quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Série Assinaturas: José Ferraz de Almeida Junior

                                                                                                 Anicleide Zequini (setembro de 2015)


Assinatura de Almeida Junior, em 1879




Através desta Série Assinaturas passo  a resgatar, nos documentos de Arquivo, os moradores que participaram da construção de nossa História.


A leitura dos antigos documentos dos séculos 18 e 19 nos transportam para outros tempos, outros cotidianos e ao conhecimento dos moradores de uma localidade que, deixaram através de sua escrita, as marcas materiais de sua História.

Muitos deles eram  letrados e puderam nos deixar seus artigos, livros, poesias, pinturas, partituras e  até mesmo fotografias, mas que não era a regra naquela  sociedade formada por poucos alfabetizados e, onde a grande maioria apenas desenhavam as suas assinaturas.

Desta vez, apresento  a Assinatura de José Ferraz de Almeida Junior.

José Ferraz de Almeida Junior nasceu em Itu no ano de 1850 e faleceu em Piracicaba em 1899. A análise de sua obra mereceu inúmeros trabalhos acadêmicos e sua biografia foi amplamente divulgada. Contudo, alguns aspectos de sua vida ainda permanecem guardados.

Aqui trazemos a sua assinatura, registrada em uma carta enviada de Paris, em 18 de maio de 1879 ao Padre Miguel Correa Pacheco da Matriz de Itu.

Almeida Junior viveu em Paris entre os anos de 1872-1886 estudando na École National Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes], sendo aluno de Alexandre Cabanel (1823 – 1889).

A correspondência diz respeito a visita que Almeida Junior havia feito, a pedido do padre Miguel, as dependências da fábrica do Sr. Cavaillé-Coll [Aristide Cavaillé-Coll (1811-1899)] para a compra de um órgão, à Matriz de Itu.

Este órgão, que se encontra na Matriz de Nossa Senhora da Candelária da cidade de Itu, foi adquirido no ano de 1883 tendo como intermediador o então primo do Padre Correa Pacheco João Tibiriçá Piratininga.

 Quanto a biografia de Almeida Junior, transcrevo a notícia de seu falecimento, publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, em 14  novembro de 1899...

 

 " É  tristíssimo a noticia que nos trouxeram ontem os dois telegramas de Piracicaba , que são publicados na secção competente: Almeida Junior, nosso festejado pintor , Almeida Junior, um dos vultos culminantes da vida brasileira, Almeida Junior, que ainda há dois ou três dias, cheio de vida e saúde, trabalhava com ardor no seu conhecido atelier da rua da Gloria, Almeida Junior foi assassinado a facadas, num hotel de Piracicaba. É sempre comovente a morte de um homem deste valor, mas o abalo que a notícia desta morte  produz é excepcionalmente doloroso..... Está a gente a imaginar que o artista está ali , a dois passos de nós, no seu recanto silencioso, a desenhar uma paisagem , que o encantou, a corrigir amorosamente os contornos de uma figura, que o seduziu, e, do repente, estala como um raio esta desilusão atros: Almeida Junior, está morto, morreu a facadas num hotel de Piracicaba. Não pode haver nada mais estúpido e mais brutal e só com muita dificuldade se nos afaz o espírito a tão pungente Idea.

 

Os telegramas de Piracicaba chegaram a esta capital as seis horas da tarde e, como é natural, começaram logo a correr os mais desencontrados boatos a respeito do trágico acontecimento que eles nos anunciaram.

Não sabemos nem procuramos saber que fundamentos esses boatos tinha. Parece-nos somente bem averiguado que Almeida Junior era próximo parente e amigo intimo de Almeida Sampaio. Disseram-nos que um filho deste, um menino, morara aqui com o nosso laureado artista e que Almeida Junior partira para Piracicaba exatamente para acompanhar o seu hospede até a casa de seus pais. Almeida Junior era a delicadeza em pessoa, e os que conheceram Almeida Sampaio, afirmam que ele é homem de bons costumes e de gênio brando. Que haveria, pois, para que esta leal amizade tão cruelmente se rompesse?

Di-lo ão as justiças  de Piracicaba. A nós cumpre-nos apenas lamentar a perda prematura do ilustre artista que foi Almeida Junior.

Era um modesto, era quase um tímido, mas não há, entre os pintores brasileiros, nenhum que lhe leve a palma. Havia, sob aquela aparência desprimorada de caipira descuidado, a chama ardente de uma alta inspiração e um gosto apuradíssimo. No desenho era um mestre. Estudava com especial carinho e reproduzia com rigorosíssima verdade a paisagem do nosso Estado e as figuras dos caboclos do  nosso sertão. A Paisagem da partida da Monção é magnífica. As figuras dos Caipiras negaceando são verdadeiramente magistrais.

Nasceu em Itu e deveria ter quarenta e poucos anos. De família paupérrima, estudou em Paris à custa do Imperador. Foi discípulo de Cabanel  e dos discípulos prediletos do grande mestre de pintores.

Em Paris expôs no Salon algumas telas, entre as quais o Repouso do Modelo, que mereceu elogios do exigente Alberto Wolff, que então fazia critica no Figaro. Foi também em Paris que compôs a Fuga para o Egito, que tão calorosa admiração provocou de Ramalho Ortigão, quando, há anos o notável critico português esteve no Brasil.

É exato que também muita coisa medíocre na vasta obra do Almeida Junior. Dos seus retratos, por exemplo, poucos são dignos de atenção.

A culpa, porém, não era do pintor. A culpa era do meio em que ele vivia. Como se pode fazer arte no Brasil só por amos da arte? Morre de fome o artista que não transigir com o mau gosto do nosso publico. Almeida Junior assim o compreendeu, e, como outros, mercantilizou  as vezes o seu invejável talento. Mas, à parte o que era puramente comercio, ainda nos fica de Almeida Junior muita arte excelente – e o seu nome é de pleno direito, o de uma gloria paulista ". 

_________________________

Para saber mais sobre os órgãos de Aristide Cavaillé-Coll ver:

- Kerr. Dorotéa. Catálogo de órgãos da cidade de São Paulo. São Paulo: Annablume: Hosmil: Fapesp, 2001. 318p.

- Aristide CAVAILLÉ-COLL (1811-1899)ou itinéraire d'une entreprise à travers Paris. Disponível em: http://www.musimem.com/cavaille-coll.htm.

Matriz Nossa Senhora da Candelária - 1839 - PLANTA ORIGINAL



O catolicismo era a religião oficial do Império do Brasil, isto fazia com que construção de igrejas, vencimentos do clero – a côngrua –, entre outros, fossem assuntos a serem tratados pelo Poder Legislativo, tanto no âmbito nacional, como no provincial.

Um conjunto de documentos encaminhado ao Legislativo Paulista pela Câmara Municipal de Itu, em 12 de Janeiro de 1839, acompanhava a solicitação de recursos para a conclusão da Igreja Matriz da então Freguesia de Indaiatuba. 


(Veja o recorte do jornal A Phenix abaixo, de 23 de fevereiro de 1839, da Hemeroteca da Biblioteca Nacional)




 

Uma planta e uma representação do Vigário Encomendado de Indaiatuba, Pedro Dias Paes Leme, datada de 17 de Novembro de 1838, embasavam o pedido de recursos da ordem de seis contos de réis para a construção do corpo da Igreja, cujo altar-mor já se encontrava concluído. 

A planta da igreja Matriz de Indaiatuba referenciada neste post está no acervo virtual da Exposição 'INTERIOR PAULISTA" do site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.


(ao utilizar a imagem para a sua pesquisa, cite corretamente a fonte utilizada)





terça-feira, 29 de setembro de 2015

A História de Indaiatuba na sala de aula

O Passeios da Memória é um projeto estabelecido entre a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e a Secretaria Municipal de Educação desde 2011, que atende todos os alunos do 4º ano da Rede Municipal de Ensino de Indaiatuba.
Como o nome já diz, trata-se de  um passeio. 

Mas conceitualmente é muito mais do que isso. É um roteiro histórico cultural que começa no Centro de Convenções Aydil Pinesi Bonachella e contempla o Hospital Augusto de Oliveira Camargo, Praça Rui Barbosa, Câmara Municipal, Parque Ecológico, Paço Municipal, Chafariz, Shopping Jaraguá (Antigo Cotonifício), Praça Dom Pedro II, Praça Prudente de Moraes, Casarão Cultural Pau Preto, Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária e Museu Ferroviário. 
Em cada local do roteiro os alunos recebem informações a respeito da História de Indaiatuba através de estudo do meio, identificando, em cada local, a busca da população em prol de melhores condições de vida (por moradia, saneamento básico, coleta de lixo, serviços de água e energia elétrica, transporte, áreas verdes, lazer, qualidade das águas dos rios e do ar).
A História de Indaiatuba faz parte do componente curricular desta série. O objetivo é que os alunos possam refletir sobre relações entre histórias vividas, histórias coletivas, história local, história do Brasil, lugares e tempo cronológico, discutindo sobre as semelhanças e diferenças entre a história local e a história do Brasil.
Durante o passeio, os monitores da Secretaria de Educação  explicam aos alunos a história de cada local visitado, comentando também sobre a história do município.


Nas imagens você vê os alunos do 4o. ano D da da EMEB João Batista de Macedo
Rede Municipal de Ensino de Indaiatuba
alunos da educadora Juliana Batista de Andrade Garcia
 em 21 de setembro de 2015
conduzidos pela monitora do projeto, a educadora  Maria Angela Escodro, 
que acompanha as turmas pelos locais visitados.



 No Museu Ferroviário de Indaiatuba, os alunos fazem a visita monitorada também pelo responsável pelo museu, José Henrique Dércole, que também fala sobre a 
Locomotiva número 10 da Sorocabana (que foi a número 1 da Ytuana)



Não é só as escolas municipais que estão envolvidas em tarefas pedagógicas cujo foco é a valorização da história, memória e patrimônio de Indaiatuba. Neste sábado p.p., dia 27 de setembro, a Escola Estadual Antônio de Pádua Prado promoveu a Festa da Primavera, onde foram expostas maquetes produzidas por alunos do 7o. ano. "Pela dificuldade que tínhamos com o transporte, optamos por pesquisar pela internet. Os alunos elegeram locais relevantes, que foram estudados e depois foram representados em maquetes apresentados na festa", informou a professora Daniela Perroni Nicoletti, que trabalhou o tema junto com a professora de português da mesma série, de maneira interdisciplinar.






Museu do Casarão Pau-Preto e
Igreja Nossa Senhora da Candelária 
em maquetes executadas pelos alunos do 
7o. ano da Escola Estadual Antônio de Pádua Prado.


ESCOLA DO PATRIMONIO

Fundação Pró-Memória e a Unicamp, por meio do projeto Escola do Patrimôniocomeçou a disponibilizar desde 2014 oficinas gratuitas que tratam da questão do Patrimônio, História e Memória. 
Durante o ano de 2015, o foco tem sido atrair profissionais da área da Educação. Com isso, já foram atendidos professores da Rede Estadual com intenso apoio da Secretaria de Educação e com a Diretoria Regional de Ensino de Capivari, que convocam os professores para as oficinas. Coordenadores, professores e monitores das creches da Rede Municipal de Ensino também têm participado das oficinas, que são planejadas de modo a apresentar conteúdo teórico e prático sobre os temas abordados
A próxima oficina já está com as inscrições abertas e será sobre Atividades Educacionais no Ambiente Rural.


E você, tem projetos de seus alunos
 relacionados à História, Memória e Patrimônio de Indaiatuba para divulgar?

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Randolfo Moreira Fernandes

                                                                                  Coluna Semanal IDENTIDADE INDAIATUBANA

Jornal Exemplo

Eliana Belo Silva

25.09.2015

Randolpho Moreira Fernandes

Por Randolfo (grafia atual, mas não original - que é Randolpho) Moreira Fernandes conhecemos a escola que formou muitos indaiatubanos, e também o prédio onde atualmente está o Centro Cultural Vanderley Peres, mesmo a Escola não estando mais ali. Mas a biografia daquele que é patrono desta escola, poucos conhecem.


Randolpho foi o primeiro educador diplomado a lecionar em nosso município; todos antes dele eram leigos - que davam aulas sem a devida formação específica - condição comum na época, mesmo porque o diploma não era exigido. Por esse fator de diferenciação, foi escolhido para ser o patrono do então imponente novo prédio construído para ser o Grupo Escolar de nossa cidade, através de um decreto de 21 de abril de 1932.


Randolpho nasceu no Estado do Rio de Janeiro, no município de Barra Mansa no dia 23 de dezembro de 1856, filho do Capitão João Moreira Fernandes e de D. Cândida Rosa do Nascimento. Talvez por conta da vontade ou influência da família relativamente abastada, pensou em estudar medicina, mas logo percebeu que não tinha vocação para essa carreira e foi ingressar na tradicional Escola Militar, tendo sido Cadete do Império e até conquistando a amizade de D. Pedro II.


Ali também não encontrou vocação e após também tentar a carreira religiosa, decidiu ser professor. (Bom, talvez não tenha sido tantos fatores de indecisão, afinal - porque não? Quase todo professor é um pouco médico, um pouco militar, um pouco padre e um pouco de outras funções também). O fato é que Randolpho fundou um colégio na cidade de Queluz,  ainda no Estado do Rio de Janeiro.


Consta que se formou professor normalista com 19 anos pela Escola Normal Caetano de Campos, em São Paulo. Logo em seguida veio para Indaiatuba, onde assumiu o cargo público de “Aferidor da Câmara Municipal”, sendo responsável pela conformidade de pesos e medidas do nosso município, uma espécie de INMETRO (em pessoa física) da esfera municipal do século 19. Também foi nomeado “professor das primeiras letras para o sexo masculino” na cadeira da então Vila de Indaiatuba.


Com 28 anos, uma indaiatubana lançou de vez o coração do mestre Randolpho e em 30 de agosto de 1884 casou-se com ela: Vitalina Augusta de Cerqueira. Tinham três filhos: Benedito Randolfo Fernandes, Cyrene da Conceição Fernandes e Deuzalina Fernandes.


Além de lecionar em Indaiatuba, Randolpho professou sua sabedoria em outras cidades: Bragança, Bom Jesus do Buquira, Freguesia de Cruzeiro, Piracicaba, Sorocamirim, Cotia, Caçapava e finalmente Tremembé do Norte, onde faleceu com 49 anos, no dia 4 e outubro de 1905, sendo sepultado em São Paulo, capital.



A Escola Randolfo Moreira Fernandes funcionou no prédio da praça D. Pedro II até o ano 2000, quando, mesmo sobre os protestos das principais partes interessadas, professores, funcionários, alunos matriculados e antigos e familiares foi compulsoriamente transferida para um prédio construído originalmente para ser uma maternidade, na rua Alberto Santos Dumont, onde já havia funcionado a Escola Hélio Cerqueira Leite e a FIEC. Ficou ali até 2006, quando novamente foi transferido para o Jardim Alice, onde está até agora.


Ali tornou-se o Centro Cultural Vanderley Peres, que cumpre a nobre função de ser sede da Secretaria da Cultura e desenvolver várias tarefas de múltiplos saberes. Mas para aqueles que passam por ali e olham para o prédio, a memória logo remete ao Randolfo-escola, prédio, aliás, que precisa ser conservado à risca da forma original que foi construído.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Corporação Musical Santo Antônio


"Um grupo de senhores de nossa cidade, grandes aficcionados pela música instrumental, uniram suas forças e criaram a Corporação Musical Santo Antonio". Essa foi a noticia dada com muita alegria pelo jornal Tribuna de Indaiá no dia 23 de maio de 1976.

Os dignos senhores foram: Waldemar Bérgamo, José Fanger, Francisco Garcia, José Paulino, José Rodrigues, Benedito Bértoli e Gilberto Pinto. A  estes iniciadores juntaram-se também os senhores Sivaldo José Bértoli e João Rosa, este último oferecendo a sede gratuitamente na rua 5 de julho 1542, onde os ensaios eram realizados semanalmente, todas as sextas-feiras.

A banda sempre foi citada em eventos registrados por cronistas, memorialistas e historiadores que até agora se encorajaram a escrever sobre a História local. Rubens de Campos Penteado descreve a formação de uma delas no ano de 1916, quando nela tocava o grande clarinetista Nabor Pires Camargo e seus irmãos. Até uma foto belíssima dessa formação existe no arquivo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, guardada com esmero. O cronista Ejotaele, que descreve Indaiatuba das primeiras décadas do século XX, conta da Bandinha do Dunga e da que a precedeu, a Corporação Musical Lira Indaiatubana, esta última também retratada pelo pesquisador Nilson Cardoso de Carvalho.

Consta que na data a Corporação Musical Santo Antônio foi composta pelos seguintes músicos: Waldemar Bérgamo (presidente),  José Rodrigues (Maestro), Francisco Garcia, Moacir Meneses, Benedito Bértoli, Odair Bértoli, José Donofre, Irineu Baggi, Vergilio Solis, José Fanger, Geraldo Caldeira, José de Almeida, Decilio G. Frohm, João Rodrigues, Geraldo Pavan, Antônio de Almeida, Carlinhos e Dorival de Campos.

É de suma importância uma Corporação Musical para a cidade - registrou a edição do citado jornal - e a vida dela depende da colaboração de cada munícipe. Tanto é verdade que os próprios músicos, através de seu presidente, apelam para todos que gostam de participar de bandas, como músicos ou apenas colaboradores, que já existiram em Indaiatuba, se manifestem à Corporação Musical Santo Antônio que serão recebidos de braços abertos.

Podemos concluir pelo conteúdo da reportagem que além de convocar músicos voluntários para aumentar a quantidade de talentos na banda, ela já nascia sob a regência da boa-vontade e às custas da vaquinha dos simpatizantes, pois política pública para mantê-la não havia. Já foi arregimentada precisando de mecenas, mesmo que fossem estes seus próprios componentes.


Vamos, portanto, dar todo nosso apoio à BANDA, convocava à Tribuna, solidária ao pedido. E completava: ... ela traz, em si, o espírito vivo de civismo (palavra tão em moda em plena ditadura militar), alegria contagiante e a reaproximação dos homens às suas tradições.

Não deixemos morrer, mais uma vez, a BANDA em nossa cidade! Ela se reergueu para ser eterna. Vamos acolhê-la com carinho... incentivava mais ainda a Tribuna (!). Os tempos editoriais eram realmente "outros tempos". Analisando os jornais da década*, vê-se a obscuridade com  que o nefasto regime implementado com um golpe militar era tratado. Ao mesmo tempo dessa incômoda escuridão, dessa ausência que hoje afeta quem olha para o passado, podíamos testemunhar rompantes como esse em que, o redator (que no caso não assinou o artigo) podia dar sua opinião de forma visceral, comemorando, aclamando pela "volta ao passado", demonstrando sem disfarce que era um conhecedor da história de nossa Indaiatuba. Ele brada ajuda elegantemente e isso o conforta pois pode recuperar, para ele, uma época perdida; ele não disfarça a nostalgia.

Acho falta de reconhecer o escritor em um texto. Hoje a impessoalidade tornou-se procedimento e, como disse minha mestra Mônica Kimura no curso de quarta-feira passada, muitas vezes as notícias são i-gua -iiii-ziiii-nhas; só se muda a data, local e nome do sujeito (isso quando esse não é ocultado).

Mas voltemos à ressoante Santo Antônio.

A profecia não se concretizou e a banda se desmantelou; não se eternizou como quisera o emocionado jornalista. Em 1979, portanto três anos depois, nascia a Corporação Musical Villa-Lobos que já passou por altos e baixos e desde 1994 está sob regência de Samuel Nascimento de Lima, atualmente sob apadrinhamento cultural de Wladimir Soares.

Que desta vez a profecia se cumpra!


Imagem da Corporação Musical Santo Antônio
Crédito: Tribuna de Indaiá de 23/05/76
(cite a fonte ao usar textos e imagens em suas pesquisas)


* Edição do Jornal da Tribuna de Indaiá da Hemeroteca do Arquivo Público "Nilson Cardoso de Carvalho" da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Escola do Patrimônio no Casarão - Próxima Oficina: ATIVIDADES EDUCACIONAIS NO AMBIENTE RURAL


INSCRIÇÕES ABERTAS

Oficina ministrada pela Profª Doutoranda Lívia Lima
Em parceria com a UNICAMP - GRATUITA - Com direito à certificado
Data: 03 e 24 de outubro de 2015 (sábados)
Horário: 9h às 12h – 14h às 17h
Local: Rua Pedro Gonçalves, 477 – Jardim Pau Preto – Indaiatuba/SP (Casarão Pau Preto)
  • Ementa: As atividades educacionais no Ambiente Rural possibilitam um exercício de sensibilização para a valorização dos espaços rurais no tempo presente. Esta oficina tem como objetivo proporcionar aos docentes da rede pública municipal, conhecimentos atualizados sobre Educação e os âmbitos da educação no ambiente rural, como a educação não formal, a educação patrimonial e o turismo, os conceitos que norteiam os fundamentos e aplicações, proporcionando subsídios para o entendimento das dinâmicas no espaço rural. Para o alcance do objetivo será apresentada a metodologia da História Oral e a intersecção da memória com a vida social e o tempo presente.
  • Temas: Histórico da educação não formal e educação patrimonial. Introdução à metodologia qualitativa da História Oral. Aplicações das atividades turístico-culturais em espaços rurais.

Atividade Prática: Trabalho em campo para a aplicação das atividades educacionais não formais no ambiente rural.

Help Casarão - Tempo Real - 22/09/2015 10:35






Estas fotos foram tiradas neste exato momento na frente do Casarão Pau-Preto, patrimônio tombado de nossa cidade, que foi caprichosamente restaurado no ano passado, após quase ir para o chão, após rompimento de uma adutora do SAAE.

O Casarão Pau Preto é atualmente a sede da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e abriga um Museu bastante querido pela população, uma vez que diferente de muitos outros, foi "reinvindicado" e não foi imposto por uma classe ou grupo. 

Ele surgiu para a atual função em paralelo a implementação da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e abriga, junto com a Matriz Nossa Senhora da Candelária, a Casa Número 1, o Busto de Dom José, a Estação Ferroviária com a Locomotiva número 10 e o prédio e jardim do HAOC o chamado "Centro Histórico de Indaiatuba".

Por ter sido construído com técnicas de taipa e ter sobrevivido ao tempo e a especulação imobiliária, ele é referência arqueológica, artística, arquitetônica, histórica. Também é referência sentimental, emocional, de beleza, de estética e está presente na memória de várias gerações de indaiatubanos que lembram de lugar como biblioteca, teatro, jongo, escoteirismo, contação de histórias, teatros, exposições, saraus, música, dança, cursos, informática, oficinas e tantas e outras tantas memórias relacionadas há vários saberes que já são seculares.

Na manhã de hoje novamente ele esteve em risco. Risco que não pode estar exposto.

O abalo de sua frágil estrutura não coloca em risco apenas suas paredes de taipa com as vibrações. Coloca em risco todos as memórias e histórias que ali se concretizaram e que vão e vem, a cada dia, no coração e mente de cada visitante, de cada pessoa que por ali ficou, que por ali passa.

Ele nos pertence, e sendo meu e sendo meu, não ruirá.

Enquanto for meu e nosso, nenhum caminhão ficará balançando ali na frente, ameaçando suas estruturas, meu coração, nosso coração, minha memória, nossas memórias e grande parte do que é a identidade de nossa cidade.

Não desistiremos nunca de você, querido Casarão, nem que para isso, como hoje, os funcionários tenham que levantar de suas cadeiras e ir lá. inclusive, novamente, o Superintendente da Fundação Pró-Memória ser destratado - de novo - pela iniciativa privada - ao tentar defender o que é nosso. 

Como diz o pop Papa Francisco, o Casarão é nossa casa comum.


Pós-escrito (1) - 22/09/2015 14:21 - A Construtora assumiu que vai executar o serviço necessário para o encaminhamento da obra mantendo o veículo em zona minimante distante do local proibido, no qual não coloque o Casarão em risco e ao mesmo tempo possa executar o processo, Assumiu ainda fazer um Estudo de Impacto (na verdade está sendo feito nesse momento) no qual assume qualquer consequência de possível impacto que possa ser causado ao patrimônio, como já vem sendo feito. 

Pós-escrito (2) - 22/09/2015 16:32 - Acompanhamos em campo o processo. Há uma bobcat pequena fazendo a retirada e o caminhão com terra dá a ré, sem passar pela frente da rua do Casarão.


UM POUCO DE TEORIA

A restrição à passagem de caminhões na rua em frente ao Casarão teve início no ano passado, após o restauro que aconteceu quando uma adutora do SAAE rompeu-se causando graves danos à centenária construção feita com a técnica de taipa de pilão. 

Na ocasião o sonho dos preservacionistas era fechar a rua de uma vez por todas, fazendo um passeio no entorno de toda a Matriz. Mas já era tarde, dois prédios já estavam sendo construídos, um em cada esquina e isso seria impossível. A solução foi reduzir a largura da rua e impedir a passagem de caminhões.

A discussão sobre o impacto e os caminhões causam em patrimônios históricos edificados é antiga no mundo, mas no Brasil ela tomou voz principalmente a partir da década de 1990 na cidade de Ouro Preto. Ali, foi tomado como base principalmente dois estudos: o primeiro, mas antigo, feito pela Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT) e de outro, mais recente (2008), financiado pelo Programa Monumento Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, vinculado ao Ministério da Cultura, ambos apontando efeito negativo do impacto causado pelo trânsito de veículos pesados em prédios históricos.

Neste link você pode ler um pouco mais sobre ANÁLISE DO RISCO DE DANOS POR VIBRAÇÃO MECÂNICA NOS MONUMENTOS.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Almeida Júnior - Cenas do Cotidiano de Indaiatuba no século XIX

                                                 IDENTIDADE INDAIATUBANA - Coluna semanal do Jornal Exemplo

Eliana Belo Silva

18.09.2015

Almeida Júnior 

Cenas do Cotidiano de Indaiatuba no século XIX

Almeida Júnior é um reconhecido artista brasileiro que nasceu em Itu em 8 de maio de 1850 e faleceu em Piracicaba no dia 13 de dezembro de 1899, em frente ao Hotel Central de Piracicaba, assassinado pelo seu primo José de Almeida, ao descobrir que estava sendo traído pela sua esposa, a belíssima indaiatubana Maria Laura do Amaral Gurgel, filha de fazendeiro cafeicultor, com quem o artista mantinha um romance.


Atualmente grande arte de suas  obras – mais de 40 - estão na Pinacoteca do Estado de São Paulo, muitas delas transferidas do Museu Republicano de Itu. Se nome completo era José de Ferraz de Almeida Júnior.


Arte inovadora


Almeida Júnior é aclamado com unanimidade por seus biógrafos oficiais por ser o primeiro artista a criar, manter e dar irreparável foco à abordagem regionalista em suas obras. Até então, nenhum artista havia levado às grandes produções artísticas, produzidas com a grandeza de seu talento a temática do mundo cotidiano, incluindo o universo do chamando homem caipira. E ele o fez com maestria e grande sensibilidade, criando uma tendência que passou a ser aclamada. 


Cenas do cotidiano de Indaiatuba


O mais impactante para a história e memória de nossa cidade é saber que foi referência para seu olhar inovador. Paisagens simples, retratos de pessoas anônimas e fidedignidade ao cotidiano do cidadão comum foram inspiradas na Indaiatuba da segunda metade do século XIX, como por exemplo a obra Amolação Interrompida onde o indaiatubano Bento Roque serviu como modelo em tela de 1894:





Fonte: Site do Acervo da Pinacoteca do Estado




Segundo Antonio Reginaldo Geiss, Almeida Júnior frequentava a casa de sua bisavó materna aqui em Indaiatuba, tendo sido, inclusive, padrinho de casamento de sua avó. Na memória oral familiar de sua família, consta que outro quadro do reconhecido artista também foi feito com indaiatubanos em seu cotidiano: trata-se da obra "O Violeiro", pintada no mesmo ano da morte do artista aos 49 anos de idade e que teve o casal Galdino Chagas e sua esposa Francisca como modelos em 1899.



Fonte: Site do Acervo da Pinacoteca do Estado



TEATRO


Hoje, sexta-feira dia 18 de setembro às 20h no Casarão Pau Preto, a Fundação Pró-Memória e Yara Produções de Itu estarão apresentando a peça “As Sete Artes por Almeida Junior”.


Entrada Franca, todos estão convidados a conhecer mais sobre esse importante artista.


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Professora Nhá Chica Thebas

Professora Nhá Chica Thebas é apontada por vários cronistas e memorialistas como tendo sido a primeira professora de Indaiatuba, mas não foi. 

Ela ganhou essa "fama" pois foi a primeira a ser "registrada" por cronistas e memorialistas, provavelmente por alunos dela ou pessoas que ouviram falar dela como 'Fernão Dias' (veja crônica abaixo).


APONTAMENTOS OFICIAIS E ACADEMICOS

No jornal O Commercio de São Paulo do dia 11 de novembro de 1893 ela é citada oficialmente como professora de nossa cidade, quando então precisou afastar-se por doença, sendo substituída pela professora Francisca Philomena de Toledo:



Em sua tese de mestrado a pesquisadora Silvane Rodrigues Leite Alves aponta que o primeiro registro de existência de um professor de primeiras letras na então Vila de Indaiatuba, foi no ano de 1854, justamente no ano em que através da Lei nº 1331 A, estabeleceu-se o Regulamento da Instrução Pública Primária e Secundária no município da Corte. Esse Regulamento delimitava o público alvo do ensino primário e secundário. O acesso às escolas, criadas pelo Ministério do Império, era “... franqueado à população livre e vacinada, não portadora de moléstias contagiosas. Os escravos eram expressamente proibidos de matricularem-se nas escolas públicas”


O Regulamento estabelecia ainda a obrigatoriedade do ensino primário aos alunos cuja faixa etária – impreterivelmente entre 5 e 14 anos – era permitido o acesso às escolas primárias, estabelecendo multas aos responsáveis por crianças que nesta faixa de idade não recebessem instrução pública.


Nesse cenário, aponta a historiadora que, após 24 anos de sua fundação, nesse citado ano de 1854, Indaiatuba não tinha propriamente uma "escola", mas sim um professor de primeiras letras que se chamava Antonio Leite de Carvalho


Já com a elevação da  Freguesia à categoria de Vila, em 1859, a primeira "escola" que consta ter sido apenas masculina, foi provida e mantida pelo governo da província. E o professor era  Pedro Antunes da Silva


As pesquisas de historiadora Silvane apontam que a famosa professora Nhá Thebas veio para Indaiatuba somente em 5 de fevereiro de 1884, removida do bairro de Itatuva, município de Faxina. Posteriormente, em 14 de maio de 1884, ela assumiu a 1ª cadeira feminina da Vila permanecendo até 1893, quando veio a falecer, em 5 de dezembro de 1893.


Em um documento do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho”, da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, há a relação de alunas da Escola Pública de Dona Francisca Ferraz de Camargo Thebas dos anos de 1893-1894. Como já dito, era uma classe só de meninas, 58 no total. A lista de chamada nos mostra desafios pedagógicos interessantes que a professora tinha que superar, dada a heterogeneidade do grupo: há meninas entre 7 até 11 anos, inclusive irmãs, há filhas de imigrantes italianos que não falavam português e há meninas que moravam na pequena zona urbana e filhas de fazendeiros cafeicultores, inclusive de outras cidades como Monte Mor. Importante ressaltar que ela era uma professora leiga, e as alunas pagavam para frequentar a escola.


(Repare que ela é chamada por dois nomes diferentes, mas é a mesma pessoa).


MÉTODO


Nhá Chica Thebas ficou famosa entre os memorialistas por obrigar para que seus alunos decorassem o alfabeto de maneira especial, de trás para diante:


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Tarefa difícil, desafiadora e com um sentido prático no mínimo questionável. Mas por outro lado, aplicava métodos interessantes de estudo do meio. Levava seus alunos em excursões pelo campo, à procura de flores e folhagens, que eram plantadas no jardim da escola, exterminando-as antes, às saúvas existentes... 

 

As aulas noturnas apresentavam aspecto mais original que as diurnas. Cada aluno levava uma vela de sebo e uma garrafa vazia. Acesa aquela, servia esta, de castiçal... 


Com o falecimento da professora Francisca Thebas, a substituta Francisca Philomena de Toledo assume as aulas em 29 de outubro de 1894, plenamente aprovada em exame perante o inspetor literário, em agosto do mesmo ano.

No jornal O Correio de São Paulo de 22 de novembro de 1934, vemos uma crônica descrevendo as aulas dela:




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