segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Caminho do Chafariz

Maria Ângela Tanclér Escodro* (in memorian)


Todas com seus carrinhos, a caminho do Chafariz,
Trabalho árduo, porem recompensado,
Mulheres com seus tamancos
Fazendo barulho, com orgulho,
Buscam a pureza da água.

Aproveitam o longo tempo de espera
Colocam a conversa em dia, contam o dia-a-dia,
Falam de suas memórias e de suas histórias
Interagem, refletem e, acima de tudo, vivem.

Vendo o movimento, aprendem com o momento
Tendo um tempo com elas mesmas, livres, esperam sua vez
Olham a brincadeira das meninas
Com a mesma tarefa
Jogam peteca, bolinhas de gude e pedrinhas.

Onde havia água para beber era difícil o espaço percorrer
Subidas rápidas eram necessárias para dar tempo de descansar
E, mas uma vez, conversar
Antes de chegar em suas casas trazendo água cristalina
Purificando, assim, a rotina.


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* A autora escreveu a poesia em 2006, inspirada em fatos narrados e vivenciados pela sua mãe, Dulce Tanclér Escodro, na década de 30, com então 9 anos de idade, e pela madrinha, Theresa Tanclér de Carvalho, com então 15 anos.

A poesia foi originalmente publicada no livro Um Olhar Sobre Indaiatuba, da Coleção Crônicas Indaiatubanas, da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (2006)

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Conceito de crime ambiental de acordo lei 9.605, a Lei dos Crimes Ambientais:
I. Crimes contra a Fauna:
(...)
II. Crimes contra a Flora:
(...)
III. Da Poluição e outros crimes ambientais:
(...)
IV. Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural
Destruir, inutilizar ou deteriorar: bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;

Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida;

Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental;

Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

TARDES DE AGOSTO - Acrisio de Camargo

Poesia que Acrisio de Camargo enviou para a o periódico "O MALHO"
e que foi aceito para publicação.
Edição de 1921.

 As poesias abaixo também são de Acrisio, todas elas enviadas para o periódico O MALHO e publicadas no mesmo ano de 1921:






Sobre Acrísio de Camargo

Nascido em 1899 em Jundiaí, Acrísio de Camargo morou em Indaiatuba, onde iniciou os estudos. Trabalhou como farmacêutico, mas foi nas artes que ganhou maior notoriedade, dedicando-se à poesia sertaneja, à pintura, folclore, teatro e radialismo. 

Escreveu comédias teatrais, inúmeros poemas e pintou mais de 100 quadros. 

O Hino de Indaiatuba, com letra sua e melodia de Nabor Pires de Camargo, foi elaborado em 1930 a pedido do major Alfredo Camargo da Fonseca, prefeito de Indaiatuba na ocasião em que foi comemorado o 1º centenário de elevação de Indaiatuba a freguesia. 

A contribuição do poeta para o desenvolvimento cultural do município é lembrada com a realização do Concurso Literário Acrísio de Camargo, promovido anualmente pela Secretaria Municipal de Cultura, que estimula a literatura ao destacar as melhores poesias, contos e crônicas escritas pelos indaiatubanos. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Os queijos suiços

Uma crônica publicada em 1909 no Almanach do Paraná. Desconsiderando a construção caricata que o sobrinho faz do tio, o texto revela detalhes da História do Cotidiano de importante fazendeiro indaiatubano.












Antonio Bicudo
Família Bicudo
Joaquim Emigdio Bicudo

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O irrequieto Lauro Magnusson

texto de Antonio da Cunha Penna*,
do livro "Nos Tempos do Bar Rex" (2010)

Nascido em 29 de março de 1916 na Fazenda Pedra Branca, município de Campinas, Lauro é filho de Frederico Magnusson e Ema Gazzi Magnusson, o último de uma prole de nove rebentos: Ida, Cândida, Alberto, Guilherme, Antonio, Mafalda, Mário e Cristiano.

Ainda pequeno, mudou-se para a Fazenda São Luís em Itu, onde numa escola rural alfabetizou-se. Em 1929 mudou-se para nosso município, mais precisamente para a Fazenda Cruz Alta.


            Por volta de 1931, aos 15 anos de idade resolveu experimentar a vida na cidade. Juntamente com seu irmão Mário comprou o Armazém Popular que ficava na Rua Candelária, esquina com Siqueira Campos. 

Tocaram esse comércio até por volta de 1937, quando morreu seu pai. Lauro, nessa altura com 21 anos, separa-se do irmão.

Perambulando pelos anos de 1940, seria sócio fundador do famoso Cine Rex, saindo da sociedade para inaugurar juntamente com Paulo Ifanger e Romário Capossolli a eletrônica Líder. No entardecer da década de 40 inventou o Bar Rex, mas entraria nos anos 50 como proprietário de olaria e comércio de beneficiamento de arroz.

Em 20 de março de 1954, casou-se com Duzolina Martini (Nelon). Da união nasceram os filhos: Silvana Magnusson (Artoni), Luís Lauro, Paulo César e André.

Quando Lauro ingressou como sócio-fundador do Rotary Club de Indaiatuba (1955) foi classificado como Curtume-Couro-Beneficiamento*, pois, nessa altura, nosso irrequieto homem de negócios já havia adquirido um na cidade de Salto. Ainda nessa época, vendeu o curtume e comprou da família Muller o que foi o primeiro mercado self-service de nossa cidade, o supermercado American, mais conhecido como Peg-Pag. Ficava na esquina da Rua 15 de Novembro com Siqueira Campos, onde anteriormente fora o Armazém do Pedrina. Nos anos de 1960 foi trabalhar com o sogro João Martini na Fazenda São João, no bairro Caldeira. Em sociedade com o cunhado Synesio Martini e o irmão Cristiano adquiriu uma fazenda em Catalão, estado de Goiás. A partir de 1990 passou a morar na chácara São João.

Livre, leve e solto

Lauro, a par de sua turbulenta vida profissional dava rédeas às habilidades esportivas. De 1940 a 1943 jogou no Esporte Clube Primavera, fazendo parte da famosa linha média: Olívio, Rei e Lauro.

Num jogo contra o Saltense teve um problema em um dos joelhos; tratou-se e ficou bom. Voltou a jogar, mas numa partida contra o Guarany de Campinas a contusão voltou, fazendo-o pendurar as chuteiras de vez.

Paralelamente à carreira esportiva, Lauro resolveu que seria piloto de avião, e foi. Fez curso de pilotagem em Itu e ficou sócio do Aeroclube. Terminaria o curso em Campinas.
Juntamente com um grupo de amigos inaugurou uma pista em Indaiatuba, onde hoje se encontra a Casa de Repouso Indaiá (mais conhecida como “Teiadão”). Contava com um hangar rústico e alguns quiosques cobertos de palmas de Indaiá. Esse pequeno campo deaviação improvisado nunca seria legalizado de vez. De certa forma serviu à cidade recebendo uma ou outra aterrissagem pelos anos 40/50.

Lauro se lembra de um dos (não muito raros) dias em que os rolos de filme para o cinema local se atrasavam, não chegando a tempo à cidade de Itu. De lá eram trazidos para Indaiatuba pelo ônibus do Achilles Brunetti. Num desses dias, para a cidade não ficar sem filme, Lauro convidou Carlos Cardoso para dar uma volta de avião. Tranquilos voaram até Itu e trouxeram o filme.

Em outra ocasião, ficou sabendo de uma festa aviatória que aconteceria na cidade de Rio Claro. Lá se foi nosso piloto em busca da possibilidade de levantar uma graninha fazendo voos panorâmicos. Aterrissagem feita, estacionou seu avião emprestado (na verdade nunca teve um) no lugar devido para, de repente, em meio a uma nuvem de poeira ver o aparelho ser abalroado por outro destrambelhado. Do sururu, restou-lhe uma avaria numa das asas. Nosso intrépido aviador arrumou uns pedaços de pano, remendou o estrago e, meio que de banda, levantou voo, vindo em deselegante revoada de Rio Claro a Campinas, onde deixou o aparelho para os devidos reparos. 

O dia em que Indaiatuba parou
  

            Se um joelho avariado ceifou de vez as pretensões futebolísticas de Lauro, o fato não arrefeceu sua paixão pelo futebol, especialmente pelo Primavera. De estatura mediana, atarracado era dono de especial simpatia, nada disso o impediu de resolver algumas contendas na base do esforço físico, especialmente enquanto defensor da honra de seu time do coração. Uma delas ocorrida em Capivari é de saudosa lembrança (para quem ganhou e bateu, é claro).

Segundo nosso mais que primaverino, o primaverista Hélio Milani, o Primavera no ano de 1949 disputava o Campeonato Regional Amador do Estado de São Paulo, ao lado dos E.C. 15 de Novembro, Monte Mor, Elias Fausto, Capivariano e Juventus de Capivari, R.C.A. de Rafard, Saltense e Guarani de Salto, Gazzola e Auto de Itu. 


Numa série disputadíssima, ficaram empatados nosso “Fantasma da Ituana” e Gazzola de Itu. Marcada a partida, foi sorteado o campo do Guarani saltense. O tira-teima, que terminou o primeiro tempo com o Primavera perdendo de 2 a 1, teria um surpreendente final com nosso glorioso esquadrão conquistando de virada um honroso 3 a 3. Hélio, dono de boa memória, assegura que o dia foi um domingo (2/10/1949).

A Federação marcou outro jogo três dias depois; cinco de outubro, quarta-feira às 15 horas. O cenário para o ansiado combate era cidade de Capivari, mais especificamente o campo do Capivariano.

Luís Teixeira de Camargo Jr. (Lita), então prefeito de nossa cidade, decretou ponto facultativo. O presidente da nossa principal agremiação era o dentista Adib Pedro, que numa união de forças arrebanhou de 30 a 40 caminhões repletos de fanáticos primaverinos, além de um trem acrescido de vagões extras com uma multidão de cerca de 3000 pessoas, salvo algum erro de cálculo. Nossa terra, que já era pacata, naquela inesquecível quarta-feira mais parecia uma cidade fantasma com todos os seus estabelecimentos comerciais e industriais fechados, ou melhor, quase todos: o Banco Mercantil abriu. Seu gerente, José Costa de Mesquita, não concordou com a mamata. Segundo Geiss, funcionário do banco na época, apenas um cliente entrou na agência naquele dia.

O Primavera entrou em campo para a espetacular contenda com os seguintes jogadores: Santo, Didi e Sanan, Didico, Valter e Wilson – Odoni, Bebé, Tuia, Gibi e Nego. O primeiro tempo terminou empatado, apesar do pênalti a nosso favor, batido por Tuia e defendido pelo lendário goleiro* “Mão-de-Onça”. Aos 17 minutos do segundo tempo, o relógio de Hélio Milani quebrou sob um violento murro de desabafo. O ponteiro parado no 17º tracinho assinalava o primeiro gol saído da chuteira do nosso pequeno grande Tuia e que daria o campeonato para o Primavera.

Num estádio entupido de exultantes indaiatubanos era natural que os ânimos se exaltassem, culminando com nosso pugilista de plantão, ex-craque e piloto de avião, Lauro, estranhando o palavreado indelicado de Chiquinho Gazzola, presidente do time derrotado. O esquentado Lauro deu-lhe um peteleco na orelha pra ele ver só o que era bom pra tosse. Claro que a partir daí foi um Deus nos acuda ou (conforme a indaiatubana expressão futebolística da época) um c. de boi na área do Saltense.

De volta à Indaiatuba, a frota de caminhões, ônibus e os três vagões de trem abarrotados foi saudada pelo resto da população que ficara. Padre Antônio Jannoni, que fora o presidente do Primavera até um ano antes, suspendeu a reza daquele início de noite e convocou os fiéis para descerem até a estação recepcionar nossa comitiva. Ao som da Corporação Musical, o glorioso esquadrão subiu a 15 de Novembro. As comemorações viraram a noite, concentrando-se no bar do Olívio Dercoli, Bar Central, tradicional reduto de veteranos e admiradores do Primavera.



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*Antonio da Cunha Penna lançou o novo livro na sexta p.p., no Indaiatuba Clube


Novo livro está à venda no Silva e Penna


O autor Antonio da Cunha Penna (sentado), que é Conselheiro Administrativo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e os demais membros do Conselho Consultivo: Gentil Gonçales Filho (à esquerda), Maria Maçako Inanishi, Denise Stein e eu, Eliana Belo. 
Atrás, o Conselheiro Cassio Sampaio, no dia do lançamento do livro.



O autor Antonio da Cunha Penna (sentado),  Gentil Gonçales Filho (à esquerda), Maria Maçako Inanishi, Denise Stein e eu, Eliana Belo.


Entrevista com Penna no programa Resenha da TV Sol:

Parte 1:
http://www.tvsolcomunidade.com.br/programa-resenha/0408-antonio-penna-bloco-01/

Parte 2:
http://www.tvsolcomunidade.com.br/programa-resenha/0408-antonio-penna-bloco-02/

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A SOCIEDADE DE TIRO HELVETIA

Eliana Belo Silva

Texto publicado no Jornal Exemplo

Coluna 'Identidade Indaiatubana" em 14/08/2015


Como Tell, atiradores  por natureza

Em seu livro ‘A Colônia Suiça Helvetia no Brasil’, Franz Weizinger afirma com veemência:  ‘o suíço autêntico é atirador, não só por simples tradição, mas por impulso interno e necessidade externa’. Essa marcante característica do caráter nacional suíço, que faz com que onde tenha uma comunidade de suíços no mundo tenha um clube de tiro, é influenciada, segundo esse escritor, pelo herói mítico Guilherme Tell - que teria sido obrigado por um tirano a atirar contra um objeto (talvez uma maçã) na cabeça de uma criança (talvez seu filho). Após ter acertado o objeto e salvo a criança, segundo algumas vertentes do mito (que alguns ainda reivindicam ser um fato verídico), depois de um tempo, Tell – célebre pela sua pontaria -  matou o tirano e se transformou numa espécie de Robin Hood suíço, justiceiro que dava aos pobres o que os ricos tinham demais.


O embrião na Sociedade do Tiro

Quando os primeiros imigrantes suíços vieram para nossa região em 1854, foram trabalhar como colonos na Fazenda Sítio Grande, do cafeicultor escravocrata Francisco de Queiroz Telles e até que a Colônia Helvetia fosse fundada em abril de 1888, sucessivamente todos os que vieram e ali trabalharam até que fossem proprietários da própria terra, já tinham o sonho de viabilizar uma Sociedade de Tiro ao Alvo. No início, com poucas armas e munição, praticavam, mesmo que discretamente e em pouco número, a caçada ao redor da fazenda, nos domingos de manhã. Mas os apadrinhados de Tell não se contentavam com isso e foi ali onde hoje estão os municípios de Itupeva e Jundiaí, naquele enorme latifúndio onde os pés de café iam até onde os olhos enxergavam a linha do horizonte, que aconteceu a Primeira Festa do Tiro ao Alvo, marco da fundação do que seria mais tarde a Sociedade de Tiro ao Alvo da Helvetia.


José Amstalden há 130 anos atrás

Foi José Amstaldem (*1850 †1912) que liderou a organização da Festa em Sítio Grande. Inicialmente construíram em uma valeta entre palmeiras e o extenso cafezal, um estande de arco e flecha (boga und bolz), a modalidade que as condições econômicas do então colonos podiam alcançar. Consta que José Amstalden intermediou diálogos com brasileiros e suíços, feitores e escravos, até que foi viabilizada, no dia 24 de agosto de 1885, portanto há 130 anos atrás, com a autorização do patrão, a primeira Festa do Tiro ao Alvo da comunidade suíça em nossa região, cujo grande campeão foi  Bannwart, o jovem Arnoldo. A partir de então, foi feita todos os anos inicialmente de maneira bem simples, mais tarde de forma mais abastada, exceto em 1892, por causa de doenças.




Tradição

A Festa ficou famosa rapidamente. Em 1910 o Correio Paulistano publicou que um trem veio do Rio de Janeiro com o Sr. Alberto Gertsch, encarregado de negócios da Suiça junto ao governo brasileiro e seguiu em ‘vagão reservado” para a Estação de Itaicy junto com o cônsul suíço Achilles Isella para participar da Festa do Tiro, na qual também participariam sócios das associações de tiro da capital e contingentes do exército.

Quando, em 1917 o Brasil entrou na guerra mundial, e houve uma reação negativa contra os alemães, consta que o então Major Alfredo de Camargo Fonseca, líder político de Indaiatuba, impediu que a festa do tiro acontecesse. Ela fora ameaçada pelo preconceito, pois os helvetianos falavam alemão e por alguns desavisados, foram, de certa forma, hostilizados. 

Mas tudo passou. 

E parafraseando o que escreveu o suíço Anton (‘Antonio’) Ambiel,  termino este artigo: que a manutenção da sociedade de tiro ao alvo tenha a função, também, de “lembrar com respeito de vossos antepassados, dos fundadores... Permanecei fielmente solidários, sede pacíficos, tolerantes, unidos, sempre unidos, valorizai e praticai o amor.”


Tipos Notáveis da Popularidade e algumas histórias mal contadas

Eliana Belo Silva

Coluna "Identidade Indaiatubana"

Jornal Exemplo de 14.08.2015


HOJE É DIA DE NOVO LIVRO DO PENNA

Na noite de hoje, 14 de agosto as 19h00, em um Sarau Cultural na sede social do Indaiatuba Clube será o lançamento do terceiro livro de Antonio da Cunha Penna ‘Tipos Notáveis da Popularidade e algumas histórias mal contadas’, uma obra com mais de 400 páginas que, segundo o autor, ‘serão contadas com muito humor’ somadas a um conjunto iconográfico formado por 91 imagens advindas do acervo pessoal do escritor e do Arquivo Público Nilson Cardoso de Carvalho da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba. A entrada para o Sarau - que terá animação de Wladimir Soares, apresentação do Coral do Indaiatuba Clube e da Corporação Musical Villa Lobos – que anda inovando surpreendentemente nas últimas apresentações – é franca; todos os interessados na história de Indaiatuba estão convidados.

QUEM LÊ PENNA, QUER PENNA

O autor que se auto-define como um “agitador cultural” é fotógrafo de profissão e membro do Conselho Administrativo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba desde sua fundação, sendo um de seus idealizadores junto com Nilson Cardoso de Carvalho (in memorian) e Antonio Reginaldo Geiss. Suas habilidades artísticas acrescidas da paixão que tem por Indaiatuba, sua história, memória e patrimônio, fez com que tenha pesquisado, para esse terceiro livro, biografias de vários personagens ditos populares de nossa cidade, desde o século 19. A técnica que mais utiliza é a recuperação de fatos, ou melhor, interpretações de fatos através da Memória Oral. 

A História Oral tem tido cada vez mais visibilidade, não só nas polêmicas que envolvem biografias não autorizadas, mas na historiografia das academias, que durante algum tempo e para alguns historiadores de profissão e formação, era motivo de torcer o nariz, pela subjetividade e falta de imparcialidade contida em depoimentos pessoais, sempre impregnados de pressupostos íntimos de cada indivíduo consultado. Considerava-se (e isso têm diminuído) que a falta de objetividade ao se contar um fato, incluindo emoções e pontos de vista pessoal, deixaria o relato pouco científico, uma vez que a máxima “cada um aumenta um ponto quando se narra um conto” era levada ao pé da letra. 

Tudo isso já vem sido repensado desde a década de 1970, quando o historiador Jacques Le Goff começou a criar uma legião de seguidores que passaram a valorizar uma nova abordagem da ciência História: a chamada História da Vida Privada, onde os novos objetos de estudo passaram a ser as pessoas comuns e não os “heróis”. Nessa abordagem, o conjunto de datas e fatos históricos oficiais que tínhamos que decorar passou para segundo plano e um novo painel temático passou a ser objeto de investigação dos historiadores, como: cenas do cotidiano, das mentalidades, da inserção de indivíduos até então excluídos como por exemplo os loucos, encarcerados, pobres e outras tantas ditas “minorias”.

E eis que Penna é assim: um, memorialista, cronista, contador de histórias – a definição não importa – cujo viés de pesquisa, cujo território de investigação é o cotidiano. Mas não é um cotidiano narrado de forma chata. Muito pelo contrário. O humor ácido, debochado e crítico do autor, que é da ‘pessoa’ Penna para quem o conhece, é claramente reconhecido em seus textos. E os tipos populares, presentes e passíveis de investigação, podem deixar se ser simples anedotas ou fatos isolados para compor fragmentos que descrevem como a sociedade de tal época vivia, ou seja, o personagem cotidiano de uma época histórica pode indicar problemáticas mais amplas presentes em várias esferas da vida pública de Indaiatuba; afinal, cada micro-história está inserida em uma esfera ampla, global.

Então, quer conhecer um pouco da história de personagens da vida cotidiana de Indaiatuba de uma maneira politicamente suspeita para ser caracterizada como correta? 

Compre Penna.

Leia Penna. 

Indaiatuba e seus personagens notáveis de popularidade não serão mais os mesmos para você depois dessa experiência digamos... literária.


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Concurso para professores em Indaiatuba - 1897


Fonte: Correio Paulistano de 01o. de setembro de 1897

Helvetia Polo: um refúgio nobre

Para chegar à origem do que hoje têm-se como um empreendimento imobiliário de sucesso é preciso mergulhar na memória de pessoas que têm a cultura e a tradição ligados a um esporte: o polo.


Nunca um bairro esteve tão ligado a uma prática esportiva como é o caso do Helvetia Polo, onde instalaram-se residências com altíssimo valor agregado, que deram ao bairro todo o charme e glamour do polo equestre.


A história do bairro Helvetia começou em 1854, quando famílias do Cantão de Obwalden, na Suíça, chegaram ao Brasil para trabalhar em Jundiaí. Alguns anos mais tarde, em 1888, alguns descendentes compraram o Sítio Capivari Mirim e derem início à colônia Suíça na região.

A princípio, a propriedade não tinha nome mas, respeitando as origens étnicas e a experiência histórica e cultural dos fundadores Ambiel, Amstalden, Bannwart e Wolf, começaram a chamá-la espontaneamente pelo nome até hoje adotado: Helvetia. No entanto, a origem do Helvetia Polo, parte luxuosa do bairro, está distante das tradições suíças, estando intrinsecamente ligada a um esporte praticado por famílias tradicionais e da elite.


A história do bairro Helvetia Polo, bem como a do Helvetia Polo Country Club, está relacionada a um grupo de entusiastas movidos pelo esporte. Sua origem está inserida à ascensão do polo em São Paulo e ao número insuficiente de campos na capital para suprir a necessidade dos jogadores.

Seduzidos pelo clima agradável e pelo baixo índice pluviométrico propício para a prática do esporte, as tradicionais famílias passaram a estabelecer casas em volta do clube, inaugurado em maio de 1975.

Visualizando a demanda por novos campos para a prática do esporte, o empresário Giorgio Moroni idealizou um empreendimento em que pudesse desenvolver campos de polo no interior do Estado. O local escolhido foi Indaiatuba, onde encontrou a propriedade ideal em uma área pertencente à colônia suíça, por isso o nome Helvetia. Com apoio de nomes importantes como os irmãos Souza Aranha, a família Diniz, Decito Novaes, Carlos Baptistella, Ronnie Scott, José Kalil e os Mansur, o negócio prosperou e se desenvolveu.
















                   Imagem do loteamento inicial do Helvetia Polo - Década de 1970

“Quando perceberam que o país tinha potencial no esporte, precisavam encontrar um local que fosse viável para os campos de polo e com facilidade no acesso aos outros países que representam o esporte. No meio disso, estava Helvetia. Sem contar o clima da cidade, que é muito bom. Com um nível de chuva regrado e excelente para o polo”, conta o administrativo da IGP Consultoria Imobiliária, Pierluigi 'Poy' Clini.

Indaiatuba virou, então, o ponto de encontro dos polistas. Outro ponto importante e que fez o município ser escolhido como refúgio das mais tradicionais famílias de São Paulo foi o acesso facilitado às principais rodovias do país, como Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Santos Dumont, Dom Pedro I, Rodovia do Açúcar e outras. Tudo isso, somado ao clima favorável, atraiu os polistas para o interior e hoje Helvetia é considerado o maior centro de polo do Brasil.

Detalhes

O empresário Rafael Palma, o qual já foi presidente do Helvetia Polo Country Club por três vezes, reforça o início da história do bairro, estimulada por Giorgio Moroni. “Ele visualizou uma oportunidade de fazer um empreendimento utilizando o Polo e todo o seu charme”, diz. Palma explica que como os alqueires foram comprados no bairro Helvetia, da colônia suíça, manteve-se o nome e incorporaram o ‘Polo’ devido a presença do esporte no local, através da instalação do clube. 

Imigrante italiano e com passagens pela Argentina e Uruguai, Giorgio Moroni comandava no Brasil uma indústria de aço e era fanático por esportes. Em 1975, juntamente com os irmãos Souza Aranha, Moroni comprou 40 alqueires de terra na colônia suíça de Helvetia. “Com metade do lote, os Souza Aranha criaram a chácara Casa Verde. Já o Giorgio utilizou seus 20 alqueires para lançar o primeiro campo de polo do local, bem como fundar o Helvetia Polo Country Club”, conta Palma.

Giorgio Moroni

Segundo ele, a vida de um polista é uma eterna paixão pelo cavalo. Então, as famílias tradicionais ligadas ao esporte visualizaram a hipótese de comprar áreas maiores no Helvetia Polo para fazer seus próprios campos, pois o local contava com toda a estrutura necessária para a prática deste. 

E foi o que ocorreu. 

“Como os polistas queriam ficar próximos aos campos, foi se formando grandes loteamentos ao redor do clube”, comenta Mirian Campregher, proprietária da Imobiliária Z10. “Foram estes loteamentos que alavancaram o bairro Helvetia Polo”, completa Palma.

A valorização no mercado imobiliário

Para 'Poy', a vinda das tradicionais famílias valorizou muito o bairro. “O Helvetia Polo hoje é uma referência, porque é um loteamento de arborização fantástica e terrenos grandiosos”, diz. “Tudo isso pois concentrou-se aqui, principalmente nos últimos 30 anos, um investimento maciço de todas as famílias polistas como Diniz, Mansur, Souza Aranha, Palma, Matarazzo, Junqueira. Assim, já na década de 80 e 90, conseguimos transformar o Helvetia em um clube que é considerado o centro de polo do país”, afirma Rafael Palma.

Todo o glamour que existe entorno do esporte, acabou sendo levado para o bairro, que ganhou destaque e valorização na cidade. “O glamour e luxuosidade ligada ao bairro Helvetia Polo vem do fato de que ele foi o primeiro condomínio com campo de polo particular; depois, porque lá vivem família tradicionais da elite paulista”, declara Poy. “Foi através do polo que os terrenos ao lado seguiram esta valorização”, complementa Campregher.

Não há dúvidas de que as propriedades de alto valor agregado foram as responsáveis por valorizar também os bairros em seu entorno. Prova disso, são os inúmeros condomínios que se instalaram nas proximidades. “Essas áreas se beneficiaram do nome e glamour do Helvetia Polo”, alega Rafael Palma.  “Como ele foi o primeiro loteamento, o pessoal que jogava polo acabava indo para lá. Foi meio que automático. O fato da existência do clube ligado ao esporte no local agrega um valor ao bairro, sem dúvida alguma. Isso é marketing. E deu certo”, ressalta 'Poy'. “Acredito que a intenção nem era tornar o Helvetia Polo um bairro luxuoso mas aconteceu, devido a presença do clube e das famílias tradicionais”, acrescenta. 

Concebido para o lazer específico de polo, o Helvetia Polo, que no ano passado completou 35 anos de existência, é sem dúvida alguma um dos bairros mais tradicionais da cidade. “Não importa o tempo que passe, ele sempre será o Helvetia Polo com todo seu charme, luxo e glamour. Ele é uma grife e isso não vai mudar”, diverte-se 'Poy'. “Helvetia não é hoje o bairro mais valorizado da cidade, mas é o mais bem conceituado e de prestígio, sem dúvida. Continua tendo o glamour e sendo exclusivo em relação ao tamanho de seus lotes”, ressalta.

Todo este glamour do Helvetia Polo tem berço. Se não bastasse ocupar uma região habitada por uma comunidade suíça e ter sido fundado por representantes das mais tradicionais famílias brasileiras, o polo tem sua origem na família real inglesa, fazendo do bairro,  definitivamente, um refúgio nobre.


O esporte

O polo trouxe um desenvolvimento fantástico para a cidade, sem contar a visibilidade que Indaiatuba ganhou por se tornar referência mundial no esporte. “O polo de Helvetia é o maior centro do esporte no Brasil. E no mundo têm poucos clubes tão bonitos quanto o Helvetia Polo Country Club”, afirma Palma.

Visto como uma prática esportiva transmitida de geração para geração, em termos de estrutura, o polo é um esporte caro. “Mas não com os números estrondosos que normalmente especulam”, ressalta Palma. “Ele é caro porque envolve uma série de coisas. Primeiro, a temporada no Brasil é uma das maiores do mundo, onde joga-se de março até novembro. Para aguentar a temporada inteira precisa-se de no mínimo 12 cavalos. Além de ter peticeiro e ajudante, uma estrutura de cocheira, ração, veterinário e uma séria e outras coisas. Então, o polo, indiscutivelmente, é um esporte seletivo”, explica o empresário.




Texto originalmente publicado na Revista Exemplo Imóveis 
Agradecimentos: Sr. Aluísio Williampresidente do Grupo AWR
Débora Andradesjornalista.


Por Gabriela Virdes


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Luto - Gabino Ferreira de Miranda Neto

Faleceu na noite de ontem, 11 de agosto, o Diretor Comercial do jornal TRIBUNA DE INDAIÁ - o mais antigo de nossa cidade que continua sendo editado, o jovem Gabino Ferreira de Miranda Neto de um infarto fulminante, com apenas 40 anos de idade.

Gabino Neto, cuja família está no comando da Tribuna desde 1961, era conhecido e reconhecido pela sua alegria e generosidade e era da terceira geração no comando da Tribuna. 

Zé de Miranda e Manoel de Miranda, - este último seu pai, que além de trabalhar na Tribuna, foi radialista na Rádio Jornal durante muitos anos, transmitindo notícias policiais de forma muito singular, alcançando, também por isso, a simpatia de seus ouvintes - pertencem a segunda geração no comando do jornal.

Era neto do grande jornalista Gabino Ferreira de Miranda (leia aqui sobre ele), que também faleceu precocemente, em um dia do mês de agosto, com apenas 45 anos de idade. Gabino Ferreira de Miranda trabalhou com os fundadores do jornal.

Que a família seja confortada com a solidariedade de todos os que sempre admiraram o trabalho deles por gerações, e que agora lastimam juntos essa perda tão precoce.

O sincero pesar, desta que foi sua professora,
Eliana Belo Silva

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Acidente doméstico com vítima fatal - 1884


GAZETA DE NOTÍCIAS - Anno X - número 252
(Rio de Janeiro)
Segunda-feira, 08 de setembro de 1884

Distrito Industrial de Indaiatuba


O  'vasto e bonito'  Distrito Industrial

Apesar de, em seu hino, ser lembrado pelo seu 'campo florente tão vasto e bonito', a principal vertente econômica do 'mais lindo recanto do Brasil' é hoje proveniente do setor industrial, que faz da cidade uma das principais potências em exportação do país. Tamanha importância demanda atenção e cuidados dos órgãos públicos, exatamente como teve Romeu Zerbini, Clain Ferrari e José Carlos Tonin que viabilizaram a criação de uma área exclusiva para promover a industrialização da cidade nas décadas de 1970 e 1980. 
O resultado dos projetos é o que hoje conhecemos como Distrito Industrial. Localizado na Zona Sul, ele abriga  cerca de 87,8% das indústrias instaladas na cidade. 
Entretanto, não foi sempre assim…



Imagem Aérea do Distrito Industrial
Crédito: Eliandro Figueira *



O processo de industrialização na cidade, segundo a historiadora Eliana Belo, compreende um período que vai do início do século 20 até o fim da década de 1960, ou seja, antecede a criação do Distrito Industrial. “O início do processo de industrialização em Indaiatuba pode ser pautado na década de 1920 e até 1960 podemos consta-se que eram pouquíssimas indústrias e todas localizadas no centro da cidade”, observa, “não havia burocracias, exigências da Cetesb, nem preocupação com impacto ambiental, então as indústrias se confundiam com o espaço urbano”.

 Dentre as poucas instalações, dois exemplos podem ser citados: a Mazzoni e a Indústria de Bengalas e Muletas. As exceções, segundo a historiadora, eram as cerâmicas e olarias, mais afastadas da região central. “As olarias ficavam próximas aos locais nos quais já havia matéria-prima para fazer tijolo”, explica. Nesse caso, quem representa essa necessidade é a Cerâmica Capovilla, que se afastou do Centro após o crescimento proporcionado ao passar a enviar materiais para a construção de Brasília.














                                                                                                                   Imagem da Indústria Mazzoni S/A (cabos de guarda-chuvas)
            Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba                                                               


No fim da década de 1960, houve o primeiro zoneamento industrial que a cidade conheceu. “Ele estava entre as avenidas Presidente Kennedy e Conceição, na região do Cidade Nova”, situa Eliana. A área nasceu com uma lei de uso do solo, anunciada no Plano Diretor de 1969, como mostram arquivos da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba. “Ali não era um distrito, pois não excluía a construção de residências e comércios. Na época era como ainda é hoje: casas, estabelecimentos comerciais e indústrias - algumas que restaram na região”, analisa a historiadora.

Como motivação para a instalação dos industriários no local, a Prefeitura concedeu alguns incentivos. As empresas que se instalassem na zona não precisariam pagar pelo terreno, mas em compensação, deveriam cumprir exigências quanto ao número de funcionários e área construída. Isso trouxe empresas como a Crovel e as Metalúrgicas Ilma, Puriar, a Wolf, entre outras. Na época, Dal Canton abriu a Flex Cord (fios e cabos), mas, ao contrário dos outros proprietários, fez questão de pagar pelo terreno. “Ele aceitou se firmar ali mas quis pagar, não se sabe o porquê. Talvez medo de não cumprir as exigências ou receio de ter o terreno”, revela Eliana.



Metalúrgica ILMA
Instalada na década de 1960, em funcionamento até hoje no mesmo local
Crédito: Revista Exemplo


Para a historiadora, o que possivelmente atraiu o zoneamento para a região foi a implantação da Yammar. “A maior parte das indústrias forneciam materiais para ela”, observa. “E a Yammar foi o grande marco da industrialização da cidade na década de 1960. Em uma visão macro, ela é o símbolo e fez a diferença no desenvolvimento, atraindo migração e gerando empregos”, opina.



Yannmar
Instalada na década de 1960, em funcionamento até hoje no mesmo local, atraiu pessoas e outras empresas para Indaiatuba
Crédito: Revista Exemplo


(Veja a relação de indústria que existiam em Indaiatuba na década de 1970 aqui)

Zona Sul e os distritos

Com a evolução das cidades, começou a brotar uma preocupação ambiental em todo o mundo. Em Indaiatuba, uma cidade que estava em pleno desenvolvimento na década de 1980, não foi diferente.

Como aparece no Plano Diretor de 1990, o zoneamento do Cidade Nova já não estava mais de acordo com o que era ecologicamente correto, portanto “pela proximidade da zona de preservação da captação de água da Bacia Cupini, esta localização foi revogada, definindo-se a Zona Sul, através de várias legislações sucessivas (1973, 1977 e 1979), como área preferencial para indústrias”.

A primeira lei que mencionou a criação de um distrito foi criada pelo prefeito Romeu Zerbini, que encaminhou a proposta à Câmara dos Vereadores em julho de 1973. Pouco tempo depois, quatro indústrias já haviam se instalado no local.

A segunda foi em 1977 e a terceira em 1979, ambas sob incentivo do então prefeito Clain Ferrari (1977/1982 e 1989/1992). O primeiro distrito de fato legalizado foi, de acordo com Eliana, o Domingos Giomi. “Ele começou a ser feito no fim da década 1970 mas foi efetivamente ativado no início da década de 1980, já com o prefeito Luiz Carlos Tonin [1983/1988]”, comenta. O projeto de lei 50/85 foi aprovada com dez votos contra cinco na Câmara dos Vereadores, concedendo 33 alqueires para essa finalidade.

Tal como no zoneamento do Cidade Nova, foram concedidos benefícios às empresas que se instalassem no local. A lei garantia isenção de IPTU por dez anos, além de ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) e taxa de licença para construção e funcionamento. Em contrapartida, as indústrias deveriam ter pelo menos 30 funcionários. 



Entrada (antiga) para o Distrito Industrial da Zona Sul, em imagem de 2009
Atualmente este trevo já foi modificado devido ao aumento de indústrias.
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO


Cenário em 2009

Em 2009, o então secretário municipal do Desenvolvimento, Edmundo José Duarte, informou que eram cinco os distritos que compunham o Distrito Industrial: Recreio Campestre Joia, Domingos Giomi, João Narezzi, Nova Era e Vitoria Martini/American Park. “Também está saindo um sexto distrito, com cerca de 200 lotes industriais”, anuncia Duarte.
O mais conhecido deles é o Campestre Joia, mas como conta a historiadora Eliana, ele não nasceu com essa finalidade. “O Recreio Campestre, como o próprio nome diz, era um campo, um espaço com chácaras, com o objetivo de recreação. Como os lotes eram baratos, algumas empresas se instalaram ali, de início irregularmente, mas depois foram se adequando e hoje são legais”, revela. O Campestre Joia aparece também nos números do Distrito, sendo o que mais tem funcionários.



Placa de Identificação (antiga) para o Recreio Campestre Jóia, em imagem de 2009
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO

Em 2009, a soma de todos os distritos resulta em 28 mil funcionários, que trabalham em 651 indústrias – o total de Indaiatuba é de 741 indústrias. Tudo isso correspondia um valor de R$ 100 milhões arrecadados em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Em matéria de exportações, a área também representa bem a cidade. Indaiatuba é a segunda da Região Metropolitana de Campinas (RMC) em exportações, como mostram os dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior através da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Apenas em maio de 2009, a cidade exportou US$ 62.566.158.

Dentro do Estado, a posição indaiatubana em 2009 era de 12° lugar e na lista nacional, Indaiatuba era a 52ª cidade. Segundo a secretaria de Desenvolvimento, os cinco países que Indaiatuba mais exporta são Argentina, Venezuela, Chile, México e Estados Unidos. Duarte comenta que  “em pouco tempo Indaiatuba será a primeira da RMC em exportações. Um negócio muito bom vem por aí e irá tornar a cidade uma potência no setor” **, diz.

Os bons desempenhos refletem ainda no número de novas vagas de emprego do município. Mantendo a vice-liderança na RMC, Indaiatuba perdeu apenas para Campinas em quantidade de novos empregados em maio de 2009. Segundo balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Indaiatuba teve 625 novas vagas de emprego - 3.120 admissões contra 2.495 demissões. No período de janeiro a maio do ano citado como referência, foram contratadas 14.519 pessoas contra 11.652 desligamentos, culminado com 2.867 novas vagas preenchidas.



Placas de Identificação (antigas) para o Distrito Industrial da Zona Sul, em imagem de 2009
Atualmente este trevo já foi modificado devido ao aumento de indústrias.
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO


AIMI
A Associação das Indústrias do Município de Indaiatuba nasceu em 1974, 
antes mesmo da criação do Distrito, para auxilar e poder subsidiar as indústrias que já existiam na cidade. 
 acordo com a presidente (em 2009), Carla Borges, a Aimi participou ativamente da criação do Distrito Industrial na Zona Sul da cidade.

SENAI
Para bons resultados de uma indústria é necessário que a empresa possua mão-de-obra qualificada. 
Pensando nisso, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) se instalou em Indaiatuba, na década de 1990. 
Duas décadas mais tarde, a confiança em seu trabalho continua. 
Segundo o secretário do Desenvolvimento, em 2009 a Prefeitura conseguiu R$ 10 milhões para investir na escola. “Serão R$ 3 milhões para a expansão - irá dobrar a capacidade do Senai – e R$ 7 milhões para equipamentos”, revela.

CIESP
O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo é uma sociedade civil, 
sem fins lucrativos, que congrega indústrias, suas controladoras e empresas que possuem interesses relacionados aos da indústria. 
A Regional de Indaiatuba é uma das 43 Diretorias do Estado e tem como objetivo, preservar os interesses da indústria e seus associados. 
Foi inaugurada em novembro de 1994 e tem grande representatividade na região.



Pedras no caminho

Como nem tudo são 'flores', o Distrito enfrenta alguns problemas, comuns a qualquer espaço urbano. Em 2009,a presidente da Associação das Indústrias do Município de Indaiatuba (AIMI), comentou sobre a falta infraestrutura no local. “Nossos associados sentem falta de sinalização, segurança, bombeiros, ampliação de atendimento aos filhos de funcionários, posto de saúde e transporte urbano”, aponta.

Na opinião da historiadora Eliana, com o números de indústrias instaladas na cidade, Indaiatuba já sofre com as consequências do tráfego pesado das estradas. Uma medida que deveria ser adotada para solucionar o problema é o melhor aproveitamento da nossa malha ferroviária. “Já temos a Estação de Pimenta e a linha do trem passa por trás do Distrito. Essa linha sai de Sorocaba e vai direto para Santos, seria muito mais prático para enviarmos nossa produção para a exportação”, argumenta. “Sem contar que não haveria impacto ambiental, pois ela está pronta; os riscos trabalhistas são baixos, pois acidentes são raros; e para completar, a estação poderia ser mais um ponto histórico na cidade”, sugere. 



Imagem Aérea do Distrito Industrial
Crédito: Eliandro Figueira *


DADOS SOBRE O CRESCIMENTO - 2009

Mesmo diante da crise econômica instalada no mundo após 2008, Indaiatuba foi uma das poucas cidades que cresceu no âmbito empresarial. Nos 19 meses que antecederam maio de 2009, mais de 2600 empresas não só se estabeleceram em Indaiatuba como aquelas que já estavam na cidade se regularizaram motivando uma maior geração de renda e emprego para o município.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento e a Secretaria da Fazenda de Indaiatuba, foram exatamente 2614 empresas entre indústrias, comércios e serviços que se instalaram ou se regularizaram na cidade. No período de janeiro de 2009 até julho deste ano foram instaladas e regularizadas 117 indústrias, 716 comércios, 1080 prestadores de serviços (pessoa jurídica) e 101 prestadores de serviços (pessoa física).

Para o secretário de Desenvolvimento da época, a vinda da indústria para o município movimenta toda a cadeia produtiva, não só da área dela, mas também do setor de comércio e serviços. “Esses números refletem muito bem o acolhimento que a cidade tem dado aos empreendedores ao longo desse período, proporcionando boas condições de trabalho, infraestrutura, mão de obra especializada, malha viária e qualidade de vida”, ressalta Duarte.

Alguns fatores foram determinantes para o crescimento da instalação de empresas na cidade como regularização e implantação do Dimpe (Distrito Industrial das Micros e Pequenas Empresas), o aumento da oferta de mão de obra especializada por conta da Fiec, Fatec e Senai, rodadas de negócios, feiras, seminários, núcleo de comércio exterior, implantação do MEI (Micro Empreendedor Individual) pelo Sebrae entre outros. Ainda tentando fazer de Indaiatuba uma cidade mais competitiva, a administração está estudando uma reforma na Lei de Incentivo Fiscal. 


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Quer completar esse post com imagens ou informações?
Escreva para elianabelo@terra.com.br

Há uma carência sobre a história da indústria e do comércio de Indaiatuba.
O Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba aceita doações de documentos e imagens de comércios e indústrias de nossa cidade. 
Não jogue nossa história no lixo!



* Eliandro Figueira é um fotógrafo profissional. Não utilize imagens feitas por ele sem CITAR A FONTE. 
** Duarte referia-se ao Porto Seco, mas ele não foi viabilizado.



Texto originalmente publicado na REVISTA EXEMPLO IMÓVEIS 
Agradecimentos: Sr. Aluísio Williampresidente do Grupo AWR
Débora Andradesjornalista.





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