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sexta-feira, 7 de março de 2025

OS NOMES DAS RUAS DA CIDADE DE INDAIATUBA TAMBÉM FALAM DE NOSSA HISTÓRIA

    




Todos os logradouros ou vias que tem nome na cidade representam uma referência, um símbolo ou uma homenagem, sendo que para essas atribuições de nomenclatura usualmente costumamos trocar o que é mais antigo, que se tornou menos significativo, ou que acabou por cair em desuso, por novas reverências, insinuando sutilmente, assim, que alguns fatos históricos podem - ou devem - perdurar na memória mais do que que outros em diferentes épocas. Isso pode nos dar um panorama do que compõem nossa memória coletiva, do que foi apenas um relâmpago de oportunidade, e do que foi efêmero ou fútil que acabou por se gastar com o tempo. 

Dentro desta perspectiva, este texto tem como objetivo demonstrar a dança dos nomes das ruas na cidade de Indaiatuba, ilustrando, desta forma, as diferentes épocas pelas quais se urbanizou ou desenvolveu nosso Centro histórico e as respectivas nomenclaturas atribuídas em diferentes períodos. 

 

  • RUA CANDELÁRIA é a única das primeiras oito ruas da antiga Indaiatuba que manteve seu nome desde a sua origem, no Brasil Imperial. É homenagem à padroeira da Igreja Matriz de Indaiatuba; embora a primeira capela edificada por Pedro Gonçalves, ou melhor, o Tenente Pedro Gonçalves Meira, ainda no fim do século XVIII, ter sido dedicada a N. Sra. da Conceição, também padroeira de Campinas, onde Meira tinha grande influência política.

 

  • RUA NOVA era o limite da cidade na época do Império, onde acabaram por se instalar a Praça Prudente de Morais, a Casa de Câmara e Cadeia e o coreto original formando uma grande área de convívio na cidade, era o “parque ecológico” do final do século XIX até início do XX.  O nome foi substituído por RUA BERNARDINO DE CAMPOS em alusão à Bernardino José de Campos Júnior (Pouso Alegre, 6 de setembro de 1841 - São Paulo, 18 de janeiro de 1915) que foi um advogado e político brasileiro. Formado em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi segundo (1892-1896) e sexto (1902-1904) presidente do governo do estado de São Paulo.

 

  • RUA DA QUITANDA era o nome inicial da atual RUA SIQUEIRA CAMPOS. A rua SIQUEIRA CAMPOS e RUA 5 DE JULHO, são duas ruas que homenageiam o mesmo evento. Antônio de Siqueira Campos foi um militar e político brasileiro que participou do movimento tenentista e da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922.

 

  • RUA DO COMÉRCIO foi o primeiro nome da RUA 7 DE SETEMBRO.  O Dia da Independência (também chamado Dia da Independência do Brasil, Sete de Setembro, ou Dia da Pátria) é um feriado nacional do Brasil celebrado na data, que comemora a Declaração de Independência do Brasil do Império Português no dia 7 de setembro de 1822. 

 

  • RUA DIREITA era a o nome da atual RUA AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO. Nos primórdios da urbanização das cidades brasileiras, a Rua Direita era aquela que, na tradição católica, conduzia diretamente a uma capela ou igreja, podendo uma cidade ter mais de uma Rua Direita. Seu nome atual é em homenagem a AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO, que com sua  esposa Leonor, foram os idealizadores do Hospital que leva seu nome.  A rua em questão liga o Largo da Matriz da Candelária até a entrada do Hospital.

 

  • RUA DE SÃO JOSÉ era o nome da atual RUA DOM JOSÉ. Uma linda ilustração de como as reverências a personagens da fé católica, em âmbito mais amplo, passam a ser derivadas a personalidades locais, mais próximas da população. Neste caso, em especial, mesmo separados por muito tempo, foi mantido o foco na temática religiosa.  Dom José de Camargo Barros nasceu em Indaiatuba, no dia 24 de abril de 1858, destacou-se como bispo, jornalista, literato, orador sacro entre outras funções. Além do nome da rua, é também homenageado com a Escola Estadual Dom José de Camargo Barros, e seu busto está defronte à Igreja Matriz em estátua com tombamento.  Dom José morreu no naufrágio do navio Sírio, que afundou perto do Cabo de Palos, na Espanha em 1906 e seu corpo nunca foi encontrado. 

 

  • RUA DA PALMA era paralela a fachada da Candelária, fazendo o limite do seu Largo, que era adornado por palmeiras imperiais, que aliás, ali, trocaram algumas vezes de local. As palmeiras que deram nome a rua ainda estão lá, mas nomes derivados da natureza parecem ser facilmente substituídos por personalidades ou eventos.  Por exemplo, o Chafariz é agora a praça Elis Regina e o Córrego Indayatyba, que doou seu nome a cidade, que literalmente quer dizer “muita fruta de rachar a casca” em tupi antigo, parece não fazer mais sentido depois que a palmeira foi praticamente extinta desta área, e agora é o Córrego Barnabé. A Rua da Palma é atualmente é a RUA 15 DE NOVEMBRO, menção ao dia da Proclamação da República.

 

  • RUA DAS FLORES foi primeiro o nome da via que foi chamada também de RUA 24 DE OUTUBRO e posteriormente de  RUA PEDRO DE TOLEDO.  É um exemplo delicioso de como a história de um país marca a cidade em suas memórias. As designações originais, da época do Império, de nossas primeiras ruas, não possuem grandes homenagens, a não ser que sejam religiosas católicas, o que reflete a organização social da cidade na época, em torno da Igreja. Com a República, iniciam as homenagens a pessoas e datas comemorativas, sendo que a Guerra do Paraguai, foi o evento que mais proporcionou referências para nossas ruas no Centro, utilizando datas ou locais de batalhas, marcando as vias que são implantadas em cerca do final do século XIX e início do sec. XX.  Após 1932, a Revolução Constitucionalista passa a ser o evento histórico que predomina nas homenagens concedidas às designações das vias.  A RUA DAS FLORES passa a usar um outro nome em homenagem ao Golpe de Estado que empossou Getúlio Vargas no poder na data de 24 DE OUTUBRO, a chamada de Revolução de 30. Muda novamente seu nome para o do Governador PEDRO DE TOLEDO, homenagem ao gestor do estado de São Paulo na época da Revolução de 32, que lutou contra as tropas do próprio Getúlio Vargas. Essa via foi renomeada após 1951, pois ainda é citada no mapa oficial desta época,  a mudança pode ter ocorrido no mesmo período, ou logo após a edificação do Mausoléu do Soldado Constitucionalista em 1956, que exumou o corpo do Combatente Voluntário João dos Santos em Indaiatuba, e o transferiu para onde se encontra hoje, ao lado dos restos mortais do próprio  Pedro de Toledo, tendo sido, ambos, uns dos primeiros a serem homenageados lá,  levados numa grande festividade em comemoração aos 25 anos da revolução. PEDRO MANUEL DE TOLEDO (São Paulo, 29 de junho de 1860 — Rio de Janeiro, 29 de julho de 1935) foi um advogado, diplomata e político brasileiro. Foi o quarto interventor federal a ocupar o governo do estado de São Paulo e governador do estado durante a Revolução de 32.

 



Como podemos notar, nos exemplos acima, os nomes das vias e logradouros de Indaiatuba possuem grande correlação na cronologia que envolve a história, datas de eventos ou da morte dos homenageados com a data aproximada da urbanização ou pavimentação da via. 

Como exemplo mais recente desta relação social, econômica e histórica entre as vias e logradouros públicos e sua nomenclatura, podemos considerar a história do Parque Ecológico, projetado por Ruy Otake e promulgado por decreto do então prefeito Clain Ferrari em 1991 com nome de “Parque Ecológico Presidente Fernando Collor de Mello” - uma descarada homenagem, em vida, que tinha intenção de trazer mais verbas federais para o projeto. Todos sabem a história do impeachment deste presidente, e após os fatos que o retiraram do poder, o nome foi mudado rapidamente, passando genericamente para “Parque Ecológico de Indaiatuba”. Mais recentemente, tendo falecido o Prefeito que viabilizou a obra, passou a se chamar “Parque Ecológico Dr. Clain Ferrari” (que nunca foi um doutor, pois não obteve esse título, oriundo apenas de quem tem grau de pós-graduação stricto sensu avançado). Vale registrar que o “Dr.” Clain também foi muito discutido na ocasião em que ele próprio se auto homenageou com a designação do Ginásio Municipal Dr. Clain Ferrari: mas isso foi outra história, que também ilustra o muda-muda dos nomes e a relação com eventos históricos, sociais e econômicos, sem os quais não se pode avaliar nenhum evento de maneira séria.  

 

  •  RUA ALEGRE se torna RUA JOÃO PESSOA no meio do Século XX, homenageando um político da esfera federal, cujo assassinato o tornou símbolo da opressão das oligarquias. Posteriormente passou a se chamar RUA NOVE DE JULHO, data que foi lembrada Deflagração da Revolução Constitucionalista de 1932. Mais um exemplo de um nome relacionado a um evento nacional que foi substituído por outro nome mais próximo, do estado ou cidade. 

 

  • RUA DA ESTRADA tornou-se RUA 13 DE MAIO, e ambas são referências da época do Império. A ESTRADA que se refere, ou melhor,  é exatamente o traçado da via pavimentada no final do Século XVIII, entre Itu e São Carlos (atual Campinas), e que tinha Indaiatuba como ponto médio da viagem de dois dias a cavalo. A área do atual Centro da cidade foi adquirida pelo Tenente Pedro Gonçalves Meira, pouco tempo antes da execução da pavimentação da estrada que marcaria o início do Caminho dos Goyases, desde Itu até o Sertão do Brasil, onde o próprio Pedro Gonçalves fez fortuna. Chamada originalmente Parada de Indayatyba, às margens do Córrego de mesmo nome, o local prosperou como povoado que deu início a Indaiatuba. Dizem as más línguas - e longe de querer apresentar um fato histórico incontestável diante desta detração - que de todos os aglomerados urbanos dos quatro bairros originais daqui, a cidade só prosperou quando alguém ganhou com “especulação imobiliária” (me perdoem o anacronismo), valorizando a terras recém adquiridas de uma sesmaria devoluta, com benfeitorias que o próprio Gonçalves ajudou a viabilizar entre os administradores de Itu e da atual Campinas, através da pavimentação de uma estrada, que entre outras coisas, será a mais importante via de escoamento do açúcar na capitania de São Paulo até a chegada da ferrovia na década de 70 do Século XIX.  

 

  • O atual nome RUA 13 DE MAIO, é referência ao Dia da Abolição da Escravatura, celebrado em 13 de maio no Brasil. Esta data homenageia a Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888. Quem assinou a lei da Abolição da Escravatura foi Dona Isabel, Princesa Imperial do Brasil. 

 

  • RUA PEDRO GONÇALVES, é a homenagem ao fundador de Indaiatuba, que de Paragem de Indayatyba, acabou por se tornar o Centro de Indaiatuba. Já citado, sua identificação completa era TENENTE PEDRO GONÇALVES MEIRA. 

 

  • RUA CERQUEIRA CÉSAR em alusão a José Alves de Cerqueira César (Guarulhos, 23 de maio de 1835 — São Paulo, 26 de julho de 1911), que foi presidente interino do estado de São Paulo, governou de dezembro de 1891 a agosto de 1892. Foi secretário e presidente do Partido Republicano Paulista e, em 1889, Inspetor do Tesouro do Estado.

 

  • RUA PADRE BENTO PACHECO - em homenagem a Bento Dias Pacheco, nascido em 1819 e falecido em 1911. Mais conhecido por Padre Bento, foi um padre ituano, conhecido por sua dedicação aos portadores de hanseníase (lepra). Segundo o historiador Francisco Nardy Filho, "durante 42 anos, aqueles pobres parias tiveram nele pai, o amigo, o médico que cuidava de suas feridas, o Cireneu que os ajudava a carregar a pesada cruz de sua temida doença. Indiferente ao cansaço, ao perigo de contágio, procurava acender, em cada coração sofredor, a lâmpada da esperança num mundo melhor, sem as adversidades deste vale de lágrimas".

 

  • RUA 11 DE JUNHO - A Batalha Naval do Riachuelo, ou simplesmente Batalha do Riachuelo, travou-se a 11 de junho de 1865 às margens do arroio Riachuelo, um afluente do rio Paraná, na província de Corrientes, na Argentina. Essa é considerada pelos historiadores militares como uma das mais importantes batalhas da Guerra do Paraguai (1864-1870).

 

  • RUA HUMAITÁ - Humaitá foi uma operação militar de cerco prolongado organizada pelos aliados da tríplice aliança que ocorreu na Fortaleza de Humaitá, no Rio Paraguai. Humaitá foi cercada por terra em 2 de novembro de 1867, por água no dia 19 de fevereiro de 1868 se rendendo em 25 de julho.

 

  • AVENIDA ITORORÓ - A Batalha de Itororó foi a primeira batalha ocorrida na Dezembrada, série de batalhas vencidas pela Tríplice Aliança durante a Guerra do Paraguai. A batalha ocorreu em 6 de dezembro de 1868, sob o comando do então Marquês de Caxias, depois da queda da Fortaleza de Humaitá (em 25 de julho de 1868), quando os países da aliança, Brasil, Argentina e Uruguai, perceberam que haviam superestimado o poderio militar do Paraguai. O período de campanha na direção da conquista de Assunção, capital do Paraguai, deu-se no mês de dezembro e essa época ficou conhecida na história como Dezembrada.

 

  • A RUA RIO BRANCO, era homenagem ao Barão do Rio Branco falecido no início do século XX, um dos grandes diplomatas brasileiros que se destacou na determinação das fronteiras do nosso território. Muda de nome na 2ª metade do século XX para RUA ADEMAR DE BARROS.  Ademar de Barros (1901-1969) foi um político brasileiro. Foi prefeito da capital paulista e Governador do Estado por dois mandatos. Concorreu à presidência da república em 1955 e em 1960.

 

  • RUA TUIUTÍ e RUA 24 DE MAIO, ambas homenagens a mesma batalha, indicado a data e o local em duas diferentes vias da cidade A Batalha de Tuiuti ou Primeira Batalha de Tuiuti foi a maior e mais sangrenta batalha campal de toda a Guerra do Paraguai e do continente sul-americano, por ter envolvido mais de 55 mil homens. Foi travada no dia 24 de maio de 1866, em uma região pantanosa, arenosa e de difícil locomoção chamada Tuyutí, no sudoeste do Paraguai.

 

  • RUA VOLUNTÁRIO JOÃO DOS SANTOS - Herói Indaiatubano da revolução de 32, caiu em Itararé, lutando contra tropas federalistas gaúchas dando cobertura para retirada de seus colegas, seu corpo foi transportado e sepultado com honras de oficial, seus restos estão no mausoléu do soldado constitucionalista no Obelisco do Ibirapuera. Em observação, a Rua em Homenagem ao Voluntário já era urbanizada e tinha seu nome, na ocasião das festividades de 25 anos da revolução, quando ele foi exumado e levado para o obelisco de São Paulo, o que indica que a reverência a sua pessoa, foi imediata ao seu falecimento, e sincera tendo perdurado até os dias atuais.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Rua Antônio Zoppi

 



Antônio Zoppi nasceu no dia 23 de outubro de 1904, filho do imigrante italiano Cesari Zoppi e da senhora Teodora Cerqueira Leite e faleceu no dia 6 de abril de 1961 em sua residência, após ser confortado pelos santos sacramentos da Igreja Católica, onde sempre frequentou. Teve os filhos Gentil Zoppi, casado com Alayde Zoppi, Maria Mercedes Zoppi Bonito, casada com Rubens Bonito e Waldyr Zoppi, casado com Anita Zoppi.


No centro da imagem, Césare Zoppi e esposa. Os demais são os dez filhos: os homens Themístocles, Antônio, Rêmulo, Vitório e Homero e as mulheres: Duilia, Itália, Leonor Fausta e Ercília.
Antônio Zoppi é o de terno branco.


Foi construtor como o pai e, entre suas muitas obras em Indaiatuba, destacam-se o Cine Rex e o Cotonifício Indaiatuba.

Em 1996, o memorialista Nilson Cardoso de Carvalho escreveu que ... "presenciou o desmonte de uma de suas obras, que foi o prédio do Cotonifício Indaiatuba; quanta dificuldade e sacrifício para derrubar as formidáveis paredes internas, as colunas e vigas de concreto, o mesmo acontecendo no Cine Rex, também uma obra sua, pois era um dos principais projetistas-construtores de Indaiatuba, e não só construiu indústrias como também uma infinidade de residências."

Construção do Cine Rex, obra feita por Antônio Zoppi

Como vários membros da família Zoppi, Antoninho, como era chamado, tinha "uma vocação musical que cultivou desde menino". Quem afirma isso é Arquimedes Prandini, que conta ainda que "ele aprendeu música com o saudoso maestro Esterlino Minioli com a idade de treze anos e, após um ano, já tocava sax na Corporação Musical Internacional. Essa banda tocava num cinema de zinco chamado Cine Teatro Íris, que ficava onde mais tarde seria o Hotel Savioli, na Praça Prudente de Morais.

Hotel Savioli, ficava do lado esquerdo de onde atualmente é o Bradesco (Cine Rex) na Praça Prudente de Morais.

Cine Rex, construído por Antônio Zoppi e, do lado esquerdo, o Hotel Savioli


Os filmes que passavam no Cine Teatro Íris eram mudos, então uma banda musicalizava a obra ao vivo. Conta Prandini que "o músico tinha que tocar de ouvido porque o cinema era escuro e naturalmente não havia luz para ler a música e o Antoninho, nesse ponto era grande, pois era capaz de tocar dois dias seguidos sem repetir uma só música só de ouvido.

Em 1930 deixou de existir o cinema mudo e o Antoninho foi tocar na Corporação Musical 7 de Setembro cujo mestre era o grande músico Paschoalino Boffa. Nesse tempo começou a tocar trombone de harmonia, depois gênis e por fim tocava todos os instrumentos, exceto baixo e clarinete.

Lembro-me de que na família havia cinco irmãos e quatro eram músicos de banda: um é o senhor Themístocles, violinista e cantor; Rêmulo tocava o primeiro trombone, Vitório o primeiro pistão, Homero o primeiro clarinete e o Antoninho o primeiro bombardino. Os quatro faziam parte do canto.

Em um concerto que a nossa banda realizou na cidade de Itapira, o Antoninho fez um perfeito solo de gênis na música clássica 'Eva', arrancando calorosos aplausos de uma enorme assistência. Outra ocasião, na cidade de Salto, terra de grandes músicos, ele chamou a atenção de uma multidão que assistia um concerto com a nossa Banda ao executar, no bombardino, um solo quando da execução da ópera 'Aída": foi grandemente aplaudido.

O Antoninho gostava de tocar na procissão do enterro da Sexta-feira Santa e muitos ainda lembram se que seu irmão Rêmulo fazia com seu trombone, o canto; e o Antoninho o contracanto naquelas marchas fúnebres que que emocionavam qualquer cristão - por mais duro de coração que fosse.

Foi merecidamente presidente da Corporação Musical Sete de Setembro. Mas em 1942 por necessidade de extrair os dentes, nunca mais soprou um instrumento e assim também nunca mais tivemos o prazer de ouvir e sentir na alma aqueles acordes maviosos que saíam da alma daquele grande indaiatubano. Mas não parou nisso. Dedicando-se ao jornalismo amador saiu-se esplendidamente. [...] Era um grande humorista, inventava as piadas às vezes de improviso e quando saía com as suas era um estrondo, arrancando risadas do mais sisudo ouvinte."


terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Rua Padre Francisco Eduardo Paes Moreira

"Lá pelo ano de 1913, chegou em Indaiatuba um padre português de nome Francisco Eduardo Paes Moreira. Vinha substituir o Cônego Oscar Sampaio Peixoto, um moço muito alegre e divertido, pois gostava de brincar de barra-manteiga com as crianças ao lado da igreja. Porém, havia ficado pouco tempo quando chegou o novo padre.

A casa paroquial era um prédio muito antigo, feito de barrote então em estado precário. O o padre Moreira, pouco tempo depois de sua vinda, fez amizade com meu pai (1), pois eram vizinhos. Não tardou para que fosse feito um contrato para construção de uma casa paroquial nova. Em 1914, isto teve início, com a derrubada da velha casa e a construção da outra.

A nova casa era enorme, com vários dormitórios; no lado do quintal construíram-se muitas arcadas, seguindo-se o sistema romano. Mas eis que surge um imprevisto: faltou dinheiro e o acabamento da casa forçosamente parou, ficando toda a parte externa sem revestimento. Mesmo parando o serviço, restou uma dívida, que o padre teve de saldar aos poucos; aos domingos meu pai recebia pequenas parcelas de dez a quinze mil réis, esmolas dadas durante a missa.

O padre, logo após mudar-se na nova casa, começou a trabalhar em seu quintal; primeiramente ajuntou todos os cargos de telhas e tijolos com as próprias mãos e atirava-os na Rua São José, por cima da taipa. A tarde inteira via-se aqueles cacos amontoarem-se na rua, vindos, um por um, do quintal da casa paroquial. Desta maneira, o padre conseguiu limpar o terreno e plantar; trabalhava arduamente com a enxada e, quando alguém o procurava, só depois de muito bater na porta é que o padre vinha atender, sem a batina e com a calça feita de dois panos diferentes.

No Largo da Matriz existia uma ‘avenida’ ladeada de palmeiras, plantadas quando da construção do largo; essas palmeiras elevavam-se a enormes alturas de mais de vinte metros, e nos dias de vento forte, desprendiam se as folhas grandes, estatelando-se no chão com um tremendo estrondo. À noite, então, a molecada aproveitava as grandes folhas para brincar e arrastavam-nas pelo Largo. O barulho, porém, era ensurdecedor e atormentava os moradores da vizinhança, principalmente uma escola noturna de adultos que havia na esquina. O mestre ficava furioso e saí a correr atrás dos moleques - mas pegar, como? Então, querendo surpreendê-los, escondia-se atrás da porta; mas nem mesmo assim conseguia o seu intento, pois a molecada era esperta por demais.

A fachada da nossa igreja defronte ao Largo era lisa. Onde agora estão as torres havia apenas quatro efeitos de cimento em forma de pião. O sino ficava mais abaixo, na janela ao lado.


IGREJA NOSSA SENHORA DA CANDELÁRIA SEM AS TORRES


No limiar de 1915, veio para cá, a fim de passar uns dias e sua terra natal, um indaiatubano muito rico e católico de nome João Bueno de Camargo. Hospedou-se no Hotel União situado à rua 7 de Setembro. O nosso padre, então, teve a ideia de ir pedir um auxílio para a paróquia. A nobre pessoa inteirou se de tudo que faltava e às suas expensas mandou meu pai construir as torres da igreja; esse serviço muito melhorou a fachada do templo católico que até hoje, desafia o tempo.

Depois, o padre trocou toda todas as imagens dos altares e a imagem de São Benedito foi transferida para a fazenda Cachoeira. Nas paredes da capela-mor colocou enormes quadros pintados a óleo, focalizando cenas sagradas. Construiu os primeiros armários embutidos na sacristia da igreja, aproveitando a grossura da parede de taipa. Ainda mais, em 1919, mandou fazer uma grande reforma na capela-mor, tirando todo o assoalho e degraus de tábuas velhas, trocando-os por degraus de mármore de Carrara e por mosaicos de diversas cores, feitos em São Paulo.

Por ocasião da primeira conflagração mundial, o padre era a favor dos alemães, mas não se manifestava abertamente e nem discutia política. Foi sempre um homem trabalhador e de pouca conversa. Seu passatempo à noite era ir à Farmácia Candelária e lá ficar com vem conversando, até que o sino da cadeia batesse a recolhida, geralmente às 21 horas. Nessa hora, porém, o padre estava recurvado e sentado ao contrário - dormia no encosto da cadeira. Nessa ocasião, o pobre homem já sofria do estômago. Com muito sacrifício, arranjou o dinheiro e, no ano de 1920, partiu para a sua terra natal a fim de fazer uma intervenção cirúrgica. Mas, em meio à viagem veio a falecer sendo sepultado no mar.

 Indaiatuba já tem uma rua dentro denominada Padre Bento Dias Pacheco e não seria demais ter outra com o nome do Padre Francisco Eduardo Paes Moreira." (2)

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No dia 12 de novembro de 2020, após Projeto de Lei apresentado pelo vereador Alexandre Peres, o então Prefeito Nilson Alcides Gaspar sancionou a Lei Municipal 7484 para homenagear o Padre Francisco Eduardo Paes Moreira, que você pode ler aqui.

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Notas de Eliana Belo Silva:

(1) O pai do autor é o italiano Cesare Zoppi, construtor que migrou da Itália para o Brasil no final do século XIX. O texto foi publicado originalmente na Tribuna de Indaiá e, em 1998, foi publicado no livro "Reminiscências de Indaiatuba", de Antônio Zoppi.

(2)  Antônio Zoppi, indaiatubano que nasceu em 23 de outubro de 1904.


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O ESPAÇO DA MORTE: a História de Indaiatuba contada através da análise de seus cemitérios

Quando criança, me lembro de ter participado de procissões. Lembro do caminho, de sair da Matriz e voltar após ter alcançado a altura do cemitério. Lembro também que, até o Cemitério da Candelária, o calçamento era de pedra, e além dele, chão batido. O cemitério da minha memória de criança, marcava o fim da cidade, além dele estava a indústria Villanova e além dela, só mato. 

Em estudo a diversas cidades que tiveram origem no Brasil colônia, poderíamos afirmar que o traçado de suas ruas pode ser descrito por uma procissão, que saía do  largo de uma igreja, pela rua de seu frontispício, que era também a principal da cidade, dirigia-se até o cemitério e voltava, indicando o Centro, a direção de maior desenvolvimento do lugar e o limite da periferia da cidade tradicional.

Que afirmação inquietante, saber que a criação do espaço urbano no Brasil e em especial, minha INDAIATUBA, tenha sido vinculado às tradições religiosas, e que a posição do local destinado aos sepultamentos indicaria, não só um limite de onde a cidade é, mas onde não seria mais destinada ao habitar, mas também a direção na qual se conduz seu crescimento.

 

Com base nesta afirmação, proponho analisar o desenvolvimento de minha cidade, com vista para seis diferentes sítios que foram ou são locais de implantação de cemitérios junto a nossa área urbana, e que trarão panorama dos vetores de crescimento e de suas velocidades, no desenvolvimento de nossa cidade.

O traçado do crescimento urbano visto através dos cemitérios como eixos


O Tenente Pedro Gonçalves Meira, edificou uma capela em suas terras, que teria comprado após enriquecer nos Goyases. Esta capela, dedicada à Nossa Senhora da Conceição dataria do final dos anos 1700, tendo sido curada em 1813, ano da morte de Pedro Gonçalves.  Esta capela se localizava onde hoje é a nave central da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária.  Nesta época, os mortos eram enterrados dentro da igreja (os ricos) ou no seu Largo (os pobres), que era o espaço de convívio localizado defronte ou em anexo. Pedro Gonçalves está enterrado no meio da nave da Igreja da Candelária dentro de onde havia a antiga capela. 

Entre cerca de 1791 até 1839, os sepultamentos eram realizados junto ou dentro da Capela de N. Sra. da Conceição, ou defronte da obra da Igreja da Candelária que literalmente abraçava a primeira capela e já determinava o que viria a ser o futuro Largo da Matriz. Abaixo do atual altar da Candelária, podem estar os primeiros túmulos da 'cidade colonial', pois a porta da antiga Capela da Conceição era voltada para o leito do Córrego de Cocais, invertida da atual posição, e ali era o antigo LARGO da capela original. Em um segundo momento, os sepultamentos seriam realizados na frente da Igreja em obras, atual Praça (que ainda é um Largo) Leonor Barros de Camargo. O último indaiatubano a ser tardiamente enterrado dentro da Candelária foi o Padre Cassimiro da Costa Roriz falecido em 1884, e que ganhou tal honraria por conta da enorme gratidão de toda Indaiatuba por suas décadas de serviço religioso. Registre-se que o ato de enterrar os mortos dentro das igrejas ou dos seus pátios já era tido como uma ação a ser banida, o que aconteceria com a Lei no. 1882 de 13 de agosto de 1908, com o objetivo de promover melhores condições de saúde pública e higiene, refletindo as mudanças nas práticas e conceitos de saneamento e cuidados com os cemitérios.

Em 1839, a atual Igreja da Candelária foi abençoada, e também o Cemitério São Benedito, localizado a pouco mais de 200 metros de distância em direção Nordeste pela Rua da Candelária, aproximadamente na face do quarteirão onde atualmente está o Bradesco (onde foi o Banco Mercantil). O perímetro urbano da cidade do Cemitério São Benedito terminava na Rua Nova, atual Bernardino de Campos onde seria o limite do terreno onde o cemitério era localizado. Outros limites desta cidade eram a Rua da Estrada, atual Rua 13 de Maio, por onde chegava o caminho para São Carlos (primeiro nome de Campinas), a Rua Direita, exatamente a frente do Largo, indicaria o eixo da futura Rua Augusto de Oliveira Camargo; a Oeste a Rua de São José, atual Rua Dom José; e nos fundos da Candelária, chácaras entre as quais, uma fora morada do padre Cassimiro, posteriormente chamada de Casarão Pau Preto.




Em 1868 foi provisionada a benção do Cemitério São José, no local onde atualmente se encontram a agência de Correios e o prédio da antiga prefeitura, atualmente uma loja de calçados. O cemitério foi demolido completamente em 1963, numa empreitada de modernização da Praça Prudente de Morais e que também levou a demolição da Casa de Câmara e Cadeia construída no ano de 1889.  Entre estas ocorrências, o prédio do correio também teria o início de suas obras em 1947 e entregue em 1962, o que ajuda a compreender a complexidade do sítio deste cemitério, e que acaba por proporcionar área que vai receber importantes prédios públicos da cidade em meados do século XX. A praça Prudente de Morais em 1963, duplica sua área, recebe o correio, a fonte luminosa, o novo coreto e o novo prédio da prefeitura, tornando-se importante centro administrativo e de comércio, conhecida posteriormente como Praça dos Bancos.  Este cemitério teve uma vida útil muito reduzida, tendo sido abençoado em 1868 e substituído poucos anos depois, indicando que ocorreu um crescimento não esperado da cidade, que acabou por estabelecer uma expectativa muito mais audaciosa para um novo perímetro urbano. O fato que possivelmente desarticulou as previsões da época, foi a chegada da ferrovia na cidade, em 1873

Em 1899 foi inaugurado o Cemitério de Taipas na Rua da Candelária, que se tornou local oficial de sepultamentos da Igreja Católica, e que reservava espaço de quatro metros em área de fundos para os sepultamentos não abençoados. Este Cemitério foi chamado de Taipas, pois seus muros foram edificados com esta técnica construtiva, semelhante aos muros da Igreja da Candelária e do Casarão Pau Preto. Este novo sítio demarcava não só os limites da cidade, mas a direção de onde acabariam por se instalar nos anos seguintes, as principais indústrias ocupando a região onde hoje é a Rua 24 de Maio e a Rua Humaitá. O Cemitério de Taipas era administrado pela igreja católica, que indicava onde e como as pessoas deveriam ser enterradas. Talvez também em decorrência desta gerência religiosa do espaço, logo foi instalado um cemitério municipal cuidado pela prefeitura. 

Em 1905, foi inaugurado o Cemitério Municipal, do outro lado da Rua Candelária, defronte ao Cemitério de Taipas, chamado de Cemitério de Pedras, devido ao material de construção de seus muros, em folheta de granito.  Fato curioso que, semelhante a cidade fictícia de Sucupira na obra de Jorge Amado, o novo cemitério construído seguia sem uso, até que a prefeitura resolve doar belo túmulo em granito para o primeiro sepultamento que ali ocorresse. A tradição oral conta que a primeira cidadã a ser enterrada lá, então matriarca da Família Barnabé, desdenhara da oferta concedida, na véspera de sua morte, sem saber que seria ela a primeira sorteada.

“Quem haverá de querer um presente desses? ” Teria dito Dona Andriana Barnabé.

Andriana Corne Barnabé, primeira pessoa sepultada no Cemitério de Pedras


Ambos os cemitérios são atualmente conhecidos como Cemitério da Candelária e os fatos acima descritos explicam a razão pela qual a rua passa entre estes dois locais.  Diferente do Cemitério católico de Taipas, todos podiam ser sepultados quase que irrestritamente no Cemitério de Pedras, e isso tem enorme reflexo na arte tumular destes dois locais. Taipas apresenta, em sua maioria, alegorias tumulares que tem fontes na tradição católica, enquanto Pedras é local multicultural, apresentando menções a sepultamentos protestantes, judaicos, de outras culturas, de imigrantes de diferentes localidades e nações. Visitar Taipas e Pedras com a sensibilidade voltada a observar a profusão cultural que formou nossas raízes indaiatubanas é passeio imperdível. Na ocasião da construção destes cemitérios, a área de periferia destinada ao uso industrial da cidade, era a Rua 24 de Maio e a Rua Humaitá, e o principal eixo de desenvolvimento urbano indicava a Nordeste, onde muitos anos depois foram implantadas as Avenidas Keneddy, Tamandaré e Conceição. 

Em 1977 foi idealizado o Cemitério Municipal Parque dos Indaiás, localizado na Alameda Doutor José Cardeal, que determinou uma guinada na direção dos vetores de crescimento da cidade, pela primeira vez a periferia da cidade, marcada pelo local do cemitério, deixa de ser determinada na direção nordeste e vai para sul, acompanhando o crescimento da cidade em direção a outros eixos. Nos anos que se seguiram a construção do Cemitério Parque dos Indaiás os limites da cidade deixam de ser o bairro Santa Cruz, e a linha da ferrovia não mais é impedimento ao crescimento urbano. Tem início a criação da populosa e dinâmica Zona Sul, onde se destacam os bairros da Morada Do Sol, Jardim Califórnia e Conjunto Brigadeiro Faria Lima. O cemitério Parque dos Indaiás, e posteriormente, o Cemitério Memorial em local adjacente, padronizam a construção das sepulturas, com isso finda a existência de arte tumular nos locais de sepultamento, fechando uma era de produção cultural e artística, voltada a construção de sepulturas.

Em 2023 é inaugurado o Cemitério Jardim da Paz, em terreno originalmente pertencente ao Conjunto Habitacional do Parque dos Pássaros, que mais uma vez marca guinada nos vetores de crescimento da cidade, desta vez, em direção à Zona Noroeste, ao Campo Bonito, Sabiá e Veneza. 


Levando em consideração a análise realizada das localizações de nossos cemitérios e o desdobramento de seus sítios, podemos realizar diversas afirmações e criar múltiplas narrativas sobre como se desenvolveu Indaiatuba. 


Podemos dizer que os horizontes de crescimento estabelecidos pelas pessoas que tentaram idealizar planos para o nosso traçado urbano, foram superados em pouquíssimo espaço de tempo. 

Podemos dizer que de quando em quando, a cidade foge das rédeas e se volta para direções alternativas.


Podemos dizer que os cemitérios levaram cerca de 100 anos para sair do Largo da Candelária até o Cemitério da Candelária, e que neste período, percorreram uma distância de apenas 1 (um) quilômetro. 

Podemos dizer que nos 80 anos seguintes, a velocidade dobrou, tendo se deslocado mais 2 quilômetros para outra direção gravitado pela nova Zona Sul.

Podemos dizer que em apenas 40 anos, mais que dobrou novamente sua velocidade, em nova guinada a Norte sendo lançado a 5 quilômetros na direção do Campo Bonito.


Se não fosse o carinho e respeito que temos pelos nossos antepassados, não poderíamos contar com tão impressionante conjunto de pegadas que nos faz vislumbrar o desenvolvimento de nossa cidade. Pois a cidade é dinâmica e expansiva, ao mesmo tempo recicladora e autofágica, escondendo suas marcas, revitalizando-as e transformando-as em novos habitats urbanos, exceto é claro, os espaços reservados à morte onde culturalmente, são livres da ação da modernidade.

sexta-feira, 15 de março de 2024

A Laurinha que comoveu cada um de nós, para sempre em nossas memórias

Texto de Hugo Antoneli

Nascida em Indaiatuba, no dia 27 de setembro de 2018, no Hospital Santa Ignês, a pequena Laura de Melo Silva é considerada um exemplo de luta e superação. Diagnostica com leucemia mieloide M5, em maio de 2019, iniciou sua luta contra o câncer no Hospital Boldrini, em Campinas. Após primeiro ciclo de tratamento, em novembro do mesmo ano, a criança foi considera curada.




Entretanto, em maio de 2020, a doença teve a primeira recidiva. Laurinha iniciou então seu segundo tratamento, mas, com mais três novas recidivas, houve a necessidade de realizar um transplante de medula óssea.



Em dezembro de 2020, após algumas tentativas frustradas de transplante em SP, devido a falta de leito hospitalar no Graac e por não ter o procedimento em hospitais da RMC, a Justiça concedeu a paciente o direito de realizar todo o pré e pós-transplante no Hospital Beneficência Portuguesa, na capital paulista. No dia 15 do mesmo mês, a pequena enfim recebeu sua nova medula, doada por seu pai Jean Martins.

O transplante foi um sucesso e a pega da medula ocorreu no dia 28 do mesmo mês. Devido ao risco de intercorrências, a família precisou se mudar para São Paulo, onde permaneceu por três meses.  



No mesmo dia em que recebeu alta para retornar à Indaiatuba com família (em março), e, apesar da nova medula estar em pleno funcionamento e sem doença, a leucemia acabou retornando, mas dessa vez afetando o sistema nervoso central.

Na mesma semana a pequena foi novamente internada na BP em São Paulo, onde iniciou-se então um novo tratamento, com aplicações de quimioterapia no liquor, além de medicamentos específicos. A doença até foi controlada, mas, em outubro de 2021, acabou retornando ao sistema nervoso central e também na medula óssea, além de infiltrações em regiões nobres do corpo.  




O estado de saúde de Laurinha foi se agravando e, mesmo assim, ela conseguiu passar o Natal e a Virada do Ano junto à família em Indaiatuba. Durante o tratamento, a pequena e seus pais mantinham residência em Indaiatuba, mas passavam longos períodos de internação em Campinas e no último ano, em São Paulo.

Apesar dos desafios, Laurinha sempre encarou a doença com alegria e esperança pela cura definitiva, com determinação ainda para ajudar o próximo. A luta da pequena contra a doença incentivou diversas pessoas em Indaiatuba a doarem sangue e se cadastrarem como doadoras de medula óssea.

E a ajuda ao próximo não parou por aí. 



Por dois anos (2000 e 2021), em seu aniversário, Laurinha e a família realizaram em Indaiatuba o evento “Aniversário Solidário da Laurinha”, sempre no estádio do XV de Novembro, arrecadando fraldas descartáveis para serem doadas às crianças carentes que também lutavam contra o Câncer.

No primeiro ano de evento foram 8.105 mil fraldas e R$ 1,6 mil, que foram destinados ao Hospital Boldrini. No segundo ano, a campanha arrecadou 3,6 mil fraldas e mais R$ 2 mil que foram doados ao IAPC (Instituto de Assistência e Prevenção ao Câncer de Indaiatuba e Região) e à Volacc (Voluntários de Apoio ao Combate ao Câncer).

Após 3 anos e quatro meses de muita luta, dedicação e perseverança, a pequena guerreira descansou no 29 de janeiro de 2022, às 14h55, no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Ela se foi, a profunda tristeza se transforma, aos poucos, em uma saudade que nunca se dissipará. E no meio dessa dor, ficou o exemplo de solidariedade de quem, mesmo lutando pela vida, também ajudou ao próximo.

Obrigada, Laurinha. R.I.P.


Em 13 de maio de 2022, por iniciativa do então vereador Ricardo França, foi sancionada a lei que fez homenagem póstuma à Laurinha, denominando "Rua Laura de Melo Silva" o logradouro do Parque Reserva Santa Maria




Confira os links abaixo:

quinta-feira, 3 de março de 2022

Guilherme Padeti é homenageado como patrono de praça no Distrito Industrial Bartolomai

Por iniciativa do ex-vereador João de Souza Neto - Januba da Banca (legislatura 2017/2020),  a memória do músico, metalúrgico e líder comunitário Guilherme Padeti - que foi laureado em 2007, por iniciativa do então vereador Maurilio Gonçalves Pinto (in memorian) com o título honorífico "Cidadão Indaiatubano" - foi homenageada através da nomeação de uma praça no Distrito Empresarial Bartolomai (veja a lei aqui).


Crédito da imagem: Indaiatubanos.net.br


Quem foi Guilherme Padeti

Nascido em 25/02/1933 na cidade de Regente Feijó Estado de São Paulo, filho de Rafael Padeti e Virginia de Sote. Os pais eram lavradores e criaram oito filhos, sendo cinco homens e três mulheres no sitio da propriedade da família. 

Estudou até a 4a. série em escola pública, tentou fazer o Cientifico (categoria do Ensino Médio, na época) na época, mas como ficava em outra cidade bem distante não pode continuar em função das condições. 

Aos 11 anos de idade perdeu o pai, como os irmãos mais velhos já haviam se casado, começou a ajudar a mãe na lavoura com as irmãs mais novas. 

Foi criado em uma família de músicos, onde o pai tocava acordeão, os irmãos era instrumentistas e cantavam também. Mesmo com a perda do pai, que era o incentivador, os irmãos continuar a tocar até que um deles, junto com Guilherme e um amigo formaram o "Trio Sincero".

O trio se apresentava em parques, circos e festas. Em 1958 chegaram a se apresentar no programa das irmãs Galvão na Rádio Bandeirantes. 

Não vendo futuro na lavoura, resolveu mudar-se para Santo André (SP) começou a fazer cursos profissionalizantes para conseguir entrar no mercado de trabalho. Iniciou sua carreira profissional na indústria automotiva na Wolksvagem do Brasil, onde trabalhou por dois anos; trabalhou também na Vemag do Brasil, posteriormente comprada pela Wolksvagem do Brasil. 

Em dezembro de 1965 casou-se com Amparo Garcia Padeti, tiveram dois filhos, sendo que o mais novo faleceu ainda bebê. Teve dois netos que hoje já estão na universidade. 

Em 1967 começou a trabalhar na Mercedes Benz do Brasil em São Bernardo do Campo (SP) e em 1978 foi transferido para trabalhar na unidade da Mercedes Bens em Campinas (SP), quando então  mudou-se para Indaiatuba.

Inicialmente morou no Jardim Pau Preto; posteriormente em 1979 mudou-se para o bairro Jardim do Sol popularmente conhecido como "Vila das Mercedes". Como se tratava de um bairro novo em formação ainda, muitas famílias com muitas crianças em idade escolar e poucas vagas nas escolas mais próximas ao bairro, começaram-se os contatos com a Secretaria da Educação na época a Sra. Jane para conseguir as vagas necessárias para as crianças. Nesse momento começou sua trajetória e envolvimento com nas necessidades do bairro. 

Em 1981, foi fundada a sociedade amigos de Bairro do Jardim do Sol - SolSol, quando  participou do Conselho Executivo, assumindo como 2° tesoureiro. Nesta ocasião assumiu a responsabilidade junto com sua esposa do transporte escolar das crianças para outras escolas da cidade. Foram 6 anos fazendo este trabalho social. Em conjunto com os outros membros da sociedade, sempre tentando levantar fundos através de festas, quermesses e eventos para começar a construção da sede. 

E julho de 1989, foi eleito presidente da entidade dando continuidade aos trabalhos. Foram realizadas as reformas do salão social, construção do campo de bocha, malha, salão de festas, academia e a construção do ginásio de esportes, esse último, uma das maiores conquistas da entidade idealizado por ele. 

Havia uma quadra descoberta e surgiu a ideia de ter um ginásio para proporcionar maior conforto e segurança aos frequentadores, bem como incentivar e enriquecer o esporte amador de Indaiatuba. As obras começaram por volta de 1994, e devido ao auto custo, levou cerca de oito anos para sua conclusão, com a sociedade angariando fundos através de seus eventos. 

A inauguração deste sonho foi no dia 20 de outubro de 2002. Paralelamente as atividades da sociedade foi muito atuante junto a prefeitura, buscando melhorias para o bairro. 

Ajudava outras entidades filantrópicas disponibilizando o espaço da sociedade para organização de eventos a fim de arrecadarem fundos. Sempre foi uma pessoa voltada a família, correta, participava e preocupada com o bem-estar das pessoas sempre buscando ajudá-las.

Em função de problemas de saúde, sua participação foi se restringindo, embora ele sempre acompanhasse a Organização. Seu objetivo era finalizar seu último mandato como presidente que se encerraria em junho de 2019 e somente atuar como Conselheiro, mas infelizmente não conseguiu concluir, vindo a falecer em 07/04/2019.


Espaço de lazer está localizado entre Distrito Bartolomai e Jardim do Sol


A praça Guilherme Padeti, localizada no Distrito Empresarial Bartolomai, teve a cerimônia de inauguração comandada pelo prefeito Nilson Gaspar na noite de sexta-feira (04/03/2022) e contou com a presença de autoridades municipais. A data foi marcada por homenagens à família do ex-presidente da Sociedade Amigos de Bairro do Jardim do Sol, a Sol-Sol, que dá nome à praça, e também ao morador Heriberto Antônio de Carvalho, que ajuda a manter o espaço de lazer.

A praça Guilherme Padeti é composta por um playground, equipamentos de aquecimento para atividades físicas, meia quadra de basquete, paisagismo e calçamento.

Em seu discurso, Gaspar ressaltou o trabalho comunitário feito por Guilherme Padeti. “O seu Guilherme usava o cargo na Sol-Sol para buscar melhorias para o bairro e beneficiar os moradores aqui do Jardim do Sol. Vamos continuar trabalhando por essa região com novos projetos em prol da comunidade local”, ressaltou. “Daqui a uns trinta dias devemos dar a Ordem de Serviços para a construção de uma unidade de Saúde no Jardim Umuarama, que também vai beneficiar essa região. Vamos colocar na nossa programação de trabalho a iluminação com lâmpadas por LED toda essa região, incluindo o Jardim Umuarama, Jardim do Sol, Bartolomai e Jardim Flórida. Também vamos revitalizar a praça Dirce Grama”, anunciou o prefeito.

Entre as autoridades que prestigiaram o evento de inauguração estavam o presidente da Câmara Municipal de Indaiatuba, vereador Pepo Lepinsk, e os vereadores Silene Carvalini; Alexandre Peres; Décio Rocha da Silva; professor Sérgio José Teixeira; Wilson José dos Santos, o Índio da Doze, e Arthur Spíndola. Secretários municipais e o delegado titular da Polícia Civil, Dr. Luís Fernando Dias de Oliveira também estiveram presentes.





 

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Veterano indaiatubano da Guerra do Paraguai

Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado entre países da América do Sul. 

Na segunda metade do século XIX, Brasil, Argentina, Uruguai, que juntos formaram a Tríplice Aliança, se uniram contra o Paraguai em um embate longo e sangrento, que durou entre 1864 e 1870 e que trouxe prejuízos e perdas para todos, mas principalmente para o Paraguai, que foi devastado. Estima-se que aproximadamente 80% da população masculina foi dizimada e o que restou eram idosos, crianças e mutilados de guerra.

No Brasil, até a metade do século passado, a descrição da guerra dava ênfase ao heroísmo nacional, sendo descrita como uma sucessão de feitos e fatos militares com excessiva dose de ufanismo. Por esse motivo, diversas ruas de Indaiatuba e de outras cidades foram nomeadas com nomes das diferentes batalhas dessa guerra, como por exemplo as ruas 11 de junho, 24 de Maio, Tuiuti, Humaitá e Itororó.

Também por isso, muitos dos que entraram no conflito passaram a compor a construção da imagem dos militares como heróis, salvadores e/ou defensores da pátria, corajosos e honestos que perdurou e se intensificou durante a República Velha, só sendo abalada após 1964.

Nessa perspectiva,  vemos um indaiatubano sendo homenageado como veterano da Guerra do Paraguai.

Trata-se do cabo de esquadra Benedicto Gomes da Silva nascido em Indaiatuba em 1842, que você pode conferir na imagem (sentado, à direita) e reportagem abaixo, publicada pelo jornal “O Commércio de São Paulo” do dia 16 de novembro de 1909.






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