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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

As torres da Matriz Nossa Senhora da Candelária

Você sabia que nem sempre a Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba teve torres?




No Brasil imperial, a paisagem urbana era marcada por igrejas de diferentes formas e imponências, e a presença ou ausência de torres carregava significados que iam além da estética. Desde o período colonial, a torre foi concebida como elemento funcional e simbólico: era ali que se abrigavam os sinos, responsáveis por marcar o tempo da vida social e religiosa, mas também representava o poder da Igreja e sua elevação espiritual. Contudo, a construção de torres exigia recursos financeiros e técnicos que nem sempre estavam disponíveis. 

Assim, em muitas vilas e cidades, as igrejas foram erguidas sem torre ou com apenas uma, deixando claro o contraste entre comunidades ricas e pobres. Foi desta forma que o prédio da Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba foi construída: sem torres.

Nas regiões mineradoras do século XVIII, que ainda influenciaram o Brasil imperial, o ouro permitiu a edificação de templos suntuosos, como os de Ouro Preto e São João del-Rei, onde a simetria das duas torres laterais se tornava expressão de grandeza e prestígio. Já em áreas menos favorecidas, as matrizes e capelas exibiam fachadas simples, muitas vezes inacabadas, que resistiam ao tempo apenas com o corpo central da nave.

Com a chegada do neoclassicismo no século XIX, especialmente impulsionado pela Missão Artística Francesa e pela Academia Imperial de Belas Artes, surgiram projetos mais sóbrios, de linhas retas e proporcionais, que nem sempre valorizavam a presença de torres monumentais. Algumas igrejas imperiais foram concebidas com campanários discretos, enquanto outras mantinham a tradição barroca das torres duplas, como símbolo de poder e de centralidade urbana. A Catedral da Candelária, no Rio de Janeiro, concluída durante o Império, é um exemplo de como a Igreja ainda podia erguer templos de imponência monumental, ao passo que inúmeras matrizes do interior permaneceram sem suas torres, ou com apenas uma concluída.

No caso da matriz de Indaiatuba, as torres foram construídas apenas no século XX, no paroquiato do Padre Francisco Eduardo Paes Moreira, que chegou em Indaiatuba em 1913. Após dois anos, em 1915, veio para cá, a fim de passar uns dias e sua terra natal, um indaiatubano muito rico e católico de nome João Bueno de Camargo. Hospedou-se no Hotel União situado à rua 7 de Setembro. O nosso padre, então, teve a ideia de ir pedir um auxílio para a paróquia. A nobre pessoa inteirou se de tudo que faltava e às suas expensas contratou Césare Zoppi para construir as torres da igreja.

O simbolismo da dualidade entre igrejas com e sem torre, portanto, reflete o próprio Brasil do período imperial: um país de contrastes, onde a religiosidade era oficial e onipresente, mas se expressava de formas distintas conforme as condições econômicas, a influência estética vigente e o papel social de cada comunidade. As torres, quando erguidas, falavam de poder e prestígio; quando ausentes, revelavam tanto a simplicidade das populações locais quanto as limitações práticas de um império em construção.

Em seu texto sobre o assunto, o filho de Césare Zoppi registrou a importância simbólica das torres, afirmando que "esse serviço (a construção delas) muito melhorou a fachada do templo católico que, até hoje, desafia o tempo".


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Bens tombados em Indaiatuba - ATUALIZAÇÃO até julho 2025

PATRIMÔNIO CULTURAL DE INDAIATUBA

 

Patrimônio Material:



1. Antiga Sede da Fazenda Engenho D’Água, localizada na Rua Zepherino Pucinelli (Quadra 38/39), no Jardim Morada do Sol, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 01/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

2. Matriz Nossa Senhora da Candelária, localizada na Praça Leonor de Barros Camargo, s/n, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 03/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

3. Casa Paroquial, localizada na Rua Candelária, no 399, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 04/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

4. Casarão Pau Preto, localizado na Rua Pedro Gonçalves, no 477, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 05/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

5. Busto Dom José deCargo Barros, localizado na Praça Leonor de Barros Camargo, s/n, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 06/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

6. Caixa D’Água do Casarão, localizada na Rua Pedro Gonçalves, lote vizinho ao Casarão, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 03/97 e processo de tombamento no 06/2002 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.


7. Hospital Augusto de Oliveira Camargo, localizado na Avenida Francisco Paula Leite, nos termos da Resolução do Conselho Municipal de Preservação no 01/98 e processo de tombamento no 01/2003 conforme Decreto Municipal no 10.108 de 17 de dezembro de 2008.

 

8. Tulha e Casarão que se incluem no conjunto arquitetônico que compõe a Fazenda Bela Vista, localizada na Rodovia João Ceccon, 370, Bairro Bela Vista, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 006/2022 e Processo Administrativo 15.342/2022, de acordo com a Lei Municipal no7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2514 de 09 /12/2022).

 

9. Chafariz, localizado a Praça Elis Regina, localizada na Vila Sfeir, na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 001/2023 e Processo Administrativo 8906/2022, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021 (Publicado na edição 2805 de 30 /11/2023).

 

10. Alguns elementos do “Cemitério de Taipas” e “Cemitério de Pedras, localizados na Rua Candelária, na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 02/2023 e Processo Administrativo 33764/2022, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2805 de 30 /11/2023).

 

11. Muro de Taipa, localizado na Rua Pe. Luiz Soriano, Jardim Pau Preto, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 03/2023 e Processo Administrativo 8805/2022, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2805 de 30/11/2023).

 

12. Edifício da antiga Escola Estadual Randolfo Moreira Fernandes (atual Centro Cultural Wanderley Peres) localizado na Praça Dom Pedro II, Centro, na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 03/2024 e Processo Administrativo 28010/2023, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 2972 de 26/06/2024).


13. O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Itaici, localizada na Rua Francisco Araujo, no 49, Itaici na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 005/2025 e Processo Administrativo 24232/2025, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 3301 de 07/07/2025).


14. O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Indaiatuba, localizado na Praça Newton Prado, s/no, Jardim Pompéia na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 006/2025 e Processo Administrativo 24234/2025, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 3301 de 07/07/2025).

15. O conjunto arquitetônico que compõe a Estação Ferroviária de Helvetia, localizado na Colônia Helvetia na cidade de Indaiatuba, estado de São Paulo, nos termos da Resolução da Secretaria Municipal de Cultura 007/2025 e Processo Administrativo 24235/2025, de acordo com a Lei Municipal no 7.628 de 12 de agosto de 2021. (Publicado na edição 3301 de 07/07/2025).

 

 

Patrimônio Imaterial:


  1. “Festa da Tradição de Helvetia”, instituída como patrimônio imaterial de Indaiatuba pela Lei 7.602 de 28 de junho de 2021.
  2. “Companhia de Reis” conhecida também como “Folia de Reis” ou “Santo Reis”, instituída como patrimônio imaterial de Indaiatuba pela Lei 7.855 de 01 de setembro de 2022.
  3. “Samba da Figueira”, reconhecida como manifestação cultural local, bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural de Indaiatuba pela Lei 8.014 de 26 de junho de 2023.

Fonte: Secretaria da Cultura de Indaiatuba, em resposta advinda de e-Sic de julho de 2025. Ainda segundo a fonte, não há outros bens materiais ou imateriais em tramitação para obtenção de tombamento.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Estação Ferroviária de Itaici é tombada

 


📣 PATRIMÔNIO HISTÓRICO GARANTIDO!

1947: passageiros embarcam na Estação Ferroviária de Itaici


Após um longo tempo de solicitação pela então Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (agora extinta) e graves ameaças, atualmente sanadas (veja aqui), finalmente a Estação Ferroviária de Itaici é oficialmente tombada como bem cultural de interesse histórico para o município de Indaiatuba, conforme estabelece a Resolução nº 005/2025, publicada na Imprensa Oficial do Município hoje, dia 07 de julho de 2025, edição nº 3301, página 6.





















🏛️ Por que isso importa?
O tombamento é um instrumento legal de preservação do patrimônio cultural. 
A partir dessa resolução, a Estação de Itaici passa a ter sua estrutura, características arquitetônicas (preservadas até hoje, mesmo após sucessivas reformas e restauros) e valor histórico protegidos por lei. 

Isso também significa que qualquer intervenção ou uso futuro deverá respeitar sua integridade cultural e simbólica.

🚉 A estação é um dos marcos do desenvolvimento urbano de Indaiatuba, tendo sido um elo estratégico na formação do bairro de Itaici, da economia local e estadual e das conexões regionais por meio dos trilhos. 

Preservar esse espaço é reconhecer sua importância na memória coletiva e no desenho da cidade que conhecemos hoje.

Preservar a história não é coisa do passado — é atitude de presente! 

Valorizar bens culturais é também entender de onde viemos para decidir para onde queremos ir

A Estação de Itaici é, agora ainda mais, um espaço com potencial para ações educativas, culturais e turísticas, que podem (e devem!) envolver principalmente a juventude de forma ativa e criativa.

Na mesa edição também foram tombadas as estações de Indaiatuba e da Helvetia.

Memória viva. 

Patrimônio protegido. 

Futuro em construção.

Veja mais sobre a Estação Ferroviária de Itaici: aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.




Imagens: Prefeitura Municipal de Indaiatuba (divulgação)
2025


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Calçadas de Indaiatuba: elemento arquitetônico, político e de conflitos

 Eliana Belo Silva

 

[...] mesmo numa cidade perdida nos confins da história ou da geografia há pelo menos uma calçada ou praça que é de todos e não é de ninguém. (Raquel Rolnik, 2004, p.20)


SOBRE A FUNCIONALIDADE DAS CALÇADAS

   Neuza Zattar, em seu texto “Calçadas: espaços públicos ou privados?” propõe um estudo sobre a natureza das calçadas, demonstrando, em um discurso jurídico, após o estudo das leis na cidade de Cáceres, no Mato Grosso, que as calçadas são apropriadas pelos cidadãos que, amparados pelas leis, fazem seu uso privado, em fenômeno que ela define como invasionismo. A definição advém de inúmeros casos nos quais vê-se que as calçadas deixaram de ser um passeio público e passaram a servir aos interesses privados a tal ponto de interditar o acesso aos pedestres.

    O invasionismo citado pela autora foi, durante muitos anos, denunciado pelo Padre Xico no jornal indaiatubano Tribuna de Indaiá, quando ele era articulista semanal e insistentemente reivindicava providências sobre a ocupação dos passeios públicos por mesas e cadeiras de bares e restaurantes. A autora citada define o conceito como a presença de equipamentos "permitidos ou legais (postes de iluminação e de trânsito; telefone público [orelhão], hidrômetros), entre outros; e equipamentos não permitidos ou ilegais (os mobiliários comerciais, jardins, entulhos, plantação, publicidade, comércio ambulante), e outras funções imputadas às calçadas, que estabelecem limites ou interdição à passagem do pedestre". 

    Há, pois, uma tensão entre os que disputam os espaços para passeio e fins particulares e/ou comerciais e considerando a multiplicidade dessas funções, a autora ainda afirma que "a referência do invasionismo não é fixa, não é estável, e muda conforme a relação que o pedestre estabelece com a interdição material e simbólica que se interpõe em seu caminho".

        Considerando esta "instabilidade", o Arquiteto e Urbanista Charles Fernandes, reconhecido por ser um estudioso do espaço indaiatubano e sua ocupação, pontua que "os passeios públicos, são o limite em degradê do público e do privado na cidade. Fazem parte, e são propriedade do sistema viário público, mas sua manutenção e construção são responsabilidade do proprietário do lote. Acomoda mobiliário urbano público, mas também é usado como acesso dos lotes, recebe lixeiras, rampas para garagens, pode ser utilizada em estabelecimentos como área de atendimento."

Zattar também ainda cita Aldaísa Sposati, que defende que 

"a calçada é o espaço que interliga vizinhos, amigos e conflitantes, em usos e ocupações. Daí dizer que a calçada não é compreendida somente como espaço físico, geográfico ou ambiental, mas como espaço simbólico que significa pela sua história, pela conviviabilidade e conflitos entre vizinhos, passantes e ocupantes e pela demarcação de um território que é público pela localização na espacialidade da cidade, e privado pela re-funcionalidade que lhe é atribuída."


SOBRE UM POUCO DE HISTÓRIA

    A história das calçadas em Indaiatuba foi objeto de registro, pela primeira vez, em texto escrito pelo memorialista Antônio Zoppi, que era construtor e privilegiou os métodos construtivos em sua análise, conforme texto escrito e publicado 1960:

“Há mais de cinquenta anos [portanto, início do século XX], as calçadas de Indaiatuba eram feitas com lajes vindas de Itu [varvito]. Tais pedras variavam no tamanho e, após a cintadas as juntas entre elas, eram enchidas com cimento. Havia pessoas que entregavam essas lajes na soleira de suas residências. Acontece que este tipo de pedra é de fácil desgaste; então, não foram mais aproveitadas para a soleiras, nem para a calçadas. Estas começaram a ser feitas de tijolos cimentados, roletados e riscados, imitando lajes.

Devido ao calor abrasador do sol de verão, as calçadas cimentadas dilataram-se e naturalmente abriram-se fendas, ficando fácil para as águas pluviais penetrarem.

No ano de 1924, quando meu pai [o construtor Césare Zoppi] construiu o prédio para a Empresa de Força e Luz de Jundiaí, o engenheiro quis que a calçada defronte ao prédio fosse feita com ladrilhos de cimento de doze quadros e assentados com argamassa mista. O mesmo ocorreu no ano de 1945, quando eu construí o Cine Teatro Rex. Como eu tinha visto em Rio Claro ladrilhos de cimento de nove quadros, coloquei defronte do cinema o mesmo tipo de ladrilho. Mas é necessário compreender que estes ladrilhos foram adquiridos em Campinas. Mais tarde, ao asfaltarem as ruas da cidade, foram colocadas guias de granito com nível diferente do já existente. Quer dizer: as calçadas ficaram estragadas.

A Câmara Municipal aprovou uma lei que regulamentava a construção de calçadas para serem feitas com ladrilhos de cimento de nove quadros e cujo serviço era feito pelos construtores e fabricantes de ladrilhos da cidade. Mas a ignorância e a falta de competência dos fabricantes de ladrilhos implicaram na confecção dos ladrilhos, os quais eram feitos não se observando um processo especial, e sim tais ladrilhos eram feitos comumente. Ora, o efeito se fez surgir quando, com o calor solar, os ladrilhos soltavam-se da argamassa. Talvez os fabricantes não soubessem que existe a dilatação dos corpos com o calor; podemos admitir isto, então, a culpa cabe somente a eles porque os ladrilhos feitos em Campinas também sofriam a dilatação, é lógico, mas não se destacavam da argamassa. O exemplo marcante dessa afirmativa são as calçadas feitas defronte à Empresa de Luz e Força e do Cine Rex que, para serem demolidas, foram necessárias picaretas o que não alcança não acontecia com as calçadas feitas de ladrilhos de Indaiatuba: estes com simples tropeção, já saíam.

O mais bonito é que a Prefeitura, em vez de mandar um técnico no assunto examinar a causa de tudo, isso obrigar os fabricantes a manufaturarem os ladrilhos com a mesma técnica de Campinas, e continuar as calçadas com o mesmo tipo de ladrilho, achou que aqueles ladrilhos não serviam para a calçada e ideou fazer com pedrinhas de basalto o que se chama de mosaico português. Eu creio que “portugueses” no outro sentido da palavra, foram esses que acharam de modificar o tipo da calçada. Será que não tinham um pouco de massa cinzenta, para ver que se faria uma mistura de tipos e tirar-se-ia a estética? Bem já que veio “de cima” tinha que ser feito; mas quem de Indaiatuba poderia fazer essa calçada?

Não havia ninguém aqui que soubesse executar aquele mosaico e o remédio foi trazer gente de outras localidades. Com tanto serviço para fazer, começou a concorrência entre muitos daqueles que vieram para Indaiatuba unicamente para assentar essas pedrinhas. Mas nem todos que vieram eram honestos e a concorrência de preços incidiu sobre o trabalho. Usou-se a má fé, e os serviços executados deixavam muito a desejar...

Isto não é nada se considerarmos que quando requeremos uma ligação de água domiciliar, a caixinha de ferro onde será colocado o registro e que deve ser assentada na calçada, nós pagamos, mas a falta de fiscalização e coisas mais, faz com que muitas calçadas fossem feitas e, a caixinha de ferro, nem por sonho...

Uma boa iniciativa do atual prefeito [Alberto Brizola] foi facilitar, a todos os proprietários, para que eles fizessem calçadas; para isso ordenou que se fizesse um orçamento por metro quadrado de um tipo de calçada de concreto, como se faz em São Paulo; este tipo é muito mais barato que as pedrinhas portuguesas. Bom até aqui; porém não ficou nessa: eis que apareceram os “empreiteiros” entre aspas, porque de empreitada não entendem nada - e se puseram a fazer calçada de tijolos cimentados; mas não de tijolos cimentados, roletados e riscados como antigamente; mas sim de tijolos cimentado imitando os ladrilhos de nove quadros. Não podemos negar que fica bonito. mas esperemos o correr do tempo...

Enfim, Indaiatuba merece o que tem. Em tipos de calçada, é campeã. Se tudo isso for erro, errar é humano; mas não tanto assim...”

 



Calçadas de Indaiatuba (1): As duas fotos acima (2025) respondem à pergunta proposta por Antônio Zoppi em 1960

 

SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS 

A organização de um espaço híbrido entre o público e o privado deve ser escopo de ordenação para manter os cidadãos nos limites de seus deveres públicos. Embora pareça ambíguo, pois em nossa cidade  ela seja conceitualmente um passeio público, a responsabilidade pela execução é do proprietário do lote, fazendo, com que muitas vezes, ela seja tratada como "propriedade privada", urge que requisitos legais e regulatórios disciplinem o uso, reduzindo as instabilidades.

Mesmo com leis que exigem a acessibilidade nas calçadas sendo editadas desde a década de 1980 nas esferas federal e estadual, Indaiatuba ainda não possui uma Lei Municipal consolidada específica para tal fim. Charles Fernandes pontua que há sim, alguns regramentos que devem ser considerados: a norma ABNT NBR 9050, por exemplo, que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações quanto às condições de acessibilidade, que embora não resolva uma as demandas aplicáveis aos passeios públicos, pode ser complementada, em certa parte, com o Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Indaiatuba, que sugere (mas não normatiza) diversas soluções para tornar os passeios universalmente acessíveis, enxergando o pedestre em posição equalitária aos outros modais de transporte. Fernandes ainda complementa que é necessário "criar um dispositivo legal que entenda os passeios públicos de forma mais ampla, enxergando toda a sua relação com a cidade, as pessoas, a mobilidade, o meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social."


Os vereadores da Câmara Municipal não possuem alçada para apresentar Projeto de Lei com esse escopo, sendo essa responsabilidade de cunho exclusivo do Prefeito. Mesmo assim, os vereadores locais já pautaram o assunto inúmeras vezes, apresentando a necessidade através de Indicações protocoladas e apresentadas no Plenário. De acordo com o que pode ser consultado no site da Câmara Municipal, todo o conjunto de trabalho dos vereadores neste sentido, está parado na Secretaria de Relações Institucionais e Comunicação, ou ainda: não é possível consultar se tramitou ou não a partir dali e quais foram as atitudes tomadas.


Confira abaixo as matérias dos vereadores apresentadas no ano passado (2024) sobre o tema:

Implantar um programa para a padronização das calçadas do município com base no princípio de acessibilidade universal.

Autoria: ALEXANDRE CARLOS PERES

Realizar fiscalização quanto aos padrões adotados nas calçadas do município.

Autoria: ANA MARIA DOS SANTOS

Realizar estudos técnicos e tomar providências quanto à acessibilidade das calçadas em nossa cidade, visando garantir o trânsito seguro e acessível para todos os pedestres, especialmente pessoas com deficiência (PCD) e mobilidade reduzida.

Autoria: ANA MARIA DOS SANTOS

Realizar estudo de viabilidade e aplicar as ações decorrentes para incluir a calçada no Projeto Arquitetônico de novas obras.

Autoria: EDUARDO TONIN

Intensificar a fiscalização para construção de rampas de acessibilidade nas calçadas de diversos bairros.

Autoria: SÉRGIO JOSÉ TEIXEIRA



Calçada de Indaiatuba (2): É para atravessar na faixa ou não?
Esta é uma cena comum quando o sistema viário tradicional das cidades se depara com novas necessidades, como por exemplo, cruzamentos em vias antigas que possuem curvaturas que proporcionam pouca visibilidade. A faixa de pedestres  RECUOU, para que o veículo possa ter maior visibilidade sem invadir seu domínio. A faixa é elevada para proporcionar área acessível ao pedestre, sem degraus. No entanto, outra lei, obriga a esquina a ter rampas acessíveis, neste caso, levando  o pedestre direto para via, fora da faixa. Em cidades que possuem projetos ARROJADOS para acessibilidade, é  usado o piso dos passeio na faixa de pedestre, para que se perceba que a prioridade de uso daquela área é do pedestre. (Imagem e parecer de Charles Fernandes).

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Rua Padre Francisco Eduardo Paes Moreira

"Lá pelo ano de 1913, chegou em Indaiatuba um padre português de nome Francisco Eduardo Paes Moreira. Vinha substituir o Cônego Oscar Sampaio Peixoto, um moço muito alegre e divertido, pois gostava de brincar de barra-manteiga com as crianças ao lado da igreja. Porém, havia ficado pouco tempo quando chegou o novo padre.

A casa paroquial era um prédio muito antigo, feito de barrote então em estado precário. O o padre Moreira, pouco tempo depois de sua vinda, fez amizade com meu pai (1), pois eram vizinhos. Não tardou para que fosse feito um contrato para construção de uma casa paroquial nova. Em 1914, isto teve início, com a derrubada da velha casa e a construção da outra.

A nova casa era enorme, com vários dormitórios; no lado do quintal construíram-se muitas arcadas, seguindo-se o sistema romano. Mas eis que surge um imprevisto: faltou dinheiro e o acabamento da casa forçosamente parou, ficando toda a parte externa sem revestimento. Mesmo parando o serviço, restou uma dívida, que o padre teve de saldar aos poucos; aos domingos meu pai recebia pequenas parcelas de dez a quinze mil réis, esmolas dadas durante a missa.

O padre, logo após mudar-se na nova casa, começou a trabalhar em seu quintal; primeiramente ajuntou todos os cargos de telhas e tijolos com as próprias mãos e atirava-os na Rua São José, por cima da taipa. A tarde inteira via-se aqueles cacos amontoarem-se na rua, vindos, um por um, do quintal da casa paroquial. Desta maneira, o padre conseguiu limpar o terreno e plantar; trabalhava arduamente com a enxada e, quando alguém o procurava, só depois de muito bater na porta é que o padre vinha atender, sem a batina e com a calça feita de dois panos diferentes.

No Largo da Matriz existia uma ‘avenida’ ladeada de palmeiras, plantadas quando da construção do largo; essas palmeiras elevavam-se a enormes alturas de mais de vinte metros, e nos dias de vento forte, desprendiam se as folhas grandes, estatelando-se no chão com um tremendo estrondo. À noite, então, a molecada aproveitava as grandes folhas para brincar e arrastavam-nas pelo Largo. O barulho, porém, era ensurdecedor e atormentava os moradores da vizinhança, principalmente uma escola noturna de adultos que havia na esquina. O mestre ficava furioso e saí a correr atrás dos moleques - mas pegar, como? Então, querendo surpreendê-los, escondia-se atrás da porta; mas nem mesmo assim conseguia o seu intento, pois a molecada era esperta por demais.

A fachada da nossa igreja defronte ao Largo era lisa. Onde agora estão as torres havia apenas quatro efeitos de cimento em forma de pião. O sino ficava mais abaixo, na janela ao lado.


IGREJA NOSSA SENHORA DA CANDELÁRIA SEM AS TORRES


No limiar de 1915, veio para cá, a fim de passar uns dias e sua terra natal, um indaiatubano muito rico e católico de nome João Bueno de Camargo. Hospedou-se no Hotel União situado à rua 7 de Setembro. O nosso padre, então, teve a ideia de ir pedir um auxílio para a paróquia. A nobre pessoa inteirou se de tudo que faltava e às suas expensas mandou meu pai construir as torres da igreja; esse serviço muito melhorou a fachada do templo católico que até hoje, desafia o tempo.

Depois, o padre trocou toda todas as imagens dos altares e a imagem de São Benedito foi transferida para a fazenda Cachoeira. Nas paredes da capela-mor colocou enormes quadros pintados a óleo, focalizando cenas sagradas. Construiu os primeiros armários embutidos na sacristia da igreja, aproveitando a grossura da parede de taipa. Ainda mais, em 1919, mandou fazer uma grande reforma na capela-mor, tirando todo o assoalho e degraus de tábuas velhas, trocando-os por degraus de mármore de Carrara e por mosaicos de diversas cores, feitos em São Paulo.

Por ocasião da primeira conflagração mundial, o padre era a favor dos alemães, mas não se manifestava abertamente e nem discutia política. Foi sempre um homem trabalhador e de pouca conversa. Seu passatempo à noite era ir à Farmácia Candelária e lá ficar com vem conversando, até que o sino da cadeia batesse a recolhida, geralmente às 21 horas. Nessa hora, porém, o padre estava recurvado e sentado ao contrário - dormia no encosto da cadeira. Nessa ocasião, o pobre homem já sofria do estômago. Com muito sacrifício, arranjou o dinheiro e, no ano de 1920, partiu para a sua terra natal a fim de fazer uma intervenção cirúrgica. Mas, em meio à viagem veio a falecer sendo sepultado no mar.

 Indaiatuba já tem uma rua dentro denominada Padre Bento Dias Pacheco e não seria demais ter outra com o nome do Padre Francisco Eduardo Paes Moreira." (2)

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No dia 12 de novembro de 2020, após Projeto de Lei apresentado pelo vereador Alexandre Peres, o então Prefeito Nilson Alcides Gaspar sancionou a Lei Municipal 7484 para homenagear o Padre Francisco Eduardo Paes Moreira, que você pode ler aqui.

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Notas de Eliana Belo Silva:

(1) O pai do autor é o italiano Cesare Zoppi, construtor que migrou da Itália para o Brasil no final do século XIX. O texto foi publicado originalmente na Tribuna de Indaiá e, em 1998, foi publicado no livro "Reminiscências de Indaiatuba", de Antônio Zoppi.

(2)  Antônio Zoppi, indaiatubano que nasceu em 23 de outubro de 1904.


terça-feira, 29 de outubro de 2024

A HISTÓRIA DO TIJOLO À VISTA EM INDAIATUBA



 

Na década de 80 do Século XX, o tijolo à vista foi usado tão extensivamente na nossa região que impregnou seu visual nessa época; mas poucos sabem que a sua origem é MUITO anterior, e que foi uma inteligente ferramenta que visava facilitar a venda de produtos manufaturados ingleses e norte americanos e a captação de mercados de consumo para produtos estrangeiros no Brasil e em todo o mundo colonial.

Apesar do tijolo à vista ter sido usado desde a Roma antiga, é sua versão da Era Industrial que marca a primeira presença desta linguagem na região de Indaiatuba, versão chamada posteriormente de ALVENARIA INDUSTRIAL INGLESA, podendo ser considerada uma das primeiras versões históricas de pré-fabricação e prototipagem em arquitetura, sendo uma inteligente solução para executar projetos concebidos para receber equipamentos e máquinas vendidos para qualquer lugar do mundo.
Esse estilo é determinado por uma técnica construtiva baseado em materiais básicos que existem em praticamente qualquer local por onde a ferrovia chegasse no fim do séc. XIX e início do XX. Os engenheiros ingleses desenvolveram soluções para serem implantadas de maneira simples e eficiente, apenas com TIJOLOS DE BARRO, esquadrias executadas com madeira das caixas de peças, algumas vezes com estruturas adicionais que podem utilizar somente o aço dos trilhos ou poucas peças pré-moldadas importadas.
A linguagem dos prédios de Alvenaria Inglesa é resultado da textura obtida através do assentamento dos tijolos aparentes e representam elementos da arquitetura clássica como pedestais, pilastras, entablamentos e frontões.
Um dos mais antigos prédios de tijolo à vista da cidade foi a ESTAÇÃO PIMENTA, construída pela Companhia Ituana de Estradas de Ferro, que chegou na cidade no ano de 1873. Todos os elementos históricos que dão certa linguagem ao prédio que possuem função estrutural, são vergas retas de portas ou arcos de tijolos, pilastras e oitões de empenas laterais que sustentam estruturas muitas vezes feitas de trilhos de trem, tirantes metálicos ou madeira da região.
Outro exemplar foi o prédio da TULHA DO CASARÃO PAU PRETO, construído para receber maquinário adquirido para beneficiamento de café, desenvolvido com os mesmos recursos e tecnologia das estações ferroviárias, lembrando que estas pesadas e volumosas máquinas, apenas conseguiam chegar por nossas terras com o advento da chegada dos trens. A Alvenaria Inglesa é uma ferramenta de capacitação de mercados de consumo para receber com velocidade os equipamentos adquiridos.
O Prédio da TULHA do Casarão Pau Preto possui exatamente o mesmo acabamento do prédio da FUNDIÇÃO LIDGERWOOD em Campinas, sede da distribuidora de equipamentos agrícolas importados, o que ilustra a utilização desta tecnologia construtiva nos prédios destinados a receber maquinário vendido pela empresa para todo o estado de São Paulo.


Durante muito tempo os acabamentos da Tulha do Casarão e da Estação Pimenta foram reproduzidos em muitas fachadas da cidade para imputar "modernidade ferroviária" aos edifícios, e hoje são textura muito utilizada para REVIVER épocas passadas, ou trazer rusticidade do tijolo em estado bruto para projetos contemporâneos.

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