texto de Sylvia Teixeira de Camargo Sannazzaro,
escrito em 1974.
Lá do outro lado do leito ferroviário situavam-se as terras do Belchior, nome dado também ao córrego da estação, por estar na propriedade desta família. Contudo era muito comum as pessoas antigas, os moradores dali, ao se referirem ao lugar, dizerem: lá da outra banda ou lá do outro lado. Acontece, porém, que esta denominação, tão constante em nosso antigo vocabulário regional, foi mudada em virtude de um acidente ali ocorrido.
Nesse tempo, parte das terras do Belchior passou a pertencer ao coronel Teófilo de Oliveira Camargo, que ali formou uma chácara com residência e, além de alguma plantação, mantinha sempre umas vacas leiteiras.
Devido à proximidade com a cidade e ar puro que se respirava nas manhãs frescas, era um hábito salutar, muito cultivado pela nossa gente, fazer um passeio matinal à chácara do coronel e saborear o delicioso leite gordo e puro, tirado na hora, aos copos com açúcar ou conhaque.
Certa feita, aconteceu que uma das reses, um tanto historienta, desapareceu da chácara, do pastinho. Foi então iniciada a sua busca pelos arredores, o que deu muito trabalho, e após dias seguidos de procura foi ela encontrada pelo Martinho, um preto, empregado do coronel.
Não sabemos como explicar o porquê da raiva do animal. sabe-se apenas, que a vaca quando vinha sendo trazida de volta para a chácara, já bem nas suas proximidades, investiu contra o homem, enterrando o chifre no seu ventre.
O coitado do Martinho morreu!
O acontecimento teve grande repercussão, devido à escassez de novidades na época.
No cemitério velho, aquele da capela, ao entrar a terceira sepultura da segunda ala, à esquerda, uma inscrição sobre a lápide do seu túmulo diz o seguinte: Martinho Camargo - faleceu dia 6 de novembro de1896 - Saudade do seu patrão. E "lá do outro lado" foi erguida uma cruz, no local exato do acidente, evocando uma prece em intenção de sua alma.
O coronel depois fez uma ermida no mesmo lugar, ali na confluência da antiga estrada de Itu com a entrada da fazenda do Barnabé. Daí em diante, o povo passou a chamar esse bairro de Bairro da Santa Cruz.
Hoje não existem vestígios dessa capelinha, que mais tarde tornou-se refúgio de leprosos andantes que armavam barraquinhas brancas nas suas imediações e aí permaneciam dias seguidos, vindo sempre à cidade, a cavalo, para pedir esmolas em uma canequinha.
A permanência frequente desses doentes, afugentava o povo, receado do contágio de tão terrível doença.
Por este motivo, a Capela Santa Cruz não foi conservada. Derrubram-na como medida sanitária, e quem por ali passasse poderia observar a existência de vestígios dessa construção, que deu origem ao nome do bairro do outro lado: Bairro Santa Cruz.
Ao ler essa história fiquei imaginando as vacas leiteiras, o leite sendo tirado quentinho, a chácara verdinha, as trilhas no meio do mato, a capelinha.
ResponderExcluirUma ótima narração.
Ótimo post!
SOU MORADOR DO STA CRUZ - INDAIATUBA E SINTO MUITO PELO DESPRESO QUE O PREFEITO E NOSSOS REPRESENTANTES FAZ DESTE BAIRRO, TEMOS UM FERRO VELHO NO MEIO DO BAIRRO COM INUMEROS RATOS E MOVIMENTOS ESTRANHOS, POLICIAIS PASSAM PELO LOCAL E FAZEM DE CONTA QUE É OUTRO MUNDO, NAO ESTAO NEM AI. NOSSAS CRIANÇAS CRESCEM VENDO TUDO ASSIM DE FORMA DESNATURAL.
ResponderExcluirACORDA PREFEITO
ABÇ
MORADOR DE INDAIATUBA