quarta-feira, 27 de julho de 2022

Por que temos tão poucas mulheres na Câmara Municipal de Indaiatuba?

Eliana Belo Silva

No dia 29 de junho p.p. a Câmara Municipal de Indaiatuba, inaugurou a Galeria de Vereadoras, contendo fotos de legisladoras do gênero feminino eleitas diretamente (sete) e que assumiram o cargo como suplentes (duas) no parlamento municipal.

Na foto (abaixo) feita no evento estão: (1) as duas vereadoras atuais, Silene Carvalini e Ana Maria, (2) três vereadoras eleitas em 1996: Celi Aparecida Brandt, Rita Francisca Gonçalves e Rosana de Souza Magalhães e (3) a pioneira eleita em 1982, Itamar da Silva Maciel. Elas são seis entre apenas um grupo de nove mulheres que ocuparam o cargo desde 1836, somando o ínfimo percentual de pouco mais de menos de 2%.


A homenagem para o gênero feminino foi ideia do vereador Hélio Ribeiro e foi viabilizada pelo atual presidente da Câmara Municipal Jorge Lepinsk, o "Pepo", que entre outras ações de reforma no prédio, garantiu acessibilidade para pessoas cadeirantes, adequação para pessoas obesas e adaptações para atender às atuais exigências para obtenção do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).


Porque tivemos tão poucas vereadoras mulheres?

Para tentar fazer um painel dos motivos que determinam esse número tão baixo de vereadoras em nossa Câmara Municipal o blog fez um painel das justificativas e/ou percepções (veja no final da publicação) advindas das homenageadas e de outras autoridades - do gênero masculino - presentes no evento. Todos os entrevistados foram pegos de surpresa e responderam da mesma forma - de sopetão - o que garante que as respostas são legitimamente deles (pessoais) e não foram trabalhadas pela assessoria ou pelo tempo de reflexão. Relevante ressaltar essa questão para destacar que as opiniões (gravadas) - apresentadas abaixo por ordem de entrevistados - foram emitidas de forma orgânica e imediata por cada um deles.

A pergunta feita foi a mesma para todos os entrevistados:  "quais os motivos que fazem com que tenhamos tão poucas mulheres eleitas na Câmara Municipal de Indaiatuba?"

 

Resposta da vereadora Silene Silvana Carvalini (PP)

"Essa é uma questão muito debatida não só em nosso município, mas em nosso país, pois hoje as mulheres ainda ocupam muito pouco os cargos públicos. Percebo que na última eleição houve um aumento de mulheres eleitas, mas ainda pequeno comparado ao número de mulheres no país. Ainda é difícil para as mulheres optar pela política como carreira, pois existem inúmeros empecilhos que se colocam no âmbito familiar, seja pela resistência dos maridos, seja pela forma de lidar com questões domésticas, com filhos e cuidados com a casa, família. Não há dúvida de que a presença de mulheres nas câmaras municipais, estaduais e federais, transformam as relações e ainda existe o medo de enfrentar. Eu acredito que que nunca foi tão necessária a presença da mulher na política, não só por questão de direito e igualdade, mas de sensibilidade. Hoje as mulheres chefiam famílias, são sensíveis, organizadas, preocupadas com o outro e isto se torna cada vez mais necessário."


Resposta do vereador Hélio Ribeiro (Republicanos)

"Embora as mulheres de hoje possuam representatividade, ela é muito maior em vários setores e em várias áreas do Brasil como um todo, mas na política falta ainda maior participação, tanto que eu defendo que fosse estabelecida uma cota não só de candidatas, mas também uma cota de eleitas por acento, por exemplo vinte ou trinta por cento de vereadoras teria que ser obrigatoriamente de mulheres. Solicitado para que justificasse a cota obrigatória, o vereador respondeu que a mulher pode contribuir de forma diferenciada para a política por serem mais inteligentes que os homens por isso eu tiro o chapéu para elas. Eu visitei várias Câmaras Municipais e em algumas cidades eu vi uma galeria homenageando as mulheres, e então tive a ideia de trazer para nossa cidade para 'dar honra a quem já tem honra': trabalhar como vereadora já é honroso e fazer isso em Indaiatuba é uma honra em dobro."


Resposta do vereador Alexandre Peres (Cidadania)

"Eu acho que existe um pouco de preconceito e, embora existam muitas leis para atrair as mulheres, na minha interpretação ainda está faltando um pouco de interesse de grande parte delas. Há recursos direcionados, há porcentagem mínima direcionada e mesmo assim a gente percebe que pouquíssimas conseguem atingir o objetivo que é ganhar uma eleição. Elas precisam se engajar cada vez mais, uma vez que é um campo também delas. As mulheres estão conseguindo seu espaço cada vez mais na sociedade brasileira e mundial; demorou, eu acho que até deveria ter acontecido antes e elas são importantes para colocar suas ideias em prática, não só na questão de leis, mas também na questão de costumes. Assim, acho que essa galeria deveria ter existido até antes, a política vai melhorar com os benefícios que as mulheres podem trazer."


Resposta do Secretário de Governo Luiz Alberto Cebolinha Pereira (MDB)

No alto de sua experiência com sete (7) mandatos, o Secretário Cebolinha lembra que "não temos apenas poucas mulheres na política em Indaiatuba, nós temos poucas mulheres na política de uma maneira geral. Aqui em nossa cidade eu com essa galeria que está a servir como incentivo para que mais mulheres mais mulheres venham trazer os seus pensamentos e as suas Ideas aqui na Câmara Municipal. Eu acredito que esse número ainda pequeno é uma questão cultural, é uma questão histórica que vagarosamente não só vai mudando, como deve mudar".



Resposta da ex-vereadora Rita Francisca Gonçalves, mandato de 1997-2000 

"Tudo começa com as dificuldades específicas que as mulheres possuem para participar de um espaço bastante masculino e que, para mim, foi trilhado atráves do sindicato, onde também é um espaço mais masculino. Demorou para a mulher ter financiamento específico e a todas essas dificuldades soma-se o fato histórico de que demoramos para participar efetivamente na política - o voto feminino foi aprovado só em 1932. Em Indaiatuba, onde eu moro há mais de 40 anos, nota-se que as mulheres não são minoria apenas na Câmara Municipal, mas nos espaços públicos como um todo um todo, incluindo os cargos de liderança. Ainda hoje temos apenas duas vereadoras, no meu mandato foi o único que éramos três: a Celi (Celi Aparecida Brandt), a Rosana (Rosana de Souza Magalhães) e eu."

 

Resposta da ex-vereadora Rosana de Souza Magalhães, mandato de 1997-2000 

"Por mais que exista modernidade, por mais que a tecnologia avance, a discriminação ainda é forte. Hoje a mulher trabalha como um homem ou até mais que o homem e o salário não é igualado. A mulher, além de trabalhar fora, cuida dos filhos, do marido, da casa, cuida de tudo e ainda sofre discriminação, a mesma que existe contra negros, probres, índios. Acredito que até estamos evoluindo, mas eu acho que poderia ser muito mais. Quando eu fui vereadora eu trabalhava com música e tive muita dificuldade principalmente pela minha imaturidade - eu tinha 18 anos) para conciliar as duas coisas. Quando eu descia do palco sempre tinha alguém pedindo cesta básica ou pedindo para que eu resolvesse o problema em um jazigo no cemitério... Meu salário ia todo para ajudar essas pessoas, ainda mais naquela época que o Jardim Morada do Sol estava apenas começando, com muita carência. Eu era um 'bebê' na política e essa situação me incomodava muito; eu achava que tinha que 'ajudar' todo mundo e, pela minha imaturidade, ficava constrangida por não ter recurso para 'ajudar' a todos que esperavam eu descer do palco. Foi um conflito muito grande, na minha percepção a população não percebia que uma vereadora pode trabalhar para aprovar uma escola, uma creche; as pessoas só viam sua bondade se você desse alguma coisa, uma cesta básica ou outra coisa.  Me deparei com leões e, ao mesmo tempo com  pessoas que viviam na minha porta; a gente tinha que viver como uma assistente social e isso me assustou muito e me afastou da política; talvez hoje eu agiria diferente. Atualmente eu cuido do meu bebê que tem 1 ano e 10 meses, continuo cantando e trabalhando com um grupo de jovens para combater os vícios, as drogas, mas faço por amor ao próximo, talvez se tivesse um convite eu voltaria - agora com mais maturidade - para a política."


Resposta da ex-vereadora Celi Aparecida Brandt, mandato de 1997-2000 

"Eu acredito que a vida politica para a mulher é muito difícil foi por ser um universo machista, é um universo só de homem. Eu tive a honra de participar do único mandato com três mulheres aqui em Indaiatuba, inclusive tive um embate com um vereador onde eu defendi justamene isso: a minha honra em ser uma dona de casa e estar com um advogado como ele, em resposta a uma tentativa dele em querer me humilhar justamente por essa condição. Outro motivo relevante é que 'mulher não vota em mulher',  porque se voltasse esta Casa estaria com muitas. Na minha época, não tinha cotas para mulheres, a gente fazia por amor. Mesmo as mulheres sendo um pouco mais da metade do eleitorado, as pessoas ainda continuam achando que  'lugar de mulher é dentro de casa', que 'o papel da mulher é ser mãe' e por isso elas não tem lugar na política. De alguma maneira as leis ou emendas aprovadas estão mudando isso, e é importante na política a olhar da mãe, da dona de casa, da mulher - para mudar o mundo. Eu tenho orgulgo de ter participado desta Casa como uma dona de casa que veio de um bairro periférico -  hoje graças à Deus é um bairro muito bem desenvovlido, o Carlos Aldrovandi. Imagina uma pessoa de lá estar aqui dentro da Câmara? A mulher tem que ter força e coragem para isso, por mais que ela esteja em um universo masculino, ela tem que ser autêntica e colocar suas opiniões, contribuir com sua visão de dona de casa."

 

Resposta do prefeito de Elias Fausto Maurício Baroni (segundo mandato) MDB

"A dificuldade partia da própria mulher que no passado não se interessava em participar da vida pública, agora, no presente, é diferente. Hoje a gente viu o exemplo que tivemos poucas vereadoras aqui e as poucas que foram não deram continuidade na sua carreira política. Hoje a gente vê uma participação muito maior das mulheres na vida pública, o que é fundamental. Eu enxergo como uma evolução, a mulher passou a participar mais, não só na vida pública, mas na vida privada nos cargos de alta chefia. Se considerarmos um passado próximo, as empresas não contratavam mulheres para serem CEO, ou para serem diretoras, hoje o cenário mudou. Achei bonito as mulheres ocupando espaços na vida privada - mas na vida pública, embora acompanhe a tendência, foi com um pouco de atraso;  a iniciativa privada sempre é mais avançada, mais ágil. A gente vê que hoje aumentou muito, a força feminina, o movimento feminino buscam a igualdade e acho que em pouco tempo as mulheres vão estar ocupando ainda mais os cargos de mais expressão."

 

Resposta do prefeito de Indaiatuba - Nilson Alcides Gaspar (segundo mandato) MDB

"Na verdade eu acho que não há dificuldades, mas são poucas que tem coragem: coragem de se expor, coragem de querer fazer a diferença, coragem de querer fazer o bem para a população. Em um país ainda machista o que temos são mulheres que se sentem um pouco acanhadas; mas aqui em Indaiatuba todas estão tendo a oportunidade e hoje a Câmara Municipal mostrou  a valorização da mulher e do trabalho que a mulher faz para toda a nossa comunidade. Foi uma homenagem feita para valorizar a mulher que tem a coragem de sair candidata, de vencer uma eleição e de fazer a diferença na nossa população."

 

Resposta da vereadora Ana Maria dos Santos (Podemos)

"Para ser mulher hoje na política e chegar ao ponto de receber uma Galeria em homenagem, ela tem que ter muito amor ao próximo em primeiro lugar e tem que ter muita empatia (se colocar no lugar do outro). Tem que saber se realmente é isso que ela quer,  porque ser vereadora  não é só representar as mulheres, mas é representar o povo e isso é uma carga que requer muito amor; eu sou politica hoje por amor. As dificuldades existem da mesma forma como nós temos dificuldades em casa. Na vida social, na comunidade, a mulher é sempre vista com um ser muito frágil e a política requer muita força, sabedoria e determinação que às vezes a gente acha que só o homem tem; mas a mulher também tem e quando ela se olha, quando ela se enxerga, reconhece que dentro dela havia força, ela pode agir na política, no social, na comunicação, no bem-estar, tudo sem fazer discriminações. Quero agradecer ao Presidente Pepo - o Jorge Lepinsk - por essa Galeria, por essa linda homenagem; não é todo ser humano que sabe reconhecer o valor de uma mulher, não é todo o ser humano que sabe enxergar que aquela mulher que está na política está ali realmente para defender e representar o povo. Eu estou aqui para isso: política por amor.


Resposta do Presidente da Câmara Municipal Jorge Lepinsk - Pepo (MDB)

"O que dificulta a presença de mais mulheres na política é a História do Brasil, coisa que precisa ser mudada urgentemente, e a História da Câmara Municipal reflete isso: apenas 9 mulheres foram eleitas. A dificuldade delas começa com o número desproporcional de candidatas, mesmo hoje, com a obrigação de 30% do partido ser de candidatas mulheres. Outro fato é o preconceito: da mesma forma que existe preconceito racial, preconceito contra o deficiente físico, existe o preconceito contra a mulher, todos inaceitáveis e também por isso sou favorável as cotas. As dificuldades das mulheres na política são maiores desde o momento da campanha: imagina - ainda hoje - uma mulher entrar em um bar para pedir votos! Se conseguir entrar, vai ouvir piadonhas ou brincadeiras. Como presidente, ressalto que é importante a homenagem que fizemos para ressaltar e valorizar as mulheres e espero que essa homenagem possa ajudar na mudança. Sei que mudanças maiores tem que vir da esfera federal, mas nós 'aqui embaixo" vamos fazendo nossa parte.

 

TABELA DE MOTIVOS ELENCADOS PELOS ENTREVISTADOS QUE JUSTIFICAM A BAIXA QUANTIDADE DE MULHERES ELEITAS COMO VEREADORAS EM INDAIATUBA









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