Mostrando postagens com marcador Helvetia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Helvetia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Bens tombados em Indaiatuba - ATUALIZAÇÃO até julho 2025

PATRIMÔNIO CULTURAL DE INDAIATUBA

 

Patrimônio Material:



1. Antiga Sede da Fazenda Engenho D’Água, localizada na Rua Zepherino Pucinelli (Quadra 38/39), no Jardim Morada do Sol, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 01/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

2. Matriz Nossa Senhora da Candelária, localizada na Praça Leonor de Barros Camargo, s/n, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 03/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

3. Casa Paroquial, localizada na Rua Candelária, no 399, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 04/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

4. Casarão Pau Preto, localizado na Rua Pedro Gonçalves, no 477, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 05/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

5. Busto Dom José deCargo Barros, localizado na Praça Leonor de Barros Camargo, s/n, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 06/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

6. Caixa D’Água do Casarão, localizada na Rua Pedro Gonçalves, lote vizinho ao Casarão, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 06/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.


7. Hospital Augusto de Oliveira Camargo, localizado na Avenida Francisco Paula Leite, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 01/98 e processo de tombamento no 01/2003 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

8. Tulha e Casarão que se incluem no conjunto arquitetônico que compõe a Fazenda Bela Vista, localizada na Rodovia João Ceccon, 370, Bairro Bela Vista, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 006/2022 e Processo Administrativo 15.342/2022, de acordo com a Lei Municipal no7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2514 de 09 /12/2022).

 

9. Chafariz, localizado a Praça Elis Regina, localizada na Vila Sfeir, na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 001/2023 e Processo Administrativo 8906/2022, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021 (Publicado na edição 2805 de 30 /11/2023).

 

10. Alguns elementos do “Cemitério de Taipas” e “Cemitério de Pedras, localizados na Rua Candelária, na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 02/2023 e Processo Administrativo 33764/2022, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2805 de 30 /11/2023).

 

11. Muro de Taipa, localizado na Rua Pe. Luiz Soriano, Jardim Pau Preto, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 03/2023 e Processo Administrativo 8805/2022, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2805 de 30/11/2023).

 

12. Edifício da antiga Escola Estadual Randolfo Moreira Fernandes (atual Centro Cultural Wanderley Peres) localizado na Praça Dom Pedro II, Centro, na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 03/2024 e Processo Administrativo 28010/2023, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2972 de 26/06/2024).


13. O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Itaici, localizada na Rua Francisco Araujo, no 49, Itaici na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 005/2025 e Processo Administrativo 24232/2025, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 3301 de 07/07/2025).


14. O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Indaiatuba, localizado na Praça Newton Prado, s/no, Jardim Pompéia na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 006/2025 e Processo Administrativo 24234/2025, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 3301 de 07/07/2025).

15. O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Helvetia, localizado na Colônia Helvetia na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 007/2025 e Processo Administrativo 24235/2025, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 3301 de 07/07/2025).

 

 

Patrimônio Imaterial:


  1. “Festa da Tradição de Helvetia”, instituída como patrimônio imaterial de Indaiatuba pela Lei 7.602 de 28 de junho de 2021.
  2. “Companhia de Reis” conhecida também como “Folia de Reis” ou “Santo Reis”, instituída como patrimônio imaterial de Indaiatuba pela Lei 7.855 de 01 de setembro de 2022.
  3. “Samba da Figueira”, reconhecida como manifestação cultural local, bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural de Indaiatuba pela Lei 8.014 de 26 de junho de 2023.

Fonte: Secretaria da Cultura de Indaiatuba, em resposta advinda de e-Sic de julho de 2025. Ainda segundo a fonte, não há outros bens materiais ou imateriais em tramitação para obtenção de tombamento.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

O retábulo da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes da Helvetia

Charles Fernandes

Arquiteto e Urbanista


O RETÁBULO do altar mor da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, localizada na Colônia Helvetia, pode ser considerada a peça de entalhe mais importante do patrimônio histórico de Indaiatuba, tendo sido executada no final do Século XIX e mantida em suas características originais até os dias atuais. 

Entre diversas características muito especiais de sua composição que utiliza de repertório eclético, típico do final dos anos 1800, podemos citar as colunas que possuem, em seu terço inferior, pedestais estilizados com formatos que assemelham bulbos ou botões florais, além do toro (base) da coluna também apresentar motivos estilizados semelhantes. 

As colunas são coroadas por CAPITÉIS compósitos adornados com volutas e folhas de acanto estilizadas. Outra característica marcante é o uso de arcos concêntricos e diferentes módulos de coluna para dar ideia de perspectiva, esta ilusão típica de retábulos barrocos, junto de elementos estilizados florais e neoclássicos, é outra característica de composições ecléticas que utilizam de elementos de diversas referências e épocas, em uma única obra. 

O coroamento do retábulo possui um dos  elementos que mais o diferencia e impregna originalidade, o arco principal é alteado, dividido, cortado, restando-lhe apenas o arranque; e em posição central, como que em uma chave aduana, um RESPLENDOR é colocado como que se explodisse o coroamento e lançasse brilho intenso sobre o altar em direção a nave da igreja. 

O Retábulo da Igreja de Helvetia  possui rigosamente todos os elementos formais que se espera deste tipo de peça sacra, a BASE é composta em patamares, arrematados com MÍSULAS, como que um podio, usado em arquitetura clássica para determinar importância maior do que se localiza acima. 

Na base desta peça também encontra-se um SARCRÁRIO, comum em retábulos. As colunas e nichos formam a parte chamada de CORPO do retábulo, e as CORNIJAS e arcos formam o arremate chamado de COROAMENTO.

Há também retábulos de capelas laterais e coro executados em madeira completando o conjunto de entalhes, e não se pode adentrar a Igreja de Helvetia sem reservar tempo para admirar o teto da nave, em abóbada de canhão com molduras e pinturas em seu centro; também o arco cruzeiro e o teto da capela mor em abóbada de cruzaria. 

Há outros elementos com desenhos curiosos como o óculo do frontão da fachada principal, que também possui formato floral, e o campanário, localizado ao fundo, cujo formato em pináculo também remonta a elementos europeus, utilizados também no Santuário de Lourdes, construído no local onde teria ocorrido a aparição mariana que dá nome a igreja de Helvetia.  

Em outros locais da cidade, poucas peças restam que teriam importância semelhante aos elementos de entalhe do interior da igreja de Helvetia, entre eles citaria os balcões dos nichos das paredes sobre o presbitério da igreja da Candelária, que possivelmente restam de sua construção original, do início do século XIX. Na Candelária, o retábulo original fora substituído por outro, neo gótico, em cerca da década de 1870, e que também teria sido demolido em meados do século XX para colocação do órgão de tubos. As capelas laterais e seus retábulos da matriz, também foram retirados em reformas. 


A Igreja de N. Sra. Lourdes, consagrada no ano de 1899, é uma pérola do patrimônio histórico da cidade de Indaiatuba, e representa a tradição e cultura da Colônia Helvetia desde a chegada dos primeiros imigrantes em 1888 até os dias atuais, contribuindo para a manutenção da identidade e para a sensação de pertencimento de todos os seus descendentes.







terça-feira, 16 de janeiro de 2024

OS DEZ MAIS ANTIGOS ELEMENTOS DO PATRIMÔNIO DE INDAIATUBA AINDA REMANESCENTES


Vista  Interna do Campanário da Igreja da Candelária

01 – CÔMODO EM TAIPA DE PILÃO, NO CASARÃO PAU PRETO 

Construído entre o fim do Século XVIII ou início do século XIX, o cômodo é retratado na carta do padre Cassimiro da Costa Roriz como moradia singela, utilizada pela igreja, e dataria da época em que foram edificadas as primeiras capelas, de Nossa Senhora da Conceição e do Sagrado Coração de Maria, anteriores a Igreja da Candelária, esta última demolida quando a obra da Matriz terminou. O cômodo original (veja post aqui), existente antes da chegada do padre Cassimiro, possuía um alpendre que era voltado para o sol do meio dia, voltado para olhar o vale do Córrego Votura, também chamado de Córrego Indaiatuba e recentemente de Córrego Barnabé. Este cômodo é uma das primeiras edificações de Indaiatuba possivelmente de época em que a localidade não era, sequer, reconhecida como bairro rural de Itu.



Vista do Casarão Pau Preto, de seu jardim interno para a direção da rua, antes da restauração


Porta da entrada para o primeiro cômodo do Casarão Pau-Preto, em imagem recente, quando a sala pertencia à superintendência da extinta Fundação Pró-Memória


02 – PORTA DE ACESSO AO RELÓGIO DA IGREJA DA CANDELÁRIA

Foi Pedro Gonçalves Meira, que era proprietário de terras a beira do Rybeirão Indayatuba quem construiu a capela de Nossa Senhora da Conceição, que era localizada onde hoje é a nave da Igreja da Candelária, fora construída por Pedro Gonçalves Meira, e já existia em 1807, sendo sua construção anterior a esta data, possivelmente na época da ocupação das terras devolutas que vieram se tornar a paragem de Indaiatuba no fim do século XVIII. 

A atual matriz de Nossa Senhora da Candelária foi construída, literalmente, em torno desta capela que mudaria o nome de para Nossa Senhora da Conceição para Capela do Santíssimo Coração de Maria. 

A porta da primeira capelinha da Conceição, foi guardada e reaproveitada em uma reforma, em cerca de 1879, tendo sido instalada para dar acesso ao mecanismo do relógio inserido no frontão, nesta ocasião. Considerando esses fatos, é plausível afirmar que essa porta setecentista é a última peça remanescente da capela original das terras da paragem de Indaiatuba. 

Em 1819, a capela já seria Curada com outro  nome, como Capela do Santíssimo Coração de Maria Santíssima, segundo registros de casamento da época. Em Outro registro, o Padre Pedro Paes Leme escreve: “Foi primeiramente capella sem ser Curada, e depois passou a ser Curada, e depois deixou de ser curada, os tempos em que estas alternativas tiverão lugar, não achei documento, nem pessoa que me pudesse informar, com tudo haverá mais ou menos 23 annos”. 


Largo da Candelária


03 – FRONTÃO ALTEADO DA IGREJA DA CANDELÁRIA

A construção da igreja da Candelária teve início na primeira década do século XIX, cerca de 1807. Foi edificada conforme as normas estabelecidas na contrarreforma da igreja católica, indicadas no Concílio de Trento, no início do século XVI, possuindo uma planta com altar, presbitério, nave, coro, capelas laterais, tribunas elevadas e balcões - todos estes elementos dispostos de maneira a criar soluções acústicas, luminotécnicas e de conforto térmico, para proporcionar melhor acolhimento e, por consequência, apreciação e entendimento das missas. Chamada de frontispício, a fachada principal das igrejas maneiristas e barrocas brasileiras é coroada por um elemento usualmente em formato triangular, que é chamado de frontão; mas que na igreja da Candelária possui um desenho incrivelmente incomum. 

Frontão alteado da igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba


A Igreja da Candelária, originalmente, possuía linguagem autenticamente barroca, tendo precedido o ecletismo no Brasil em várias décadas, e tem como similar histórico mais próximo, o Convento do Carmo de Itu. Enquanto o frontão do Carmo é curvo, o frontão da Candelária, além de curvo é segmentado, sendo chamado de ALTEADO, e são, ambos, peças típicas da arquitetura sacra colonial brasileira. Esta característica é muito rara entre as igrejas brasileiras e contribui para tornar a nossa Igreja da Candelária um patrimônio arquitetônico de elevada importância.

O maior mestre da arquitetura colonial brasileira, o Alejadinho, teria usado esta segmentação do frontão na igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, em 1642; cortou o frontão, torceu e perspectivou-o sobre o frontispício, como se o templo explodisse em esplendor para receber o fiel; um gênio, se não à frente, igualável aos maiores arquitetos de Europa. 

Originalmente, a cobertura dos campanários da Candelária possuía frontões curvos, exatamente como os do Carmo, mas foram reformados em 1915 quando foram elevados e receberam coberturas em formato de pináculos e os coruchéis barrocos de pedra, idênticos aos do Carmo, foram substituídos por imagens de anjos. 


Frontispício da igreja da Candelária, da Igreja do Convento Nossa Senhora do Carmo em Itu, e de o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos em Congonhas do Campo,
 exemplos de Frontões Barrocos.


04 – AS VERGAS ABATIDAS E BALAUSTRADAS DOS BALCÕES DA CANDELÁRIA.

O Barroco é um movimento artístico caracterizado pelos excessos, pelo movimento, pelas curvas, pela luz e sombra percorrendo as superfícies rebuscadas. A folha de acanto estilizada e as conchas do mar, são temas muito utilizados, e os formatos destes elementos “rocaille” são características muito fortes desta arte que floresceu na época do Brasil Colonial.  A primeira carta que descreve a Candelária, escrita pelo padre Roriz, indica que o altar mor possuía um retábulo muito liso e simples; muito tempo depois, foi substituído, em 1875, por outro retábulo já com elementos do repertório eclético, entalhado por Monsieur Bernard, um artista francês que levou cinco anos para terminar esta obra, que também foi retirado em 1951 para instalar o órgão de tubos que atualmente adorna a capela-mor. 

Pouquíssimos elementos do barroco original restaram na Candelária, e possivelmente parte, ou a totalidade, dos seis primeiros balcões cegos sobre o presbitério, são remanescentes desta rica arte. As VERGAS das aberturas “rasgadas por inteiro” destes falsos balcões sustentam a parede de taipa, e são em arco abatido, acabadas com sobrevergas e ombreiras, finamente entalhadas, tipicamente barrocas. Destaca-se também o desenho da balaustrada, em arco abatido, com arranques laterais adornados de acantos rococó, entalhados em madeira que se projeta em leve balanço sobre o Presbitério.  

Tribunas laterais da Igreja da Candelária



Na Candelária, o pavimento acima das capelas laterais originalmente adjacentes a nave, formam uma tribuna, onde, nos tempos antigos, personalidades assistiam as missas, de local separado do público geral, que ficava abaixo. Os primeiros balcões sobre a nave, eram reservados para que as pessoas mais importantes da cidade assistissem a missa nas tribunas no pavimento superior. A nave termina no arco cruzeiro, e depois, mais estreito vem o presbitério e a capela do altar mor; nesta parte não há tribunas sobre os corredores laterais e a Capela do Santíssimo, mas existem balcões falsos, com nichos na parede de taipa que possuem óculo para a estrutura do telhado. Apesar destes balcões terem apenas funções decorativas, são entalhes incríveis ainda preservados. 

Existem dois entalhes em madeira dignos de citação e memória em Indaiatuba, este balcão é meu preferido por ser o mais antigo e representativo, dada sua importância histórica; o outro é o retábulo de Nossa Senhora de Lourdes na Colônia Helvetia, a peça mais completa e preservada do gênero na cidade. 

Vergas das janelas vistas Igreja de N.Sra. do Pilar em Ouro Preto, fachada lateral


05 – O LARGO DA CANDELÁRIA

Largo é um pátio externo e descoberto, que pode ser localizado em frente ou junto a igrejas, também chamado de Adro, utilizados especialmente no Brasil Colonial. Embora o Largo da Candelária já tenha sido reformado e, por algum tempo, ocupado por uma praça com caminhos e canteiros lembrando jardins europeus, ele voltou a sua configuração original, como espaço cívico e de convívio. O Adro da Candelária foi também o primeiro cemitério, tendo sido também, o local onde se levavam pessoas enfermas a procura de cura. Era, e ainda é, o local das festas religiosas, também o início e fim das procissões. Você pode descrever dezenas de cidades brasileiras afirmando que a procissão sai do Largo da Matriz pela rua lateral, vai até o cemitério, e volta. Algumas cidades possuem além do Adro, o Rossio, que é um espaço comum onde os moradores faziam pequenas plantações, se pegava lenha e onde se deixavam as montarias quando em visita a cidade. O LARGO da Candelária, chamado erroneamente de “Praça” Leonor Barros de Camargo, é um espaço que reafirma a construção da Matriz da Candelária na época e nos costumes do Brasil Colonial.

Antigo Largo da Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro



06 – O ORATÓRIO DO CASARÃO PAU PRETO

Na parte edificada em taipa de pilão do Casarão, citada anteriormente, pode-se notar a estrutura de um antigo alpendre, que foi fechado em reformas posteriores. A construção original em taipa, é uma das mais antigas da cidade, fora concebida com o raciocínio da arquitetura vernacular da São Paulo colonial, e que depois se perdeu em meio a tantas reformas do prédio. Originalmente, uma construção central em taipa sustentava a cobertura de onde projetava-se um alpendre, que é uma varanda de receber visitas ou marcar a entrada da casa, voltada a norte para barrar o sol e o calor excessivos. Nestas épocas de Colônia, as visitas eram recebidas no alpendre, que usualmente possuía cômodos de visitantes e uma capela, ou oratório, assim como algumas casas bandeiristas ainda existentes. Este oratório, era voltado para o o vale onde se avistava o Ribeirão Votura (atual Córrego do Barnabé), como também era voltada a porta da capela do Sagrado Coração de Maria, localizada onde hoje é a nave da Candelária. As capelas e igrejas coloniais, eram voltadas para os pontos de interesse, trabalho ou convívio. Nesta época, anterior a criação de um Centro Urbano em Indaiatuba, a população se assentava ao longo dos rios, e segundo documentos antigos, não havia um só rio ou córrego, que pudesse mover uma roda água, que não chegou a ter um engenho de cana nestas terras. A hidrografia coordenava a ocupação do espaço colonial, usualmente nomeava localidades, e podia proporcionar também, pontos de interesse dos aglomerados de fogos (casas) e capelas.  Inicialmente, a sede da Fazenda Pau Preto era junto ao seu engenho, no Córrego Belchior, próximo de onde hoje é a feira noturna. 

Já o embrião do que hoje é o Casarão (vide item 1), uma humilde edificação de taipa, era utilizada inicialmente pela igreja para pousada e moradia de padres, tendo neste singelo oratório, ainda existente, um dos primeiros abrigos para imagens de santos da cidade, possivelmente esculpidos em madeira, muito expressivos, caricatos, dramáticos, como são as imagens de entalhe barroco. Este oratório, junto ao cômodo de taipa, pode ligar a construção original do Casarão a um passado muito representativo de história das terras onde hoje está Indaiatuba ao período colonial.




07 – OS SANTOS DE ROCA DA CANDELÁRIA

Foi no setecentos que houve larga produção de imagens, prática advinda do já citado Concílio de Trento, que confirmou esse tipo de culto. 

Em meio a algumas peças existentes no acervo do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Campinas, que pertenceram ao acervo da Igreja da Candelária, existem duas cabeças de santo de roca (ou santo de vestir), um São Jorge e um São Francisco. Santos de roca eram figuras com cabeças, mãos ou bustos esculpidas e estruturadas em madeira, utilizadas em altares, oratórios, procissões e festas, que eram vestidas com roupas de tecido, o que dava mais teatralidade advinda da influência barroca. Eram também levadas em procissões e cortejos para dar dramaticidade e proporcionar maior comoção dos fiéis, que emocionadamente oravam, inflamados pela devoção. Geralmente, quanto mais antiga a imagem sacra brasileira, mais caricata será sua aparência. Imagens de roca barrocas são exageradamente expressivas. Com o fim do século XIX e início do século XX as novas imagens tornaram-se menos dramáticas e supostamente mais leves, e as antigas imagens de roca foram sistematicamente substituídas por santos de gesso.

Existem ainda outros três santos de roca que foram levados em 1920, para a capela da sede da fazenda Cachoeira do Jica, (1) um São José, (1) uma Nossa Senhora Candelária, e o popular e querido São Benedito, cuja procissão pedia chuva em épocas de seca.  Segundo informações recentes estas imagens foram recuperadas e estariam guardadas no acervo histórico da Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba. 

São Benedito de roca


Embora se tenha certeza que estas imagens são oitocentistas, há discordância entre memorialistas locais, que datariam o São Jorge como setecentista. Caso esta afirmação venha a ser comprovada, este poderia ser o patrimônio artístico material mais antigo de Indaiatuba e... quem sabe? Possamos até inferir que ele já tenha estado ornando, para os devotos, o oratório da então casa paroquial, aquele que chamamos de Casarão Pau Preto.


08 – O BAIRRO DE ITAICI E SUAS CONSTRUÇÕES COLONIAIS

Sem sombra de dúvida a ocupação da área do atual município de Indaiatuba não teve início no local chamado de Paragem de Indaiatuba, atual Centro - em local denominado "Praça da Nascente", isso só veio a acontecer no fim do século XVIII. A população da área que atualmente compõe o município de Indaiatuba era recenseada em quatro bairros rurais pertencentes a Itu, que no século XVIII eram chamados de Burú, Mato Dentro, Jundiaí (de Itu) e Piraí. Parte dos bairros do Piraí e Jundiaí hoje são conhecidos como Itaici e detinham as maiores populações da área, que usavam os abundantes recursos hídricos da região para mover rodas de engenhos e produzir açúcar, que era transportado por mula, utilizando os caminhos imperiais que partiam do interior da capitania (Caminho dos Goyases), passavam por Itu (Caminho do Peabiru) e São Paulo, e finalmente destinavam-se a Santos. 

Entre as diversas edificações das fazendas de Itaici destaca-se a sede da Fazenda Taipas, que, junto com a Fazenda Tranqueiras, mais tarde receberia o nome de Sitio Itaici que deu nome a área. Neste local, já em 1723, Antonio Pires de Campos mantinha aldeados 600 índios Bororós que o acompanhavam em suas entradas no caminho dos Goyases. A estrutura de taipa da sede da Fazenda Taipas ainda permanece, tendo conhecidamente sido reformada no séc. XIX por João Tibiriça Piratininga, e é atualmente chamada de Vila Manresa, patrimônio pertencente à Vila Kostka.  Ainda não há estudos que indiquem quais partes desta edificação são originais ou anteriores a essa e outras reformas, e qual a precisa data em que foi edificada. 

Antiga sede da Fazenda Taipas, atualmente é Vila Manresa, em Itaici


09 – AS CONSTRUÇÕES EM PAU A PIQUE QUE RESTAM NO CENTRO HISTÓRICO

Há ao menos duas edificações remanescentes em pau a pique no centro histórico de Indaiatuba. O pau a pique, ou taipa de sopapo, ou taipa de mão, é caracterizado por uma estrutura de madeira que forma os principais apoios de paredes e telhados, os vãos são fechados por uma malha de madeira e fibras vegetais, e preenchidos com barro. O barro é lançado por duas pessoas, uma de cada lado da parede, simultaneamente, por isso o nome, sopapo, ou mão. Partes do Casarão Pau Preto e da Casa Número 01 resistem bravamente como os últimos exemplares desta engenhosa técnica construtiva no Centro Histórico de Indaiatuba. Ambas não são totalmente em pau a pique, possuindo apêndices ou reformas em alvenaria de tijolos de barro, ou partes mais antigas em taipa de pilão.  


Casa Número1


Alguns casarios antigos do centro ainda podem ter as empenas laterais dos telhados feitas em pau a pique. Existem ainda alguns poucos casarões de fazendas em pau a pique, espalhados pela zona rural. Peças de madeira da estrutura do pau a pique do Casarão Pau Preto, não são serradas, são "falquejadas", aplainadas com ferramenta em forma de cunha ou facão, o que torna mais evidente as dificuldades técnicas e econômicas envolvidas em sua manufatura.




Imagens do Casarão Pau Preto que, após anos de abandono, foi reformado/restaurado por iniciativas e pressões populares


10 – OS MUROS DE TAIPA DO CENTRO

Em tempos onde não se tinha acesso a ferramentas elaboradas ou grande diversidade em materiais disponíveis para construção, construía-se com o que o local fornecia, e muitas vezes, era só o barro. Podemos dizer que as edificações mais antigas da cidade, são em taipa de pilão. As edificações de taipa, são o burro de carga das construções coloniais, feitas para enormes esforços estruturais, como na Igreja da Candelária, ou construções com ótima resistência utilizando materiais simples e abundantes, como nos muros de taipa do Centro, que estão em pé desde as primeiras construções da cidade. São apenas barro, socado entre formas de madeira, chamadas de taipais, unidas por caibros de madeira que serviam de tirantes internos, chamados de cabodás, e fixados com cunhas. Os taipais iam “subindo”, montados e desmontados a cada nova camada de barro que se socava, muitas vezes com a ajuda de um bezerro ou animal de pequeno porte, que era conduzido entre os taipais. 



Existem dois muros remanescentes de épocas muito antigas, ambos tombados pelo patrimônio histórico de Indaiatuba. O muro de taipa, localizado do lado da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária foi recentemente tombado pela Resolução 03/2023, da Secretaria de Cultura de Indaiatuba. Outro muro faz parte da estrutura de um apêndice lateral do Casarão Pau Preto, tombado em 1997, que originalmente, não era parte da casa e sim apenas um muro. Estudos indicam que a edificação original do Casarão Pau Preto, ocupava parte da área atual, e era cercado parcialmente com muro de taipa. Esta parede do atual casarão, que inicialmente era muro, está a apenas 60 metros de distância do muro recentemente tombado pelo patrimônio histórico, e exatamente no mesmo alinhamento dele. Este muro do Casarão foi, em diversas épocas, usado como fechamento entre chácaras, parte de uma cobertura para animais e parte da área de serviços da sede da fazenda. Ambos os muros podem ter ligação com a construção da Matriz da Candelária cuja parte em taipa foi iniciada 1807, pois ambos possuem grande semelhança em sua manufatura e fazem divisa entre as propriedades adjacentes a matriz.  

Por fim, existe ainda um terceiro muro de taipa mais recente edificado em 1886, para fazer o fechamento de parte do Cemitério da Candelária, quando se desocupou o antigo Cemitério São José, que ficava nos terrenos onde hoje são o Correio e a antiga Prefeitura. 

As maiores paredes de taipa de Indaiatuba, são as da Igreja da Candelária que chegam a ter 1.30m de largura estendendo-se até os frechais da cobertura.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Centenário do Cemitério da Helvetia - 1923 - 2023

 

A Colônia Helvetia foi fundada em 1888 por imigrantes suíços que começaram a imigrar para a região em 1854.

Os suíços trataram de construir um centro de convivência nesse local, na zona rural de Indaiatuba, perto do limite com Campinas. Ali construíram a igreja (1898), a escola (1893) e o cemitério, que neste ano de 2023, completa 100 anos.







(1) HELVETIANOS PEDEM AUTORIZAÇÃO PARA CONSTRUIR CEMITÉRIO

fevereiro de 1922





(2) CÂMARA MUNICIPAL CONCEDE AUTORIZAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO







(3) CÓPIA DA ATA DE REUNIÃO EM ABRIL DE 1922 SOBRE O CEMITÉRIO




ZELADORES DO CEMITÉRIO DA HELVETIA





ANTON AMBIEL - PRIMEIRO ZELADOR DO CEMITÉRIO DA HELVETIA


























Crédito do conteúdo: Casa da Memória da Helvetia - Inverno de 2023

Eliana Belo Silva





quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Tunel do tempo através das obras edificadas em Indaiatuba

Texto de Charles Fernandes

Arquiteto e Urbanista

 

O primeiro marco histórico, ainda remanescente, da arquitetura de Indaiatuba, é a Igreja da Candelária, edificada no início do século XIX e entregue à população no ano de 1838. Construída em grossas paredes de taipa de pilão, possuía originalmente muitos elementos barrocos, apesar deste movimento artístico histórico já estar em decadência na época da construção. Estes elementos podem ainda ser observados no frontão estilizado, nos arcos abatidos das vergas de portas e janelas e nos belos rocailles esculpidos em madeira da balaustrada do balcão lateral ao altar mor. 

Sim, restou muito pouco do barroco original, que possivelmente possuía um altar mor que acompanharia imponência e representatividade vistos ao menos nas capelas laterais da Igreja Candelária de Itu, cujo interior se encontra preservado. Mais de 100 anos após sua construção, a Igreja da Candelária recebeu uma significativa modernização que veio trazer uma nova linguagem para o prédio. São substituídas as coberturas baixas em arco de aresta dos campanários, por pináculos neogóticos, na intenção de implantar elementos da arquitetura ferroviária vitoriana. Cobertura semelhante pode ser observada na torre do relógio da Estação ferroviária de Campinas, construída em 1872 pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro (imagem abaixo).




No final do século XIX, Indaiatuba passa a ter um novo ideal para sua arquitetura, baseado nos prédios que são trazidos para receber máquinas agrícolas compradas da Inglaterra, ou nos edifícios ferroviários implantados na região.  Um destes exemplos é a Tulha do Casarão do Pau Preto, construída em alvenaria industrial inglesa. A arrojada linguagem deste prédio para os padrões da época, foi sistematicamente reproduzida em uma enormidade de edifícios por toda a cidade, que se utilizaram de diversos detalhes feitos em tijolos que ainda podem ser observados na parte da tulha remanescente (o prédio foi parcialmente demolido). 




Em 1873 foi inaugurada a Estação Indaiatuba, um dos prédios mais vanguardistas já implantados por aqui, apresentando linguagem incrivelmente sincronizada com as tendências europeias da época, e que reflete a velocidade com a qual a ferrovia trazia modernidade para a região. Outras estações também trazem diferentes linguagens: A Estação Pimenta, feita em tijolos, apresenta a alvenaria industrial; as estações Helvetia e Itaici são pérolas ainda existentes da nossa arquitetura ferroviária. 


Em 1888 Indaiatuba recebe um importante prédio público, a Casa de Câmara e Cadeia, construído em linguagem neoclássica com elementos estilizados. Rigorosamente projetado através de proporções e critérios compositivos que remontam à antiguidade clássica. Foi demolido na década de 60 do século XX para implantar uma fonte luminosa, equipamento que era “moda” nas praças de footing desta época. Os elementos do projeto da Casa de Câmara e Cadeia foram tão utilizados em outras construções pela cidade que é impossível não reparar em pilastras, cornijas e frisos utilizados em prédios por todo o centro antigo, sem lembrar da fachada já demolida do prédio que ficava no meio da Praça Prudente de Moraes. 







Um ano após a inauguração da Casa de Câmara e Cadeia, em 1889, nos últimos meses do Império, no alto de uma colina, a leste da cidade de Indaiatuba, voltando sua face principal para o Rio Capivarí-Mirim, é inaugurada a maravilhosa Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, construída por imigrantes suíços em Helvetia. Esta igreja leva o nome de uma das aparições marianas, ocorrida em Lourdes na frança em 1858. O prédio com estilo predominante Neo Clássico possui interessante regionalização de elementos helvéticos (referente a antiga Suíça) que podem ser observados no óculo da fachada em forma floral e no campanário. O altar mor desta igreja é ricamente esculpido com elementos neoclássicos e com uma composição “em perspectiva” advinda do barroco. Este prédio é sem dúvida o mais preservado e ainda funcional de toda Indaiatuba antiga, mantendo suas características originais e representando a perseverança e presença da Colônia Helvetia até os dias atuais.



Festa de inauguração da Igreja Nossa Senhora de Lourdes - Helvetia


Leonor Barros de Camargo e seu esposo, foram grandes benfeitoras de Indaiatuba no início do século XX. Abastados fazendeiros, construíram entre 1923 e 1933 o hospital que leva o nome de Augusto de Oliveira Camargo, esposo de Dona Leonor. Para tal obra foi contratado o famoso arquiteto brasileiro, Ramos de Azevedo, que entre inúmeras obras criou o Teatro Municipal de São Paulo. O responsável pela construção do Hospital foi o irmão de Dona Leonor, Francisco de Paula Leite. Construído com referências na arquitetura barroca brasileira em estilo NEO Colonial, foi obra do final do período onde o ecletismo era vanguarda, precedendo em poucos anos a vinda do modernismo para a cidade.




Na década de 40 do século 20, quase que simultaneamente aos primeiros edifícios modernistas no mundo todo, é construído o prédio dos correios na Praça Prudente de Morais. Os elementos clássicos ecléticos são suplantados pelo raciocínio de espaço contínuo, abstração e pelo racionalismo da arquitetura modernista. 



Atualmente, não restaram muitos edifícios históricos na próspera e dinâmica Indaiatuba do século XXI, o tempo se incumbiu em derrubar grande parte deles, e o que resta, luta para se manter próximo ao seu desenho original em meio a tantas descaracterizações que visam modernização. Indaiatuba que nasceu barroca tornou-se eclética, depois modernista, obliterando parte de sua história a cada nova tendência. 


Em certas ocasiões, em contextos muito especiais, poder usufruir da sensação de estar em um prédio que proporciona aconchego, pertencimento ou excita nossa memória afetiva é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, e esta é a razão pela qual nossa própria história de funde a história de nossos edifícios e ajuda a construir nossa cultura. 


Postagens mais visitadas na última semana