segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Sobre a vulnerabilidade de nossas crianças


NOSSAS CRIANÇAS



Indaiatuba, abril de 1879.

Em abril de 1879, em uma fazenda cujo nome não foi registrado, três crianças brincavam correndo em um pasto. Estando um deles com uma faca na mão, foi seguido por outro, quando, virando-se de sopetão, o feriu mortalmente. Antes de sucumbir, a vítima declarou que o seu companheiro não era culpado. O fato causou estranheza e perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa notícia nos jornais de Itu e Campinas, foi replicada por vários outros periódicos do país, sendo lida até no Jornal da Tarde (SP) na edição de 05 de abril do mesmo ano.

Indaiatuba, outubro de 1884.

Em outubro de 1884, na fazenda de Felipe de Almeida Campos, uma criança de 9 anos entrou em uma senzala e matou, a tiros, uma outra criança de 1 ano. O fato causou estranheza e perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa notícia nos jornais de Itu e Campinas, foi replicada por vários outros periódicos do país, sendo lida até no Jornal do Recife (PE) de 04 de outubro do mesmo ano.

Indaiatuba, março de 1886.

Em março de 1886, Anna Maria de Jesus, uma mulher de ´trinta e tantos anos´ vendeu a ´pureza´ da filha dela de apenas 11 anos para Manoel Ferreira Novo, de 40 anos. O fato de a mãe ter ´mercadejado’ pessoalmente a ‘honra’ da menina, causou estranheza e perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa notícia em jornal de Campinas, foi replicada por vários outros periódicos do país, sendo lida até no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro (RJ), na edição de 18 de março do mesmo ano.

Indaiatuba, novembro de 1952.

Em novembro de 1952, em uma fábrica de artefatos de madeira, aqui em Indaiatuba, foi deflagrada uma greve para reivindicar aumento de salário. Os funcionários que aderiram ao movimento foram apenas do sexo masculino, sendo que as mulheres e as crianças operárias continuaram trabalhando. O fato causou estranheza e perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa notícia nos jornais da região, foi replicada por vários outros periódicos do país, sendo lida até no Diário de Pernambuco de 06 de março do mesmo ano.

OUTROS TEMPOS...

Em outubro de 2016, aqui em Indaiatuba, os pais das crianças que estudam na escola Ambiental Bosque do Saber, receberam comunicando no qual foram informados, sem consulta prévia, que seus filhos serão transferidos para outras escolas.
Logo em seguida, em novembro de 2016, aqui no Brasil, o juiz da Vara da Infância e Juventude Alex Costa de Oliveira, do Distrito Federal, AUTORIZOU e MANDOU cumprir práticas de tortura para convencer a desocupação das escolas, feitas por jovens secundaristas em protesto contra a PEC 241. Ordenou corte de fornecimento de água, energia elétrica e gás , proibiu o acesso de terceiros (incluindo os pais), proibiu a entrada de alimentos e autorizou o uso de instrumentos sonoros contínuos para impedir o sono. Os menores estão ocupando as escolas no Brasil inteiro, para impedir que as escolas continuem a mergulhar em uma crise onde faltam professores, materiais, estrutura de diferentes meios e principalmente, valorização e dignidade.

...AS MESMAS ATITUDES?

Até quando continuaremos a ter APENAS atitudes de estranheza e perplexidade diante dos fatos que vulnerabilizam nossas crianças?

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Texto de Eliana Belo Silva, originalmente publicado na coluna semanal 'Identidade Indaiatubana' 
da autora no Jornal Exemplo (Indaiatuba) em 04/11/2016

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