sexta-feira, 17 de julho de 2009

Romaria de Indaiatuba para Pirapora

Romaria é uma peregrinação religiosa feita por um grupo de pessoas a uma igreja ou local considerado santo, seja para pagar promessas, agradecer ou pedir graças, ou simplesmente por devoção, podendo ser feita a pé ou nas mais variadas formas de transportes. O termo é originário de uma uma referência a Roma, cidade sede da Igreja Católica Apostólica Romana, e por esse motivo é usada para classificar especialmente peregrinações católicas.

Além de Roma, há outros traçados antigos internacionais, atualmente ainda muito visitados pelos romeiros, como Jerusalém. Há romarias com traçados nacionais, também antigas e muito conhecidas como a de St. Patrick na Irlanda, Czestochowa, na Polônia, a de Guadalupe, no México; e também há romarias regionais como a do Padre Cícero, em Juazeiro, ou o do Bom Jesus da Lapa, nas margens do rio São Francisco. Além desses, há uma infinidade de círculos locais, em torno ao santuário de uma vila, ou mesmo em capelas a beira da estrada. O espaço entre esses santuários, onde fica o Santo e os diversos locais onde moram as pessoas que lhe rendem louvor é que está a distância - muitas vezes simbólica - percorrida pelos romeiros que não se importam com os quilômetros percorridos, mas sim com a devoção.

Segundo Durkheim (1), uma das características da religião é "diminuir a distância entre o sagrado e o profano". Podemos concluir - sobre essa ótica, que percorrer o o caminho entre a periferia profana e o local sagrado é uma das formas de se aproximar do divino, do Santo, de Deus.
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Foi em 1942 a organização da primeira romaria oficial de Indaiatuba para Pirapora, município que fica num bonito vale às margens do Tietê. Pirapora (2) surgiu como vilarejo em 1725, em torno de uma capela construída para abrigar a imagem do Bom Jesus, a mando do proprietário daquelas terras. Já no século XVIII, tornou-se foco de preregrinação que continua a crescer ainda hoje e ocupa a cidade praticamente o ano inteiro. Segundo um livrinho distribuído pelos padres que cuidam do santuário,
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" Há lendas populares muito interessantes a respeito da imagem milagrosa. Consta que,
depois de a terem retirado do rio, o fazendeiro mandou guardá-la num paiol de milho, coberto de palha. Pouco depois foram destruídos por um incêndio a casa e o paiol, nada acontecendo à imagem e a palha de milho."
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" Mais tarde, querendo algumas pessoas levar a Parnaíba a misteriosa imagem,
colocaram-na em um carro, com a intenção de a depositarem na igreja da matriz. Os bois, porém, por mais numerosos que fossem, não conseguiram arredar um passo. Então,
um mudo, que nessa hora começou a falar, disse: _ Deixem uma junta só e levem
para Pirapora. E o que várias juntas de bois não conseguiram puxar, uma só puxou."
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.Histórias como essa são comuns nas moradas dos "Santos",basta lembrar que muitas cidades possuem sua origem nesses lugares, escolhidos - segundo os fiéis - pelo próprio Santo, por critérios, ou melhor, acontecimentos miraculosos que escapam à esfera das explicações humanas.
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Desde 1942*, alguns indaiatubanos destacaram-se na organização dessa peregrinação religiosa, com a função de presidente da comissão organizadora. Foram eles(3):
.Antes dessa primeira organização oficial, muitos romeiros indaiatubanos já faziam parte da peregrinação através de romarias organizadas por outras cidades ou grupos, principalmente com o objetivo de aumentar o número de participantes - o que demonstrava a grandeza da romaria. Segundo Newton Roberto Pescatori, em sua publicação intitulada "As Romarias" (4),

" em algumas cidades, a liderança política na época chegou a dividir os romeiros que tomavam parte da diretoria, criando épocas diferentes, duas saídas para o santuário. Procurando conseguir o maior número de peregrinos par obter maiores ganhos políticos."

A organização formal em nosso município começou a ganhar força quando um grupo local foi convidado para participar da romaria de Jundiaí ao santuário de Pirapora do Bom Jesus. A caminhada a cavalo até a cidade vizinha, entre ida e volta demorou quatro dias. Participaram da peregrinação os senhores Heitor Zocolan, Odilon Cordeiro, Berto Magnusson, Benjamim Lira, João Miranda, Guilherme Magnusson, Odilon do Amaral e outros, que estão na imagem abaixo:


Imagem do primeiro grupo de romeiros de Indaiatuba, que foram na romaria de Jundiaí para Pirapora (4)


. E em 1942, com registro em ata e com a autorização da Curia de Campinas, corporificou-se - através da organização popular - a primeira romaria de Indaiatuba para Pirapora. Após tomarem as bençãos em frente a Igreja de Nossa Senhora da Candelária pelo então pároco Vicente de Pádua Rizzo, partiram os filhos de nossa cidade, trajando botas sanfona, chápeus, lenço no pescoço e até bombacha para percorrer a distância que os levariam até o local santo.
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Primeiro grupo de romaria oficial de Indaiatuba para Pirapora (4)



Imagem da primeira romaria oficial de Indaiatuba , feita em Pirapora (4)


Em entrevista à Pescatori (4), o senhor Heitor Zocolan aponta a cronologia que se seguiu: em 1947 surgiram os primeiros charreteiros e neste mesmo ano dois ciclistas peregrinaram: Geraldo Rezende e Raul Rossignati; em 1951 surgiram os primeiros pedestres, em número bastante reduzido: José Balabem, José Pioli, Joaquim Gaspar, José Marachini, acompanhados pelas primeiras mulheres, as pioneiras peregrinas Aparecida Balabem e Leonilda Wolf.
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Entre os vários cargos e funções que uma comissão organizadora possui, nas romarias de antigamente havia uma especial: uma pessoa era responsável por anunciar a saída dos romeiros. Assim, nas madrugadas frias e úmidas de todos os meses de julho, o "corneteiro" passava de rua em rua de nossa então pequena cidade para acordar os peregrinos. Um deles foi André Peres Canovas, que aparece na imagem abaixo.

O instrumentista André Peres Canovas (esquerda) com Jerônimo Toniete em 1956. (Coleção EBS)



Chegada da romaria Indaiatuba/Pirapora na década de 1960 (início). André Perez Canovas é o cornetista do segundo plano e Manoel Mabrive é do primeiro. 
Estão na rua Candelária entre a Cerqueira César e a Padre Bento Pacheco. (Coleção EBS)


. E entre os muitos fatos marcantes, destaca-se que em 1967, no ano da comemoração do "Jubileu de Prata" do evento, a romaria entrou em Indaiatuba ao toque dos clarins executados por um grupo de soldados do quartel de Itu, relembrando esses velhos tempos em que um peregrino solitário acordava os participantes e anunciava, junto com a fria e escura aurora de inverno... a saída para o caminho de fé.


Romeiros de Indaiatuba, década de 1950 (Coleção EBS)


Maria Calonga, Tereza Vacilotto, Lourdes Careta, Isollete e Glória Ross em foto tirada em Pirapora, década de 1950 (Coleção EBS)


Da esquerda para a direita: Valter Pimentel, ...., Padre Carlos Menegazzi e José Zerbini (pai do prefeito Romeu Zerbini). Foto da romaria de 1957, na esquina da rua Ademar de Barros com Siqueira Campos (atual camelódromo).


. . E ...ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão.
Isaías 35:8.


Romaria - Década de 1970





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(1) Leia mais sobre Émile Durkheim em http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim
(2) Mais informações sobre Pirapora em: "Os Cavaleiros do Bom Jesus - Uma introdução às Religiões Populares" livro de Rubem César Fernandes, editora Brasiliense.
(3) Por ordem alfabética, e não cronológica.
(4) As Romarias é uma publicação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Indaiatuba feita no governo de José Carlos Tonin; s/data.
Colaboração de Antonio Reginaldo Geiss.
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* Vale ressaltar que, em suas crônicas sobre a Colônia Helvetia, Anton Ambiel registra que membros da colônia, iam em romaria ao Santuário do Bom Jesus de Pirapora já no final do século 19, cerca de 50 anos antes dessa data "oficial". Leia mais aqui.



. Programação da 67.a Romaria de Indaiatuba para Pirapora
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Dia 16 de julho (quinta-feira):19:30 hs. Procissão de São Cristóvão, saindo em frente à Igreja Santa Rita, encerrando com a bênção dos carros e demais participantes, em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária.
Dia 17 de julho (sexta-feira):12:00 hs. Saída dos pedestres da Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária.
Dia 18 de julho (sábado):
6:00 hs. Em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária, será dado o toque de partida rumo ao Santuário de Pirapora aos cavaleiros, Charreteiros e Ciclistas.
Itinerário: Ciclistas – Salto, Itu, Gruta, Cabreúva, Ponto do Almoço e Pirapora.
Itinerário: Cavaleiros e Charreteiros – Pimenta, Grama, Água Branca, Santa Maria (Paula Leite), santo Antônio, Cabreúva, Ponto de Almoço (parada para descanso dos animais) e Pirapora.
17:00 hs. CHEGADA EM FRENTE AO SANTUÁRIO DE PIRAPORA.
Dia 19 de julho (domingo):
5:00 hs. Missa no Santuário de Pirapora.
7:00 hs. Saída dos ciclistas em frente ao Santuário de Pirapora.
7:30 hs. Saída dos Charreteiros e Cavaleiros.
11:00 hs. Parada no ponto de almoço (em Cabriúva).
17:00 hs. Saída da Fazenda Pimenta.
19:00 hs. PASSAGEM EM FRENTE À IGREJA SÃO BENEDITO ONDE OS ROMEIROS RECEBERÃO A BÊNÇÃO DE CHEGADA.
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4 comentários:

  1. Olá! Parabéns pela iniciativa de cultivar a história de Indaiatuba. Só quero deixar uma observação: o nome correto da cidade de Pirapora é PIRAPORA DO BOM JESUS e não Bom Jesus de Pirapora como citado no texto.
    Abraços, Aline Fraticelli, jornalista.

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  2. Por e-mail, Lu Forquim comentou:
    Eliana, espetacular sua idéia de nos contar tudo isso da Romaria. Prá mim, foi interessantíssimo saber de tudo isso. Me deu saudades dos velhos tempos, quando todos acompanhávamos tudo da Romaria.
    Bons e saudosos tempos!
    Me encheu a alma! Obrigada.
    Lu Forquim

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  3. Olá Eliana!
    Sou muito grata por essa iniciativa sua, meu avô foi um dos romeiros que aparece na foto dos que participaram da romaria de Jundiaí à Pirapora-Julio Escodro- e meu pai-Ulderico(NENO)Escodro- do primeiro grupo de Indaiatuba. Hoje participamos, eu, meus filhos e meu neto. Nos orgulhamos muito com esse trabalho.Jeanete Escodro

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  4. Esta e umas das histórias de Indaiatuba.

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