Eliana Belo Silva
MÉTODO
Ao longo de 2025 o blog acompanhou todas as Sessões Ordinárias da Câmara Municipal de Indaiatuba, onde foram apresentadas 3.380 Indicações. Para fins desta Retrospectiva da Câmara Municipal – 2025, a análise estatística aqui apresentada considerou apenas 3.173 Indicações, que correspondem ao conjunto de matérias cujo conteúdo permitiu classificação temática objetiva (apresentada abaixo), sem a necessidade de interpretações dúbias ou inferências subjetivas/externas.
As 207 Indicações restantes foram deliberadamente desconsideradas do recorte analítico. A exclusão não se deu por irrelevância política, mas por falta de objetividade classificatória: tratam-se de proposições (1) excessivamente genéricas, (2) com redação imprecisa, (3) com conteúdo que não guarda relação clara com a justificativa escrita pelo vereador no documento protocolado ou ainda (4) quando o conteúdo escrito não foi efetivamente declarado/defendido no plenário - ou em outras palavras: escreveu uma coisa e disse outra. Em outros casos, (5) a ação solicitada não se mostrou identificável como política pública setorial concreta, não sendo possível vincular à ação indicada de forma segura à uma classificação (necessitando de interpretação subjetiva, ação abolida para não comprometer a lisura do resultado).
O critério metodológico partiu de uma classificação, portanto, da ação efetivamente solicitada ao Poder Executivo, e não apenas na forma discursiva da Indicação, tendo sido adotada para garantir rigor, transparência e comparabilidade estatística, evitando - ao máximo - a distorção dos resultados por classificações arbitrárias.
A partir desse universo de 3.173 Indicações classificáveis, foi possível identificar com precisão quais agendas concentram o esforço propositivo do Legislativo municipal ao longo do ano.
DISTRIBUIÇÃO TEMÁTICA DAS INDICAÇÕES: O QUE A CAMARA PEDE AO EXECUTIVO
A análise das 3.173 Indicações apresentadas revela, com nitidez estatística, quais agendas ocupam o centro das demandas dirigidas ao Poder Executivo municipal. A classificação temática, construída a partir do conteúdo efetivo das ações solicitadas — e não da forma genérica da redação — permite observar padrões recorrentes e, sobretudo, silêncios relevantes.
Mais da metade das Indicações (53,32%) concentra-se no tema TRÂNSITO, evidenciando que a maior parte da atuação parlamentar se volta a questões de circulação viária, mobilidade urbana e intervenções de diferentes grandezas em ruas e avenidas. Trata-se de uma pauta marcada por, sobretudo, demandas cotidianas, corretivas e de curto prazo, frequentemente associadas à gestão do espaço urbano e à resposta imediata a problemas visíveis da cidade.
Em um segundo patamar aparecem SAÚDE (8,54%) e ADMINISTRAÇÃO (8,07%), indicando que, embora relevantes, essas áreas recebem atenção significativamente menor quando comparadas à agenda viária. No caso da Administração, as Indicações concentram-se sobretudo em pedidos de modernização de processos, criação de instrumentos de gestão e providências institucionais diversas, incluindo ações relacionadas à Comunicação.
Temas estruturantes como MEIO AMBIENTE (6,52%), OBRAS (6,24%) e EDUCAÇÃO (5,45%) aparecem de forma fragmentada, sem alcançar protagonismo equivalente ao volume de demandas relacionadas ao trânsito. Já SEGURANÇA (4,19%), ESPORTES (2,74%) e ASSISTÊNCIA SOCIAL (2,21%) ocupam posições periféricas no conjunto das solicitações.
Chamam atenção, ainda, os percentuais reduzidos destinados à CULTURA (1,58%) e ao DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (1,13%), áreas fundamentais para a promoção de identidade, inclusão, geração de renda e planejamento de longo prazo. A baixa incidência desses temas sugere que tais agendas permanecem marginalizadas no instrumento legislativo das Indicações.
Os dados apresentados não avaliam a eficácia das políticas públicas, tampouco substituem a análise orçamentária ou executiva. Contudo, ao revelar onde se concentra o esforço discursivo e propositivo do Legislativo, a distribuição temática das Indicações oferece um retrato eloquente das prioridades — e das ausências — que marcam a relação entre Câmara e Executivo.
RANKING NUMÉRICO DE PRODUTIVIDADE DOS VEREADORES
Eduardo Tonin – 639 Indicações
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Arauto do Estado Mínimo – 403
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Sérgio José Teixeira – 351
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Túlio José Tomass do Couto – 343
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Clélia dos Santos de Carvalho – 237
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Alexandre Carlos Peres – 232
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Luiz Alberto Pereira – 193
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Adalto Missias de Oliveira – 182
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Hélio Alves Ribeiro – 163
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Leandro José Pinto – 153
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Wilson José dos Santos – 139
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Othniel Harfuch – 137
Observação: há 1 registro protocolado conjuntamente (Clélia dos Santos de Carvalho, Othniel Harfuch), contabilizado separadamente por constar como autoria conjunta no documento.
TRÂNSITO: Eduardo Tonin, Arauto do Estado Mínimo e Túlio José Tomass do Couto.
ADMINISTRAÇÃO: Eduardo Tonin, Arauto do Estado Mínimo e Luiz Alberto Pereira.
SAÚDE: Eduardo Tonin, Clélia dos Santos de Carvalho e Túlio José Tomass do Couto.
MEIO AMBIENTE: Arauto do Estado Mínimo, Eduardo Tonin e Sérgio José Teixeira.
OBRAS: Sérgio José Teixeira, Arauto do Estado Mínimo e Eduardo Tonin.
EDUCAÇÃO: Eduardo Tonin, Clélia dos Santos de Carvalho e Arauto do Estado Mínimo.
SEGURANÇA: Eduardo Tonin, Arauto do Estado Mínimo e Clélia dos Santos de Carvalho.
ESPORTES: Eduardo Tonin, Túlio José Tomass do Couto e Luiz Alberto Pereira.
ASSISTÊNCIA SOCIAL: Clélia dos Santos de Carvalho, Eduardo Tonin e Arauto do Estado Mínimo.
CULTURA: Eduardo Tonin, Sérgio José Teixeira e Clélia dos Santos de Carvalho.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: Othniel Harfuch, Eduardo Tonin e Luiz Alberto Pereira.
TOP 3 - VEREADOR POR ÁREAS
Eduardo Tonin: Trânsito, Administração e Saúde.
Arauto do Estado Mínimo: Trânsito, Administração e Meio Ambiente.
Sérgio José Teixeira: Trânsito, Obras e Meio Ambiente.
Túlio José Tomass do Couto: Trânsito, Saúde e Obras.
Clélia dos Santos de Carvalho: Trânsito, Saúde e Administração.
Alexandre Carlos Peres: Trânsito, Meio Ambiente e Administração.
Luiz Alberto Pereira: Trânsito, Administração e Meio Ambiente.
Adalto Missias de Oliveira: Trânsito, Meio Ambiente e Obras.
Hélio Alves Ribeiro: Trânsito, Meio Ambiente e Obras.
Leandro José Pinto: Trânsito, Saúde e Meio Ambiente.
Wilson José dos Santos: Trânsito, Saúde e Segurança.
Othniel Harfuch: Trânsito, Administração e Desenvolvimento Econômico.
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DESAFIOS
A gestão pública municipal enfrenta, em 2026, desafios que extrapolam ações pontuais e demandas de curto prazo como as que foram apresentadas e tratadas pela maioria das Indicações dos vereadores de Indaiatuba.
Temas como
- água e segurança hídrica,
- violência de gênero (feminicídio),
- justiça social,
- sustentabilidade fiscal/controle da corrupção,
- saúde mental,
- envelhecimento populacional,
- mobilidade urbana sustentável,
- educação integral,
- desenvolvimento econômico com inclusão e
- governança baseada em dados;
constituem hoje o núcleo das políticas públicas capazes de produzir impacto estrutural, reduzir desigualdades e preparar o município para um futuro socialmente mais justo e ambientalmente resiliente.
Esses temas exigem debate qualificado, formulação legislativa consistente e acompanhamento permanente por parte do Legislativo Municipal, cuja função vai muito além do simples encaminhamento de demandas imediatas. Cabe ao Parlamento local discutir prioridades, induzir políticas públicas, fiscalizar resultados e contribuir efetivamente para o planejamento de médio e longo prazo da cidade. O que essas agendas demandam são recursos, atenção política e decisões concretas, e não a banalização do espaço legislativo com sucessivas Moções de congratulação que, ao se acumularem, esvaziam o tempo, o foco e a responsabilidade institucional das Sessões, transformando-as, na prática, em intermináveis cerimônias simbólicas. A cidade precisa de política pública — não de gestos retóricos reiterados.
A análise da produção legislativa recente revela um descompasso entre os grandes desafios contemporâneos da gestão pública e o foco efetivo das Indicações apresentadas.
Predominaram solicitações de caráter corretivo, ações simples de zeladoria urbana e intervenções pontuais, muitas vezes relacionadas à manutenção cotidiana do espaço público, em detrimento do enfrentamento de questões estruturais que exigem visão estratégica e compromisso político.
Esse cenário não invalida a importância das demandas locais e imediatas, mas evidencia uma limitação do debate legislativo quando este se restringe à gestão do dia a dia, deixando em segundo plano temas decisivos para a qualidade de vida, a justiça social e a sustentabilidade do município.
A reflexão sobre essa distância entre o que se pede e o que precisa ser discutido é fundamental para qualificar o papel do Legislativo e fortalecer a democracia local.
Completa esse quadro a ausência quase permanente da população nas sessões legislativas, salvo nos momentos em que cidadãos são convidados a comparecer para receber Moções, posar para fotografias e, logo em seguida, se retirar do plenário. A participação cívica tem se restringido ao gesto simbólico, não ao acompanhamento crítico do processo legislativo.
Paralelamente, consolida-se a figura do chamado cidadão de rede social: aquele que reclama de tudo, muitas vezes de forma ofensiva, atacando vereadores e a Administração Pública com base no senso comum, em recortes superficiais e em indignação difusa, mas que se ausenta sistematicamente dos espaços formais de debate, das sessões ordinárias, das comissões, das audiências públicas e, sobretudo, da disposição de enfrentar análises mais profundas sobre a pobreza temática e a futilidade recorrente da produção legislativa municipal.
Sem participação qualificada,
sem cobrança consistente e sem compromisso com o debate público real,
a política local tende a permanecer refém do espetáculo,
da retórica vazia e da falsa sensação de engajamento,
enquanto os problemas estruturais da cidade seguem sem o enfrentamento que exigem.
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Em breve: análise de vereador por vereador com base neste texto como método e como referência de políticas públicas urgentes: gritos e silêncios de cada um de nossos vereadores.
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