Texto de Henrique Ifanger
Em 1919, as famílias de João e José Amstalden compraram a fazenda Bela Vista, que era de propriedade do
Sr. Guilherme Cotching, negócio de que meu pai foi
intermediário.
A compra foi negociada por cem contos de réis.
A comissão rendeu dois contos de réis. Com esse dinheiro, ele
comprou um carro de bois com oito bois amestrados, do Sr.Juca Balduíno, com todos os equipamentos necessários e em
condições para trabalhar.
O primeiro empregado que tinha prática em conduzir o
carro de boi, chamava-se Franquito Canali; quando casou-se,
foi substituído por seu irmão João Canali.
Como este era
muito violento com os bois, meu pai dispensou-o e, no lugar
vago, meu irmão João Netto substituiu-o.
Como Joãozinho
conhecia os nomes dos bois e das vacas leiteiras que estavam
no mesmo mangueirão cuidado pela Benedita, que tirava o
leite, era só chamá-los que cada um ia chegando no seu lugar;
depois era só levantar a canga no pescoço do boi, travar a
brocha, prender a chifradeira em cada par, e estava pronto
para o trabalho.
O carro de boi era muito útil para o transporte
pesado, como toras de madeira, lenha, cereais ensacados.
Só
que era muito lento, nem todos os dias podia trabalhar, pois
tínhamos uma carroça com dois burros que fazia pequenos
transportes e mais rápidos.
O Joãozinho tinha que controlar os
empregados, distribuir serviço para onde era mais necessário.
Aos sábados, ele preparava a tarefa para todos.
Concluído o
trabalho, estavam livres; iam para casa com o pagamento
semanal.
Fonte da imagem: onordeste.com
COMO ERA FEITO O CARRO DE BOI
Quanto ao carro de boi vamos falar alguma coisa.
Como era feito.
O carro de boi era um veículo construído quase
totalmente de madeira de boa qualidade, constituído por um
par de rodas, fixado em um eixo, formando um grande
carretel.
Cada roda é formada por três pranchas inteiriças,
primeiro juntadas com cavilhas e depois serradas com serra
curva em forma circular.
A madeira usada era geralmente a
cabreúva. Era construída por carpinteiro bem prático, para
juntar as três pranchas, que eram de dez centímetros de
espessura.
A junção das pranchas se faz por meio de duas
cavilhas, unindo as duas laterais, chamadas cambotas, à do
centro, que possui então quatro furos para a colocação das
cavilhas.
Estas medem 3x6 cm, e são bem ajustadas e batidas
com uma marreta. A roda deve ter um metro e vinte
centímetros de diâmetro.
Com um compasso marca-se o
rodigio e o centro. Com serra curva faz a circunferência e com
a ferramenta chamada enchó desbasta-se a madeira para
deixar, a partir dos dez centímetros da área central, uma
espessura de cinco centímetros na periferia, correspondente à
largura da ferragem.
Os dois furos da roda, que medem 20 centímetros, na
forma de um óculos, servem de degrau para subir até a mesa
do carro e ajeitar a carga.
Os furos das rodas não tem nada a
ver com os cantos das mesmas.
O canto só acontece com o
movimento lento e o peso da carga.
A pedido de meu pai fiz um eixo de carro - o outro foi
gasto pelo uso - com uma tora de jacarandá, com dois metros
de comprimento, lavrada em forma oitavada, acompanhando a
peça anterior, com duas cavidades para girar o eixo da mesa.
O encaixe da roda tem que ser bem ajustado e estar bem no
esquadro para que as rodas girem alinhadas.
Para comprovar
com exatidão é só verificar o rastro que o carro deixa no chão.
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