segunda-feira, 22 de novembro de 2010

D. Antonietta Milani do Amaral Gurgel

texto de Isney Isabel Gurgel Zoppi e
Eliana Belo Silva


Antonietta Milani nasceu em Indaiatuba no dia 17 de março de 1914, filha de Humberto Milani e Clofas Mosca Milani. (Minha avó dizia "Cléufe" ao referir-se à ela).

O casal teve oito filhos: Isolina Milani (Cordeiro), Marcos Milani, Adele Milani (Pucinelli), Walda Maria Milani (Ibraim), Hélio Milani, Maria Inês Milani (Domingues) e Laércio José Milani, formando uma família grande, mas humilde.

Hélio e Maria Inês residem em Indaiatuba e os outros irmãos - infelizmente - já faleceram.

Antonietta estudou até o segundo ano primário no grupo escolar local. Não era incomum, na época, as mulheres estudarem pouco. Pelo contrário. Muitas vezes bastava aprender ler, escrever e fazer contas, para que não fossem mais na escola.

As irmãs também receberam uma educação tradicional, ou seja, foram treinadas para serem donas de casa: aprenderam a cozinhar, bordar, costurar, tricotar, crochetar e fazer as demais atribuições domésticas, tudo para serem boas esposas.

Já os irmãos, logo cedo foram incentivados a trabalhar. Hélio foi trabalhar no Banco Mercantil aqui de Indaiatuba, Marcos, trabalhava no cartório do "Seu" Lita e Láercio, ficou famoso como profissional do esporte: ele jogava futebol. Começou a jogar pela Portuguesa Santista, depois pelo Palmeiras e por último, onde encerrou a carreira, no Santos Futebol Clube, na época do Rei Pelé.

O goleiro Laércio Milani, irmão de D. Antonietta, no time do Santos


A menina Antonietta, de todas as irmãs, foi premiada com uma atenção maior em sua educação e foi privilegiada com aulas de piano, que tomava com Dona Maria José Pimentel e com o professor Acylino Amaral Gurgel, que viria a ser seu sogro.
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Ela soube aproveitar a  oportunidade e unia seu talento com disciplina. Esforçava-se para aprender, inclusive ia treinar na casa dos professores, pois não tinha piano em casa.

Por tornar-se uma musicista de reconhecido talento, foi convidada para tocar piano do Cine Rex, na época onde os filmes ainda eram sem som (cinema mudo). Ela dividia o palco com o Sr. Rêmulo Zoppi, que tocava saxofone.
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Diariamente ele se preparava  com muito esmero para sua apresentação. Era jovem, bonita e tinha um gosto muito apurado. Dona Cleofas cuidava pessoalmente do guarda-roupas das filhas, e elas andavam sempre elegantemente vestidas, sempre na moda.
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Com sua jovialidade, beleza e talento logo arrebatou o coração do jovem Ayr, filho de seu professor Acylino do Amaral Gurgel, então diretor do Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes.

O enlace aconteceu no dia 20 de dezembro de 1933, quando então a indaiatubana Antonietta passou a residir em São Paulo, acompanhando o marido que para lá se transferia, e onde nasceu sua única filha:  Isney.



Com apenas 29 anos ficou viúva. Mas esse golpe do destino apenas demonstrou ainda mais a mulher forte e guerreira que era. Embora o marido Ayr fosse um homem honrosamente trabalhador - ele era Caixa Geral de transporte durante o dia e Maestro durante a noite - não lhe deixou grandes legados. O casal ainda era jovem, tinham a pequena Isney para criar, estavam apenas começando a vida quando Ayr se foi, deixando Antonietta viúva.

Ela corajosamente recomeçou sua vida. Mesmo com a pequena Isney para cuidar, passou a costurar para fora, e voltou  a estudar com o auxílio de uma amiga, a professora Linda Tonon. Aprendeu Matemática, Português e Conhecimentos Gerais. Foi aprender datilografia.

Não passados 3 meses completos, prestou um exame para ser Escriturária do Banco Indústria e Comércio Santa Catarina  (hoje Bradesco).

Passou então de Costureira à Bancária, tendo sido promovida várias vezes até chegar a ser  Secretária da Gerência.
Antonieta como Secretária da Gerência do "antigo" Bradesco


Lutou sempre e  fez sua filha chegar à Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, curso Educador de Saúde Publica; só depois de formada permitiu que ela trabalhasse...

Agora, com seus 96 anos e meio, e a cabecinha  um tanto quanto "esquecida", pode com orgulho olhar para trás e ter a grata satisfação de dever cumprido.


Antonieta no aniversário de 96 anos.


Antonietta não foi uma política importante, não foi rica.

Mas foi uma boa filha, boa esposa, boa mãe, uma artista reconhecida, uma batalhadora, que viveu praticamente um século para o BEM.

Mas justamente por ser uma vencedora em situações muitas vezes adversas é que merece ser orgulhosamente  incluída na história da cidade de Indaiatuba, que com certeza, orgulha-se de tantas mulheres - filhas suas, ou por si adotadas -  (quase) anônimas como ela. São elas que fazem a nossa história, que engrandeceram e engrandecem nossa cidade.

Bravas mulheres!

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Crédito das imagens: Acervo pessoal de Isney Isabel Gurgel Zoppi

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Faça como Isney: ajude a registrar a história de Indaiatuba e de sua gente!

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Curiosidade: Imagem de aviso de óbito de Cleopha Mosca Milani:

Um comentário:

  1. Tia Antonieta é uma mulher admirável. Sua história é de superação. Venceu as adversidades que a vida lhe impôs com estudo e trabalho honesto dando bons exemplos a todos.
    Homenagem mais que merecida!

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