quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

A história da Igreja da Candelária é a história de muitas Marias

Charles Fernandes 

 

Arquiteto e urbanista


A história da Igreja da Candelária é a história de muitas Marias


Não havia outra solução para Portugal! Era necessário estruturar a Capitania de São Paulo para dar suporte logístico e militar contra as invasões espanholas que ocorriam no sul do Brasil em meados do século XVIII. Para tanto, o Morgado de Mateus, governador da Capitania, trouxe, de Portugal para a região, qualquer um que tivesse renda para construir um engenho e produzir açúcar. A regra era simples: ocupar para não entregar - ou perder. A região entre Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí formaram um quadrilátero que se destacava pela crescente economia açucareira.  

A Vila de Itu localizava-se nesse quadirlátero e, dentre seus diversos bairros, havia um que abrangia a bacia hidrográfica do Rio Jundiaí, e era chamado pelo mesmo nome. Nesta época a hidrografia era a referência geográfica que nomeava a maioria das localidades.  

Em 1791, após cinco anos enveredando o caminho dos Goyases,  o ituano Pedro Gonçalves Meira volta com fortuna considerável e adquire terras as margens do “Ribeirão Indayatuba”, no Bairro de Jundiaí da Vila de Itú (atual Itaici). A escritura de compra destas terras é o documento onde, pela primeira vez, encontramos menção ao “Ribeirão Indayatuba” (atual córrego Barnabé). 

Em 1793, parte destas terras foram doadas para que um padre constituísse patrimônio eclesiástico, na escritura de doação, estas terras eram descritas como pertencentes a Paragem de Indayatuba, fazendo parte do Bairro de Jundiaí da Vila de Itu. 

Em 1796, Pedro Gonçalves Meira, anteriormente recenseado no Bairro de Jundiaí de Itú passa a ser recenseado no Bairro de Indaiatuba, da Vila de Itú. 

Com base em documentos de propriedade e recenseamentos da Vila de Itu, podemos dizer que ainda no final dos anos 1700 Indaiatuba passa a ser uma localidade, inicialmente uma paragem e depois bairo rural de Itu. 

Em 1813, cerca de 22 anos após a compra de suas terras, Pedro Gonçalves Meira foi o curador de uma capela, onde segundo relatos já estava em construção uma igreja muito maior, cuja nave cercava a capela. Esta capela fora curada anteriormente por Joaquim Gonçalves Bicudo, irmão de Pedro Gonçalves Meiraem homenagem a N. Sra da Conceição, a mesma padroeira da Vila de São Carlos (atual Campinas); no mesmo ano Meira falece e é enterrado dentro desta capela. 

Em 1819, há despachos de casamento realizados na Capela de Indaiatuba, que fora curada novamente como Capela do Santíssimo Coração de Maria do Santíssimo. 

Acerca deste ano de 1819, o Padre Dias Paes Leme escreveu no livro de registros sobre a história das capelas de Indaiatuba:

“Foi primeiramente capella sem ser Curada, e depois passou a ser Curada, e depois deixou de ser curada, os tempos em que estas alternativas tiverão lugar, não achei documento, nem pessoa que me pudesse informar, com tudo haverá mais ou menos 23 annos”. 

Em 1830, foi finalizada a construção da Igreja cuja nave cercava a capela inicialmente chamada de Capela de N. Sra da Conceição, e que mudou de nome para Capela do Sagrado Coração de Maria. Com a finalização da grande igreja de Indaiatuba, acabou por ser demolida a Capela que ficava localizada no seu interior. Esta igreja, que já estaria em construção há mais tempo que os autos de doação destas capelas, fora chamada, a partir de 1830, de Igreja de N. Sra da Candelária.

Apesar de ser curada (doada ou registrada a igreja) em 1830, há ao menos 39 anos de história que precedem a finalização da igreja da Candelária, remontando a história da paragem de Indaiatuba a uma ocupação setecentista, e que são marcadas pela construção da capela original destas terras nas margens do Ribeirão Indaiatuba, onde, em curto espaço de tempo, deu-se a construção da obra da igreja grande em taipa de pilão que circundava a capela, mais singela feita em pau a pique.  

Nestes 233 anos (1791/2024) que remontam a história de nosso povoado desde os tempos onde se construiu a primeira capela, podemos dizer que nossa tradição sempre foi homenagear Maria, a Mãe de Jesus, e o fizemos em toda a sua santa trajetoria, desde a concepção da Virgem, representada por N. Sra da Conceição, passando pela purificação do nascimento, representada por N. Sra. da Candelária até a dor da crucificação e o luto, representada pelo Sagrado Coração de Maria.




Na peça de teatro popular "Auto de Nossa Senhora da Candelária" apresentado no interior da Matriz de Indaiatuba,  foram representados três  momentos da vida de Maria. A peça foi parte das festividades em homenagem a padroeira de Indaiatuba.



Poucos sabem, mas a imagem da padroeira do Brasil, é chamada de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Nossa Senhora da CONCEIÇÃO é a representação da concepção de Jesus em Maria Virgem, onde a imagem se apresenta em oração, que também era padroeira da primeira capela da Paragem de Indaiatuba, construída entre o final do Sec. XVIII e início do XIX.



Imagem de Nossa Senhora da Candelaria da Matriz de Itu, representa Maria, com um candeia nas mãos e o menino Jesus no colo, em procissão na ocasião onde realizou ritual de purificação  após o nascimento de Jesus. 
Candelária é a representação do Nascimento, do ato de ser mãe de Jesus.


A capela do "Santissimo Coração de Maria", 
segundo nome de nossa primeira capela do então bairro rural de Itu (que se chamava Cocais e depois Indaiatuba), é homenagem a representação do luto de Maria após a crucificação.



Retábulo do altar mor da Igreja da Candelária de Indaiatuba, feito em 1951 para instalação do órgão de tubos, está sob a magnífica abóbada em arco pleno, também chamada de abóbada de canhão que cobre o presbitério, entre o arco cruzeiro e o Retábulo. A estrutura desta abóbada é uma das  mais arrojadas obras de engenharia em madeira realizadas na cidade até os dias atuais, e representa enorme capacidade técnica dos construtores do inicio do sec XIX, com recursos limitados e ferramentas manuais. A capela original da Paragem de Indaiatuba era localizada exatamente no centro da nave da atual igreja, e sua porta era voltada para este altar exatamente ao contrário da posição atual.


Imagem da Nossa Senhora da Candelária da Matriz de Indaiatuba


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Fontes:
Indaiatuba - Sua História, livro de Scyllas Leite de Sampaio e Caio da Costa Sampaio
A Paróquia de Nossa Senhora da Candelaria de Indaiatuba, livro de Nilson Cardoso de Carvalho




segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O vigário, o relógio e o sino

Texto de Francisco Nardy Filho*


O relógio da Matriz Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba era uma verdadeira maravilha, funcionava muito bem; contava as horas, não só indicando-as com os seus ponteiros, como assinalando-as com o bater do seu martelo no sino da grande torre - e não assinalava somente as horas, mas as meias horas e quartos.

Àquela hora, a antiga gente indaiatubana não necessitava de relógios para saber as horas, para servi-la lá estava o relógio da Matriz indicando-as com seus ponteiros e batendo-as no sino.

O vigário Padre Antonio Cassemiro da Costa Roriz julgava que aquele bater constante do martelo no relógio no sino acabaria por rachá-lo e depois, como conseguiria ele um sino assim tão bom para a sua Matriz? 

Ordenou então ao Sacristão que amarrasse o martelo do relógio para que então não mais batesse no sino, o que o Sacristão prontamente executou.

E assim passou um dia, passou outro, sem que o relógio batesse as horas, o que causou estranheza àquela boa gente, pois esse relógio jamais faltara em bater as horas. 

Alguns bons indaiatubanos foram se entender com o vigário, se prontificando a concorrerem com o que fosse necessário para o concerto do relógio, a fim de que este continuasse a bater, como vinha fazendo há tantos anos.

Agradeceu-lhes o Padre Antonio Cassemiro esse oferecimento e lhes declarou que não havia desarranjo algum no relógio e que fora ele, temendo que o bater constante do martelo do relógio no sino viesse a rachá-lo, e depois quem daria um sino assim tão bom para a Matriz? Mandara ele amarrar o martelo do relógio.

Alguns desses bons indaiatubanos aceitaram como bem acertado o que o vigário fizera, outros não; e para estes o motivo pelo qual o vigário assim procedera era o seguinte: o padre Antonio Cassemiro embora já avançado em anos, gostava de orelhar a sota (1) e de uma patuscada e, assim, quando o rano verde ia parte animada a festança, atrasava uma hora seu relógio e, quando algum amigo escrupuloso vinha lhe dizer que faltavam poucos minutos para a meia-noite, ele calmamente tirava o relógio do bolso e dizia: "cá no meu relógio ainda faltam tantos minutos para as onze e é por este que me regulo". 

E continuava, calmamente, a apreciar a funçonata ou a orelhar a sota. Quando o relógio da Matriz dava as doze batidas da meia-noite, percebia ele, entre os presentes risotos e cochichos, que ele bem sabia o que significava e bem o aborrecia; e que foi para se livrar desses aborrecimentos que ordenara ao Sacristão amarrar o martelo do sino, pois assim, sem essas badaladas, à meia-noite passaria despercebida - assim diziam os velhos indaiatubanos. Se verdade, não sei.

Passados os dias sem que o relógio batesse as horas, alguns indaiatubanos dirigiram uma representação à Câmara de Itu para que esta ordenasse ao vigário Antonio Cassemiro a fazer com que o relógio voltasse a bater as horas.

Recebendo a Câmara de Itu essa representação, ficou sem saber como proceder. Primeiro, porque Indaiatuba já tinha sua Câmara e era à essa que deveriam se dirigir e não a Itu e, em segundo porque não sabiam se tinham ou não poder para obrigarem os senhores vigários a fazerem com que os relógios de suas igrejas batessem as horas. Era verdade serem as Câmaras que atestavam a boa conduta dos vigários no desempenho de seus deveres, para que com esse atestado o recebesse, suas côngruas; todavia quem deveria atestar a boa conduta do vigário de Indaiatuba era a Câmara dessa Vila e não a de Itu.

E, nesse embaraço, sem saber como proceder, resolveu a Câmara de Itu enviar a representação dos indaiatubanos ao Presidente da Província para que este deliberasse, e assim o fez.

Dias depois recebeu a câmara um ofício da Presidência da Província determinando que a Câmara ordenasse ao vigário de Indaiatuba a fazer com que o relógio da Matriz continuasse a bater as horas.

A Câmara de Itu enviou cópia do mesmo ao vigário de Indaiatuba. 

Recebendo cópia desse ofício, o Padre Antonio Cassemiro coçou a nuca, sorveu uma boa pitada de rapé e disse lá com os seus botões: "o Senhor governo quer que o martelo do relógio continue a bater no sino, pois que bata, e se este rachar, ele que nos dê outro".

E o relógio da Matriz Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba voltou a bater as horas.

Muita coisa tenho ouvido dos velhos indaiatubanos com referência ao Padre Antonio Cassemiro, alguns até o desabonaram, creio, todavia, que há muita fantasia, pois o Padre Antonio Cassemiro foi por três vezes vigário de Indaiatuba, onde residiu por muitos anos e gozou de estima.


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1) "Orelhar a sota" é um termo usado por Machado de Assis, e significa jogar cartas, jogar baralho.

2) Texto reproduzido do acervo do Museu Republicando de Itu - USP, originalmente divulgado pela Dra. Anicleide Zequini aqui

3) Se você gostou deste texto, também poderá gostar deste: https://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2011/11/o-tempo-abstrato-nosso-patrimonio-e-o.html

4) Para que você possa ter a percepção da temporalidade na qual essa narrativa aconteceu, considere que o Padre Antonio Cassemiro da Costa Roriz foi o segundo pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária e ficou entre 05/09/1841 à 1884.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

OS DEZ MAIS ANTIGOS ELEMENTOS DO PATRIMÔNIO DE INDAIATUBA AINDA REMANESCENTES


Vista  Interna do Campanário da Igreja da Candelária

01 – CÔMODO EM TAIPA DE PILÃO, NO CASARÃO PAU PRETO 

Construído entre o fim do Século XVIII ou início do século XIX, o cômodo é retratado na carta do padre Cassimiro da Costa Roriz como moradia singela, utilizada pela igreja, e dataria da época em que foram edificadas as primeiras capelas, de Nossa Senhora da Conceição e do Sagrado Coração de Maria, anteriores a Igreja da Candelária, esta última demolida quando a obra da Matriz terminou. O cômodo original (veja post aqui), existente antes da chegada do padre Cassimiro, possuía um alpendre que era voltado para o sol do meio dia, voltado para olhar o vale do Córrego Votura, também chamado de Córrego Indaiatuba e recentemente de Córrego Barnabé. Este cômodo é uma das primeiras edificações de Indaiatuba possivelmente de época em que a localidade não era, sequer, reconhecida como bairro rural de Itu.



Vista do Casarão Pau Preto, de seu jardim interno para a direção da rua, antes da restauração


Porta da entrada para o primeiro cômodo do Casarão Pau-Preto, em imagem recente, quando a sala pertencia à superintendência da extinta Fundação Pró-Memória


02 – PORTA DE ACESSO AO RELÓGIO DA IGREJA DA CANDELÁRIA

Foi Pedro Gonçalves Meira, que era proprietário de terras a beira do Rybeirão Indayatuba quem construiu a capela de Nossa Senhora da Conceição, que era localizada onde hoje é a nave da Igreja da Candelária, fora construída por Pedro Gonçalves Meira, e já existia em 1807, sendo sua construção anterior a esta data, possivelmente na época da ocupação das terras devolutas que vieram se tornar a paragem de Indaiatuba no fim do século XVIII. 

A atual matriz de Nossa Senhora da Candelária foi construída, literalmente, em torno desta capela que mudaria o nome de para Nossa Senhora da Conceição para Capela do Santíssimo Coração de Maria. 

A porta da primeira capelinha da Conceição, foi guardada e reaproveitada em uma reforma, em cerca de 1879, tendo sido instalada para dar acesso ao mecanismo do relógio inserido no frontão, nesta ocasião. Considerando esses fatos, é plausível afirmar que essa porta setecentista é a última peça remanescente da capela original das terras da paragem de Indaiatuba. 

Em 1819, a capela já seria Curada com outro  nome, como Capela do Santíssimo Coração de Maria Santíssima, segundo registros de casamento da época. Em Outro registro, o Padre Pedro Paes Leme escreve: “Foi primeiramente capella sem ser Curada, e depois passou a ser Curada, e depois deixou de ser curada, os tempos em que estas alternativas tiverão lugar, não achei documento, nem pessoa que me pudesse informar, com tudo haverá mais ou menos 23 annos”. 


Largo da Candelária


03 – FRONTÃO ALTEADO DA IGREJA DA CANDELÁRIA

A construção da igreja da Candelária teve início na primeira década do século XIX, cerca de 1807. Foi edificada conforme as normas estabelecidas na contrarreforma da igreja católica, indicadas no Concílio de Trento, no início do século XVI, possuindo uma planta com altar, presbitério, nave, coro, capelas laterais, tribunas elevadas e balcões - todos estes elementos dispostos de maneira a criar soluções acústicas, luminotécnicas e de conforto térmico, para proporcionar melhor acolhimento e, por consequência, apreciação e entendimento das missas. Chamada de frontispício, a fachada principal das igrejas maneiristas e barrocas brasileiras é coroada por um elemento usualmente em formato triangular, que é chamado de frontão; mas que na igreja da Candelária possui um desenho incrivelmente incomum. 

Frontão alteado da igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba


A Igreja da Candelária, originalmente, possuía linguagem autenticamente barroca, tendo precedido o ecletismo no Brasil em várias décadas, e tem como similar histórico mais próximo, o Convento do Carmo de Itu. Enquanto o frontão do Carmo é curvo, o frontão da Candelária, além de curvo é segmentado, sendo chamado de ALTEADO, e são, ambos, peças típicas da arquitetura sacra colonial brasileira. Esta característica é muito rara entre as igrejas brasileiras e contribui para tornar a nossa Igreja da Candelária um patrimônio arquitetônico de elevada importância.

O maior mestre da arquitetura colonial brasileira, o Alejadinho, teria usado esta segmentação do frontão na igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, em 1642; cortou o frontão, torceu e perspectivou-o sobre o frontispício, como se o templo explodisse em esplendor para receber o fiel; um gênio, se não à frente, igualável aos maiores arquitetos de Europa. 

Originalmente, a cobertura dos campanários da Candelária possuía frontões curvos, exatamente como os do Carmo, mas foram reformados em 1915 quando foram elevados e receberam coberturas em formato de pináculos e os coruchéis barrocos de pedra, idênticos aos do Carmo, foram substituídos por imagens de anjos. 


Frontispício da igreja da Candelária, da Igreja do Convento Nossa Senhora do Carmo em Itu, e de o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos em Congonhas do Campo,
 exemplos de Frontões Barrocos.


04 – AS VERGAS ABATIDAS E BALAUSTRADAS DOS BALCÕES DA CANDELÁRIA.

O Barroco é um movimento artístico caracterizado pelos excessos, pelo movimento, pelas curvas, pela luz e sombra percorrendo as superfícies rebuscadas. A folha de acanto estilizada e as conchas do mar, são temas muito utilizados, e os formatos destes elementos “rocaille” são características muito fortes desta arte que floresceu na época do Brasil Colonial.  A primeira carta que descreve a Candelária, escrita pelo padre Roriz, indica que o altar mor possuía um retábulo muito liso e simples; muito tempo depois, foi substituído, em 1875, por outro retábulo já com elementos do repertório eclético, entalhado por Monsieur Bernard, um artista francês que levou cinco anos para terminar esta obra, que também foi retirado em 1951 para instalar o órgão de tubos que atualmente adorna a capela-mor. 

Pouquíssimos elementos do barroco original restaram na Candelária, e possivelmente parte, ou a totalidade, dos seis primeiros balcões cegos sobre o presbitério, são remanescentes desta rica arte. As VERGAS das aberturas “rasgadas por inteiro” destes falsos balcões sustentam a parede de taipa, e são em arco abatido, acabadas com sobrevergas e ombreiras, finamente entalhadas, tipicamente barrocas. Destaca-se também o desenho da balaustrada, em arco abatido, com arranques laterais adornados de acantos rococó, entalhados em madeira que se projeta em leve balanço sobre o Presbitério.  

Tribunas laterais da Igreja da Candelária



Na Candelária, o pavimento acima das capelas laterais originalmente adjacentes a nave, formam uma tribuna, onde, nos tempos antigos, personalidades assistiam as missas, de local separado do público geral, que ficava abaixo. Os primeiros balcões sobre a nave, eram reservados para que as pessoas mais importantes da cidade assistissem a missa nas tribunas no pavimento superior. A nave termina no arco cruzeiro, e depois, mais estreito vem o presbitério e a capela do altar mor; nesta parte não há tribunas sobre os corredores laterais e a Capela do Santíssimo, mas existem balcões falsos, com nichos na parede de taipa que possuem óculo para a estrutura do telhado. Apesar destes balcões terem apenas funções decorativas, são entalhes incríveis ainda preservados. 

Existem dois entalhes em madeira dignos de citação e memória em Indaiatuba, este balcão é meu preferido por ser o mais antigo e representativo, dada sua importância histórica; o outro é o retábulo de Nossa Senhora de Lourdes na Colônia Helvetia, a peça mais completa e preservada do gênero na cidade. 

Vergas das janelas vistas Igreja de N.Sra. do Pilar em Ouro Preto, fachada lateral


05 – O LARGO DA CANDELÁRIA

Largo é um pátio externo e descoberto, que pode ser localizado em frente ou junto a igrejas, também chamado de Adro, utilizados especialmente no Brasil Colonial. Embora o Largo da Candelária já tenha sido reformado e, por algum tempo, ocupado por uma praça com caminhos e canteiros lembrando jardins europeus, ele voltou a sua configuração original, como espaço cívico e de convívio. O Adro da Candelária foi também o primeiro cemitério, tendo sido também, o local onde se levavam pessoas enfermas a procura de cura. Era, e ainda é, o local das festas religiosas, também o início e fim das procissões. Você pode descrever dezenas de cidades brasileiras afirmando que a procissão sai do Largo da Matriz pela rua lateral, vai até o cemitério, e volta. Algumas cidades possuem além do Adro, o Rossio, que é um espaço comum onde os moradores faziam pequenas plantações, se pegava lenha e onde se deixavam as montarias quando em visita a cidade. O LARGO da Candelária, chamado erroneamente de “Praça” Leonor Barros de Camargo, é um espaço que reafirma a construção da Matriz da Candelária na época e nos costumes do Brasil Colonial.

Antigo Largo da Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro



06 – O ORATÓRIO DO CASARÃO PAU PRETO

Na parte edificada em taipa de pilão do Casarão, citada anteriormente, pode-se notar a estrutura de um antigo alpendre, que foi fechado em reformas posteriores. A construção original em taipa, é uma das mais antigas da cidade, fora concebida com o raciocínio da arquitetura vernacular da São Paulo colonial, e que depois se perdeu em meio a tantas reformas do prédio. Originalmente, uma construção central em taipa sustentava a cobertura de onde projetava-se um alpendre, que é uma varanda de receber visitas ou marcar a entrada da casa, voltada a norte para barrar o sol e o calor excessivos. Nestas épocas de Colônia, as visitas eram recebidas no alpendre, que usualmente possuía cômodos de visitantes e uma capela, ou oratório, assim como algumas casas bandeiristas ainda existentes. Este oratório, era voltado para o o vale onde se avistava o Ribeirão Votura (atual Córrego do Barnabé), como também era voltada a porta da capela do Sagrado Coração de Maria, localizada onde hoje é a nave da Candelária. As capelas e igrejas coloniais, eram voltadas para os pontos de interesse, trabalho ou convívio. Nesta época, anterior a criação de um Centro Urbano em Indaiatuba, a população se assentava ao longo dos rios, e segundo documentos antigos, não havia um só rio ou córrego, que pudesse mover uma roda água, que não chegou a ter um engenho de cana nestas terras. A hidrografia coordenava a ocupação do espaço colonial, usualmente nomeava localidades, e podia proporcionar também, pontos de interesse dos aglomerados de fogos (casas) e capelas.  Inicialmente, a sede da Fazenda Pau Preto era junto ao seu engenho, no Córrego Belchior, próximo de onde hoje é a feira noturna. 

Já o embrião do que hoje é o Casarão (vide item 1), uma humilde edificação de taipa, era utilizada inicialmente pela igreja para pousada e moradia de padres, tendo neste singelo oratório, ainda existente, um dos primeiros abrigos para imagens de santos da cidade, possivelmente esculpidos em madeira, muito expressivos, caricatos, dramáticos, como são as imagens de entalhe barroco. Este oratório, junto ao cômodo de taipa, pode ligar a construção original do Casarão a um passado muito representativo de história das terras onde hoje está Indaiatuba ao período colonial.




07 – OS SANTOS DE ROCA DA CANDELÁRIA

Foi no setecentos que houve larga produção de imagens, prática advinda do já citado Concílio de Trento, que confirmou esse tipo de culto. 

Em meio a algumas peças existentes no acervo do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Campinas, que pertenceram ao acervo da Igreja da Candelária, existem duas cabeças de santo de roca (ou santo de vestir), um São Jorge e um São Francisco. Santos de roca eram figuras com cabeças, mãos ou bustos esculpidas e estruturadas em madeira, utilizadas em altares, oratórios, procissões e festas, que eram vestidas com roupas de tecido, o que dava mais teatralidade advinda da influência barroca. Eram também levadas em procissões e cortejos para dar dramaticidade e proporcionar maior comoção dos fiéis, que emocionadamente oravam, inflamados pela devoção. Geralmente, quanto mais antiga a imagem sacra brasileira, mais caricata será sua aparência. Imagens de roca barrocas são exageradamente expressivas. Com o fim do século XIX e início do século XX as novas imagens tornaram-se menos dramáticas e supostamente mais leves, e as antigas imagens de roca foram sistematicamente substituídas por santos de gesso.

Existem ainda outros três santos de roca que foram levados em 1920, para a capela da sede da fazenda Cachoeira do Jica, (1) um São José, (1) uma Nossa Senhora Candelária, e o popular e querido São Benedito, cuja procissão pedia chuva em épocas de seca.  Segundo informações recentes estas imagens foram recuperadas e estariam guardadas no acervo histórico da Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba. 

São Benedito de roca


Embora se tenha certeza que estas imagens são oitocentistas, há discordância entre memorialistas locais, que datariam o São Jorge como setecentista. Caso esta afirmação venha a ser comprovada, este poderia ser o patrimônio artístico material mais antigo de Indaiatuba e... quem sabe? Possamos até inferir que ele já tenha estado ornando, para os devotos, o oratório da então casa paroquial, aquele que chamamos de Casarão Pau Preto.


08 – O BAIRRO DE ITAICI E SUAS CONSTRUÇÕES COLONIAIS

Sem sombra de dúvida a ocupação da área do atual município de Indaiatuba não teve início no local chamado de Paragem de Indaiatuba, atual Centro - em local denominado "Praça da Nascente", isso só veio a acontecer no fim do século XVIII. A população da área que atualmente compõe o município de Indaiatuba era recenseada em quatro bairros rurais pertencentes a Itu, que no século XVIII eram chamados de Burú, Mato Dentro, Jundiaí (de Itu) e Piraí. Parte dos bairros do Piraí e Jundiaí hoje são conhecidos como Itaici e detinham as maiores populações da área, que usavam os abundantes recursos hídricos da região para mover rodas de engenhos e produzir açúcar, que era transportado por mula, utilizando os caminhos imperiais que partiam do interior da capitania (Caminho dos Goyases), passavam por Itu (Caminho do Peabiru) e São Paulo, e finalmente destinavam-se a Santos. 

Entre as diversas edificações das fazendas de Itaici destaca-se a sede da Fazenda Taipas, que, junto com a Fazenda Tranqueiras, mais tarde receberia o nome de Sitio Itaici que deu nome a área. Neste local, já em 1723, Antonio Pires de Campos mantinha aldeados 600 índios Bororós que o acompanhavam em suas entradas no caminho dos Goyases. A estrutura de taipa da sede da Fazenda Taipas ainda permanece, tendo conhecidamente sido reformada no séc. XIX por João Tibiriça Piratininga, e é atualmente chamada de Vila Manresa, patrimônio pertencente à Vila Kostka.  Ainda não há estudos que indiquem quais partes desta edificação são originais ou anteriores a essa e outras reformas, e qual a precisa data em que foi edificada. 

Antiga sede da Fazenda Taipas, atualmente é Vila Manresa, em Itaici


09 – AS CONSTRUÇÕES EM PAU A PIQUE QUE RESTAM NO CENTRO HISTÓRICO

Há ao menos duas edificações remanescentes em pau a pique no centro histórico de Indaiatuba. O pau a pique, ou taipa de sopapo, ou taipa de mão, é caracterizado por uma estrutura de madeira que forma os principais apoios de paredes e telhados, os vãos são fechados por uma malha de madeira e fibras vegetais, e preenchidos com barro. O barro é lançado por duas pessoas, uma de cada lado da parede, simultaneamente, por isso o nome, sopapo, ou mão. Partes do Casarão Pau Preto e da Casa Número 01 resistem bravamente como os últimos exemplares desta engenhosa técnica construtiva no Centro Histórico de Indaiatuba. Ambas não são totalmente em pau a pique, possuindo apêndices ou reformas em alvenaria de tijolos de barro, ou partes mais antigas em taipa de pilão.  


Casa Número1


Alguns casarios antigos do centro ainda podem ter as empenas laterais dos telhados feitas em pau a pique. Existem ainda alguns poucos casarões de fazendas em pau a pique, espalhados pela zona rural. Peças de madeira da estrutura do pau a pique do Casarão Pau Preto, não são serradas, são "falquejadas", aplainadas com ferramenta em forma de cunha ou facão, o que torna mais evidente as dificuldades técnicas e econômicas envolvidas em sua manufatura.




Imagens do Casarão Pau Preto que, após anos de abandono, foi reformado/restaurado por iniciativas e pressões populares


10 – OS MUROS DE TAIPA DO CENTRO

Em tempos onde não se tinha acesso a ferramentas elaboradas ou grande diversidade em materiais disponíveis para construção, construía-se com o que o local fornecia, e muitas vezes, era só o barro. Podemos dizer que as edificações mais antigas da cidade, são em taipa de pilão. As edificações de taipa, são o burro de carga das construções coloniais, feitas para enormes esforços estruturais, como na Igreja da Candelária, ou construções com ótima resistência utilizando materiais simples e abundantes, como nos muros de taipa do Centro, que estão em pé desde as primeiras construções da cidade. São apenas barro, socado entre formas de madeira, chamadas de taipais, unidas por caibros de madeira que serviam de tirantes internos, chamados de cabodás, e fixados com cunhas. Os taipais iam “subindo”, montados e desmontados a cada nova camada de barro que se socava, muitas vezes com a ajuda de um bezerro ou animal de pequeno porte, que era conduzido entre os taipais. 



Existem dois muros remanescentes de épocas muito antigas, ambos tombados pelo patrimônio histórico de Indaiatuba. O muro de taipa, localizado do lado da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária foi recentemente tombado pela Resolução 03/2023, da Secretaria de Cultura de Indaiatuba. Outro muro faz parte da estrutura de um apêndice lateral do Casarão Pau Preto, tombado em 1997, que originalmente, não era parte da casa e sim apenas um muro. Estudos indicam que a edificação original do Casarão Pau Preto, ocupava parte da área atual, e era cercado parcialmente com muro de taipa. Esta parede do atual casarão, que inicialmente era muro, está a apenas 60 metros de distância do muro recentemente tombado pelo patrimônio histórico, e exatamente no mesmo alinhamento dele. Este muro do Casarão foi, em diversas épocas, usado como fechamento entre chácaras, parte de uma cobertura para animais e parte da área de serviços da sede da fazenda. Ambos os muros podem ter ligação com a construção da Matriz da Candelária cuja parte em taipa foi iniciada 1807, pois ambos possuem grande semelhança em sua manufatura e fazem divisa entre as propriedades adjacentes a matriz.  

Por fim, existe ainda um terceiro muro de taipa mais recente edificado em 1886, para fazer o fechamento de parte do Cemitério da Candelária, quando se desocupou o antigo Cemitério São José, que ficava nos terrenos onde hoje são o Correio e a antiga Prefeitura. 

As maiores paredes de taipa de Indaiatuba, são as da Igreja da Candelária que chegam a ter 1.30m de largura estendendo-se até os frechais da cobertura.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

A ARTE NO LEGADO DA FAMÍLIA AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO

Sua História 

Dona Leonor de Barros Camargo nasce em 1865, e aos 22 anos de idade casa-se com Augusto de Oliveira Camargo, herdeiro da Fazenda Itaóca, em Indaiatuba, onde moraram por muitos anos. Aos 24 anos, perde parte da família para os seguidos surtos de febre amarela que devastaram a região de Indaiatuba até o ano de 1899. Duas das tias de Dona Leonor, falecidas com poucos dias de diferença, estão sepultadas no Cemitério da Candelária em Indaiatuba e representam dois dos exemplares de arte tumular mais elaborados e belos deste local. 

Em 1915, constroem um Casarão na famosa Avenida Higienópolis em São Paulo, considerada um marco na história do planejamento urbano brasileiro, por adotar novos conceitos de cidade higienista.  Em 1921, Augusto de Oliveira Camargo sofre um derrame que o deixa paraplégico. Em 1928, Dona Leonor, auxiliada pelo irmão mais velho, Francisco de Paula Leite, inicia, em Indaiatuba, o planejamento da obra do Hospital que leva o nome de seu esposo; lnaça a pedra fundamental em 1929, e inaugura-o em 1933. O projeto do hospital foi entregue ao maior arquiteto brasileiro desta época, Ramos de Azevedo,  que entre outras obras executou o Teatro Municipal de São Paulo. 

No inicio da década de 30 o casal ainda promove melhorias urbanas em Indaiatuba, tendo patrocinado a primeira rede de ligação de água que levaria torneiras para dentro das casas do centro de nossa cidade e a construção do Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes

Nos anos de 1940 e 1941, a Igreja da Candelária passa por uma extenss reforma visando preservar as paredes de taipa, a estrutura dos campanários, cobertura e modernizar o relógio. De acordo com  documentos da época, este restauro emergencial, orçado em mais de 70 contos,  foi custeado por D. Leonor.

Em 1937 falece Augusto aos 86 anos e em 1944 falece Leonor com 79, tendo o casal, como seu local de descanso final, o Cemitério da Consolação de São Paulo.




Túmulo da família Oliveira Camargo no Cemitério da Consolação


O Legado

Muito nova Dona Leonor patrocinou os túmulos de suas tias, em exemplares de estilos ecléticos, sendo um deles predominantemente neogótico vitoriano (vide imagens seguintes, do Cemitério da Candelária, em Indaiatuba).








O "estilo" neogótico vitoriano era uma novidade trazida pela introdução da ferrovia, e foi muito utilizado entre os anos de 1870 e 1900.

A reforma de 1940 na Igreja da Candelária, patrocinada por Leonor, foi uma importante ação para manter a riqueza deste prédio para as gerações futuras.

O prédio da Escola Randolfo Moreira Fernandes possui linguagem mais austera, discretamente adornado, espartano em sua composição e função. 




O Hospital Augusto de Oliveira Camargo, foi uma obra incrível de Arquitetura. Edificado para que sua entrada ficasse na mesma direção e nível da porta da Igreja Candelária, estabeleceu eixos urbanos de desenvolvimento para a cidade, além de uma linguagem muito arrojada para a época.





O "estilo" neocolonial utilizado no hospital, foi desenvolvido no início do século, com intenções nacionalistas, de se exaltar o patrimônio brasileiro, em meio a estilos de releituras ecléticas europeias. O Hospital Augusto de Oliveira Camargo é atualmente, uma das poucas obras tombadas como Patrimônio Histórico Municipal.

O casarão localizado no número 890 da Avenida Higienopolis, foi doado para Curia Metropolitana em 1942 e é usado para diversos serviços administrativos. O predio também foi tombado pelo Patrimônio Histórico de São Paulo em 2013. 





Da resolução do Tombo: 

"...a edificação situada à Avenida Higienópolis nº 890 abrigou antiga residência construída, na década de 1910, para a família do fazendeiro e político Augusto de Oliveira Camargo (1854-1937) e sua esposa Leonor de Barros Camargo" (...) " Considerando a relevância de seu projeto arquitetônico, concebido em 1915 com elementos do vocabulário eclético, de autoria dos arquitetos Luigi Pucci e Giulio Micheli, que projetaram também o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, no bairro de Santa Cecília..." 


O Ecletismo 

O Ecletismo das artes foi um movimento artístico do sec. XIX e XX, que visava criar releituras de épocas passadas, através de composições que utilizavam elementos formais destacados da antiguidade, sobretudo a Clássica. O ecletismo criava sucessivos estilos. Cada novo estilo eclético suplantava o anterior, proporcionando o que chamamos hoje de tendência ou moda. 

Esta foi uma invenção muito eficiente da era industrial, que visava a substituição de produtos manufaturados, de maneira precoce, não pelo fim da sua vida útil, mas exclusivamente pela sensação de status, proporcionado pela aquisição de um novo produto com estilo mais moderno. Moda advém de moderno e é uma invenção que incentiva o consumo. E estilo, é um atributo eclético de um produto ou obra. 

Nas obras já citadas, o neogótico vitoriano é um estilo que relê a arquitetura antiga da Inglaterra, que teve seu auge no reinado da Rainha Vitória, e neocolonial é a releitura da arquitetura barroca brasileira. 

Curioso lembrar que a Igreja da Candelária, originalmente,  possuía linguagem originalmente Barroca, colonial brasileiro (não era releitura, não era estilo, era barroco autêntico) e foi repaginada em 1915, com elementos de estilo europeu, enquanto o hospital projetado por Ramos de Azevedo, para exaltar as tradições brasileiras, recebeu linguagem Neocolonial. Uma interessante e complexa contradição própria de nossa sensibilidade limitada com a arte recém suplantada por um movimento novo.





O Jazigo Art Decó

Dona Leonor, junto de seu irmão Francisco estabeleceu-se por breve período nos Estados Unidos, onde Francisco teria estudado. Possivelmente esta permanência teria influenciado a "linguagem" do estilo de seu jazigo no Cemitério da Consolação em estilo Art Decó. O Túmulo do Casal Oliveira Camargo, é marcante, não só pela sua representatividade junto ao enorme acervo do Cemitério da Consolação, mas também pelo encerramento de um ciclo, com o fim do próprio ecletismo, enquanto vanguarda artística.








A última obra deixada pelo casal, foi executada em estilo Art Decó, também considerado o último estilo do Ecletismo, tendo marcado a transição para um novo movimento artístico, o Modernismo.

A linguagem Art Decó, já não utilizava releituras históricas, utilizava elementos geométricos que eram arranjados segundo regras clássicas de proporção. Nos anos seguintes, a partir da década de 30 e 40 no Brasil, a composição eclética dá lugar ao racionalismo e a abstração; e os simbolismos e formalismos são substituídos pelo funcionalismo modernista. 

Das obras citadas, o Hospital Augusto de Oliveira Camargo foi tombado como Patrimônio Histórico Municipal de Indaiatuba, por decreto do então prefeito José Onério, o Jazigo foi tombado como parte do conjunto do Cemitério da Consolação em 2005 e o Casarão da Rua Higienópolis foi tombado em 2013. Um merecido reconhecimento do poder público indaiatubano e paulistano para estas obras ímpares.

O legado do casal Oliveira Camargo em Indaiatuba pode ser confundido com a própria presença do ecletismo na cidade. E representa hoje, enorme parcela do pouco que restou de nosso Patrimônio Histórico e Cultural edificado.



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