segunda-feira, 30 de maio de 2022

Os indígenas na história de Indaiatuba

                                                                                                                                                             Eliana Belo Silva

COLUNA DEMANDAS NA NOSSA HISTÓRIA

Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 | Edição 012  | Indaiatuba, 27 de maio de 2022


Uma das funções práticas da História é entender o presente para que os erros cometidos no passado sejam evitados no futuro. 

O ataque aos legítimos donos de Pindorama – nome de nossa terra antes da chegada dos portugueses - ocorre desde 1500 e há poucos dias, mesmo depois de tanto tempo – nos deparamos com notícias de abusos sexuais e mortes de crianças e adolescentes Yanomami, cenário que está se multiplicando sob a negligência do governo federal que continua permitindo que grupos criminosos e milícias invistam contra os povos originários para usurpar – como sempre – a terra e suas riquezas que, por lei, já estão demarcadas e deveriam ser protegidas. 

Oficialmente Indaiatuba foi fundada no dia 9 de dezembro de 1830, quando a capelinha rural católica existente no até então bairro rural de Itu passou a ser curada, mas a ‘origem’ de nossa cidade é bem distinta dessa efeméride, e a maior prova disso é a palavra tupi-guarani “Indaiatuba” (yinayá´tyba) que significa “terra com muitas palmeiras indaiá”.

Mas... onde estão os indígenas em nossa história? 

Essa lacuna, pela primeira vez, foi discutida no mês passado em nossa Câmara Municipal. O vereador Arthur Spíndola apresentou uma Indicação solicitando que sejam feitas ações de conscientização acerca da origem indígena em Indaiatuba, proposta aceita por unanimidade por todos os vereadores. 

Provavelmente a região do atual município de Indaiatuba começou a ser ocupada por grupos caçadores-coletores e agricultores há cerca de 5000 anos. 

Esta afirmação é feita com base em pesquisas arqueológicas desenvolvidas em nossa região, que apontam para a existência de diversos sítios por toda sua extensão, sendo registrados (até o momento) 39 sítios arqueológicos, distribuídos por Itu (13), Campinas (05), Indaiatuba (03), Monte Mor (04) e Salto (14). 

Os três sítios arqueológicos de nossa Indaiatuba – até agora – são: (1) Buruzinho, identificado em 2005, nas proximidades do Córrego Garcia ou Córrego Buruzinho, (2) Cambará (?), localizado nas proximidades do rio Capivari-Mirim e identificado em 2018, e (3) Capivari-Mirim também descoberto em 2018 às margens do córrego Jacaré. 

Nenhum desses três sítios teve seus materiais datados, mas é possível afirmar que foram ocupados no mesmo contexto de outros sítios já estudados nas diversas microbacias hidrográficas a diferentes pontos do Rio Tietê.

Estudar esses sítios históricos, atendendo a demanda aprovada na Câmara Municipal é dar à História sua mais nobre função: evitar, através do conhecimento e das ações advindas dele, que os indígenas sejam desumanizados em nosso país sem nos sensibilizarmos profundamente a ponto de evitarmos isso - como voltou a acontecer intensivamente nos últimos três anos, em ações violentas de ataques não só à eles, mas nos biomas onde vivem, que vimos em sucessivas labaredas criminosas, tanto na Amazônia, como no Pantanal. 

Só cuida quem conhece. 


Cunhambebe ilustrado por André Thevet
um cosmógrafo francês que acompanhou a expedição de Nicolas Durand de Villegaignon


NOTAS COMPLEMENTARES DO BLOG:

(1) Relevância do Sítio Histórico do Buruzinho de Indaiatuba, categorizado pelo Iphan: ALTA, conforme você pode conferir aqui: http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?17859 (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos - Sitio Buruzinho - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2005. Consultado em 30 de maio de 2022).

Sítio Arqueológico do Buruzinho
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)



Sítio Arqueológico do Buruzinho
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)



Sítio Arqueológico Buruzinho
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/10699


(2) O Sítio aqueológico Cambará (?) , localizado nas proximidades do rio Capivari-Mirim, também conta com presença de instrumentos líticos e fragmentos cerâmicos de uso comum entre populações indígenas, assim como vestígios de ocupação do século XIX, mais especificamente do período imperial brasileiro. Esse último sítio foi identificado em 2018, durante as atividades de acompanhametno arqueológico de um empreendimento residencial (Park Gran Reserve) sendo que os materiais encontrados (já bastante fragmentados) foram posteriormente enviados ao Museu Raphael Toscano, localizado no município de Jaú.

(3) O Sítio Capivari-Mirim, foi descoberto em 2018. No local foram identificados instrumentos líticos feitos em quartzito, no que provavelmente foi um antigo acampamento de caça. Localizado próximo às margens do córrego Jacaré, afluente do rio Capivari-Mirim, esse sítio arqueológico é mais um testemunho da recorrente presença de grupos indígenas na região de Indaiatuba. veja mais sobre esse sítio aqui: https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/23776 (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão - Sítio Capivari-Mirim 01 - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, consultado em 30 de maio de 2022)

Sítio Arqueológico Capivari-Mirim 01
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)


Sítio Arqueológico Capivari-Mirim 01
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)



Sítio Arqueológico Capivari-Mirim na Chácara Haras
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/23776


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