segunda-feira, 10 de junho de 2019

A Primeira Diálise Peritoneal em Indaiatuba

Texto publicado na Revista APMNews de abril de 2019 - Ano XXII - Número 245

Autor: Dr. Francisco Carlos Ruiz


Conversar com o Dr. Antonio Renato Cordeiro é conhecer grande parte da história da Medicina em Indaiatuba. 


Dr. Cordeiro
Crédito Revista APMNews

Nascido nesta cidade e primeiro cardiologista a se radicar no município, o Dr. Cordeiro descreve em detalhes vários episódios de sua vida e do trabalho médico que vivenciou. 

Filho do farmacêutico Tabajara Cordeiro, numa época em que havia apenas duas farmácias em Indaiatuba, tinha contato próximo com médicos como Dr. Renato Riggio, Dr. Jácomo Nazário, Dr. Edmundo de Lima Pontes. 

Nasceu no Hospital Augusto de Oliveira Camargo, sendo o primeiro parto a ser realizado no hospital. Tal fato ocorreu em 1940, chegando primeiro que o filho do Prefeito, Sebastião Nicolau, que estava programado para ser o primeiro parto a ser realizado no hospital. 

Seu nascimento deveria se dar na residência da família e pelas mãos de uma parteira, como era comum, mas algo não correu como o esperado e o Dr. Edmundo de Lima Pontes foi chamado, determinando que sua mãe fosse levada ao hospital para a realização do parto. 

Seu avô, Antonio Cordeiro, também era farmacêutico e mudou-se com a família de Monte Mor para Indaiatuba por questões políticas. 

Inaugurou sua farmácia em 1913 e aproximou-se do Major Alfredo Camargo Fonseca, personalidade política importante na história da cidade de Indaiatuba e que esteve à frente da Prefeitura por 26 anos [1]. 

Dr. Cordeiro tinha tudo para seguir a carreira do pai e do avô, chegando inclusive a ser aprovado no vestibular para a Faculdade de Farmácia em Araraquara. Por insistência de sua mãe, mulher enérgica, filha de armênios e italianos, cursou a Faculdade de Medicina da Puc de Sorocaba, formando-se na 141 turma em 1969. Sua formação pós-acadêmica foi brilhante. Especializou-se em cardiologia no Instituto de Cardiologia do Estado de São Paulo, hoje Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, entre os anos de 1970 e 1971. A seguir, entre os anos 1971 e 1973, fez um curso de pós-graduação no Instituto Nacional de Cardiologia do México, na Cidade do México, um dos maiores centros de estudos e pesquisas do mundo em cardiologia. De volta ao Brasil em 1973, trabalhou com o colega de turma, Dr. Joaquim Nascimento, no Hospital Beneficência Portuguesa de Campinas. 

Em 1974 retorna a Indaiatuba, trabalhando no consultório em sociedade como o colega Dr. Roberto Sfeir no Hospital Augusto de Oliveira Camargo. 

No Hospital não havia médicos plantonistas durante o dia. Dr. Cordeiro lembra que o enfermeiro reunia alguns pacientes e chamava o médico no consultório. Este se dirigia ao hospital, atendia os pacientes e voltava para o consultório. Não havia remuneração pelo plantão. Alguns pacientes eram atendidos pelo INSS (INPS, na época). Outros não tinham qualquer plano de saúde ou sistema de seguridade e eram atendidos da mesma forma. 

No período noturno era diferente: vinham médicos de Campinas que atendiam e dormiam no hospital e eram remunerados pelo plantão. As condições de trabalho eram muito ruins. Não havia financiamento do poder público e tudo dependia de ajuda e dos próprios recursos do hospital. 

O aparelho de RX vivia quebrado e tudo era feito num aparelho de RX portátil, que podia ser usado em casos mais simples. 

O hospital era "comandado" pelas freiras que ditavam as regras de funcionamento. Dr. Renato lembra da freira Zenaide, que era extremamente brava. 

Ainda na década de 70, o Dr. Cordeiro e outros médicos passaram a atender no Ambulatório da Samil, que posteriormente se transformou em hospital, ocasionando a saída de vários médicos. Dr. Cordeiro, Dr. Sfeir, Dra. Vera Spadella, entre outros transferiram-se para consultórios no Edifício Ambassador que reuniu vários consultórios médicos durante muitos anos. 

Dr. Cordeiro, assim como o Dr. Pedro Maschietto Filho que foi o primeiro médico a utilizar a técnica da "Incisão de Pfannenstiel", foi o primeiro médico a realizar a diálise peritoneal no hospital e lembra que o Dr. Paulo Kóide perguntou: "você vai fazer uma cirurgia na enfermaria?". 

De fato, Dr. Cordeiro representava uma nova geração de médicos, não generalistas, mas de especialistas como se tornou uma tendência na prática médica no final dos anos 60. Mesmo assim, ressalta e enaltece a capacidade profissional do Dr. Renato Riggio e explica: "ele era um grande ser humano e um médico completo, fazia de tudo e de tudo com competência, da pediatria à clinica médica e da cirurgia geral à ginecologia e obstetrícia". 

Lembrado que o Dr. Renato Riggio, assim como o Dr. Pedro Maschietto (pai) faziam parte de uma geração"' de médicos que não tinha horário no para atendimento. 

Os pacientes os procuravam em suas casas e eram atendidos em qualquer dia. 

A mudança da medicina praticada por médicos autenticamente generalistas para a medicina especializada foi vivenciada pelo Dr. Cordeiro, e nesse sentido, seu relato se reveste de grande importância para conhecermos a história da Medicina em Indaiatuba. 


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[1] Na verdade, o Major ficou no poder pelo total de 30 anos, 5 meses e 8 dias, mas não de forma contínua. 


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