domingo, 30 de agosto de 2009

Seu Duardo Curador

texto de Deize Clotildes Barnabé de Morais
. Nas décadas que formaram a primeira metade do século passado, havia poucos médicos em Indaiatuba.
. Aqueles que atuavam faziam-no na clinica geral, atendendo em casa ou, em último caso, no hospital. Eles eram reverenciados e seus nomes lembrados durante anos, mesmo por quem não os conhecia (Dr. Pontes, Dr. Pedro, Dr. Giácomo, hoje já fazem parte do imaginário da população). Os partos, principalmente, eram feitos em casa, por parteiras e só em casos desesperadores as parturientes eram levadas ao hospital, pois maternidade não havia. Na zona rural isso era muito mais nítido. As parteiras eram consideradas parte das famílias. Dona Maria Ambiel ajudou a vir ao mundo grande número dos indaiatubanos dessas décadas!

. As doenças corriqueiras, gripes, diarréias, sarampo, catapora, varíola (existia ainda e era corriqueira!) eram tratadas em casa, através de remédios e procedimentos de domínio público. Para gripe, nada melhor que chá de alho (num copo d’água, amasse três grãos de alho e dê ao gripado um gole a cada meia hora) e repouso, longe de correntes de vento e de outras pessoas da família. Para diarréia, chá de folha de goiabeira, de preferência do broto. Para cólicas de rim, chá de quebra-pedras e folhas de abacateiro. Para sarampo, chá e banho de sabugueiro e quarto escuro. Depois de passado o vermelhão, três fatias de laranja, com o bagaço, para evitar recaídas. Dessa forma a população se protegia e seguia sua vida...

. Mas, havia casos de algumas doenças, tão indefinidas e de causas tão desconhecidas pela população, que não havia remédios a dar jeito. Era o caso de “quebranto”, “lombrigas” (não a infestação pelo verme intestinal, mas uma vontade obsessiva por algo que se tivesse visto e não se pudesse ter!), “bucho virado”, erisipela e outras. Para essas doenças só havia uma forma de tratamento: as benzeduras.

. Muitas eram as benzedeiras. Praticamente uma a cada região da cidade e das fazendas. A faculdade de poder executar o benzimento era considerada um dom e por isso quem a recebia, por obra da graça divina, não podia receber paga, em dinheiro, por ministrá-la. A ética era respeitada por todos, que a preservavam como um bem coletivo. Invariavelmente, as benzedeiras eram muito pobres.

. O comum era que o ofício de benzer fosse exercido por mulheres, geralmente idosas que receberam o dom, pela graça divina, através de suas avós, mães, tias, ou conhecidas mais velhas, que ao transmiti-lo, deixavam elas próprias de tê-lo. Isso era o mistério do ofício!

. No entanto, havia um benzedor, homem, muito importante na época. Era um preto velho, residente nas imediações da fazenda Cachoeira, muitíssimo considerado e respeitado como um santo, mesmo em vida: Nho Duardo Curador.

. Ele benzia todo tipo de doenças, em crianças, adultos e animais, sempre com sucesso. Picada de cobra? Cascavel, jararaca, urutu... o que fosse.
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Bastava que se lhe levasse o doente e ele, chupando o ferimento, dava um gole de água ao picado e, murmurando rezas encantadas, tirava o paciente da beira da morte!
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Mesmo se o “mordido de cobra” não estivesse presente, e alguém da família procurasse Seu Duardo, ele lhe dava um copo de água, acompanhado das rezas e mandava-o de volta... Ao chegar em casa, o paciente estaria bem.
. Berne na cabeça de crianças ou no corpo de animais: “Não se preocupe. Coloque na cabeça da criança um pedacinho de toucinho fresco, sem sal, sobre cada furinho dos bichos e cubra com esparadrapo. No dia seguinte tire um a um”. Sempre dava certo.
. Bicheira em animais? Bastava que alguém o procurasse e recebesse dele a infalível água rezada e os bichos caíam da bicheira no mesmo momento.
. Pessoalmente participei de um episódio desses, do qual tenho lembranças até hoje, embora na época só tivesse cerca de quatro anos e entendesse quase nada do que acontecia:
. Morávamos na fazenda Morungaba e tínhamos um “belo touro de muito valor” (como na canção de Vicente Celestino), que havia sido criado, pela minha avó, na mamadeira, pois perdera a mãe ao nascer.
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Ao ficar adulto, tornou-se um touro muito briguento e cioso de seu território e de suas fêmeas! Um dia, começou uma grande briga com outro touro da fazenda vizinha, através da cerca de arame farpado.
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Permaneceram um dia e uma noite, cabeça contra cabeça, através do arame, mugindo surda e raivosamente e se feriram muito com isso. No local do ferimento, na testa, formou-se uma imensa bicheira, que não cedia com o uso de nenhuma técnica conhecida, por mais que se cuidasse dela.
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O touro veio para perto da casa e deitou-se, sem alimentar-se. Só gemendo baixinho... Minha mãe, levando-me pela mão, tentava dar-lhe água. Mas nem a água ele conseguia beber. Estava à morte... Meu pai, em desespero, montou no cavalo e dirigiu-se à fazenda Cachoeira, para pedir socorro a Seu Duardo.
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Lá chegando, encontrou-o a cuidar de sua plantação de mandioca e foi recebido com extrema simpatia: “Que que foi, fio? O touro tá muito mar, né ? Num se priocupe, tome esse copo de água e vorte sobre seus passo... Que Deus abençoe vassuncê!” Com toda fé, meu pai tomou a água e voltou... Em nossa casa, mamãe e eu vimos o touro sacudir fortemente a cabeça, derramar uma infinidade de bichos, levantar-se com dificuldade e afirmando-se mais e mais nas pernas, começar a pastar... Foi a primeira vez que vi meu pai chorar... de emoção, ao voltar e ver o touro pastando!
. Hoje Seu Duardo repousa no cemitério Candelária e seu túmulo está coberto de ex-votos, como gratidão à sua generosidade em distribuir seu dom.
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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Rubens Bonito

Rubens Bonito, natural de Indaiatuba, era técnico em Desenho de Plantas Prediais e Torneiro Mecânico.
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Participava de diversas atividades na sociedade em clubes, associações e entidades filantrópicas. Ocupou cargos de diretor e presidente do Clube 9 de Julho.
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Bonito era artista plástico, músico, ator, cantor e escritor.
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Fundou o grupo New Boys – conjunto musical, no final da década de 1950.
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Foi vice-presidente da Banda Municipal.
. Era pesquisador de fatos históricos marcantes da cidade e colaborava com seus materiais para o arquivo do cinema local.
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Realizava atividades científicas que se transformaram em publicações.
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Gostava de registrar desfiles, construções, inaugurações, além de realizar documentários, através de uma câmera Super 8.
. Contribuía com os desfiles de carnaval do município, confeccionando fantasias e fantoches.
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Como era autodidata, aprendia a tocar diversos instrumentos como bongô, tumbadora, bateria, violão, piano e clarinete.
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Amante de esportes, ele praticava basquete, corrida e ciclismo quando era jovem. Também participou de um grupo de escoteiros.
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Torcedor do E. C. Primavera, desenhou a planta na nova arquibancada.
. Recebeu várias homenagens devido as suas contribuições para a cidade.
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A principal foi em 2002, realizada pelo seu amigo Paulo Antonio Lui, representante do cinema de Indaiatuba. No ano de seu falecimento (2006), foi feito um documentário sobre sua vida e suas obras.
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No dia 27 (quinta-feira), será exibido em uma sala do
Cine Topázio do Shopping Jaraguá de Indaiatuba,
um documentário sobre a vida do artista.
A entrada é gratuita.
Já o projeto ‘Agosto das Artes’, da Secretaria Municipal da Cultura, traz exposição e documentário da vida de Rubens Bonito (1935 – 2006)
De 20 a 30 de agosto, na Galeria de Artes Wanderley Peres.
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. Fonte: Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Indaiatuba
Imagens de Eliandro Figueira.
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Leia mais sobre Rubens Bonito na Tribuna de Indaiá de hoje, dia 25 de agosto de 2009, página 09.
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sábado, 22 de agosto de 2009

Friburgo tem importância reconhecida

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Escola, prédio da Igreja Luterana e Cemitério dos Alemães
são patrimônio histórico de Campinas
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. texto de Maria Teresa Costa de 21/08/2009
DA AGÊNCIA ANHANGÜERA
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O Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc) reconheceu ontem (20/08/2009) que o bairro Friburgo, implantado por alemães em 1879, é parte importante da história de Campinas e tombou como patrimônio histórico a escola, o prédio da Igreja Luterana e o Cemitério dos Alemães.
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Para os moradores do bairro, o tombamento é importante pelo reconhecimento da história, mas não irá salvá-los da desapropriação para a ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos.
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Os proprietários terão de vender suas terras para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), incluindo igreja, escola e cemitério.“Pedimos o tombamento na tentativa de evitar a desapropriação, mas não adiantou. Nada mais justo que preservar os bens de uma comunidade que está neste local desde 1879”, afirmou o tesoureiro da Sociedade Escolar de Friburgo, Gerson Schafer.
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Segundo ele, a Infraero informou que a comunidade poderá continuar utilizando a escola, a igreja e o cemitério, se comprometendo até a fazer a autorização por escrito. “Se não tiver pessoas morando no bairro, há risco de depredações e invasões e nós ainda acabaremos tendo que contratar vigia”, afirmou.
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O tombamento, disse a historiadora da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), Daisy Ribeiro, está dentro da área de desapropriação, mas nenhuma construção de Viracopos será feita naquele espaço. É uma região dentro da chamada curva de ruído, local com restrições de ocupação. “Antes da decisão, consultamos as áreas de planejamento e o (Departamento) Jurídico para termos certeza de que a desapropriação não comprometeria aquelas edificações”, disse a historiadora.
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O bairro teve 30 mil metros quadrados incluídos no decreto de utilidade pública visando à desapropriação para a ampliação de Viracopos. Formado por chácaras e sítios, os proprietários utilizam o espaço como casa de campo para finais de semana.
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Apenas 25 famílias vivem em Friburgo e os descendentes mais idosos, vários dispersos pela região, ainda mantêm apego às tradições como, por exemplo, o uso do dialeto platt deustsch, praticamente extinto na Alemanha.
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Em 2005, teve início um projeto para a introdução de Friburgo no roteiro turístico de Campinas, com qualificação e quantificação da oferta turística da colônia alemã. Uma das partes mais importantes do projeto está pronta: a recuperação da memória, das imagens e documentos do bairro feita pelo Centro de Memória da Unicamp. Outra, de planejamento turístico para o bairro, foi feita pelos alunos do curso de metodologia de planejamento da Faculdade de Turismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
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Mas quando foi divulgada a notícia de que Friburgo estava dentro do decreto de utilidade pública de Viracopos, houve um esmorecimento no ânimo da comunidade e o projeto parou. Cinco famílias pertencem à primeira leva de imigrantes.
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Pesquisa coordenada pela professora Olga Simson, do Centro de Memória da Unicamp, mostrou que pelo menos cinco das famílias de Friburgo pertenciam à primeira leva de alemães que vieram substituir o trabalho escravo nas fazendas.
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O maior número de imigrantes, 112 pessoas, chegou em 1856 e veio contratado, em regime de parceria, pelo dono da Fazenda Sete Quedas, em Campinas, onde trabalharam em média de 10 a 20 anos para pagar as despesas de viagem e assentamento na nova terra e para amealhar um patrimônio que lhes permitisse comprar suas próprias terras.
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De início plantaram café‚ com relativo sucesso, o que lhes possibilitou, inclusive, a contratação de mão de obra local, a construção de boas e amplas casas. A instalação da escola do bairro foi uma das primeiras decisões do grupo.
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Em 1879, a instituição de ensino começou a funcionar com 16 alunos e muitas dificuldades para conseguir um professor. Durante dez anos, quem serviu de professor às crianças da comunidade foi Niklaus Krahenbühl, que havia cursado o ginásio em sua terra natal.
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A segunda luta da comunidade foi a construção do cemitério, porque era difícil levar os mortos até o Centro de Campinas. A mesma sociedade, fundada em 1879 para construir e fazer funcionar a escola, decidiu fazer o cemitério, numa luta que durou anos para conseguir autorização da Câmara Municipal e depois para conseguir que um padre fosse benzê-lo.
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Porém, a comunidade seguiu próspera até que as secas e geadas e o cansaço da terra começassem a fazer os agricultores a mudar a cultura de café. Veio o “crash” de 1929, a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, e a decisão de trocar o café foi acelerada. As famílias eram grandes e dividir a terra não seria economicamente viável. Quem tinha ainda recursos, comprou terras para seus descendentes em outros locais (Monte Mor e Indaiatuba, por exemplo).
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Os que ficaram, passaram a plantar batatas, algodão e frutas, mas nem de perto conseguiram o sucesso financeiro do café, como observou a pesquisadora Olga Simson. Muitos foram buscar outros ofícios na cidade, venderam as terras e hoje poucos descendentes de alemães ainda têm propriedade em Friburgo.
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O NÚMERO
12 QUILÔMETROS É a distância entre o bairro Friburgo e o Centro de Campinas.
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SAIBA MAIS
Friburgo vem de Friedburg, que quer dizer Castelo da Paz.
Diante da violência que atinge Campinas e as cidades vizinhas, pode-se dizer que o bairro ainda é um castelo da paz, apesar de ocorrências de alguns assaltos.
As famílias que fundaram o bairro são do primeiro grupo de alemães trazidos em 1846 pelo senador Nicolau de Campos Vergueiro, o principal responsável pela implantação de uma política de substituição do trabalho escravo pelo livre, que culminou com a introdução da colonização estrangeira, de cunho particular.
Essa experiência aconteceu pela primeira vez na Fazenda Ibicaba, em Limeira.
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Veja comentários do blog de Edmilson Siqueira sobre o texto acima
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Tombamento e destruição
A expansão de Viracopos, do modo como está proposta atualmente, vai prejudicar inúmeros bens tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc).
Além disso, vai acabar com várias áreas que são exploradas de modo sustentável, com parcela significativa remanescente do cerrado , com dezenas de nascentes e acabar com o habitat natural de rica fauna.
Talvez seja só no Brasil que um crime dessa monta possa ser cometido sem que as autoridades tomem providências para evitá-lo.
Os bens tombados hoje pelo Condepacc fazem parte da comunidade de Friburgo, fundada por alemães há 130 anos.
No Brasil é assim: o que tem mais de um século é, muitas vezes, considerado apenas “velho” e não “histórico”, por autoridades insensíveis à cultura e que só enxergam o lucro que um empreendimento poderá dar, muitas vezes para seus próprios bolsos.
No caso de Viracopos, o blog tomou conhecimento de uma denúncia quase inacreditável. É claro que não dá para provar já, mas corre por aí que a mudança de direção da expansão de Viracopos teria ocorrido para provocar um formidável gasto com movimentação de terra.
De fato, a mudança do local da nova pista e seu afastamento de mais de 2 quilômetros da outra pista (quando 800 metros já seriam suficientes) vai criar a necessidade de um nivelamento do terreno que precisará de alguns milhões de metros cúbicos de terra.
O boato revela também que a empresa encarregada dessa parte, talvez bilionária, da obra já estaria determinada.
Por enquanto é só boato, mas pela experiência desse blogueiro, não dá para duvidar totalmente dessa história. O tombamento – e a reportagem do Correio deixa claro – não evitará que grande parte do bairro seja desapropriado.
Os bens tombados ficarão dentro do que é chamado de “curva de ruído” do aeroporto, onde a vida é praticamente impossível devido ao barulho e à poluição ambiental.
Como vai ser difícil morar ali, já há a preocupação de que esses vens tombados sejam, num futuro próximo, componentes de uma vila fantasma.
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CColaborou: Elizabeta Novack

Complemento:


A presidente Dilma Rousseff (PT) reduziu, de 12,3 quilômetros quadrados para 10,87 quilômetros quadrados, a área ser desapropriada para a ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Em decreto publicado ontem (22/11/2011) no Diário Oficial da União, a presidente excluiu uma área de 1,49 quilômetro quadrado, livrando da desapropriação — informou a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) — parte do bairro Friburgo e seus bens considerados patrimônio da cidade, como a igreja luterana, a escola, o clube de tiro e o cemitério da comunidade alemã. 


A publicação, que declara de utilidade pública as terras a serem desapropriadas, põe fim a um embate jurídico e tira da Prefeitura de Campinas a missão de fazer as desapropriações. A retirada de Friburgo da desapropriação havia sido acordada pela Infraero quando houve mudanças no projeto de ampliação do aeroporto para reduzir os impactos ambientais. 



A estatal desistiu de desviar a ferrovia que integra o corredor de exportação para poder construir a segunda pista de Viracopos. Em vez de fazer um desvio de 6,5 quilômetros, a empresa aeroportuária optou por passar os trilhos, em túnel, embaixo da futura pista do aeroporto. A estatal obteve o aval do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) para essa solução. 



Até o ano passado, a Prefeitura ajuizava as ações e a estatal fazia os depósitos judiciais. As ações estavam sendo encaminhadas para a Vara da Fazenda do Estado seguindo um procedimento que a Infraero tinha adotado anteriormente na desapropriação de Cumbica, em Guarulhos. Mas houve uma consulta em Brasília, porque existem recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) envolvidos na obra de ampliação, e a Advocacia-Geral da União (AGU) decidiu participar das ações, transferindo o julgamento para a esfera federal. 
Por considerar irregular o decreto de desapropriação para ampliação do aeroporto, a 7ª Vara Federal de Campinas encaminhou o caso para a Justiça Estadual. 



O entendimento do juízo foi de que o documento não poderia ter sido emitido pelo município de Campinas já que a competência seria do presidente da República. Houve recursos e a AGU assumiu as desapropriações sendo pago pela Infraero.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Joaquim Emigdio de Campos Bicudo

Joaquim Emigdio, com 28 anos, em foto tirada no Rio de Janeiro
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texto de Nilson Cardoso de Carvalho
1998*
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Nasceu na Freguesia de Indaiatuba a 5 de novembro de 1843[i], filho de João de Campos Bicudo e Ana Gertrudes de Campos, descendentes de antigos habitantes do lugar [ii].

Joaquim Emigdio de Campos Bicudo foi uma das figuras mais importantes da Vila de Indaiatuba na segunda metade do século dezenove. Seu nome está presente a todas as atividades de interesse relevante para a comunidade na época. Foi coletor de rendas gerais e provinciais[iii], comerciante[iv], fazendeiro cafeicultor e industrial em Indaiatuba[v].
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Exerceu os cargos de vereador na época do Império[vi] e de subdelegado no início da República[vii]. Fazia parte das Mesas Paroquiais[viii], cuja função era organizar e proceder às eleições para cargos públicos de vereador, juiz de paz e deputados, provinciais e federais.
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Entre outras atividades de mérito, exercidas por Joaquim Emigdio podemos citar:
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A - Organizou uma subscrição pública para a construção do prédio da estação de estrada de ferro, muito importante, pois não dispondo de local próprio, o trem fazia sua parada em frente às casas da turma de conservação da linha férrea, a céu aberto, sem proteção alguma para cargas e
passageiros. Esse prédio que ficou pronto em 1880, foi doado à Cia Ituana e serviu de estação até 1911, quando, com a construção da nova estação, passou a servir de armazém [ix].
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B - Foi um dos responsáveis pela construção da casa da Câmara e Cadeia[x], prédio inaugurado em 1890 e que durante 74 anos serviu ao município como sede de seus poderes legislativo e executivo.
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C - Participou da junta de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipação no município de Indaiatuba[xi].
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D - Fundou, em 1887, juntamente com outros indaiatubanos ilustres, o diretório do Partido Republicano em Indaiatuba [xii].
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Estes são apenas alguns exemplos de trabalhos de interesse comunitário, realizados por Joaquim Emigdio de Campos Bicudo.
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Casou-se em 1875 com D. Escolástica Angelina da Fonseca [xiii], filha do abastado fazendeiro de Indaiatuba, Capitão José Manoel da Fonseca Leite, de quem o casal recebeu a fazenda Pau Preto como dote de casamento. Esta fazenda, que desde o final do século dezoito produzia cana de açúcar, tinha sua sede e seu engenho na confluência dos córregos Melchior e Barnabé, e se encontrava nesta época em franca decadência; com suas terras abandonadas[xiv].
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Joaquim Emigdio, que era comerciante, deixou sua loja de tecidos para tomar conta da fazenda, onde introduziu com sucesso a cultura do café, chegando alguns anos depois, a ter uma plantação de 90 mil pés.
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Em 1885 arrematou, em praça pública, a chácara que tinha sido do Vigário Antonio Cassemiro da Costa Roris [xv], a qual tinha como sede o casarão situado nas imediações da Igreja Matriz. Juntando esta chácara à uma outra que já possuía, ligou ambas às terras da fazenda Pau Preto, cuja sede transferiu para o casarão, nas imediações da Matriz.
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Ali Joaquim Emigdio construiu, ligado ao casarão, um edifício, onde instalou uma máquina de beneficiar café movida a vapor. Esta foi, provavelmente, a primeira indústria movida a vapor instalada na área urbana de Indaiatuba. Funcionou durante muitos anos, constando, em 1910 como a única máquina de beneficiar café na cidade [xvi].
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Joaquim Emigdio faleceu com apenas 48 anos, quando muito tinha ainda a realizar, deixando viúva D. Escolástica com oito filhos, tendo 15 anos o mais velho e 4 anos a criança mais nova [xvii].
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D. Escolástica da Fonseca Bicudo assumiu as atividades empresariais do marido, dirigindo a fazenda e a máquina de beneficiar café. Criou todos os filhos com dedicação e firmeza, impondo-se como pessoa de destaque e respeito perante a comunidade de Indaiatuba.
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Descendência
O casal teve os filhos:
  • Luiz Gonzaga de Campos Bicudo (1)
  • Francisco de Campos Bicudo,
  • José Francisco Bicudo,
  • Joaquim da Fonseca Bicudo (2)
  • Tereza Bicudo Almeida Prado,
  •  Maria do Carmo Bicudo Ferraz,
  • Ana Fonseca Bicudo e
  • João da Fonseca Bicudo.

João da Fonseca Bicudo, ancestral da família Bicudo de Indaiatuba, tal como seus pais residiu no casarão da fazenda Pau Preto. Foi casado com sua prima Maria José Ferraz e teve os filhos: Fábio Ferraz Bicudo, Regina Ferraz Bicudo do Valle e Dr. João da Fonseca Bicudo[xviii].
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Residem em Indaiatuba*: João Bicudo do Valle, Engo. Raul David do Valle e o Engo. José Luiz Bicudo do Valle [xix], filhos de D. Regina e Fernando L. Bicudo, filho do Sr. Fábio Ferraz Bicudo.
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NOTAS explicativas e bibliográficas
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[i] Foi batizado na Matriz de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba pelo Vigário Antonio Cassemiro da Costa Roris, no dia 25 de dezembro de 1843. Os padrinhos foram Francisco Xavier de Almeida e sua mulher Francisca de Almeida Campos. (livro 1o. de batizados da Paróquia de Indaiatuba, 1830-1847, Arquivo da Cúria Metropolitana de Campinas ).
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[ii] João de Campos Bicudo, vereador da Câmara Municipal de Itu, era filho do Alferes Joaquim Gonçalves Bicudo e de sua segunda mulher D. Ana Maria de Campos, proprietários da fazenda Pau Preto. ( ver Inventário do Alferes Joaquim Gonçalves Bicudo, Cartório do 1o Ofício de Itu, ano de 1838, maço 47 ).
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[iii] Com cerca de 24 anos de idade Joaquim Emigdio já ocupava o cargo de agente da coletoria de rendas gerais e provinciais em Indaiatuba. (cf. Livro 8o de Escrituras do Cartório de Notas da Vila de Indaiatuba.).
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[iv] O Sr. Fábio Ferraz Bicudo, neto de Joaquim Emigdio, em depoimento ao autor, datado de abril de 1982, diz que Joaquim Emigdio de Campos Bicudo “era um rapaz esperto e muito bom comerciante. Ia buscar suas fazendas no Rio de Janeiro. Deixou sua loja para tomar conta da fazenda Pau Preto.” Ver também Almanaque da Província de São Paulo para 1873 por Antonio José Baptista Luné e Paulo Delfino da Fonseca, onde à página 365 Joaquim Emigdio consta como “Negociante de Fazendas”.
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[v] CARVALHO, Nilson Cardoso de, Arquitetura em taipa - um dos últimos exemplares em Indaiatuba, ed.a., Indaiatuba, 1984, página 10.
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[vi] “Vereadores Municipais desde 1859” in: GAZETA DO POVO, Indaiatuba, 09-12-1930, páginas 10 e 11.
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[vii] Cf. Documento emitido no Palácio do Governo Provisório do Estado de São Paulo com data de 30 de novembro de 1889, assinado por Prudente de Moraes. (Arquivo J.L. Bicudo do Valle).
[viii] Ver Livro de Atas de Eleições Parochiais, 1860-1876, Arquivo Público Municipal de Indaiatuba.
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[ix] GROFF, Maria Angélica, Pesquisa sócio-econômica do município de Indaiatuba, Indaiatuba, 1963, cópia datilografada, página 36.
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[x] Joaquim Emigdio encabeça uma comissão nomeada pelo presidente da Província de São Paulo “para erigir as obras da Cadeia nesta Vila de Indaiatuba” , cf. Livro de Procurações do Cartório de Notas da Vila de Indaiatuba, 1882.
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[xi] Ver Livro de classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação, Província de São Paulo, Município de Indaiatuba, Indaiatuba 7 nov. 1880, fls. 2. (Arquivo Público Municipal de Indaiatuba ).
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[xii] O diretório foi fundado aos 7 de maio de 1887, em reunião a que compareceram numerosas pessoas. Foi eleito presidente o cidadão Luis Augusto da Fonseca e Joaquim Emigdio de Campos Bicudo foi o secretário. ( Cf. GAZETA DO POVO, Indaiatuba, 9 dez. 1930, página 2 ).
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[xiii] Casamento no 362 do 2o livro de casamentos da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba, 1864 - 1885 - Arquivo da Cúria Metropolitana de Campinas.
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[xiv] BICUDO, Fábio Ferraz, depoimento citado.
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[xv] Inventário do Padre Antonio Cassemiro da Costa Roris, Cartório do 1o. Ofício de Itu, ano de 1884, maço 126, fls. 36.
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[xvi] CINTRA, Francelino, Almanaque histórico biográfico e indicativo da comarca de Itu para o ano de 1910, Editor José de Andrade Pessoa, Tipografia S. José, Rua da Palma, no 46, Itu, capítulo VI, Indaiatuba, página 74.
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[xvii] Inventário de Joaquim Emigdio de Campos Bicudo, Cartório do 1o Ofício de Itu, ano de 1892, maço 141, fls. 4 e 4v.
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[xviii] BICUDO, Fábio Ferraz, depoimento citado.
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[xix] O Engo. José Luiz Bicudo do Valle, embora tendo suas atividades empresariais em São Paulo, está ligado à Indaiatuba e reside na casa número 1 do Beco da Matriz, casa de tradição bandeirista, caprichosamente restaurada por ele.
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Notas de Eliana Belo Silva:
(1) No texto de Nilson Cardoso de Carvalho, consta Luiz Gonzaga da Fonseca Bicudo, quando o correto é Luiz Gonzaga de Campos Bicudo.
(2) Consta também Joaquim Emigdio de Campos Bicudo Filho, quando o correto é Joaquim da Fonseca Bicudo.
Correções apontadas por Vera Regina Nogueira Bicudo, bisneta de Joaquim Emigdio de Campos Bicudo.
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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Fragmentos de Memórias

A Persistência da Memória - Salvador Dalí
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texto de Sônia Maria Fonseca*
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Frequentemente se ouve falar de resgate da memória, equívoco comum, que equivale a pensar que essa, embora desconhecida ou perdida, fosse algo completo, um todo. Desse modo, tem-se a impressão que em algum lugar é possível encontrá-la à espera daqueles que vão resgatá-la do seu estado inerte.
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Memória não se resgata, preserva-se.
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Muitas vezes no afã de preservá-la não nos damos conta de uma condição essencial - a sua multiplicidade: é pessoal, coletiva.

Às memórias pessoais (a que temos sobre nós mesmos e sobre os outros) sobrepõem-se as coletivas (institucionais, de grupos sociais, étnicos, etc.). Múltiplas, fragmentadas, seletivas.
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Retemos de vivências passadas o que nos convém à sobrevivência. O esquecimento, no plano mental do indivíduo, tem o papel de regular o "excesso de memória". Esquecemos para sobreviver ao "cansaço e tensão" que ela provoca. Por outro lado o esforço em preservá-la supre da sua carência e nos torna plenos. Recordar é viver...
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A memória, de um ponto de vista formal, pode ser entendida como matéria-prima da qual se constrói a história. Dos documentos que reunimos, não importa a natureza do suporte, extraímos ensinamentos.

Na própria palavra documento, que possui a mesma raiz da palavra docente, encontramos a função principal - ensinar. Os documentos tampouco nos falam diretamente. Eles nos dão pistas, indícios, sinais ou até evidências que, se bem interpretadas, podem nos levar a algumas verdades parciais.
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Preservar memórias, dito de maneira simples, é algo parecido com o processo de montagem de um quebra-cabeças, onde cada peça (entendida como documetno-fragmento), concorre pouco a pouco para se chegar a alguma forma.
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Cabe a cada um de nós a tarefa de não deixarmos que essas peças se percam, em benefício de nossas vidas, famílias, enfim, de toda uma coletividade.
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* Sônia Maria Fonseca foi superintendente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba. 
Este texto foi publicado na edição de 26 de outubro de 2001 do jornal Folha da Gente.
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Imagem de Salvador Dalí - cópia eletrônica do site www.art.com
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Leia também o texto "Famílias e Fotografia" no link http://www.oolhodahistoria.ufba.br/artigos/familias-e-fotografia-john-mraz.pdf
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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pedro José Wolf - Documentário Biográfico

texto de Nilson Cardoso de Carvalho*



Palavras-chave:
Wolf, Sigrist, Langensand, Strabello, Ambiel, Amstalden, Bannwart, Campreguer, Denni, Enz, Jakober, Ming, Stifter, Stocco, Giswil, Obwalden, cantão, Kanton, Switzerland, Swiss, Schweiz, Suíça, Antonio de Queiroz Telles, Sitio Grande, parceria, Jundiaí, Brasil, São Paulo, Indaiatuba, Helvétia.

Resumo
Peter Joseph Wolff, filho de Joseph Wolff e Katharina Sigrist nasceu em Giswil, cantão de Obwalden, Schweiz em 1843 e na primavera de 1854, acompanhando o pai, emigrou para o Brasil, passando a morar no Sitio Grande, uma fazenda de café no município de Jundiaí, Estado de São Paulo.Aos 30 anos de idade casou-se com Maria Langensand com quem teve 12 filhos. Em 1888, junto com membros das famílias Ambiel, Amstalden e Bannwart adquiriu terras formando o núcleo inicial da centenária Colônia Helvétia na vila de Indaiatuba, Estado de São Paulo.Foi um próspero cafeicultor, proprietário de outras fazendas de café nos municípios de Capivari e Campinas. Após o falecimento de sua primeira esposa casou-se com Antonia Strabello com quem teve 8 filhos.Faleceu no ano de 1917, deixando numerosa descendência, que foi recenseada em 1988, contando então com 1509 pessoas.
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O suíço Pedro José Wolf, vindo menino ainda da terra materna, fincou raízes na região de Indaiatuba, casou-se, criou muitos filhos e fundou, com outros companheiros, a Colônia Helvetia, que tanto tem contribuído, no transcorrer dos tempos, para a formação do perfil sócio-cultural de Indaiatuba.


A chegada ao Brasil
Filho de Joseph Wolf e Catharina Sigrist, nasceu Pedro José Wolf em Giswil, no ano de 1843, e estava entre as cerca de 150 pessoas que, vindas do cantão de Obwalden, embarcaram num veleiro no porto de Hamburgo, Alemanha, na primavera de 1854, com destino ao Brasil. Vinha com o pai, Joseph, vários irmãos, uma irmã e outros membros da família Wolf, nove pessoas ao todo, as quais após tenebrosa viagem marcada pela fome, sofrimentos e mortes, aportaram em Santos a 13 de julho do mesmo ano.


Sitio Grande
Não terminou porém, com o desembarque, a odisséia; pois a viagem serra acima, a pé, as crianças em cargueiros ou no colo das mães, todos arrastando suas bagagens, se prolongou na imensidão do planalto, em carros de bois, atravessando campos e florestas até o Sitio Grande. Essa propriedade de Antônio de Queiroz Telles (mais tarde Barão de Jundiaí) era um imenso latifúndio de mais de mil alqueires, localizado na vila de Jundiaí, próximo à divisa com o atual município de Indaiatuba e à Fazenda Monte Serrate.

Seriam eles, os imigrantes de Obwalden, dos primeiros a experimentar uma nova forma de relacionamento entre o proprietário das terras e os trabalhadores que cuidavam do cultivo e produção do café. Foram eles dos primeiros a por em prática os chamados “contratos de parceria”, acordo em que o colono não era empregado e nem dono, mas parceiro do fazendeiro, na produção do café.

Das 26 famílias emigradas poucas resistiram ao convívio com o meio ambiente adverso e o pesado trabalho nos cafezais. Entre as que resistiram, a família Wolf se destacou, tendo alguns de seus membros, se tornado proprietários de terras, com o produto de seu trabalho, como aconteceu com Luiz Wolf, desbravador dos “sertões” de Barra Bonita, onde foi dono da grande fazenda “Ponte Alta” e, mais tarde, em 1888, comprou uma área de três mil e seiscentos alqueires na Noroeste, tornando-se o primeiro fazendeiro a se estabelecer na região.

O primeiro casamento
Pedro José Wolf casou-se em 1873, aos 30 anos de idade, com Maria Langensand, jovem da família Langensand, uma das famílias emigradas em 1854. Com esta companheira teve doze filhos - seis homens e seis mulheres - nascidos em Sítio Grande, no sertão de Jaú e na Colônia Helvetia.

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na compra das fazendas Capivary-Mirim e parte da Serra d’Água, núcleo inicial da Colônia Helvetia.


Colônia Helvetia

Como seu irmão Luiz, Pedro Wolf esteve também na região de Jaú, e em 1888 tinha boas economias, pois “a família Pedro Wolf, que então era a mais abastada, entrou com a maior importância”


.A medição e divisão só foi feita em 1894, seis anos depois da compra. Foi dividida em quatro partes iguais cabendo a quarta parte a cada uma das famílias adquirentes: Ambiel, Amstalden, Bannwart e Wolf.

.Pedro José Wolf se instalou na antiga sede da fazenda Serra d’Água, ex-propriedade de Vicente de Sampaio Goes, com a esposa Maria Langensand e os nove filhos, existentes em 1888. Nesta casa nasceram os filhos: Augusto em 1889, Cristina, em 1890 e Inácio, em 1891; e foi este o último filho, que Pedro Wolf teve com Maria Langensand, pois esta faleceu em 13 de junho de 1893, quando Inácio tinha de um e meio para dois anos .

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Esta casa era térrea com embasamento de pedras e paredes de tijolos. Todo o vigamento do telhado foi renovado pelo mestre Franz, arquiteto e mestre de obras suíço, construtor da igreja da Colônia Helvétia.

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A fase posterior à fundação da Colônia foi de grande prosperidade para Pedro Wolf, assim como para os demais sócios. Comprou ele, em 1891, junto com os irmãos Ambiel e Benedito Amstalden, o Sítio Prado, adjacente ao Capivary, no município de Campinas. Foi adquirido de Antonio Dias de Oliveira Cruz, e tinha 20 mil pés de café, muita terra para roça e plantação de café, muito pasto e algumas edificações - casa de morada, terreiro para café, três casas para colonos, moinho e monjolo.

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Além dessas duas propriedades nos municípios de Indaiatuba e Campinas, tinha também outra no município de Capivary, de sociedade com seu genro Luiz Enz, casado com sua filha Bárbara. Era a fazenda São Fernando, que em 1894 tinha: área de 200 alqueires, 41 mil pés de café, casa grande de morada, casa pequena de morada, seis casas para colonos, uma casa contendo vapor, serra e moinho e veículos de transporte, trolys, carroças, carretões, carros de bois e animais de tração - burros e bois de carros .

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Na compra das terras da Helvetia, em 1888, Pedro Wolf investiu a quarta parte de 23 contos de réis, ou seja quase 6 contos de réis. Seis anos depois, em 1894, por ocasião do inventário de sua mulher, seus bens foram avaliados em 78 contos de réis, valor líquido. Esta verificação comprova a grande capacidade de trabalho e tino administrativo e negócios de que era dotado.

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O segundo casamento
Pedro José Wolf, em 1896, ainda com filhos pequenos para criar, casou-se novamente, agora com a moça Antônia Strabello, então com 22 anos de idade, nascida em 1874. Dessa união teve o casal oito filhos, elevando para vinte o número de filhos do pioneiro.

Desde que passaram a residir no município de Indaiatuba, após a fundação de Helvetia, alguns colonos suíços, liderados por Antônio Ambiel, no início da República, participaram com assiduidade das atividades políticas da municipalidade, como eleitores. Antônio Ambiel ocupou o cargo de vereador, em uma legislatura. O nome de Pedro José Wolf aparece com freqüência nos livros de atas de presença dos eleitores de Indaiatuba, nas eleições para preenchimento de cargos da câmara municipal, dos congressos estaduais e Federais e ainda para a presidência da República. Votou em 1898 na eleição de Manoel Ferraz de Campos Sales à presidência da República.

Depois de uma vida fecunda e honrada faleceu Pedro José Wolf, no dia 4 de novembro de 1917, sendo sepultado na Cidade de Indaiatuba, no “cemitério de pedras”, sepultura no. 260.

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Descendência de Pedro José Wolf
Estudo realizado por helvetianos, publicado no centenário da Colônia, mostra que Pedro Wolf deixou a mais numerosa descendência, entre os pioneiros da Helvetia

Casado em 1873 com Maria Langensand teve:

1- Josefa, foi casada com Ignácio Amstalden e faleceu em 1932. O casal teve doze filhos.

2- Bárbara, foi casada com Luiz Enz, falecido em 1933, deixando também doze filhos.

3- Ana Maria, foi casada com Francisco Amstalden, faleceu em 1922 deixando cinco filhos.

4- Pedro, solteiro e com 17 anos de idade em 1894.

5- José, nascido em 1879, foi casado com Maria Stocco, com quem teve 14 filhos.

6- Angelina, nascida em 1880, foi freira, das irmãs de São José, do Colégio do Patrocínio em Itu.

7- Martim, nascido em 1882, casou-se com Josefa Stifter, com quem tinha sete filhos (até 1935).

8- Catharina, também freira.

9- João, nascido em 1885, foi casado com Augusta Sigrist e o casal tinha 11 filhos (até 1935).

10- Augusto, nascido em 1889, foi casado com Christina Ambiel e tinham 9 filhos (até 1935).

11- Christina, nascida em 1990, foi casada com Leopoldo Denni e tinham 11 filhos (até 1935).

12- Ignacio, nascido em 1891, casado com Adelina Bannwart, com quem tinha 7 filhos em 1935.

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Maria Langensand faleceu no dia 13 de junho de 1893.

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Pedro José Wolf casou-se novamente, em 1896, com Antonia Strabello, nascida em 1874 e teve mais os oito filhos seguintes:

1- Emile, nascida em 1898, casada com Alfredo Jakober, com 10 filhos até 1935

2- Paulina, nascida em 1902, casada com Paulo Ming, filho de Luiz Ming.

3- Antônio, nascido em 1904.

4- Elisa, nascida em 1905.

5- Benedito, nascido em 1907, casado com Antônia Campreguer

6- Gertrudes, nascida em 1909.

7- Francisco, nascido em 1911.

8- Arnoldo, nascido em 1912.Antônia Strabello faleceu em 1932, aos 58 anos de idade.

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Os vinte filhos de Pedro José Wolf se multiplicaram e em 1988, segundo pesquisa relatada por Leonor Amstalden, o número de seus descendentes era de 1509 pessoas.

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* Publicado originalmente em http://www.geocities.com/RainForest/9468/wolf.htm, onde há notas bibliográficas e notas complementares.

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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

17 de agosto - Dia do Patrimônio Histórico

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Dia 17 de agosto é dia do Patrimônio Histórico. A data foi escolhida na ocasião do centésimo aniversário de nascimento do advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 17 de agosto de 1988.

.O mineiro Rodrigo (1898/1969) foi o criador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional– IPHAN (http://www.iphan.gov.br/) em 1937, e diretor da Instituição durante mais de 30 anos (1937/1968).
"a educação popular é o meio mais eficaz de assegurar a defesa do
patrimônio histórico e artístico nacional".
Rodrigo Melo Franco de Andrade
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Da esquerda para a direita: Portinari, Antonio Bento, Mário de Andrade e Rodrigo Melo F. de Andrade, em 1936.

A maior importância das datas alusivas é a oportunidade de divulgação de informação, reflexão e conscientização. Concordando plenamente com a frase de Rodrigo, o presidente do Conselho de Preservação da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, o professor Lauro Ratti, sempre diz que:

"conversar sobre o assunto com as partes interessadas (ou não), com os alunos, com políticos, autoridades, enfim, com toda a comunidade é a melhor forma de desenvolver nos cidadãos a consciência sobre a importância, respeito e amor pelo nosso patrimônio."

E ele sabe o que diz, pois, infelizmente, durante o período de atividade desse Conselho, temos a registrar que sucessivamente ele perdeu as atribuições legais que possuia, não tendo hoje praticamente nenhuma força legal ou regulatória. Resta, então, fazer um trabalho educativo, contínuo, insistente, como por exemplo várias ações que são feitas pela própria Fundação Pró-Memória sob a gestão operacional do superintendente Marcelo Cerdan, por educadores, por cidadãos simpatizantes à causa, e -como destaque entre estes- apontaria Antonio da Cunha Penna (com a construção de seu acervo fotográfico) e Paulo Lui, que sempre disponibiliza suas salas de cinema (entre outras ações) para eventos de valorização do nosso patrimônio. (Perdoe-me os outros que hora não cito).

A Fundação Pró-Memória, merece nobre citação e merecido reconhecimento. O trabalho da organização, identificação, manuseio, preservação e disponibilização dos substratos que compõem o arquivo permanente (haja pó!), o cotidiano na biblioteca do Casarão, as exposições preparadas com critério e carinho pelo pessoal do museu e demais eventos culturais são hoje um motivo de orgulho para nossa Indaiatuba no esforço concreto da valorização do nosso patrimônio. Foi pela ação (ou melhor, pressão) da Fundação, que no ano de 2008 o prefeito José Onério ratificou os processo de tombamento de 7 bens de nossa cidade (veja em http://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2009/02/patrimonio-tombado-em-indaiatuba.html). Uma vitória e tanto para nosso patrimônio!

E para tudo isso acontecer, temos que reconhecer e agradecer especialmente a persistência e dedicação de Antonio Reginaldo Geiss, o "Rodrigo Melo" de Indaiatuba, presidente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, aquele que sempre e incansavelmente trabalhou para viabilização e agora trabalha para o fortalecimento da Fundação. Na contra-mão vemos o descaso de parte do poder público para com o patrimônio. Mas não é sobre a portaria e o portão do cemitério, a venda da casinha de Itaici, as casas históricas que ruem da noite para o dia, a falta da presença efetiva das autoridas na audiência pública sobre a obra de ampliação do Aeroporto, etc. etc... que quero falar hoje.

Hoje é dia de valorizar as pessoas comprometidas, os voluntários e funcionários da Fundação Pró-Memória, os professores de História e demais educadores que aplicam ferramentas educativas em pról à valorização do nosso patrimônio, o Linho, que é um vereador que sabemos lutar transparentemente pela causa, os jornalistas que denunciam, fiscalizam...

É dia de valorizar quem preserva nossas igrejas, templos, praças, monumentos, árvores.

É dia de reconhecer o esforço das comunidades negra, suiça, alemã, italiana, nordestina e japonesa de nossa Indaiatuba em preservar seus costumes e seu passado. É dia de parabenizar quem disponibiliza seus documentos e imagens particulares para arquivos públicos.
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É dia de lembrar que quem não tem memória, não tem identidade. E sem identidade... quem somos nós?
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Anexo a seguir o texto que foi publicado no Correio Popular no dia 17/08/2009, do juiz de Direito de Campinas Fábio Henrique Prado de Toledo
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PATRIMONIO, FOLCLORE E DIGNIDADE

.Hoje se celebra o Dia do Patrimônio Histórico e, no próximo 22 de agosto, comemoramos o folclore. Ainda que com conotações diferentes, ambos possuem notáveis pontos comuns, na medida em que buscam preservar dados da cultura e do modo de viver de um povo para as futuras gerações. Poucos ousariam sustentar que não é importante cultivar os costumes e tradições populares transmitidos de geração em geração (folclore) ou mesmo preservar os bens que possuam valor significativo para uma sociedade, no caso o patrimônio histórico. Mas para que de fato estejamos convencidos, há de se buscar razões suficientemente fortes para isso.
Certa vez, num desses seriados de TV, uma mulher se empenhou com todas as suas energias em evitar que fosse demolida uma casa antiga que havia em seu bairro. Após muito insistir sem que lhe dessem ouvidos, tomou um megafone e passou a discursar diante do imóvel a uma pequena plateia que, na verdade não procurava por ela mas por um grupo de rock que se apresentaria logo após. E, então, ela começou a elencar uma série de argumentos. E todos eles começavam com a mesma frase: “essa casa é muito importante para mim porque...”. Isso ilustra uma postura egoísta e não raras vezes interesseira que muitas vezes se esconde por detrás de ideais mais nobres. Com efeito, expunha essa personagem do filme que a preservação era importante para ela. Antes disso, porém, há de se perguntar se a iniciativa é relevante para a comunidade como um todo, e não se simplesmente lhe proporcionaria uma satisfação pessoal.
E quando a preservação histórica é objetivamente relevante? Penso que quando está a serviço da promoção da dignidade humana. As formas de vida, os costumes, a comida, a cultura, enfim, o modo de ser das pessoas que nos antecederam apontam para aspectos que foram específicos de uma determinada época. E é interessante que conheçamos isso, pois então poderemos, ao confrontar com o nosso modo de vida atual, apontar os aspectos positivos e negativos do progresso. Por exemplo, comparando nosso modelo de sociedade atual com o de algumas décadas atrás, poderemos constatar que muito se evoluiu na rapidez da comunicação, porém, que muito se perdeu no convívio familiar. Portanto, há de se fomentar uma visão crítica do desenvolvimento, que nos permitirá avaliar o que houve de bom nisso, para então aprimorar, e o que se produziu de prejudicial ao homem, para então retificar.
Mas nesse debruçar sobre o modo de vida dos antepassados, assim como sobre a cultura, se soubermos olhar em profundidade, também notaremos que há algo de universal e imutável nos seres humanos de todos os tempos e locais. Notaremos, por exemplo, em todos um anseio de vida e felicidade, ainda que diversos tenham sido os caminhos concretos pelos quais buscaram concretizar esses anseios. E aqui encontraremos, então, o mais importante patrimônio histórico: o próprio homem, em sua integralidade.
Essa visão do homem e da história se mostra tanto mais importante de ser salientada num mundo em que, como adverte o Papa Bento XVI, ganha força o fenômeno do nivelamento cultural, que ele define como uma “homogeneização dos comportamentos e estilos de vida”, no qual se perde “o significado profundo da cultura das diversas nações, das tradições dos vários povos, no âmbito das quais a pessoa se confronta com as questões fundamentais da existência” (Carta Encíclica Caritas in veritate).
De fato, a nossa juventude é massacrada por uma forma de vestir que se traduz no jeans bem abaixo do umbigo, numa linguagem eletrônica bem definida sem a qual ninguém lhe dá ouvidos e numa “necessidade vital” de um aparelho celular, sem o que se estará condenado a ser um excluído.
A preservação das tradições folclóricas e do patrimônio histórico, nesse contexto, revela-se como algo essencial. É que com isso se formarão organismos vivos que apontam para diferentes formas de vida, de cultura, de gostos das gerações passadas, e serão então um convite a uma saudável rebeldia contra a imposição massificadora da cultura atual. Mas há de se traduzir também em algo que aponta para uma essência universal e imutável no ser humano: a sua condição de filho de Deus e, como tal, dotado de uma infinita e incondicional dignidade.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Indaiá

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É formosa esta Indaiá. 
Tem encantos, tem belezas, 
tem enfim muitas grandezas 
que n´outras terras não há. . . 

Nosso céu é cor de anil 
nosso campo verdejante 
pedaço do meu Brasil 
Neste Estado Bandeirante


É um vasto e belo jardim
 esta Indaiá sem igual
 suas belezas sem fim
 nos faz assim alegrar... .

.Eu canto mesmo contente,
 Nestes versos, 
esta terra com altivez tão brilhante 
o que tudo a ela encerra! .
 . 
Nessas noites de luar
 Em que tudo é belo, faceiro 
eu fico a admirar 
este céu tão prazenteiro! . . 


Poema publicado no jornal O Indaiatubano na década de 1930
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sábado, 8 de agosto de 2009

Festas Religiosas da época do padre Jannoni

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texto de Glória D. Q. Belo e
Anaida Quinteiro Perez Canovas
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Padre Padre Antônio Jannoni foi pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba por onze anos, entre 1945 e 1956.
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Carismático como ninguém, soube arrebanhar os fiéis para frequentarem com disciplina e constância sua igreja. 

Foi um líder muito dinâmico, alegre, sempre presente na comunidade; e essa sua personalidade marcou uma época na Matriz: aos poucos foi aumentando a quantidade de missas rezadas, ouvia a todos com muita atenção, ficou conhecido por reformar e manter o patrimônio e ainda por incentivar a construção de capelas como a do cemitério, a da Fazenda Cruz Alta, a do Mato Dentro, entre outras.


.Naquela época, ir à missa era um evento importante: todos se arrumavam com presteza e só faltavam em último caso. A igreja não era só um local religioso, mas também social e político. 

Por serem as missas rezadas em latim, língua que o povo de nada entendia, o que se mais gostava mesmo eram as festas religiosas. Em épocas festivas a fé e a criatividade afloravam mais ainda, e em massa, o povo correspondia ao chamado do Padre Jannoni para que participassem das comemorações.


.No dia da Padroeira Nossa Senhora da Candelária, após as missas, eram realizados leilões de gado. 


"Lembro-me perfeitamente do nosso leiloeiro oficial daquelas eras - escreve Rubens de Campos Penteado - , o Sr. Eduardo Ambiel, de saudosa memória, com seu linguajar característico: _ Quem dá mais! Dou-lhe uma, dou-lhe duas ... Mil reis! Mil reis! Mil reis!"


Os participantes ficavam ansiosos e até eufóricos aguardando para ver àquele que era o “ponto alto” desta festa: a magnitude da ornamentação do andor da Santa, que era levado em procissão pelas ruas da cidade. O povo acompanhava orando ou cantando com a banda.

A Semana Santa também era um acontecimento na cidade. 

No Domingo de Ramos, todos com ramos nas mãos, acompanhavam a procissão. Os homens saiam da Igreja de São Benedito, carregando uma cruz. As mulheres saiam da matriz identificadas com diferentes fitas no pescoço, cada qual simbolizando uma irmandade: Filhas de Maria, Irmandade de Santo Antonio, Sagrado Coração de Jesus, Irmandade de São Benedito, entre outras. O encontro acontecia na Praça Prudente de Moraes, onde Padre Jannoni realizava uma comovente celebração. Durante toda a semana tinha a vigília: a igreja permanecia aberta e não ficava um minuto sequer sem pessoas orando. Na quinta-feira havia a cerimônia do “Lava-Pés” onde, repetindo simbolicamente o gesto de Jesus, o padre lavava os pés dos elementos da congregação. Na sexta-feira às três horas da tarde, começavam as cerimônias comemorativas à data. A noite saia a “Procissão do Enterro”. Era grande a multidão que acompanhava. As senhoras tinham a cabeça coberta por véu preto e as jovens, por véu branco. Todos carregavam uma vela acesa na mão. As janelas das casas por onde passava a procissão eram ornamentadas com toalhas rendadas, flores e imagens para homenagear o Senhor. Em cada “Estação da Via Sacra” parava-se e era feita uma referência e a “Verônica” toda vestida de preto, com o rosto coberto com véu, cantava com as mãos para cima aonde ia desenrolando uma toalha com a imagem de Jesus. O silêncio era total. As “verônicas” eram senhoras dotadas de belíssimas vozes; ocorrem-nos os nomes de: Luísa Fanger, Tereza Zoppi e Alba Tomazi.

No Sábado de Aleluia a igreja permanecia com suas portas fechadas, até que se anunciasse a ressurreição através dos sinos que ressoavam alegremente. O povo então se reunia na praça para assistir a “malhação de Judas”, que era feita após alguém ter conseguido, após sucessivas tentativas, derrubar o boneco do “pau de sebo”. Era festivo! A banda se fazia presente em todas as solenidades, tocando músicas que emocionavam a todos. Na madrugada de domingo era realizada a “Procissão de Encontro”: Maria encontrava-se com Jesus ressuscitado. Era o encerramento, onde mais uma vez o povo comparecia em massa. . No mês de maio, todas as noites, durante a reza, entrava-se em fila na igreja levando flores para oferecer à Maria, cantando em seu louvor: . “ Vinde, vamos todos, com flores à porfia, com flores à Maria, que mãe nossa é...” . E ainda: . “ Neste mês de alegria, tão lindo mês de flores, queremos com alegria, celebrar os louvores...”
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O altar ficava repleto de flores. Era lindo.

.No Mês do Rosário, fazia-se uma procissão, com enormes rosários, feitos com jornal amassado e recobertos de papel crepom, que eram levados por meninas com vestidos de babados, também feitos de papel crepom nas cores branco, rosa e roxo que representando, cada cor, um dos mistérios, a saber: Mistérios Gozosos, Mistérios Dolorosos e Mistérios Gloriosos. Era uma festa diferente e mais uma vez levava toda a população à rua. Padre Jannoni percorria o grupo todo o tempo, organizando e vigiando a ordem das filas para que não houvesse conversas e “espaços” vazios. Todos eram tocados por uma grande fé.

.Além das festas, as atividades de rotina também foram transformadas pelo Padre Antônio. Para atrair os pequeninos para a sua paróquia, celebrava a “Missa das Crianças”. Ele teve a brilhante ideia de premiá-las, desde que comparecessem todos os domingos na missa. Após o término dessa cerimônia, eram distribuídos comprovantes da presença, com data. No final do ano, os cupons eram trocados por prêmios. A exposição de valorosos brindes dava-se uma semana antes, com grande visitação. Aos domingos, às 13 horas, tinha o catecismo, onde eram distribuídos ingressos com desconto para a matinê do Cine Rex.

Após um grande período de permanência na paróquia, Padre Antônio se despede.

O povo chorou sua partida. 

Ele é lembrado até hoje por aqueles que o conheceram, pois foi um sacerdote atuante, que cumpriu com louvor e sabedoria sua missão, correspondendo plenamente ao chamado de Jesus.








Padre Jannoni em Pirapora, na Romaria (foto de Alcides Gaspar 
cedida para o Arquivo Público da Fundação Pró_Memória através 
de Antonio Reginaldo Geiss (identificada como da década de 1940 e da década de 1950)
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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Engenho d’Água: uma casa de tradição bandeirista em Indaiatuba, Estado de São Paulo ©

Texto de Celso Lago Paiva* (1996)
Membro fundador e Coordenador do Grupo de Estudos de História da Técnica –GEHT/CMU/UNICAMP


Buscando remanescentes de construções coloniais do período paulista do açúcar, como pesquisador de História da Técnica Construtiva, procedi ao levantamento da sede da Fazenda Engenho d’Água, produtora de café no século XIX no território da vila de Indaiatuba, na Provincia de São Paulo.

A análise plani-altimétrica, geográfica e de arqueologia construtiva, realizada entre setembro de 1995 e junho de 1996 (Paiva, 1996a, 1996b, 1997 e 1998), levou-me a concluir ser a construção uma legítima casa de tradição bandeirista (conforme a definição de Katinsky, 1972 e 1976).

Ergue-se a sede do Engenho d’Água próxima ao ribeirão Barnabé, servindo hoje como sede da Administração Regional da Morada do Sol, bairro que a envolve. A fazenda foi produtora de açúcar, tendo engenho real (movido a água) há muito desaparecido, que deu nome à propriedade.

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Imagem de Celso Lago Paiva . Imagem da Revista da Tribuna

Atribuo a construção ao período 1750/1770, sendo assim a mais antiga edificação do município de Indaiatuba. Uma construção tão antiga, e em mãos do poder público, deverá ser restaurada. As pesquisas estão adiantadas, fornecendo os elementos necessários para uma restauração séria e baseada nas melhores técnicas (Paiva, 1997).

A sede da Fazenda Pau-d'Alho, situada na Estrada Imperial, no território da cidade vizinha de Itu, pertence ao mesmo partido de tradição bandeirista e tem características construtivas muito semelhantes às da sede do Engenho d’Água.

De grande importância é o fato de que a sede da Fazenda Engenho d’Água se constitui na única construção rural setecentista na região ituana conservada pelo poder público. Entre as casas de tradição bandeirista, apenas a casa do Quinzinho em Sorocaba encontra-se sob domínio público.

Esse fato avaliza a sugestão do necessário tombamento a níveis estadual e municipal, recomendável por sua importância na história da técnica construtiva rural paulista, pela retenção de muitas características originais e pela grande probabilidade de que a restauração permita recuperar feição próxima à original (Paiva, 1997).

Cabe ao poder público de Indaiatuba a responsabilidade de valorizar seu patrimônio histórico, como já fez ao apoiar a criação da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (que promoveu em junho de 1996 o Curso de História da Técnica das Construções Coloniais em São Paulo) e ao desapropriar e recuperar o Casarão do Pau Preto (Carvalho,1984), que hoje honram o município.

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Referências bibliográficas citadas pelo autor:
CARVALHO, Nilson Cardoso de, 1984. Arquitetura em taipa, um dos últimos remanescentes em Indaiatuba. Indaiatuba, s. ed., 13 p., il.
KATINSKY, Júlio Roberto, 1972. Casas bandeiristas: nascimento e reconhecimento da arte em São Paulo. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ USP, Tese de Doutorado.
KATINSKY, Júlio Roberto, 1976. Casas bandeiristas: nascimento e reconhecimento da arte em São Paulo. São Paulo, Instituto de Geografia/USP, 183 p., il.
Apêndice .

CONSELHO MUNICIPAL DE PRESERVAÇÃO RESOLUÇÃO CMP No. 02/97

O Conselho Municipal de Preservação de Indaiatuba, por decisão unânime dos Conselheiros presentes à reunião extarordinária realizada em 10 de outubro de 1997, no uso das atribuições legais a ele conferidas pela Lei Municipal no. 3.328 de 11 de junho de 1996, e:
Considerando que a antiga sede da Fazenda Engenho D’Água, atualmente ocupada pela Administração Regional do Jardim Morada do Sol, vem sendo apontada, por estudos recentes, como a mais antiga edificação remanescente do município, sendo sua construção datada de aproximadamente 1755;
Considerando que o referido bem edificado apresenta características arquitetônicas que permitem identificá-lo como de tradição bandeirista, inserindo-o decisivamente no contexto da história da técnica das construções coloniais paulistas;
Considerando que o bem edificado apresenta grande interesse para o estudo do povoamento inicial do município, bem como da evolução das técnicas construtivas paulistas.

RESOLVE:

Artigo 1o. - Abrir processo de tombamento da antiga sede da Fazenda Engenho D’Água, localizada na rua Zephiro Puccinelli, no Bairro Jardim Morada do Sol (Quadra 38/39, Lote s/n), sendo a quadra em questão limitada pelas ruas Coronel Julio Pereira Brum, Lino Lui e Carlos Alberto Garcia.

Artigo 2o. - A presente resolução compreende: - a edificação propriamente dita, construída em meados do século XVIII, com destaque para a disposição espacial de caráter bandeirista dos elementos construtivos, as paredes de taipa-de-pilão, as envazaduras antigas remanescentes e seus acessórios, os pisos de ladrilhos cerâmicos e de tijolões e o forro “paulista”; - o entorno da edificação, abrangendo toda a quadra em que se encontra, e que apresenta grande potencial arqueológico.

Artigo 3o. - Os projetos e as obras que envolverem intervenções físicas nessa área, podendo comprometer ou alterar os elementos protegidos pela presente Resolução, deverão ser submetidos à aprovação do Conselho Municipal de Preservação, nos termos da Lei no. 3.328 de 11 de junho de 1996.

Artigo 4.o - Essa Resolução entrará em vigor na data de sua publicação. Indaiatuba, 13 de outubro de 1997./

Lúcia Steffen, Presidente do Conselho Municipal de Preservação.”
Publicado no Diário Votura (Indaiatuba) de 17 de outubro de 1997.

*Referência bibliográfica desta página: PAIVA, Celso Lago, 1997. Engenho d’Água: uma casa de tradição bandeirista em Indaiatuba, Estado de São Paulo.
Disponível na Internet: http://www.geocities.com/RainForest/9468/d_agua.htm. 23 set. 1997. Publicado originalmente em: Boletim do Centro de Memória - UNICAMP 1(4):5, out./dez. 1996.
© Direitos autorais registrados sob n.o 114802 no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional.
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No dia 17 de dezembro de 2008, o então prefeito de Indaiatuba, José Onério da Silva ratificou, através do Decreto no. 10108, os processos de tombamento de 7 bens de valor cultural de nossa cidade, entre eles, a antiga sede da Fazenda Engenho D´Água, localizada na Rua Zepherino Pucinelli, no Jardim Morada do Sol.
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