terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Tenho mais de 60 anos, sou velha ou idosa?

 Maria Luisa da Costa Villanova, fevereiro/2024

Historiadora pós-graduada em Arqueologia


            Envelhecer faz parte da vida, mas estou ficando velha ou idosa? Acredito não estar sozinha nesta dúvida.

            Indaiatuba, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo Demográfico de 2022, possui 41.533 pessoas com 60 anos ou mais. O número representa aumento de 97,3% ou 20.487 pessoas nesta faixa etária comparado com os dados de 2010. Há 12 anos a cidade possuía 21.046 idosos.

            Em 2010, a população de Indaiatuba era representada por 16,2% de idosos (9.546 homens e 11.500 mulheres) acima de 60 anos. Já no Censo de 2022, foram contabilizados 18.619 homens e 22.914 mulheres, nesta mesma faixa de idade. O aumento é de 95% de idosos do sexo masculino e 99,2% de pessoas do sexo feminino, e as pessoas com menos de 60 anos representam 83,7% do número geral registrado em 2022. A população é equivalente a 255.748 habitantes.

            Mas, tentando sair da dúvida, de acordo com o Estatuto da Pessoa Idosa, é considerada idosa a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Já o Projeto de Lei 5383/19 altera a legislação para que sejam consideradas idosas as pessoas a partir dos 65 anos de idade, e não mais 60. O que significa que pela Lei, sou uma “pré” idosa, ou quase idosa.

            Em 1961, quando nasci, a expectativa de vida era de 52,5 anos, em 1990, subiu para 57,6, o que significa que pelo dicionário (“aquele/a que tem muita idade”) sou uma velha, mas uma velha feliz, pois a expectativa de vida hoje, subiu para cerca de 80 anos.

            Mas, qual a diferença entre velha e idosa?

           Do ponto de vista do tratamento pessoal, “velho” pode ser um termo pejorativo, que não deve ser utilizado por familiares ou cuidadores no trato aos mais vividos, enquanto “idoso” é um termo mais respeitoso enquanto pouco formal, ou seja, adequado para o tratamento cotidiano.

        A diferença, do ponto de vista da língua portuguesa, pode ser sutil. Mas do ponto de vista do estado de espírito, da atenção e do cuidado, as formas de encarar a vida bastante distintas, encontrei algumas definições interessantes:

Idoso é quem ainda sente amor; velho é quem sente saudade…

Idoso é quem ainda se exercita; velho e quem apenas descansa e reclama…

Idoso e velho podem ter a mesma idade no documento, mas têm idades diferente na mente, no coração e nas atitudes.

Idoso é quem ainda sonha; velho é quem apenas dorme…

Idoso é quem tem um pouco mais de idade; velho é quem perdeu a capacidade de sonhar e se divertir.

Idoso é quem ainda se renova a cada dia que começa; velho é quem se acaba a cada noite que termina…

Idoso é quem ainda tem planos; velho é quem tem apenas recordações….

Idoso é quem tem rugas bonitas, porque foram marcadas pelo sorriso e a alegria de viver; velho é quem tem rugas feias, porque foram formadas pela amargura e o mau humor…

      De acordo com o Portal do Envelhecimento, encontrei a seguinte definição:

“Alguns termos usados para referir-se às pessoas com mais de 60 anos de idade, acabam trazendo ideias errôneas em torno do envelhecimento. Podemos pensar até que o uso desses termos pode trazer uma tentativa de suavizar e/ou amenizar o peso que estes conceitos causam em nossa sociedade.

Tentar definir esses conceitos pode parecer uma tarefa bastante fácil e simples, no entanto, estes se apresentam como um tema complexo e que requer maiores esclarecimentos de suas diversas dimensões.

É importante pontuar que existe uma diferença no uso dos termos envelhecimento, idoso, velhice e terceira idade.

O envelhecimento deve ser entendido como um processo natural da vida, que traz consigo algumas alterações sofridas pelo organismo, consideradas normais para esta fase. Envelhecemos desde o momento em que nascemos. Logo, como cita o autor Messy (1999, p.18), “se envelhece conforme se vive”.

Pelo termo idoso, podemos entender todo e qualquer indivíduo acima de 60 anos de idade. Este conceito foi criado na França em 1962, substituindo termos como velho e velhote e foi adotado no Brasil em documentos oficiais logo depois. O idoso é o sujeito do envelhecimento.

O termo velhice é considerado para uns como o último ciclo da vida, que independe de condições de saúde e hábitos de vida, é individual, e que pode vir acompanhado de perdas psicomotoras, sociais, culturais e etc; já outros acreditam que a velhice é uma experiência subjetiva e cronológica. 

Acreditamos que a velhice seja como uma construção social, que cria diversas formas diferentes de se entender o mesmo fenômeno, dependendo de cada cultura.”

Agora que comecei a achar que sou uma Idosa, aparece mais uma dúvida: será que estou na Terceira Idade?

            

A terceira idade caracteriza-se por mudanças físicas em todo o organismo do indivíduo, alterando suas funções e comportamentos, percepções, sentimentos, pensamentos, ações e reações.

Há também alterações dos papéis sociais que resultam das mudanças bio-psicológicas relacionadas ao avanço da idade.

A Constituição Federal Brasileira menciona a terceira idade com início aos 65 anos, enquanto que o Código Penal Brasileiro refere a idade de 70 anos. Ambos são incoerentes com o limite de 60 anos que consta na Política Nacional do Idoso, como já vimos.

Os geriatras, sob o ponto de vista biológico, dividem as idades em:

·         Primeira idade: 0 - 20 anos;

·         Segunda idade: 21 - 49 anos;

·         Terceira idade: 50 - 77 anos;

·         Quarta idade: 78 - 105 anos.

Há ainda uma outra classificação que divide os idosos em 3 ramos:

·         Idoso jovem: 66 - 74 anos;

·         Idoso velho: 75 - 85 anos;

·         Manutenção pessoal: 86 anos em diante.

O termo "Terceira Idade" foi criado pelo gerontologista francês Huet, cujo início cronológico coincide com a aposentadoria (entre 60 e 65 anos).

A par de todos esses significados dos termos propostos, percebi que a construção deles acaba sendo envolto por mitos, estereótipos e preconceitos, depreciando o fenômeno de envelhecimento, mas que é uma fase importante da vida e que ainda tenho muito o que fazer...

Ah, cheguei a conclusão que sou uma “pré” idosa, que está na terceira idade.


                                               Maria Luisa da Costa Villanova, fevereiro/2024

 https://www.indaiatuba.sp.gov.br/relacoes-institucionais/imprensa/noticias/32828.

https://acvida.com.br/familias/diferenca-entre-velho-e-idoso/.

https://www.significados.com.br/terceira-idade/.

Beauvoir S. (1990). A velhice. Tradução de MHF Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1970. p 40
Birman J. Futuro de todos nós: temporalidade, memória e terceira idade na psicanálise. In: Veras, R. Terceira Idade: um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1995. p.29-48.
Messy J. A pessoa idosa não existe. (Tradução JSM. Werneck). São Paulo: Aleph; 1999.

Netto PM. O estudo da velhice no séc.XX: histórico, definição do campo e termos básicos. In: Freitas E. et al.(Orgs)

 

 


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Carnaval de Indaiatuba entra na Era dos Bloquinhos

 Marcos Kimura

 


O Carnaval 2024 em Indaiatuba foi diferente em aspectos importantes. 
Em primeiro lugar, houve a volta das escolas de samba Imperador de Santa Cruz e Acadêmicos do Sereno às ruas da cidade, a primeira como uma das atrações da folia oficial no Jardim Paulista; e a segunda desfilando nas proximidades de sua quadra, próximo à Avenida Conceição. 
Em segundo, mas não menos importante, foi a chegada dos bloquinhos a Indaiatuba, pioneiramente pelo Unidos da Pauares, promovido pelo Bloco2 Bar; e o #ToAqui da Prefeitura, que saiu domingo do estacionamento do Cemitério da Candelária rumo à Praça Prudente de Moraes, onde virou um baile popular animado por um grupo de samba no coreto.





As escolas de samba de Indaiatuba passaram por um momento de redefinição, após o fim dos desfiles competitivos, que custavam caro aos cofres públicos e muitas vezes acabavam em confusão na apuração dos votos (um dos custos mais altos era justamente a contratação de jurados da Federação Paulista de Escolas de Samba). 


A Imperador de Santa Cruz, ressurgiu a partir de um edital da Prefeitura para o Carnaval oficial, e a Acadêmicos do Sereno por iniciativa própria.


Historicamente, sempre houve blocos na cidade. 


Antônio da Cunha Penna registra em seu livro Retrovisões que nos “anos 1930, Indaiatuba havia vivido carnavais de rua inesquecíveis”, com blocos acompanhados por bonecões de papel machê confeccionados pelo artista popular Gildo Pinto


A folia nas ruas foi dando lugar aos bailes nos salões, até que em 1974 alguns blocos passaram a desfilar em torno na Praça Prudente de Moraes. Um deles deu origem à Unidos de Indaiá, que dominou o Carnaval de Rua da cidade, que tinha como grande rival a Academicos do Sereno, fundada em 1977. Na época dos desfiles nas ruas, destacava-se o Bloco da Pastoral, que por anos fez a abertura para as escolas.




Mais recentemente, surgiu o Bloco do Serjão, hoje conhecido como Só Vou se Você For, que chegou a fazer concentração na Viber para desfilar na Avenida Tamandaré. Hoje, acaba fazendo mais barulho no lançamento em dezembro da Pepis e no pré, uma semana antes do Carnaval no Indaiatuba Clube, que no desfile propriamente dito, que acontece na Avenida Presidente Vargas no sábado do reinado de Momo.


Desde que os bloquinhos viraram moda no Rio de Janeiro e São Paulo, diversas cidades foram na onda, com destaque para Campinas, que ressuscitou o Nem Sangue Nem Areia, da Vila Industrial, e onde a City Banda reinou no Cambuí até morrer em 2023 e ressuscitar gentrificada este ano, numa festa na Fazenda Santa Margarida.


O Unidos da Pauares recebe o nome da localização do Bloco2, a Rua Paul Harris, popularmente conhecida como “Pauares” (sorry, rotarianos). Inciativa da empresária Bruna Garcia e seu marido Bernardo Couto, o bloquinho envolveu negociação com vizinhos, Prefeitura e ensaios da bateria formada por foliões abnegados. Nos dois dias em que saiu, 4 e 10, teve alegria, diversidade, bom humor e muita animação. Tomara que outros surjam para dar uma cara diferente ao nosso carnaval.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

O retábulo da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes da Helvetia

Charles Fernandes

Arquiteto e Urbanista


O RETÁBULO do altar mor da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, localizada na Colônia Helvetia, pode ser considerada a peça de entalhe mais importante do patrimônio histórico de Indaiatuba, tendo sido executada no final do Século XIX e mantida em suas características originais até os dias atuais. 

Entre diversas características muito especiais de sua composição que utiliza de repertório eclético, típico do final dos anos 1800, podemos citar as colunas que possuem, em seu terço inferior, pedestais estilizados com formatos que assemelham bulbos ou botões florais, além do toro (base) da coluna também apresentar motivos estilizados semelhantes. 

As colunas são coroadas por CAPITÉIS compósitos adornados com volutas e folhas de acanto estilizadas. Outra característica marcante é o uso de arcos concêntricos e diferentes módulos de coluna para dar ideia de perspectiva, esta ilusão típica de retábulos barrocos, junto de elementos estilizados florais e neoclássicos, é outra característica de composições ecléticas que utilizam de elementos de diversas referências e épocas, em uma única obra. 

O coroamento do retábulo possui um dos  elementos que mais o diferencia e impregna originalidade, o arco principal é alteado, dividido, cortado, restando-lhe apenas o arranque; e em posição central, como que em uma chave aduana, um RESPLENDOR é colocado como que se explodisse o coroamento e lançasse brilho intenso sobre o altar em direção a nave da igreja. 

O Retábulo da Igreja de Helvetia  possui rigosamente todos os elementos formais que se espera deste tipo de peça sacra, a BASE é composta em patamares, arrematados com MÍSULAS, como que um podio, usado em arquitetura clássica para determinar importância maior do que se localiza acima. 

Na base desta peça também encontra-se um SARCRÁRIO, comum em retábulos. As colunas e nichos formam a parte chamada de CORPO do retábulo, e as CORNIJAS e arcos formam o arremate chamado de COROAMENTO.

Há também retábulos de capelas laterais e coro executados em madeira completando o conjunto de entalhes, e não se pode adentrar a Igreja de Helvetia sem reservar tempo para admirar o teto da nave, em abóbada de canhão com molduras e pinturas em seu centro; também o arco cruzeiro e o teto da capela mor em abóbada de cruzaria. 

Há outros elementos com desenhos curiosos como o óculo do frontão da fachada principal, que também possui formato floral, e o campanário, localizado ao fundo, cujo formato em pináculo também remonta a elementos europeus, utilizados também no Santuário de Lourdes, construído no local onde teria ocorrido a aparição mariana que dá nome a igreja de Helvetia.  

Em outros locais da cidade, poucas peças restam que teriam importância semelhante aos elementos de entalhe do interior da igreja de Helvetia, entre eles citaria os balcões dos nichos das paredes sobre o presbitério da igreja da Candelária, que possivelmente restam de sua construção original, do início do século XIX. Na Candelária, o retábulo original fora substituído por outro, neo gótico, em cerca da década de 1870, e que também teria sido demolido em meados do século XX para colocação do órgão de tubos. As capelas laterais e seus retábulos da matriz, também foram retirados em reformas. 


A Igreja de N. Sra. Lourdes, consagrada no ano de 1899, é uma pérola do patrimônio histórico da cidade de Indaiatuba, e representa a tradição e cultura da Colônia Helvetia desde a chegada dos primeiros imigrantes em 1888 até os dias atuais, contribuindo para a manutenção da identidade e para a sensação de pertencimento de todos os seus descendentes.







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