terça-feira, 30 de outubro de 2018

Cônego Dr. Francisco de Assis Barros


Eliana Belo Silva

Francisco de Assis Barros nasceu em Indaiatuba no dia 20 de março de 1893 em uma casa na esquina das atuais ruas Candelária e Siqueira Campos onde mais tarde seria, por muitos anos, a Farmácia Candelária[1]. Consta que,[2] quando ele nasceu, o local abrigava uma botica de propriedade de seus avós maternos, “os estimados e queridíssimos” Nhô Chico e Nhá Chica boticários. Foi ele o sexto filho dos dezesseis “com que Deus favoreceu o lar abençoado e cristão” de João Batista de Barros e Dona Maria Luiza de Toledo Barros.
























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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da 
Fundação Pró-Memória de Indaiatuba
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IMAGEM 2
Pharmácia Candelária, s/d.
Crédito da imagem: www.historiadeindaiatuba.blogspot.com


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Francisco de Assis Barros cursou as primeiras letras em Itu em seguida nos bancos escolares do Seminário Menor de Pirapora, onde cursou humanidades. Filho de pais extremamente religiosos, logo lhe desabrochou espontaneamente a vocação sacerdotal.

Inteligência viva e agilidade mental admirável, Francisco de Assis se distinguiu no seminário de Pirapora e no Seminário Maior de São Paulo de tal forma que certo dia foi surpreendido com um convite especial para comparecer no palácio São Luiz e abraçar a companhia de vossa excelência reverendíssima Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São Paulo.

A curiosidade a apoderou-se do jovem seminarista que, surpreso no decorrer de um almoço, foi convidado a seguir para Roma onde deveria cursar a Universidade Gregoriana. Esta destinação insigne era cedida a pouquíssimos estudantes religiosos, somente aqueles que se extinguiam entre grande número de colegas. Aos alunos da Universidade Gregoriana estavam predestinados os cargos da cúpula da igreja católica, pelo aprimoramento da inteligência e dos conhecimentos humanos e religiosos que ali adquiriam.

Foi uma satisfação incontida para o jovem indaiatubano de 18 anos de idade, mas também um enorme sacrifício se ausentar da pátria e da família por 7 (sete) longos anos.

Em 29 de setembro de 1911 junto ao armazém nº 16 das Docas de Santos, achava-se atrasado o transatlântico “Tomaso di Savóia” da Compagnia  Navigazione Generale Italiana. Pela escadaria da primeira classe subiu cautelosamente Francisco de Assis Barros, seguindo para Roma para hospedar-se no Pontifício Colégio Pio Latino Americano (uma universidade eclesiástica destinada à formação de candidatos ao sacerdócio e à especialização de sacerdotes oriundos das dioceses de toda a América) a fim de matricular-se na Universidade Gregoriana onde doutorou-se em Teologia e Filosofia.

Extremamente dotado pela genialidade musical, diplomou-se também em Música Lírica, Regente de Coral, Maestro e Cantor Lírico no Conservatório Musical de Roma.

Certa vez em uma solenidade pontifícia ao Papa São Pio X na Basílica de São Pedro, o notável maestro [nome inelegível] não aparecia. Por solicitação de seus colegas, Francisco de Assis assumiu a batuta e regeu a orquestra e o coral da Capela Sistina, recebendo, inclusive, elogios do próprio maestro. Foi um fato inédito até então, e que causou grande orgulho em nossa pátria: um brasileiro (um indaiatubano!)  regendo para o Papa na Capela Sistina.

A Ordenação Sacerdotal do padre Francisco aconteceu na manhã de 07 de abril de 1917. Narra-se que naquele dia ... “10 (dez) ordenados a sacerdotes, tocados pela mais viva emoção caminhavam silenciosa e pensativamente nas pedras milenares d Via Appia por onde passaram os cristãos ao se dirigirem para as catacumbas”. Os ordenados fizeram o percurso para atingir a Arquibasílica de São João de Latrão, Catedral do Bispo de Roma.  Percorreram os 130 metros da espaçosa nave central onde receberiam a ordenação sacerdotal naquela abóboda santa.  Ali o indaiatubano Francisco de Assis Barros tornou-se padre.

As 3 (três) primeiras missas do sacerdote se revestiram de um significado todo especial. A primeira nas catacumbas de São Calixto onde a semente do evangelho foi deixada por Pedro; a segunda na Basílica de São Pedro junto ao tumulo do príncipe dos apóstolos e a terceira na igreja de São Joaquim na capela dedicada a Nosso Senhora Aparecida, a rainha que tem o seu trono no coração de cada brasileiro.

Em princípio de novembro de 1918, saindo de Roma, desembarcava em Santos, o Pe. Francisco de Assis Barros, com o “coração a transbordar de alegrias e esperanças” indo dali para São Paulo e depois para a missa em Indaiatuba, onde residiam seus pais em uma modesta casa na atual rua Pedro de Toledo, próxima a Estação.

A sua chegada foi uma festa na cidade. A banda de música desceu da prefeitura acompanhando as autoridades, os parentes e os amigos até a estação da Sorocabana.

Recebido com palmas e discursos, o Padre Francisco de Assis Barros agradeceu comovido a recepção, “falando melhor a italiano do que a português”.

Permaneceu alguns dias com a família em Indaiatuba, para depois ir lecionar no Seminário Maior de São Paulo.
Em homenagem ao Cônego conterrâneo, o maestro Nabor Pires Camargo compôs a obra “Romance”.[3]


IMAGEM 3
Crédito da imagem: Hemeroteca da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)
Jornal “ A União” de 3 de novembro de 1921


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Foi coadjutor de Dom Duarte Leopoldo e Silva e mais tarde nomeado pároco da Igreja da Glória no Cambuci um bairro muito pobre naquela época que necessitava de um “pastor zeloso e solicito”. Ali ele desenvolveu fecundo apostolado missionário e, até mesmo para ser melhor compreendido, fazia sermões em italiano por se tratar de um bairro essencialmente de operários imigrantes da Itália e seus descendentes.

Retira-se dessa paróquia por alguns anos por motivo de saúde e, reestabelecido, vai para Ribeirão Preto em 1931, onde Dom Alberto José Gonçalves “o acolhe com esperanças e alegrias”.

Em Ribeirão Preto, o já Cônego Dr. Francisco de Assis Barros, além de vigário da Catedral de Ribeirão Preto, foi um notável batalhador da cultura. Entre outros feitos, foi patrono da Academia Ribeirão-Pretana de Letras, fundou o Patronato Coração de Jesus e a Sociedade Lítero-Musical. Foi professor de Pedagogia e Sociologia no Colégio Santa Úrsula (criado como Instituto Santa Úrsula para meninas, das Irmãs Ursulinas), cura da catedral de São Sebastião.

Foi notável orador sacro da época e muitos dos seus discursos como paraninfo ou preferidos solenidades importantes foram publicadas e editadas como relíquias da nossa língua.

Por ocasião do 100º aniversário de Indaiatuba, foi convidado especial do então Prefeito Major Alfredo Camargo Fonseca para ser o orador oficial da solenidade, incumbência que muito o sensibilizou e que “desempenhou com notável entusiasmo para sua querida terra natal”[4]. Nos sermões da missa padroeira de Indaiatuba ele exortava a proteção da Virgem da Candelária implorando-lhe a graça de encontrar um dia com a Santa de Indaiatuba no céu.

E foi justamente no dia da Padroeira do Brasil, em 12 de outubro de 1937, com 44 anos de idade e praticamente no início da sua carreira eclesiástica, já Monsenhor, que faleceu prematuramente em São Paulo no Instituto Paulista, onde se achava em tratamento.



IMAGEM 4
Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).


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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).
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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).


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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).


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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).


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Crédito da imagem: Hemeroteca da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)
Jornal: O Correio Paulistano de 13 de outubro de 1942


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O seu último desejo era ser enterrado aqui em Indaiatuba sua terra natal de que tanto se orgulhava, mas o clero as autoridades de Ribeirão Preto e o povo em massa aclamaram para a família que ele fosse sepultado em Ribeirão Preto onde tanto o estimavam. Segundo jornal ribeirão-pretense, formou-se uma Comissão Diretora para conduzir o trabalho de construção de sua herma e houve um concurso onde concorreram escultores interessados para homenageá-lo.



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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).



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Coube afinal, à Praça da Bandeira a honra de ostentar o busto do Cônego Barros, verdadeiro bandeirante da religião, da ciência e do patriotismo. Essa escolha arrancou sinceros aplausos dos seus amigos, pois colocando o patriota na praça verde e amarela, colocaremos o sacerdote diante do templo divino e o homem ao lado de sua família.

A cidade onde tanto ele trabalhou e que tanto o estimou, atribui-lhe também uma homenagem, escolhendo-o como patrono de uma escola estadual, a Escola Estadual Cônego Barros que foi inicialmente criada em 17 março de 1932 com a denominação do 5º Grupo Escolar de Ribeirão Preto. Funcionou os primeiros anos na rua Tamandaré, 459, depois na rua Garibaldi, 26 e em 25 de abril de 1954 realizou-se a inauguração das atuais instalações.[5]



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Imagem da Escola Estadual Cônego Barros, em Ribeirão Preto
Crédito da imagem: Google Maps[6]


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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).


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A concorrência popular no seu velório foi tão grande que ele não pode ser velado na igreja, mas sim em praça pública, tal a afluência de fieis, alunos e amigos que desejavam dizer-lhe o último adeus.
No cemitério de Ribeirão Preto em um tumulo modesto, jaz aquele que Senhor foi tão prodigo em dons intelectuais como em virtude espirituais: o pregador da paz e das sagradas letras em nossa querida pátria brasileira.




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Crédito da imagem: Banco de dados biográficos do Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (recorte de jornal sem identificação/data).


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[1] A Farmácia Candelária foi fundada em 1893 por Francisco Xavier da Costa, mais conhecido como Chiquinho. De acordo com arquivos, a princípio a farmácia funcionava em um prédio na Rua 15 de Novembro, esquina com a Rua 7 de Setembro. De lá, mudou-se para vários prédios na área central da cidade, até ser transferida definitivamente para a esquina da Rua Candelária com a Siqueira Campos.
[2] Parte do conteúdo desta biografia teve como referência o manuscrito “Curriculum Vitae de Cônego Doutor Francisco de Assis Barros”, sem nome de autor ou data, do “Banco de Dados Biográficos” pertencente ao acervo do Arquivo Público “Nilson Cardoso de Carvalho” da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
[3] BERNARDO, Marco Antônio. Nabor Pires Camargo - Uma Biografia Musical: Irmãos Vitale, 2002. Página 122.
[4] Manuscrito da Fundação Pró-Memória - s/data (cópia em anexo).
[5] Informações do blog http://conegobarros.blogspot.com/ consultado em 24/10/18 às 14:49.
[6] Consultado em 24/10/2018 às 14:46 em: https://www.google.com.br/maps/uv?hl=pt-BR&pb=!1s0x94b9befe8a439fab%3A0x5832b5eef3594980!2m22!2m2!1i80!2i80!3m1!2i20!16m16!1b1!2m2!1m1!1e1!2m2!1m1!1e3!2m2!1m1!1e5!2m2!1m1!1e4!2m2!1m1!1e6!3m1!7e115!4shttps%3A%2F%2Fpt-br.facebook.com%2FConegoBarros%2F!5sC%C3%B4nego%20Barros%20-%20Pesquisa%20Google&imagekey=!1e10!2sAF1QipO8-VOxhfbODbByA3qMU5aTo5EFO2mYQEtu28oM&sa=X&ved=2ahUKEwjo942a0J_eAhVEwlkKHQsWB6EQoiowE3oECAoQCQ

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