domingo, 9 de novembro de 2025

Indaiatuba e suas Marias

HUGO ANTONELI JUNIOR*

Indaiatuba tem mais de 11 mil Marias. Você deve conhecer alguma. Se não for sua mãe, sua tia, vizinha, colega de trabalho ou filha, pode ser você mesma, ou podem ser todas. Toda mulher tem um pouco de Maria.

Esse é o nome mais usado no Brasil, informou um levantamento inédito divulgado pelo IBGE, com dados do Censo 2022, em novembro de 2025. Em Indaiatuba, entre 2020 e 2022 quase 500 famílias saíram do Cartório de Registro Civil com uma Certidão de Nascimento com Maria como primeiro nome.

É um nome que não sai de moda e está, segundo o IBGE, na liderança entre os nomes escolhidos pelos pais em quase todas as décadas, exceto a década de 1980. Há 4,3% da população de Indaiatuba de Marias. É, de longe, o nome mais utilizado na cidade.

E as origens? São muitas, assim como os significados. O mesmo Censo mostrou que quase 80% da população de Indaiatuba, estimada em 267 mil, é cristã, seja católica (54%) ou evangélica (23%). Isso pode explicar a maioria das escolhas. Maria é o maior nome feminino no universo cristão, desde a mãe de Jesus até as padroeiras – do Brasil ou das cidades. São todas uma. Uma são todas.

Maria pode significar vidente, senhora soberana, pura e até amada, tudo o que os pais esperam de um novo bebê que chega, apenas elogios ou bons prognósticos. Em relação às médias de algumas cidades, Indaiatuba fica abaixo, existem municípios em que 22% das pessoas se chamam Maria. Este também é o nome mais usado no mundo, ainda segundo o IBGE. Na Espanha, por exemplo, de cada quatro mulheres, uma se chama Maria, um percentual de 24%.

Isso relembra que Indaiatuba está no mapa. Não é possível fugir disso. Não há pedágio que separe a cidade do contexto que a cerca, passando pela região metropolitana, pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil, não deixando assim uma cidade com mania recente de se autodeclarar diferenciada, como se não existisse em um contexto.

São Marias que constroem diariamente essa cidade e foi assim desde sempre. Elas estão pegando transporte público bem cedo, nas cozinhas dos restaurantes, na limpeza da casa, na educação dos filhos – seja como mãe ou como educadora na escola ou creche -, mas também empreendendo, definindo políticas públicas, vendendo bolo, terreno, pizza, roupas, dirigindo um carro, trator ou negociando na bolsa de valores. São as Marias que fazem de Indaiatuba e do Brasil o que somos.

Dar nome às coisas é o início de entender o que elas são. E os nomes dos filhos de Indaiatuba, que mantém uma taxa de cerca de três mil nascimentos por ano – metade em geral, meninas -, dizem muito sobre a gente continuar sendo – mesmo sem perceber – os mesmos de sempre. E isso pode não ser ruim. Talvez ainda sejamos os mesmos.

As Marias mostram que continuamos sendo paulistas, brasileiros, com fé e esperança – porque as crianças seguem nascendo e criança é futuro. O passado nos lembra que foram Marias (como dona Leonor e Aydil) que construíram essa cidade que temos hoje. E o futuro de Indaiatuba passa, inevitavelmente, pelas Marias.

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*É jornalista com passagens pelo Comando Notícia, TV Sol, Mais Expressão, Rádio Jornal, G1, Alesp, pós-graduado em Gestão Pública e Ciências Sociais, promotor de um projeto de História de Indaiatuba com a página Indaiatubanos no Instagram e de um projeto de Jornalismo na Escola desde 2023.

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