sexta-feira, 13 de maio de 2016

Vila Almeida


Moradores contam um pouco da história do pequeno e antigo bairro


Uma simpática Vila, com oito ruas e histórias de mais de 60 anos. Um pequeno bairro que possui poucos comércios, uma mistura de casas novas com casas antigas - feitas de tijolos de barro - e moradores receptivos. Esse é o clima que encontra quem chega à Vila Almeida.

Nos anos de 1940, época em que a Vila ainda não tinha moradias, segundo registros históricos, Indaiatuba era uma cidade pequena, com poucas ruas e ao redor ainda existia mato e muitas palmeiras espalhadas pelos campos. De acordo com a cronologia da cidade, a Rua Onze de Junho é umas das mais antigas de Indaiatuba e do bairro. Esta rua está no Projeto do Abastecimento de Água para a cidade de 1928. Por ser um bairro antigo, segundo a Secretaria de Planejamento Urbano e Engenharia, seu registro foi feito no cartório de Itu, e não há Lei e nem Decreto de criação. Os primeiros relatos de moradias no local são de 1950. 

A Vila começou sua história com as Ruas Onze de Junho, 24 de Maio e antiga Rua Solimões, atualmente Rua Padre Manoel da Nóbrega. Aos poucos, foram se formando as Ruas João Amstalden, Marajó, Tocantins, Xingu e Araguaia. O bairro, que é vizinho da Vila Lopes, da Praça Elis Regina onde está localizado o chafariz, do Centro e do Parque Ecológico, já foi um amplo espaço que crianças brincavam e adultos levavam seus cavalos para passear. 

Pouco a pouco, a Vila foi ficando povoada e, muitas pessoas já passaram por ali. Quem ficou, conta um pouco da tranquilidade que o bairro transmite. Porém, registros fotográficos antigos da Almeida são raros, já que fotos eram menos acessíveis na época, ficando o registro na memória de cada morador.

Foto 1 - crédito Jornal Exemplo - Rua Tocantins (em 2013)

A Vila e seus personagens


“Oi”, é o grito que João Teribelli solta ao fundo de sua casa quando a Redação da Revista Exemplo® Imóveis chama por seu nome. Surge um senhor de muleta, olhos azuis, cabelo branco, rugas (poucas pela sua idade), chinelo preto, calça marrom, camiseta listrada e um perfume marcante pela fragrância forte, que lembra cheiro de vô. Esse é João, 91 anos, um dos moradores mais antigos da Rua Onze de Junho, na Vila Almeida, e que tem muita história para contar.

Sentado em uma cadeira branca, João explica como chegou ao bairro. “Por volta de 1940 sai de Salto, cidade onde nasci, e fui para Cabreúva, lá conheci minha esposa e me casei. Vim para Indaiatuba em 1950 e morava no Centro, depois me mudei para a Vila Almeida”, diz João. “Aqui não tinha casa, era tudo mata, onde soltávamos os cavalos para pastar. A turma cassava rolinha, tinha capivara, era outro clima”, conta. “Lembro das primeiras torneiras públicas, em que íamos pegar água para os afazeres, formavam grandes filas”. Segundo registros históricos, a população retirava água dessas torneiras para tarefas cotidianas, sem o esforço de ir ao Rio Barnabé.

Foto 2 –  crédito Jornal Exemplo - João Teribelli, 91 anos (em 2013)


João, pai de dois filhos e viúvo, lembra que as moradias na Vila começaram a surgir nos anos 50. “A minha foi uma das primeiras casas do bairro. Paguei-a a prestação com o dinheiro que ganhava quando era padeiro”, relembra. “Já vi muitas pessoas passar por aqui, muitos vizinhos já morreram, tanta gente e eu aqui”.
Andando pelo bairro, na Rua Tocantins, conhecemos Rosalina, 65 anos. Ela, que mora há 43 anos na Vila e como a maioria dos moradores antigos nasceu em outra cidade, têm oito gatos e três cachorros e diz não querer mudar da Almeida. “Nasci em Capivari e com sete anos vim para a Vila Almeida, depois fui para outro bairro, me casei e mudei para essa casa em 1958. Quando me mudei aqui era terra, brincávamos nas valetas. Gosto de morar aqui, não pretendo sair desse bairro”.


Foto 03 -  crédito Jornal Exemplo – Rosalina, 65 anos (em 2013)


Na esquina da Rua Padre Manoel de Nóbrega com a Rua 11 de Junho, estava Antônio Mauro Fernandes, 58 anos. “Eu morava na Fazenda Pimenta, trabalhava na lavoura. Em 1975 vim para a Vila Almeida e comecei a trabalhar como taxista de 1976 até 2006. Depois montei uma autoelétrica na frente da minha casa”. Pai de dois filhos e avô de três netos, Antônio lembra quando a Vila só tinha um quarteirão. “Eu subia a Onze de Junho, passava pela antiga Rua Solimões e descia a Rua 24 de Maio. Quando ia à igreja Nossa Senhora da Candelária, ou quando vou ao banco hoje em dia, vou a pé porque é pertinho”, diz. Antônio também conta que todos os dias de manhã e a tarde sai de sua casa e fica na sombra de uma árvore na esquina da Rua Onze de Junho com a Rua Padre Manoel de Nóbrega. “Gosto de ficar nessa esquina, aqui passa pessoas que conheço, conversamos, a hora ‘voa’. Aqui me sinto dentro de casa, me acostumei tanto que não consigo mudar para outro bairro. A Vila Almeida é o quintal da minha casa”. (pensei em colocar em caixa alta essa frase).


Foto 4 -  crédito - Jornal Exemplo – Antônio, 58 anos (em 2013)


A antiga ‘aguadinha’ e o atual chafariz 


Ainda na Tocantins, Dilka Cássia de 58 anos, que adotou um papagaio corintiano após sua amiga falecer e deixar o pássaro, lembra sua infância próxima à Vila. “No bairro eram poucas casas, juntávamos a ‘molecada’ e íamos brincar na ‘aguadinha’ ali na praça”, diz. “Uma vez fui brincar lá e perdi a lente do meu óculos, quando cheguei em casa minha mãe nem deixou eu entrar e me pegou pelos cabelos”, relembra rindo. “Tenho saudades desse tempo”, acrescenta Dilka.

A ‘aguadinha’ que dona Dilka se refere é o atual chafariz. O ponto histórico da cidade não pertence à Vila Almeida, mas fica a poucas ruas do bairro e fez parte das histórias dos seus moradores. No início do século XX, o Chafariz era uma das duas ‘aguadas’, como eram conhecidas as fontes naquela época, de onde a população retirava a água para consumo e para a lavagem de roupas. Na época, era comum os meninos da cidade ir buscar água em latas para vender nas casas. No final da década de 60 e início de 70, o Chafariz passou por uma restauração e ao seu redor foi construída a Praça Elis Regina. 

Foto 5 - Crédito - Jornal Exemplo – Dilka, 58 anos (em 2013)


Foto 6 -  Acervo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba – Chafariz na década de 70



Foto 7 - Crédito - Jornal Exemplo - Legenda – Chafariz em 2013


Os tradicionais comércios da Almeida


Apesar dos mercados maiores que rondam a cidade, todo bairro tem uma mercearia, e não poderia ser diferente com a Vila Almeida. A mercearia, que fica localizada na Rua Onze de Junho, já passou por vários donos. Atualmente, Danilo Augusto Prado, 26 anos, é o proprietário. “A mercearia era da Dona Tita, há 20 anos era uma loja de roupa. Quando eu tinha 16 anos, minha mãe comprou a loja e abriu a mercearia onde ficou como proprietária por seis anos. Depois, vendeu e eu recomprei em 2013. O bom de trabalhar aqui é que todos os vizinhos me conhecem porque cresci nessa rua”, conta. “Lembro que quando vim para cá haviam poucos comércios, não tinha posto de combustível, o outro lado do Parque Ecológico era só mato. Hoje evoluiu em vista de como era antes”.

Tradicional na cidade, o Restaurante Barnabé que está localizado na Rua 24 de Maio, antes de 1999 ficava na Cerqueira César, próximo à Praça Rui Barbosa. “Quando estávamos perto da praça o restaurante se chamava Soldadinho, porque era o apelido do meu marido (José Carlos Barnabé, o Soldadinho, 63 anos). Começamos com o comércio em 1990, ele já foi bar e depois restaurante. Em 1999 vendemos o antigo recinto e viemos para a Vila Almeida, então mudamos o nome para Restaurante Barnabé. Compramos essa casa, que se adaptou e foi transformada em restaurante”, diz a proprietária Ângela Maria Defendi Barnabé, 61 anos. “A Vila é tranquila, nossos clientes são tanto da Almeida quanto de outros bairros, e chega a vir pessoas de fora da cidade para almoçar aqui”, diz.

O cabeleireiro Daniel Campos Leite, 48 anos, está com seu salão há 16 anos no bairro. “Frequento a Vila faz 30 anos, desde quando namorava minha mulher”, diz. “A Vila mudou, antes os vizinhos conversavam mais, hoje é mais tranquila, o pessoal antigo morreu, algumas casas foram reformadas, outros moradores se mudaram e alugaram suas casas. Também vieram muitas pessoas de São Paulo, o que contribuiu para a mudança”. Daniel foi um dos cabeleireiros mais frequentados da cidade e até hoje cultiva seus clientes. Atualmente, está trocando de profissão, o objetivo é a área de direito. “Esses 16 anos como cabeleireiro aqui na Vila foi e é marcante na minha vida, fez o que sou hoje, nunca vou esquecer”.


Foto 8 – Mercearia do Danilo - Créditos Jornal Exemplo (2013)


Foto  9 – Restaurante Barnabé na Rua 24 de Maio - Créditos Jornal Exemplo (2013)


Foto 10 – Daniel Cabeleireiro - Créditos Jornal Exemplo (2013)


 Foto 11 Muro feito de tijolo de barro - Créditos Jornal Exemplo (2013)



 Foto 13 Rua Onze de Junho


Foto 14 do Arquivo Público da Fundação Pró Memória
Vista aérea de Indaiatuba na década de 1960, ao fundo Vila Almeida ainda quando era mata.



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