da Tribuna de Indaiá de 1o de janeiro de 1961.

(2) PENTEADO, 1999. p.13


(3) O depoimento de Cesare Lisone tem início na p.153 do 1º.vol. dos autos do processo transcrito pela FPM.

(4) "Telepatia" foi a exata palavra usada por Cesare Lisone em 1907, expressão que o escrivão Luis Teixeira de Camargo fez questão  de destacar como sendo "palavra do depoente"

(5) O depoimento do Capitão Benedicto de Salles Passos tem início da página 157 do primeiro volume dos autos do processo.

domingo, 23 de setembro de 2012

O Crime do Poço - Capítulo 11

Foi assim que, no dia seguinte, terça-feira dia 10 de dezembro (1) , o conhecido Leonardo Simione embarcou para Itu com a recomendação e o dinheiro suficiente para telegrafar toda e qualquer novidade das estações onde parasse, “uma à uma”, isto até Piracicaba. Chegando a Indaiatuba, apressou-se a comunicar que Domenico não estava ali, e assim por diante, até chegar a Piracicaba.

Modesto lia, com o coração apertado, cada notícia que chegava, mantendo-se praticamente o dia todo indo e vindo com as mensagens na mão a fim de manter Dona Vincenza informada. Pode-se imaginar qual foi a intensidade do choque quando, naquela início de noite, recebeu o último telegrama de Leonardo, que dizia:


Modesto,
Em Piracicaba, ninguém tem notícias de Domenico.
Ele não se encontra aqui.
Leonardo Simione

Com aquelas poucas letras, terminava a ilusão...

A ilusão de que o filho, ocupado demais com os negócios, tivesse deixado de escrever.

As imagens do sonho voltavam mais forte na sua memória, ilustrando o coração atormentado, alimentando a aflita sensação de tristeza.

Uma casa em Indaiatuba...

Não agüentava mais tamanho tormento: pegaria o primeiro trem que saísse para Piracicaba decidido a encontrar o filho, fosse como fosse.

E assim foi que, no primeiro trem que saiu da estação do Brás, rumou para Piracicaba Modesto De Luca, naquela quarta-feira, 11 de dezembro de 1907.






Estação do Brás, sem data.
Foto cedida por Wanderley Duck para o site www.estacoesferroviarias.com.br


As poucas horas que o trem demorou a chegar a Piracicaba, pareceram um século ao pobre Modesto, cheio de tristes presságios. Na estação de ferroviária, encontrou a esperá-lo o Leonardo Simione e juntos foram ao Hotel Bela Vista, onde Domenico deveria estar hospedado. A dona do hotel não teve dúvida em contar-lhe que a última vez que tinha visto o menino, fora no dia de sua chegada de São Paulo e que de lá, depois de lida uma carta procedente de Indaiatuba, o filho tinha seguido para aquela cidade, a fim de acertar um negócio.

Ao ouvir “...uma carta procedente de Indaiatuba...” seu coração gelou. Teve a impressão de que sua consciência o abandonara, “apagando” todas as suas sensações e aniquilando sua capacidade de pensamento lógico. Retornou daquele estado de temporária ausência com a freqüência cardíaca alterada e com a sensação de perigo iminente.

Lembrou dos detalhes daquela maldita casa descrita por Vincenza, que falava do sonho como se estivesse de fronte a uma gravura concreta e palpável. Sinais transformavam-se em certezas. Sentia náuseas.

Uma casa em Indaiatuba...

Mas mesmo assim a certeza não estava totalmente confirmada, pois eu seu coração de pai havia ainda uma esperança... Ele tinha que confirmar o que parecia óbvio... Talvez tivesse ainda alguma possibilidade. A vida concreta descortinava a perda, a incerteza; mas sua vontade, movida pelo amor de pai, negava o que a realidade insistia em mostrar... Afinal... Havia ainda aquele seu amigo, o Atílio Colli...

Ele havia escrito que o filho estava bem em Piracicaba.

Devia ir até a casa dele, porque talvez o filho lá se encontrasse e seu transtorno teria fim. Mas foi inutilmente; ali também o filho não estava, como também o Colli, que naqueles dias tinha viajado para São Paulo e a mulher dele nada sabia.

Só restava ir à polícia e denunciar o desaparecimento. O delegado de Piracicaba o recebeu com gentileza e prometeu que tudo faria para ajudá-lo; disse também que providenciaria a prisão de Colli, o qual tinha lhe remetido uma falsa notícia. Também se comunicaria com os delegados das cidades vizinhas a fim de procurar o jovem desaparecido.

Nessa altura, Modesto estava exaurido. Sua esperança, já tão tênue, esvaia-se a cada minuto, por mais que ele tentasse agarrá-la. Mas não tinha mais argumentos, nada mais sustentava a tendência de seu espírito para considerar como provável a realização do que mais ele desejava: encontrar o filho bem.

A casa em Indaiatuba...

As informações relativas ao pesadelo de Vincenza insistiam em atormentá-lo. De algum lugar escondido de sua mente vinha a certeza de que tudo aquilo continha uma alta dose de realidade. A certeza de que tudo era uma premonição crescia em seu coração. Ele não podia mais conter uma a certeza de que encontraria o filho morto na cidade de Indaiatuba, assim como revelara aquele sonho terrível.

Enquanto isso em Indaiatuba, os amigos chegavam de São Paulo com suas compras. Em seu depoimento, Giovane Brentam, 40 anos, italiano, negociante, disse que fora naquela tarde comprar açúcar e, no momento em que o sino da matriz Nossa Senhora da Candelária marcava seis horas da tarde, passou na barbearia de Antônio, quanto esse lhe contou com ostentação o quanto ele havia gasto em São Paulo, “... e Adão também”. Disse também, em juízo , que conhecia Antônio e Adão há muito tempo, jogava cartas com eles, mas como só perdia dinheiro, estava tentando deixar o hábito. Já de Eugênio, declarou não ser amigo, pois "...ele é vagabundo e não paga as contas.” E que naquela mesma noite, por volta das sete horas iniciaram-se várias rodadas de carteado na venda de Adão, aberta exclusivamente para eles. Estavam lá: Adão, Antônio N., Eugênio C., Luiz Guimarães, Vicente Gaudini e ele, Giovane. Que os últimos perderam muito dinheiro, pois se deixaram seduzir pelas altas apostas chamadas pelos três primeiros, que estavam com muito dinheiro, quantia que, mais tarde, veio saber que havia sido retirada do menino Domenico em abominável latrocínio.

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[1]  As informações deste capítulo são advindas da Tribuna de Indaiá de 1º de janeiro de 1961 e dos autos do processo.


sábado, 8 de setembro de 2012

Tipos Populares de Indaiatuba Antiga III (continuação)

texto de Ejotaele (continuação desse daqui)

 
Seguindo o nosso roteiro pelos fatos da história de Indaiatuba, lembrando-lhe as figuras populares, algumas das quais se tornaram quase lendárias, vamos encontrar o quase lendário "Lourenço sem Chapéu", assim chamado por não fazer uso de chapéu.
 
Naquele tempo, um homem que não fizesse uso do chapéu, importava um verdadeiro anacronismo. Lourenço Sem Chapéu! Quem não se lembra, com saudades, dessa figura benquista de todos, principalmente aqueles que já dobraram o cabo da boa esperança! Alegre e prazenteiro, com seu sorriso rugoso, "Lourenço Sem Chapéu" era o ídolo da petizada daquelas priscas eras, mesmo porque os mais sagazes sabiam explorar-lhe os sentimentos para dele receberem alguns vintenzinhos, de que era pródigo em distribuir.
 
Lourenço sempre trazia consigo algum dinheiro, produto de algumas reservinhas que a sua chácara lhe propiciava, chácara que mais tarde tomou denominação de "Chácara Aurora".
 
Quando o velho Lourenço Sem Chapéu, com suas sandálias monacais e suas patriarcais barbichas morreu, Indaiatuba inteira cobriu-se de comovedor pesar. O cemitério de pedra guarda-lhe os restos mortais, Lá se encontra seu túmulo no mármore eterno, o tributo da estima popular.
 
Por este tempo que medeia de 1908 a 1916, coevo da mesma popularidade, existiu uma pobre criatura estigmatizada por aleijões físicos, alvo de zombarias e divertimento de moleques e até mesmo de adultos que, ao mesmo tempo compelidos por amor à compensação, se condoíam da sua sorte. Esta criatura dói o Cipriano.
 
A história do infeliz Cipriano é como a de todos os seres marginais: não se sabe de onde veio. Cipriano era dado a prodigiosas consumações de cachaça, pois não havia ninguém que lhe negasse um martelo de boa ou má pinga, até mesmo quando ele já se encontrasse chumbado. Era comum ouví-lo cantarolar cantigas sem nexo e falar sobre cinema que ele desconhecia, "celema", como ele dizia.
 
Por incrível que pareça, Cipriano sucumbiu em consequencia da voracidade dos "bichos de pé" que lhe consumiam mãos e pés. Mãos piedosas, de quando em vez, haviam por bem  jogá-lo em salutar banho que exigia, no entanto, esforço heróico, tal a proliferação de tais bichinhos. Estes, porém, resistiam ao ataque benéfico do banho higiênico e porfiavam em permanecer nos deformados pés do Cipriano.
 
Nos seus últimos anos de vida, o infeliz Cipriano foi internado na Santa Casa de Misericórdia de Itu, ondem por fim, veio a falecer.
 
 Outra figura curiosa que existiu na mesma época, foi uma velhinha magriça e hirsuta de fisionomia agreste de hábito que identificavam bem o tipo das mulheres de condições humildes de então: chale, chinelos, olhar sisudo e enfiado, Não se sabe porque cargas  d´ agua e essa mulher veio a ser uma das figuras capitulares da vida citadina. Constituía, em verdade, diversão de mau gosto de muita gente. Era a coqueluche da meninada chamá-la aos berros: Nhá Rita Rabi, quando não era um assobio malicioso que corresponde às sílabas do seu nome.
 
Nhá Rita Rabi não tolerava o nome com que fora batizada e muito menos o atrevido e clássico assobio. A resposta de Nhá Rita Rabi ao assobio era um palavrão desse tamanho. Era então que ela fazia uso e abuso de vocábulos, os mais licenciosos. Muitas vezes, a resposta aos motejos que lhe dirigiam era uma inesperada pedrada que Nhá Rita Rabi arremessava sem cerimônia, pouco se lhe dando o destino da pedra fosse uma vidraça.
 
(continua)


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Nos trilhos da História

A reportagem a seguir foi publicada na revista NOSSA IMAGEM
Ano 03 - edição 09
 
É um belíssimo texto sobre nossa Estação Ferroviária
 
Para ler, clique na imagem para ampliá-la.
 



A redação da revista quer saber que é o maquinista da imagem abaixo.
Você sabe?
 


 

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