Alterações
Climáticas e Aquecimento Local em Indaiatuba
Com a constante preocupação mundial sobre mudanças climáticas, é
necessário que voltemos nossa atenção para as alterações climáticas locais,
muito mais perceptíveis, observando os históricos de médias de temperatura e de
pluviosidade, determinando assim como o clima de Indaiatuba tem sofrido
modificações ao longo de quase 2 séculos de antropização (ação do homem no meio
ambiente), avaliando se as alterações do meio ambiente, necessárias para
receber a nossa cidade, possuem sustentabilidade a longo prazo, e até onde será
viável manter o ritmo destas alterações e principalmente, estabelecendo
alternativas viáveis.
Em estudo divulgado pela UNESP, de autoria de Giovana Girardi
(Aquecimento Local), um panorama de médias diárias de temperatura entre os anos
de 1961 e 2008 de várias cidades da região, entre as quais Sorocaba, São
Carlos, Piracicaba e Itapetininga, apontam clara alteração do clima e indicam
que nossa região aumentou em cerca de 2°C suas médias históricas para este
período, principalmente devido a urbanização, ou seja, a substituição da
vegetação nativa por edificações. Mais que isso, constatou-se que as
temperaturas mínimas tem ultrapassado constantemente a média de 22°C e as
máximas diárias, muitas vezes são superiores a 32°C.
Fenômenos de alteração climática local, antes somente constatados em
cidades de grande porte como São Paulo, agora são observados em pequenos e
médios municípios e seus efeitos são sentidos por toda a população. E
Indaiatuba não foge à regra.
Indaiatuba tem se tornado uma ILHA DE CALOR!
Aquecimento Local e Ilha de Calor em Indaiatuba
Há dias em que um tremendo temporal assola o Centro da cidade e nem
chega a chover em Itaici.
Alguém já se perguntou qual a lógica desta diferença tão grande entre o
volume e intensidade das chuvas dentro de um mesmo município? E porque parece
que isso tem aumentado nos últimos anos?
Para quem habita Indaiatuba há muito tempo, e se lembra de um agradável
frescor rural que amenizava as temperaturas da cidade no verão, sobretudo ao
fim do dia e à noite, que trazia uma brisa molhada vinda do mato, que
destampava o nariz seco, em dias de inverno, deve se perguntar: _ o que
aconteceu com nossa cidade?
Nos últimos anos nosso perímetro urbano cresceu de maneira sensível,
trocando áreas onde originalmente se possuía cobertura vegetal, por cimento,
asfalto, pedra e tijolo. Aumentou a circulação de veículos motorizados, que
dispersam gases poluentes na atmosfera, situação agravada pela distribuição
modal de nosso transporte urbano, composto de mais de 54% de veículos
particulares, onde a média ideal estimada seria 33%. As áreas ocupadas possuem
tímida arborização entre os lotes, e as áreas verdes, obrigatórias em
loteamentos, muitas vezes não se prestam a recompor a vegetação nativa em
margens de rios e córregos, diminuindo nossa cobertura vegetal. Esse
adensamento de áreas construídas e impermeabilizadas, criadas pelo homem em
substituição à vegetação nativa, ou culturas agrícolas, tem criado em
Indaiatuba um fenômeno climático chamado “ILHA DE CALOR”.
As construções de nossa cidade e o asfalto das vias, possuem capacidade
de reter energia, gerando calor, de maneira mais intensa que a cobertura
vegetal original, e é capaz de manter esta temperatura por mais tempo, criando
inércia térmica, proporcionando noites mais quentes. Enquanto a Zona Rural
esfria rapidamente após o fim do dia, a Zona Urbana se mantém quente por mais
tempo. Os dias na ‘cidade’ são mais quentes, e durante as noites, a diferença é
muito maior.
A Ilha de Calor cria uma área de baixa pressão, mais quente, de ar mais
leve, que tende a subir e criar uma coluna ascendente sobre a cidade, por
consequência retirando a umidade e deixando o ar mais seco que em áreas rurais,
aumentando também a quantidade de partículas em suspensão, seja de poeira, água
ou fuligem, vindas de combustível automotivo, atividade industrial, ou mesmo de
queimadas ilegais. Como impactante decorrência, as ilhas de calor agravam a
poluição atmosférica, diminuem a umidade relativa do ar, e aumentam a
ocorrência de problemas respiratórios, sobretudo em crianças e idosos.
Estas partículas em suspensão, de água, poeira ou fuligem, chamadas
também de aerossóis, sobem com as correntes ascendentes e quando entram em
contato com nuvens carregadas, criam gotas, que como bolas de neve na ribanceira,
puxam a água das nuvens para baixo, e que acabam se precipitando sobre o
perímetro urbano, criando um aumento da pluviosidade, se comparada às regiões
rurais ou mais densamente arborizadas. Este fenômeno se intensifica no final
das tardes, quando a diferença de temperatura entre cidade e campo se torna
maior, chegando a uma diferença de até 10°C, criando as tempestades de fim de
tarde, que curiosamente não incidem em áreas verdes com a mesma frequência e
intensidade que na área urbana. O aumento da ilha de calor indaiatubana pode
atrair chuvas desastrosas e desproporcionais à infraestrutura de drenagem
urbana da cidade, sobretudo em nossa plana região central onde, em nome da
modernidade, os paralelepípedos – com maior capacidade de drenagem – foram
substituídos por mantas asfálticas.
Observando a relação da cidade com o Meio Ambiente do seu entorno,
podemos dizer que ao construir e sequencialmente expandir uma região estéril de
áreas verdes, criamos um imã para tempestades, que acaba também alterando a
relação de precipitação e recursos hídricos em direção a montante de nossos
cursos d’água, no ponto em que literalmente roubamos a chuva que deveria ir
para os reservatórios de captação para consumo, na região das represas do
Capivari-Mirim e Cupini, e direcionamos estes valiosos recursos a jusante da
cidade, em direção a Salto, para o Jundiaí e depois ao Tietê. Fenômeno
semelhante assola também a grande São Paulo, prejudicando os recursos advindos
da região da Cantareira.
Como conter ou como reverter?
Uma das mais eficientes maneiras de se reter o aquecimento demasiado da
cidade é proporcionar amplas áreas verdes, ou cravejar as áreas urbanizadas com
árvores para diminuir a incidência solar e também aumentar a umidade através da
evapotranspiração, jogando para a superfície a água retida no solo pela
vegetação.
Nossa Arborização Urbana já foi pujante, diria até corajosa, em tempos
em que se plantavam jequitibás, como os grandes indivíduos localizados na Rua
Itororó; ipês e sibipirunas como as dos bairros adjacentes ao Centro; a exemplo
do Jardim Pau Preto, o nosso Centro era cravejado de espatódias, onde restam
apenas algumas, como as da Rua 15 de Novembro. Lotes urbanos e praças possuíam
jatobás, paineiras e alecrins, que aos poucos tombam com a impermeabilização do
solo. Nas últimas décadas, trocamos o porte de uma sibipiruna, comum na
arborização urbana até a década de 80, pela canelinha, nos anos 90, pois seu
porte é menor e interfere menos nas instalações aéreas de energia e nos
passeios públicos, e também caduca menos, ou seja, possuí menor deiscência de
folhas. Pelas mesmas razões a canelinha, foi substituída pela aroeira
pimenteira, e depois pelo resedá, e se tudo caminhar neste rumo, logo estaremos
plantando buxinhos [SIC!] em nossas ruas.
Tratar a arborização urbana como prioridade ambiental, e estender esta
atenção para a cobertura arbórea nativa de nossas áreas de preservação
ambiental, dispostas em perímetro urbano, recompondo-as e conservando-as, é
fundamental para diminuir a ação do fenômeno da Ilha de Calor na cidade.
Arborizar a cidade adequadamente, e trabalhar a recomposição de áreas
florestais nativas como condição sine qua non a expansão urbana, são
atividades sustentáveis que podem reter ou até diminuir a ação do aquecimento
urbano em Indaiatuba deixando a cidade tão agradável, quanto sempre foi em um
passado próximo.
Imagem de satélite de obra sobre a Área de Preservação Permanente do Rio Jundiai em Itaici em 2014
Imagem de satélite de obra sobre a Área de Preservação Permanente do Rio Jundiai em Itaici em 2016 (dois anos depois da imagem acima)
Temperatura média diária máxima de Indaiatuba entre 2007 e 2015
Evolução das temperaturas mínimas
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Ao utilizar este texto como fonte, cite-o corretamente:
FERNANDES, Charles. Alterações Climáticas e Aquecimento Local em Indaiatuba – Indaiatuba (SP), 2017. Disponível em www.historiadeindaiatuba.blogspot.com
Fontes:
Tese de Doutorado – Marcio Gledson Lopes Oliveira
http://www.iag.usp.br/.../files/t_marcio_g_l_oliveira.pdf
Artigo de Giovana Girardi (UNESP)
http://www.unesp.br/.../ed10/pdf/UC_10_Aquecimento.pdf
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