segunda-feira, 25 de março de 2013

Viagem virtual no tempo - de 1939 até HOJE

No vídeo abaixo, postado no Youtube, o usuário "MrKleberBeen" faz uma reconstrução usando uma imagem área de Indaiatuba de 1939, do Instituto Cartográfico e uma imagem de 2009, retirada o Google.

Contrapondo-as, você pode verificar o crescimento urbano e identificar as principais ruas e logradouros de nossa cidade.

(caso conheça o usuário, me avise, para eu atribuir o nome correto e completo ao crédito)

 
 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Personalidades Popularescas

 texto de Paulo Antonio Lui


Toda cidade que se preza, tem no seio da comunidade figuras pitorescas, pessoas que diferem do tipo comum, pelo seu modo de vida e pela conduta extravagante no seu dia-a-dia.

Relembro algumas delas, que marcaram uma época da minha vida, naquela pacata, hospitaleira e não desbravada Indaiatuba.

ARISTÓTELES PEREIRA DOS SANTOS é irmão do voluntário João dos Santos (Revolução Constitucionalista). Quando movido pelo álcool, dizia em alta voz sua frase preferida: “- Meu povo, destino não é intestino” e outros muitos improvérbios hilariantes, que faziam a delícia de seus ouvintes. Conta-se, que um determinado comércio da cidade, na doença de um de seus funcionários que fazia serviços bancários, utilizou-o em substituição ao referido. Sóbrio, ARISTÓTELES desempenhou a tarefa a contento. De outra feita, foi designado para ser vigia de sanitário masculino. Inúmeras vezes encontraram-no dormindo, mas sempre no seu posto, cumprindo rigorosamente os horários determinados.

DITO DE GERÓ personificava a preguiça. Não chegado ao trabalho e banhos, sempre usando a mesma roupa, “espantava” as pessoas ao aproximar-se delas. Conta-se, que de tempo em tempo, um grupo de amigos se reuniam, e na “marra” aplicavam-lhe um banho e trocavam suas roupas. Em determinada ocasião, um empresário da cidade, que havia sido colega de bancos escolares de Geró, arrumou em um canto de sua indústria, um local para acolhê-lo. Depois de certo tempo, ao visitá-lo, ficou espantando com a sujeira e mau cheiro e ordenou que o mesmo fizesse uma limpeza geral, para que a acomodação ficasse em condições de moradia. Resumo: Geró deixou o local nunca mais voltou.

TONHÃO LOBISOMEM foi um tipo taciturno, fechado, de poucas palavras, barba a fazer, botas de cano longo, fumante de cachimbo, frequentador de igreja católica. Amedrontava as crianças da época por causa da lenda que corria, que às sextas-feiras, em noite de lua cheia, se transformava em um horrível lobisomem (meio lobo – meio homem). Morava em um sítio, em uma casa isolada, à beira de uma estreita estrada de terra. Os pequenos evitavam passar por aquele local, pois lá ficava a casa assombrada, a casa do lobisomem.

Lembro-me ainda, de O ÉBRIO (HENRIQUE CHEFER), exímio pintor de quadros de natureza viva; MARIO LOUCO, que imitava com os braços e mãos gestos de volante de um carro e “dirigia” em alta velocidade pelas ruas e calçadas da cidade; SEU ANTONIO DAS LARANJAS, com sua inseparável cesta para a venda das mesmas e a todo instante, quando provocado, invocava o Todo Poderoso; EDUARDO VOLPI, deficiente visual, apelidado de CANARINHO, que ficava uma “fera” quando chamado por esse nome (o apelido decorre de sua participação no coro da Igreja Presbiteriana); COLACA (ESCOLÁSTICA), sempre pelas ruas da cidade, saco nas costas, angariando alimentos e trocados para sustento de seus filhos. Atualmente ainda é vista, verdadeira e incansável “maratonista”; O POBRE DO VÉIO (SACO DE “FORMENTO”), freqüentador das feiras livres; PEDRO CAVALO que se dizia ser astro de cinema; ISABÉ PRETA, com seu gaguejar característico, que se considerava namorada do Capito, conhecido goleiro de futebol da região; MARIA BOLA, assim conhecida pela sua enorme barriga de água (doença comum, daqueles idos tempos); MALVINA, LEONEZA, SILVIO CUCA...

“Ai que saudades me dá”, de tipos tão populares, pitorescos, excêntricos, ébrios, maltrapilhos, “cheirosos”, mas autênticos, sem maldade na alma, incapazes de fazer mal a qualquer pessoa, em meio a violência, insensatez e descalabros dos dias atuais.

Para mim, eles foram personalidades na acepção da palavra.


O indaiatubano Mário Bobo, ou Mário Louco, dirigia seu chapéu como um carro,
divertindo a criançada.
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá



 Mário Bobo, em outra imagem. Ele era filho do indaiatubano Joaquim Leme do Prado.
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá




 Dito do Bairro
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá



 Samuel
Personagem Popular, em imagem de 1945.
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá


Mila, retratado no livro Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.

Pulso Firme, retratado no livro Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.


                   Maria Bola, retratada no livro Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.


Gentileza: Patrick Ribeiro

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Quer saber ou relembrar mais sobre os "tipos" populares de Indaiatuba?
Leia Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.

terça-feira, 12 de março de 2013

Alforriados, negros ainda foram explorados como escravos


Mesmo livres, negros enfrentaram cotidiano que perpetuava relações escravistas

No século XIX, entre os anos 1830 e 1888, os escravos compravam o direito à liberdade com o próprio trabalho, o que tornava precária a entrada de negros no mundo dos homens livres, e fazia perdurar o domínio senhorial. Sem recursos para pagar aos senhores a indenização exigida para a liberdade, os escravos contraíam dívidas com terceiros, e os pagavam por intermédio de contratos de locação de serviço. Estes contratos significavam, em muitos casos, um prolongamento da exploração do trabalho, uma vez que os libertos ainda eram submetidos a condições similares à escravidão.

A historiadora Marília Ariza analisou contratos de locação de serviço registrados, entre os anos de 1830 e 1888, no Primeiro Cartório de Notas de São Paulo, e no Primeiro Tabelionato de Notas de Campinas — entre 1830 e 1888 — e sua relação com a luta dos escravos em processo de alforria. A dissertação de mestrado O ofício da liberdade: contratos de locação de serviços e trabalhadores libertandos em São Paulo e Campinas (1830 – 1888) mostra a complexidade do período final da escravidão no Brasil, quando nem sempre ser um homem livre significava ter acesso à liberdade.

Segundo a historiadora, a possibilidade de compra de alforria pelos escravos existia antes dos contratos de locação de serviços. No entanto, estes escravos dependiam do acúmulo de pecúlio, economias conseguidas com trabalhos extras, para juntar o valor exigido pelos senhores para a libertação. Embora o acúmulo de pecúlio fosse uma prática recorrente, incorporada pelos escravos como um direito, os senhores, frequentemente, não tinham interesse na redução do número de seus escravos, e não autorizavam qualquer outro tipo de atividade que os possibilitasse ganhar dinheiro e pagar por sua liberdade. Mesmo que pudessem juntar economias de outras formas, o alto valor das alforrias também poderia impedir a liberdade a curto prazo.

Como alternativa a este cenário, muitos escravos recorriam ao pagamento de alforrias por meio de seus próprios serviços. O sujeito contraía um empréstimo com terceiros para comprar sua alforria. Uma vez que não tinha outros recursos para arcar com o valor da dívida, fazia contratos de locação de serviço com seu credor.

Os serviços e as condições de trabalho, no entanto, mudavam muito pouco. Os contratos os obrigavam a levar um cotidiano semelhante à antiga condição escrava. Tanto a duração do contrato, que poderia ser de alguns anos, quanto as atividades laborais, e até mesmo as penas para aqueles que descumprissem alguma cláusula dos contratos, eram resultado de negociações entre libertandos e credores. As condições dessa negociação, entretanto, poderiam ser muito desiguais e desfavoráveis para os recém-libertos.

Trabalho barato

O principal objetivo dos contratos de locação de serviço era o agenciamento de trabalhadores livres a um baixo custo. Pessoas livres e pobres também locavam seus trabalhos. Contudo, no caso dos libertandos, o custo do trabalho contratado era ainda mais baixo. O desejo de abandonar a escravidão fazia com que estes trabalhadores acabassem concordando, ao menos formalmente, com condições de trabalho desvantajosas. Contrariados, muitas vezes eles contestavam estes contratos na justiça e se recusavam a cumpri-los, denunciando o domínio excessivo de seus credores.


Contudo, a intervenção do Estado sobre as relações trabalhistas era muito pequena até as décadas finais do século 19. Os contratos de locação de trabalho acabaram funcionando como uma espécie de acomodação de conflitos gerados pelo sistema escravista. Pareciam uma possibilidade concreta de os escravos conseguirem a liberdade. Mas, de fato, perpetuavam as relações de poder da sociedade escravista.

Liberdade: um conjunto de experiências

Para Marília, tornar-se livre por intermédio um pagamento, obrigava estas pessoas a entrar no mundo da liberdade completamente pobres, e ainda sujeitas a exploração. Se na teoria, a liberdade significa ter autonomia para circular de um lugar para outro e tomar suas próprias decisões, estas pessoas ainda não eram completamente livres.


Segundo a historiadora, todo este histórico de dificuldades e condições de subcidadania oferecidas aos libertandos tem reflexos na nossa atual realidade social. Para ela, a recente discussão acerca de cotas raciais nas universidades, por exemplo, é muito importante, pois está relacionada à reparação de desigualdades em parte herdadas da escravidão e das experiências de vida destes recém-libertos.
“A liberdade precisa ser entendida como um conjunto de experiências vividas”, reflete. “Mesmo para aqueles que se tornavam formalmente livres, seu universo de expectativas e direitos era muito desigual quando comparado a outros setores da população”, afirma a historiadora. E conclui: “As cotas podem ser um grande instrumento para a justiça social. A luta hoje diz respeito à ampliação dos direitos à cidadania para os negros, e a distribuição injusta destes direitos tem raízes históricas fincadas na escravidão.”
Mais informações: email marilia.ariza@usp.com, com a historiadora Marilia Ariza


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