texto de Paulo Antonio Lui
Toda cidade que se preza, tem no seio da comunidade figuras pitorescas, pessoas que diferem do tipo comum, pelo seu modo de vida e pela conduta extravagante no seu dia-a-dia.
Relembro algumas delas, que marcaram uma época da minha vida, naquela pacata, hospitaleira e não desbravada Indaiatuba.
ARISTÓTELES PEREIRA DOS SANTOS é irmão do voluntário João dos Santos (Revolução Constitucionalista). Quando movido pelo álcool, dizia em alta voz sua frase preferida: “- Meu povo, destino não é intestino” e outros muitos improvérbios hilariantes, que faziam a delícia de seus ouvintes. Conta-se, que um determinado comércio da cidade, na doença de um de seus funcionários que fazia serviços bancários, utilizou-o em substituição ao referido. Sóbrio, ARISTÓTELES desempenhou a tarefa a contento. De outra feita, foi designado para ser vigia de sanitário masculino. Inúmeras vezes encontraram-no dormindo, mas sempre no seu posto, cumprindo rigorosamente os horários determinados.
DITO DE GERÓ personificava a preguiça. Não chegado ao trabalho e banhos, sempre usando a mesma roupa, “espantava” as pessoas ao aproximar-se delas. Conta-se, que de tempo em tempo, um grupo de amigos se reuniam, e na “marra” aplicavam-lhe um banho e trocavam suas roupas. Em determinada ocasião, um empresário da cidade, que havia sido colega de bancos escolares de Geró, arrumou em um canto de sua indústria, um local para acolhê-lo. Depois de certo tempo, ao visitá-lo, ficou espantando com a sujeira e mau cheiro e ordenou que o mesmo fizesse uma limpeza geral, para que a acomodação ficasse em condições de moradia. Resumo: Geró deixou o local nunca mais voltou.
TONHÃO LOBISOMEM foi um tipo taciturno, fechado, de poucas palavras, barba a fazer, botas de cano longo, fumante de cachimbo, frequentador de igreja católica. Amedrontava as crianças da época por causa da lenda que corria, que às sextas-feiras, em noite de lua cheia, se transformava em um horrível lobisomem (meio lobo – meio homem). Morava em um sítio, em uma casa isolada, à beira de uma estreita estrada de terra. Os pequenos evitavam passar por aquele local, pois lá ficava a casa assombrada, a casa do lobisomem.
Lembro-me ainda, de O ÉBRIO (HENRIQUE CHEFER), exímio pintor de quadros de natureza viva; MARIO LOUCO, que imitava com os braços e mãos gestos de volante de um carro e “dirigia” em alta velocidade pelas ruas e calçadas da cidade; SEU ANTONIO DAS LARANJAS, com sua inseparável cesta para a venda das mesmas e a todo instante, quando provocado, invocava o Todo Poderoso; EDUARDO VOLPI, deficiente visual, apelidado de CANARINHO, que ficava uma “fera” quando chamado por esse nome (o apelido decorre de sua participação no coro da Igreja Presbiteriana); COLACA (ESCOLÁSTICA), sempre pelas ruas da cidade, saco nas costas, angariando alimentos e trocados para sustento de seus filhos. Atualmente ainda é vista, verdadeira e incansável “maratonista”; O POBRE DO VÉIO (SACO DE “FORMENTO”), freqüentador das feiras livres; PEDRO CAVALO que se dizia ser astro de cinema; ISABÉ PRETA, com seu gaguejar característico, que se considerava namorada do Capito, conhecido goleiro de futebol da região; MARIA BOLA, assim conhecida pela sua enorme barriga de água (doença comum, daqueles idos tempos); MALVINA, LEONEZA, SILVIO CUCA...
“Ai que saudades me dá”, de tipos tão populares, pitorescos, excêntricos, ébrios, maltrapilhos, “cheirosos”, mas autênticos, sem maldade na alma, incapazes de fazer mal a qualquer pessoa, em meio a violência, insensatez e descalabros dos dias atuais.
Para mim, eles foram personalidades na acepção da palavra.
O indaiatubano Mário Bobo, ou Mário Louco, dirigia seu chapéu como um carro,
divertindo a criançada.
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá
Mário Bobo, em outra imagem. Ele era filho do indaiatubano Joaquim Leme do Prado.
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá
Dito do Bairro
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá
Samuel
Personagem Popular, em imagem de 1945.
Crédito: Art-Foto, originalmente cedida para o grupo Dinossauros de Indaiá
Mila, retratado no livro Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.
Pulso Firme, retratado no livro Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.
Maria Bola, retratada no livro Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.
Gentileza: Patrick Ribeiro
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Quer saber ou relembrar mais sobre os "tipos" populares de Indaiatuba?
Leia Nos Tempos do Bar Rex, de Antonio da Cunha Penna.
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