quarta-feira, 19 de março de 2014

Secretaria de Obras inicia construção de boulevard em frente ao Casarão Pau Preto

"A Secretaria Municipal de Obras e Vias Públicas, em parceria com a Secretaria de Urbanismo e do Meio Ambiente, iniciou a construção de um boulevard em frente ao prédio do Casarão Pau Preto. Com o calçadão, o trecho de rua em frente ao Casarão ficará com uma única faixa de rolamento que deverá ser utilizada apenas por veículos leves. Os trabalhos foram iniciados na semana passada e a previsão é de que estejam concluídos em meados de abril."
 
Não deixa de ser uma boa notícia, que representa uma tentativa de manter o Casarão depois que ele quase ruiu. Na minha opinião, o boulevard deveria ser total, fechando as ruas do entorno do Casarão, da Matriz e ir assim até a Estação Ferroviária, integrando os patrimônios históricos daquela região: Casarão Pau Preto, Matriz Nossa Senhora da Candelária, a Casa número 1, o busto de Dom José e a estação ferroviária, onde está a locomotiva número 1 da Ytuana. Mas o prédio que está sendo construído na esquina, e que está prometendo preservar o muro de taipa, inviabiliza essa ideia, que deixaria nosso Centro Histórico muito charmoso.

Conforme explicou o secretário de Urbanismo, José Carlos Selone, o projeto desenvolvido pela Secretaria de Planejamento Urbano e Engenharia respeita a arquitetura do local e prevê piso de tijolo assentado em base de concreto e o espaço terá floreiras de madeira, bancos de concreto e madeira e luminárias baixas diferenciadas. O calçadão medirá 5,70 metros de largura por 65 metros de comprimento, o que totaliza uma área aproximada de 350 metros quadrados.

segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, "a proposta é criar um espaço de convivência para a população e ainda proteger o prédio histórico, utilizando uma das faixas de rolamento da rua Pedro Gonçalves. Conforme acordo feito com a Fundação Pró-Memória, em frente ao Casarão a via terá o leito estreitado definitivamente para que haja somente circulação de veículos leves."
 
Não deixa de ser um ganho para nosso Patrimônio e Memória.

RESTAURAÇÃO

Ainda segundo a Assessoria, "as obras de restauro do Casarão Pau Preto já estão na reta final. Depois de recuperar a fundação do prédio e restaurar as paredes de taipa, as obras estão concentradas na Tulha e nas dependências da reserva técnica."

Feita entre o final do século XIX e começo do XX para beneficiamento de café, segundo o superintendente da Fundação Pró-Memória, Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, a Tulha já é outro exemplo de técnica construtiva presente no complexo histórico do Casarão. “A Alvenaria Inglesa como é conhecida esse tipo de edificação, acompanhou as tecnologias trazidas pela ferrovia, com alvenaria de tijolos aparentes de barro maciços e queimados, assentados por argamassa”, completa.

Essa fase da obra é custeada pela Prefeitura Municipal, que irá fornecer os materiais, e a Fundação Pró-Memória ficará responsável por custear mão de obra especializada para o restauro.

Ainda segundo o superintendente da Fundação Pró Memória, além de restaurar as partes afetadas pelo vazamento a obra vai adaptar o espaço para o funcionamento adequado para um anfiteatro, com porta anti-pânico, palco em uma altura correta e acessibilidade. Também deverá ser recuperada parte da originalidade da Tulha que ao longo do tempo foi sendo descaracterizada por reformas.

PALMEIRA

Por questão de segurança, esta semana a Secretaria de Urbanismo e do Meio Ambiente trabalha na retirada de quatro palmeiras da espécie Areca de locuba que estavam plantadas no quintal do Casarão Pau Preto. Como as palmeiras estavam embaixo da rede elétrica de alta tensão, foi preciso fazer uma poda radical e retirá-las, o que impossibilitou que fossem transplantadas em outro local.
 
:(

As Arecas, que são plantas ornamentais, mediam cerca de 7 metros de altura e foram plantadas na frente da fachada do Casarão há cerca de três anos.
 
:(

Segundo o superintendente da Fundação Pró-Memória, Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, de acordo com o grupo de trabalho que optou por se fazer um restauro e não uma reforma no complexo histórico do Casarão Pau Preto, a retirada das palmeiras já estava pré-determinada, pois a sua presença naquele local não estava em consonância com o aspecto histórico da fachada do Casarão. No entanto, havia o pedido de replantio das árvores em outro local do próprio Casarão, situação que se tornou impossível devido às condições em que se encontravam as palmeiras, como constatou a Secretaria de Urbanismo e Me

Prefeitos de Indaiatuba

Líder do poder executivo (como intendente e como prefeito) durante 30 anos, 5 meses e 8 dias




Nilson Gaspar

Antonio Carlos Pinheiro




Reinaldo Nogueira Lopes Cruz 



José Onério da Silva 



Flávio Tonin 



Clain Ferrari 



José Carlos Tonin 


Mario Araldo Candello 




Ivan Corrêa de Toledo 









Romeu Zerbini



Sinézio Martini 




Luiz Teixeira de Camargo Júnior 



João Walsh Costa (Jango)



Dr. Jácomo Nazário



 Scyllas Leite Sampaio 



Dr. José Pedro Cardoso da Silva



Francisco Xavier da Costa


(aceita-se fotos dos demais prefeitos aqui não retratados)


segunda-feira, 17 de março de 2014

Vereador abre perfil no Facebook para resgatar a História do Jardim Morada do Sol

O vereador de Indaiatuba Hélio Ribeiro (PSB) abriu um perfil no Facebook sobre o Jardim Morada do Sol.
 
Já há algum tempo que o vereador pesquisa sobre a história do bairro, que foi criado no dia 19 de março de 1980, por meio do decreto municipal 2.081, aprovado pelo ex-prefeito Clain Ferrari. Essa data é tratada como a "fundação" do bairro, que está, por consequência, fazendo 34 anos neste mês. Conheça mais sobre a origem do bairro aqui.
 
Para conhecer a influência dos paranaenses na construção do bairro, leia aqui.
 
A página aceita colaboração de quem tiver fotos, informações ou dados sobre o Bairro.
 
Para acessar, o link é: https://www.facebook.com/jardim.moradadosol?fref=ts, sendo que o nome do perfil é JARDIM MORADA DO SOL.
 
O vereador já esteve consultando o importante acervo do jornal Tribuna de Indaiá, de onde garimpou reportagens que já estão na página. Consulte.
 
Você tem fotos do Jardim Morada do Sol?
 
Informações?
 
Dados?
 
O seu pequeno comércio, indústria, lembranças de família com seu cotidiano vivenciado no bairro, religião, esporte, cultura, lazer, política, construções, infraestrutura... tudo  é importante para a construção desse acervo.
 
Colabore com a construção da História de Indaiatuba, cujos capítulos precisam ser escritos e reescritos com novas fontes. Abra seu baú de fotos guardadas e compartilhe!
 
 
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Leia mais sobre o Jardim Morada do Sol e as comemorações do aniversário do bairro aqui: http://maisexpressao.com.br/noticia/jardim-morada-do-sol-comemora-35-anos-de-historia-16933.html
 
 

terça-feira, 4 de março de 2014

O Crime do Poço - Capítulo 18 – Sepultamento e ... Milagres (último capítulo)



 

 

Além da vítima barbaramente assassinada neste latrocínio, 157 pessoas morreram em Indaiatuba em 1907, sendo 99 crianças com menos de 1 ano de idade[1].

O “crime do poço” é ainda lembrado por moradores que, de uma forma ou de outra, ouviram algo sobre essa tragédia que ainda emociona e espanta. A “tragédia da rua candelária”, escrita por Mário Dotta em seu livro homônimo registra que “lágrimas foram derramadas pela vítima”, mas também muitas lágrimas foram derramadas pelos delinquentes e seus familiares”, que não deveriam jamais terem sido apontados por um delito que não cometeram.

São decorridos 100 anos. Nenhum envolvido vive mais, mas muitos se envolveram após o sepultamento. Inúmeras foram as pessoas que levaram flores e acenderam velas sobre as cinzas do menino Domênico.

Nos idos anos decorrentes logo após 1907, lágrimas de saudade da família, que de desgosto retornou para a Itália[2] e lágrimas caridosas da população conterrânea à tragédia umedeceram o túmulo.

Com o passar dos anos, a saudade se transformou em piedade. E a tristeza, quem diria...se transformou em esperança. Sim, por motivos óbvios para a fé de alguns e incompreensíveis para o ceticismo de outros, o túmulo se transformou em uma referência onde se reza não só pela paz de quem ali jaz, como em quase todas as lápides, mas se reza para agradecer e para pedir.

Tentei encontrar conceitos e definições conversando com várias pessoas de religiões e crenças diferentes, lendo livros e textos de antropologia e religião, no sentido de oferecer aos leitores explicações para o que acontece ali, mas desisti.

Escolhi simplesmente registrar que o “mistério da fé” é o elemento responsável por acolher as orações dos que ali se aproximam, ou daqueles que de Domenico ou de sua história se lembram à distância. Em uma linguagem moderna, contextualizada dentro do momento em que vivemos, eu diria com extrema dose de subjetividade, que o túmulo é um portal para o céu, para o bem.

E para não registrar apenas minha particular definição, medíocre diante da grandiosidade desse mistério de fé, creio ser justo, indispensável e emocionante registrar a opinião de uma descendente da família de Domênico. Trata-se de sua sobrinha neta, cujo pai é filho do irmão do Domênico, o Antônio de Lucca, “uma pessoa muito boa, “todos que o conheceram diziam que era o maior coração do universo, humilde, amigo... adorava as crianças, vivia comprando balas e doces e distribuía na rua.” Ela conta que acredita que, pela quantidade de orações recebidas, Domênico ganhou luz e começou a fazer pequenos milagres.

 

[...]

 

Embora acostumado pela sua profissão, o médico responsável pela autópsia ficou horrorizado à vista de tão hediondo crime.  Fez um esforço para limitar-se a fazer sua obrigação com frieza e precisão, mas titubeou em uma sensação de compaixão e revolta. Por fim, despediu-se do pai, autorizando o enterro, dando por encerrada a parte legal do lamentável episódio.

O senhor Modesto, que a tudo acompanhara, com a coragem que somente o amor paterno pode infundir, enrolou o corpo do filho num lençol e, ajudado por outras almas solidárias, carregou o cadáver até a igreja.

O padre Miguel Guilherme, pároco da matriz Nossa Senhora da Candelária, presidiu palavras de consolo para toda a população abalada que, pouco a pouco, adentrava na igreja em profundo silencio para acompanhar a celebração.

O cortejo fúnebre partiu ao som do sino da matriz, que ecoava para os campos de toda a redondeza, em compasso único, uma melodia tristonha, anunciado a vida que se findara... Findara a vida do jovem imigrante italiano que, na flor da juventude, havia chegado a nossa terra simplesmente para cumprir seu dever de filho e de trabalhador.

Do largo da matriz até o largo da cadeia, todas as portas e janelas se fecharam em profunda manifestação de respeito e luto à perda irreparável e a dor irredutível do pai, que fortemente abraçava o cadáver do filho.

E naquele dia... Todas as flores de Indaiatuba foram cortadas para enfeitar o corpo do jovem, e ninguém ficou em casa. Moradores que estavam nas ruas, como de costume[3], ajoelharam-se em sinal de profundo respeito, enquanto todos os outros acompanhavam o ato de piedade e caridade cristã.

Até a banda[4] da cidade acompanhou o pobre pai a carregar seu filho Domênico, com mistas e lutuosas melodias.

E naquela triste tarde de verão, do largo da cadeia até o cemitério, a paisagem arborizada por carvalhos, magnólias e altos pés de biris[5] testemunhou o comovente cortejo, que lentamente caminhava no chão batido, levando o menino Domênico até sua última morada.

Túmulo sempre visitado por pessoas que rezam, buscando conforto para suas aflições. E ali no cemitério de Pedra, na Rua Candelária, até hoje jaz o menino em um túmulo construído pela municipalidade.

Túmulo coberto de ex-votos, de fiéis e devotos que, por ali orarem, alcançaram graças e milagres.

Túmulo sempre florido com homenagens e lembranças póstumas.

Túmulo sempre visitado por pessoas que rezam, buscando conforto para suas aflições.

Túmulo sempre velado pelo carinho do povo de Indaiatuba, que não pôde esquecer o trágico destino de Domênico de Lucca, que se foi...

Com apenas 17 anos de idade.

 
 
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Religião para Tomás de Aquino é o estudo da virtude moral pela qual o homem deve render graças a Deus [STh I-II,q60,a3,c]. Em Tomás de Aquino encontramos uma profunda análise filosófica da religião enquanto virtude pela qual o homem se converte a Deus, se orienta a Deus e rende-Lhe graças.



[1]  Dados do SAEDE - Sistema Estadual de Análise de Dados da Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo)
[2]  Informação da sobrinha-neta de Domênico de Lucca, Márcia Cristina de Lucca, dada em 2007 (informação verbal).
[3]  SANNAZARO, p. 73
[4]  CARVALHO, p. 77
[5]  SANNAZZARO, p. 87
 

O Crime do Poço - Capítulo 17



 

 Antônio confessou sua participação no dia 21 de dezembro de 1907[1], mas negou ter ficado com qualquer quantia roubada da vítima. 

No mesmo dia, Eugênio confessou sua participação no assassinato, mas disse que não sabia onde estava o dinheiro que recebera na partilha.  Contou sem ressalvas ou constrangimento que encontrara com Antônio por volta do meio-dia no dia do assassinato, que havia ido a sua casa para a refeição e que na volta, "...na rua Candelária... perto do largo da Cadeia...[quando ia em] ...direção a sapataria que trabalha, na rua Boa Vista desta cidade...encontrou-se com Antônio... [que lhe disse]... vamos até a casa de Adão R. que lá tem um viajante que tem dinheiro e nós poderemos roubar o dinheiro dele.” E para lá se dirigiram. Em nenhum momento Eugênio declarou dúvida sobre o convite que aceitara sem nenhum questionamento.

E em nenhum momento qualquer um deles declarou arrependimento.


[...]


No ano em que foram presos e condenados, os três assassinos fizeram parte do total de 248 pessoas que foram presas e condenadas por crime no estado de São Paulo (vide anexo I).

A sessão do julgamento teve início em Itu, no prédio da Câmara Municipal, instalado na época na rua da Palma no. 60 no dia dez de novembro de 1908, as 8 horas da manhã. O juiz e presidente do tribunal foi o Doutor José de Campos Toledo. Os juízes de direito, na época, estavam dispensados de provas (concursos), mas era exigido que fossem “... bacharéis de direito, maiores de 28 anos, bem conceituados, tendo pelo menos 4 anos de prática de foro, adquiridas nos efetivos exercícios de advocacia ou de ministério público no Estado[2]”.

O promotor público foi o Doutor Carlos Alberto Vianna, e doze jurados foram sorteados.  O primeiro a ser julgado foi Adão, cujo advogado de defesa foi José Adriano Marrey Júnior. Após ouvir as testemunhas, a única ressalva de Adão foi que havia sido induzido pelos outros réus. Por unanimidade de votos o júri entendeu que Adão R. subtraiu dinheiro da vítima Domênico de Lucca contra a vontade do mesmo; que praticou violência física atirando sobre a vítima uma pedra; que para subtrair a quantia cometeu a morte da vítima; que o réu atraiu a vítima para o local do crime com o pretexto de mostrar-lhe uma partida de milho, para que outros cometessem o crime, que assim procedendo prestou auxílio, sem o qual o crime de roubo com homicídio não seria cometido; que o réu cometeu o crime com superioridade em força, de modo que o ofendido não pode defender-se com a probabilidade de repelir a ofensa; que o réu cometeu o crime com superioridade em armas, de modo que o ofendido não pode defender-se com probabilidade de repelir a ofensa; que o réu cometeu o crime ajustando com outros a perpetração do mesmo crime.
 
  Como atenuante a favor do réu, o júri entendeu que, por ser Adão um ser o delinqüente menor de 21 anos, em vez de cumprir 30 anos, seria condenado há 25 anos e seis meses e obrigado a pagar como multa, ¼ do valor da quantia subtraída , com fundamento no artigo 359 do Código Penal (editado em outubro de 1890).

No dia seguinte, 11 de novembro, foi a vez do julgamento de Eugênio C., cujo advogado era Alfredo Bauer. Após ouvir as testemunhas, Eugênio apontou como ressalva que confessou que roubou a faca após ter sido tratado com animosidade pelas autoridades policiais de Indaiatuba, que contra ele usaram de violência física. Da mesma forma que Adão, foi condenado por unanimidade pelos 12 jurados, que entenderam que Eugênio subtraiu dinheiro da vítima Domênico de Lucca contra a vontade do mesmo; que praticou violência física com uma faca, conforme ferimento descrito nos autos do exame cadavérico; que para subtrair a quantia cometeu a morte da vítima; que procedendo assim prestou auxílio, sem o qual o crime de roubo com homicídio não seria cometido; que cometeu o crime com superioridade em força, de modo que o ofendido não pode defender-se com a probabilidade de repelir a ofensa cometida; que cometeu o crime com superioridade em armas, de modo que o ofendido não pode defender-se com probabilidade de repelir a ofensa; que cometeu o crime com surpresa ao envolvido; que o réu cometeu o crime ajustando com outros a perpetração do mesmo crime; que o réu cometeu o crime com premeditação, tendo entre a deliberação criminosa e a execução um espaço de 24 horas. Foi condenado no artigo 359 do Código Penal, a 30 anos de prisão, absolvido de multas, pelo juiz considerar que pela sua prisão faltaria meios para sua liquidação.

No dia 16 de novembro foi a vez de Antônio N., cujo advogado era Juvenal do Amaral. Após ouvir as testemunhas, Antônio reagiu de uma forma diferente dos comparsas, negando sua participação no crime. Sim, negou a participação, dizendo que só assinou sua culpa após “completo desânimo” provocado por violências das autoridades policiais de Indaiatuba e que continuaria para sempre negando ser o autor da morte de Domênico. Mesmo com a veemência com que gritava sua inocência, também foi condenado por unanimidade pelos 12 jurados, que entenderam que Antônio subtraiu dinheiro da vítima contra a vontade do mesmo; que praticou violência física com um pau, fazendo ferimentos contusos e fraturas nos ossos conforme indicações nos autos do exame cadavérico; que para subtrair a quantia cometeu a morte da vítima; que procedendo assim prestou auxílio, sem o qual o crime de roubo com homicídio não seria cometido; que cometeu o crime com superioridade em força, de modo que o ofendido não pode defender-se com a probabilidade de repelir a ofensa cometida; que cometeu o crime com superioridade em armas, de modo que o ofendido não pode defender-se com probabilidade de repelir a ofensa; que cometeu o crime com surpresa ao envolvido; que o réu cometeu o crime ajustando com outros a perpetração do mesmo crime; que o réu cometeu o crime com premeditação, tendo entre a deliberação criminosa e a execução um espaço de 24 horas. Também foi condenado no artigo 359 do Código Penal, a 30 anos de prisão, absolvido de multas, pelo juiz considerar que pela sua prisão faltaria meios para sua liquidação.

Conforme documento seguinte (cópia dos autos do processo, com a grafia mantida) apenas Antônio N. cumpriu parcialmente a essa primeira sentença, uma vez que recorreu e sua pena foi redefinida para 21 anos de prisão. Na ocasião em que recorreu, Antônio continuou a dizer que “provará que, no dia cinco de dezembro de 1907... não tomou parte em um crime que se deu na casa de Adão R.”... [e que só havia confessado o crime anteriormente, na cadeia de Indaiatuba]... “pois sofrera pancadas... teve as mãos amarradas... e de tanto maus tratos, confessou o delito...”

 

 
 
[Brasão da República]  Juízo de Direito das Execuções Criminaes da Capital
Do Estado de S. Paulo
No. 297
                                                               S. Paulo, 27 de dezembro de 1928
                                                               J. Itú, 20 de / XII/28
                                                               [ assinatura]
 
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da comarca de Itú.
 
                               Tenho a honra de comunicar a V. Excia. Que. Nesta data, foi posto em liberdade por alvará de soltura expedido por este Juízo, o sentenciado Antônio N., que, na Penitenciária do Estado, terminou o cumprimento da pena de 21 anos de prisão cellular, que lhe foi imposta pelo Jury dessa Comarca, em sessão de 24 de agosto de 1910, como incurso do grão médio do artigo 359 do Código Penal.
                                                               Aproveito a opportunidade para apresentar a V. Excia os protestos da minha elevada estima e distincta consideração.
 
                                                                                              [assinatura]
                                                                                              O Juiz substituto.

 

Com base na mensagem apresentada ao Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, em 14 de julho de 1908, pelo então governador da província, Dr. M. J. Albuquerque Lins em que relata as condições dos presos na Penitenciária em que ficou Antônio, podemos ter um panorama destes 21 anos de reclusão:

“É uma das maiores necessidades do Estado, a bem da administração da Justiça, a construção de uma nova Penitenciária, segundo conceito moderno, de acordo com o grau de civilização a que já chegou o Estado de São Paulo, e com capacidade para recolher todos os condenados. Já alguma coisa se tem feito com a edificação de cadeias nas localidades; mas é insuficiente, porquanto as cadeias destinadas as detenções simples não possuem oficinas de trabalho, nem escolas, nem enfermarias, não possuem, enfim, nenhuma das condições necessárias para o preenchimento dos fins da pena[3]”.

Conforme publicou o jornal indaiatubano Tribuna de Indaiá, na ocasião do 53º. aniversário do crime, “...os criminosos foram condenados ... e enfim desapareceram da lembrança do povo”.

Mario Dotta escreveu que “menciona a crônica forense que Eugênio C. morreu na prisão, Antônio N cumpriu toda a pena e ganhou a liberdade e Adão R. conseguiu fugir da prisão, não tendo sido jamais encontrado”.


Sobre os protestos de inocência bradados pelos envolvidos, no texto do jornal se lê que “... a esta altura, talvez os três tenham chegado à presença da Divina Justiça, à qual nada se pode esconder. Talvez até tenham recebido o merecido castigo, talvez a infinita misericórdia de Deus os tenha perdoado, assim como deve tê-lo feito a própria vítima, o bom moço Domênico de Lucca.”

  A publicação de detalhes sobre o crime, que entrou para a história de Indaiatuba com o título “O Crime do Poço”, ocorreu durante 4 edições, nos dias 04, 11, 25 de dezembro de 1960 e 01. de janeiro de 1961 e sensibilizou a população da época que, dividida, se manifestou contra e a favor da iniciativa, conforme nota do redator:


“Por termos traduzido de um livro e publicado a história do famoso Crime do Poço, ocorrido nesta cidade, no princípio deste século, recebemos elogios e críticas. Os que nos lisonjearam, naturalmente foram as pessoas partidárias do esclarecimento total do fato que enlutou a cidade e que embora a longo tempo da ocorrência, perdura na memória de todos.

Os que nos condenaram pela revivescência do acontecimento alegam que muitos que nada tiveram com o fato ainda vivem, isto é os descendentes e parentes dos autores.

Mas na história da vida sempre há duas correntes antagônicas.

Todavia, o que nos impulsionou a reviver o passado , foi nossa intenção de esclarecer o fato, sem aquele sentido de exploração para fazer sensacionalismo jornalístico, tão em moda em nossos dias.

Somos daqueles que concebem que a imputação da pena não vai além dos infratores, isto é, de que a lei não atinge descendentes ou parentes, como considera a norma penal moderna. Assim também na moral, as pessoas que não tiveram participação ativa ou passiva nada tem a ver com o caso, motivo porque não tivemos dúvidas de fazer estas publicações, que não afetam de maneira nenhuma as pessoas vivas, ligadas pelo laço de parentesco aos autores do crime.”

 




[1] As informações deste capítulo são advindas dos autos do processo
[2] Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo pelo Presidente do Estado de São Paulo, Dr. M. J. Albuquerque Lins, em 14 de julho de 1908, p. 7. São Paulo. TYP do Diário Oficial, 1916 (reedição).
[3]  Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo pelo Presidente do Estado de São Paulo, Dr. M. J. Albuquerque Lins, em 14 de julho de 1908, p. 13. São Paulo. TYP do Diário Oficial, 1916 (reedição).
 

O Crime do Poço - Capítulo 16




No dia seguinte, sábado, 14 de dezembro [1], veio de São Paulo, o médico legista da polícia, o Dr. Alfredo de Castro para a autópsia, que após “deferir seu compromisso formal de bem e fielmente desempenhar sua missão, declarando com verdade o que encontrar e descobrir e que em sua consciência entender” assim declarou em 15 de dezembro de 1907:


“Nos fundos de um pequeno prédio da cidade de Indaiatuba, de um poço de cerca de cinqüenta palmos de profundidade e cinco de diâmetro... [foi retirado um corpo que foi]... colocado sobre uma larga folha de porta... [que serviu]... como mesa... [para a autópsia do]... cadáver de um indivíduo de cor branca, estatura regular e constituição forte, reconhecido ser Domênico de Lucca, italiano de dezoito anos de idade, solteiro, negociante, filho de Modesto de Lucca e residente em São Paulo, na Rua Santa Rosa número trinta e três. Trajava meias de lã, ceroula e camisa de algodão listado, calças e paletó de casimira preta. A metade superior do corpo achava-se envolvida num saco de juta, amarrado por uma corda. Despido dessas vestes, o cadáver achava-se em estado adiantado de putrefação e apresentava um ferimento contuso de forma linear... A cabeça achava-se presa ao tronco apenas pelo tecido muscular e pele da nuca... Na cavidade craniana... [foram encontradas] duas fraturas sendo uma na região esquerda do frontal e outra na do parietal... Domingos de Lucca faleceu vítima de convulsão cerebral e hemorragia cervical, produzidos por instrumento contundente e cortante.”


“A repercussão do crime abalou a cidade. Havia um estado de excitação geral do qual não se livrara nenhum dos habitantes. Palavras de protesto e uma onda de indignação levava pequenos grupos, logo ampliados, a exigir justiça a qualquer custo... Tal estado de espírito irradiou-se em todas as direções. Como se viu depois, um desprezo profundo aliado ao ódio irracional daqueles que sequer haviam conhecido a vítima foi dirigido a familiares dos culpados, fossem adultos ou crianças [2].

O filho de Eugênio C., que morava em Itu foi descrito com uma pessoa humilhada e acossada pelo crime cometido pelo pai. Escreveu uma carta para que a mãe saísse de Indaiatuba a fim de não ser perturbada por uma culpa que não era sua. Aconselhou a mãe que esperasse passar dois ou três meses antes de mudar-se, para que não sofresse, também naquela cidade, o impacto da ira e popular. As crianças filhas de Antônio N, sem mesmo entender a extensão da tragédia, sem compreender o porquê da loucura do pai, foram seguidamente apontadas na rua, com execração e agressividade, até o ponto de passarem a evitar o convívio com outras crianças [3].




[1]  As informações deste capítulo são advindas dos autos do processo
[2]  DOTTA. 1985. p.28
[3]  Idem. p.36



Este capítulo conteve a gentil revisão de Antonys Bronislaw Drabeck. Onde se lia "excreção"; passa-se a ler "execração". Revisão em 20/08/2018).



O Crime do Poço - Capítulo 15



 

A conversa que Antônio teve com Jacob[1] no dia 19 de outubro teria influenciado, em algum momento, no desenrolar da premeditação e da execução do crime?

Jacob (sobrenome ilegível no inquérito), 28 anos, viúvo, lavrador, natural e residente em Campinas, declarou em juízo, que na data citada esteve em Indaiatuba para ir a uma festa na “Água Choca.”

Foi cortar o cabelo e fazer a barba antes do evento, ocasião em que contou para Antônio sobre um crime que havia sido praticado em Campinas, naqueles dias.

Pinto Júnior matou um viajante dentro de sua própria casa... “para furtar um cheque de quarenta contos contra o banco Mercantil.”

Antônio então perguntou como é que tinham descoberto o crime quando ninguém o havia presenciado.

Ao que Jacob respondeu: “- Por causa de um negro que tinha ido tapar a latrina na qual estava enterrado o cadáver do viajante.”

Seria um sinal?

Será que era um aviso indicando que não há crime perfeito?

Ou será que – se serviu para influenciar – foi apenas para incutir a possibilidade na cabeça de Antônio?

Nunca se saberá. Mas se conhece que Antônio terminou o assunto dizendo:

- “Malvado.”

Que significado teria tido aquele fato na vida de Antônio?

Nossa memória registra melhor os fatos carregados de emoção. Informações extravagantes, absurdas, divertidas, grandiosas são memorizadas com muito mais facilidade do que informações inexpressivas.

E se raciocinar é processar informações em nossa memória, teria Antônio feito uso desta história para praticar esse mal? E por que não utilizou a informação para o “bem”?

Coincidência?

Destino?

 




[1] As informações deste capítulo são advindas dos autos do processo.

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