Conheci Paulo Antônio Lui em 1992, quando o entrevistei porque o Shopping Center Indaiatuba, o atual Jaraguá, iria inaugurar no ano seguinte sem a previsão de um cinema.
Indaiatuba não tinha uma sala de exibição desde 1989, quando o Cine Alvorada, localizado onde é hoje o Magazine Luiza, e que era de propriedade da família Lui, fechou as portas. Ele me explicou que o shopping tinha pedido muito alto para instalar um cinema lá, e lamentava que a cidade ia continuar sem esse fundamental equipamento de cultura e lazer.
O banco que iria ocupar a entrada da Rua Humaitá acabou desistindo, deixando um vazio no lugar. Chegou-se num acordo e o Cine Topázio começou a nascer, com projeto do meu amigo Bacelar, no Cineclube Barão, de Campinas. Hoje, o Topázio Cinemas é a âncora do Shopping Jaraguá e uma das principais atrações do Polo Shopping.
Paulo Antônio Lui faleceu na última sexta-feira, dia 8, após uma convalescência por conta de um câncer terminal, e ele optou por ficar cercado pela família.
Sua contribuição para o desenvolvimento – sim, porque nenhuma cidade se desenvolve sem cultura e lazer – não se restringe ao fato dele ter sido proprietário do Cine Alvorada (1963-1989) e do Topázio Cinemas (1993 até hoje). Por si só já seria algo relevante uma empresa local ser a exibidora, já que as demandas do público são mais facilmente atendidas (por exemplo, a manutenção dos filmes legendados, as parcerias com empresas e Prefeitura), mas as diversas ações que fogem do mero empreendedorismo (leia-se, fazer dinheiro).
A Manhã Nostálgica chegou à sua 108ª edição no mês passado, e foi a única vez que “seu” Paulo não compareceu. Além de exibir um filme antigo de graça para convidados, tinha café da manhã e frequentemente havia atração musical. Na mesma linha, a Sessão Bang Bang se dedicava ao western, mas aí, com ingresso em troca de um quilo de alimento não-perecível ou leite longa vida destinados a entidades assistenciais,
O Festival de Cinema Italiano acontece mais ou menos anualmente e traz produções atuais e da era de ouro de Cinecittá, a Hollywood romana. Além dos filmes, sempre tem sorteio de brindes e atrações musicais.
Finalmente, eu e o Antônio da Cunha Penna vagávamos pela cidade com nosso Cineclube, passando filmes que gostávamos em locais como a sede do Madrigal Cantátimo, o Colégio Monteiro Lobato e a Livraria Vila das Palmeiras, inicialmente em VHS, depois de DVD. Em 2005, a Topázio Cinemas, na pessoa do Paulo Celso Lui, nos convidou a fazer uma sessão cineclubística às terças numa das salas no Shopping Jaraguá.
Junto com o Paulinho, escolhíamos um lançamento no segmento filme de arte, ele seria exibido e em seguida coordenaríamos um bate-papo com os que se dispusessem a ficar após a sessão. A ideia era formar um público que buscasse a Sétima Arte além do entretenimento mais convencional.
“Seu” Paulo teve o carinho de registrar todas as sessões do Cineclube, hoje batizado de Indaiatuba, e compilar as informações em livros, com os quais fomos presenteados.
A iniciativa deu certo, e hoje em todas as terças, fora das temporadas de blockbusters, um filme alternativo é exibido no Cineclube, Assista Mulheres (com temáticas feministas) e Cine Cult. Nem Campinas, com suas duas grandes universidades, oferece isso.
Poderia falaz ainda do papel de Paulo Antônio Lui no patrocínio não só de audiovisuais, mas de peças e outras iniciativas, mas fico no que eu acho que teve um alcance maior, a ponto de, com toda a justiça, o Shopping Jaraguá homenageá-lo dando seu nome à praça da fonte, quando tento o mall, quanto o Topázio Cinemas completaram 30 anos, em 2023.
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