quinta-feira, 10 de maio de 2012

Fatos e Coisas de Indaiatuba Antiga - Seus tipos populares

 texto de EJOTAELE



Largo da Matriz com seu lampião



Recordar é viver.

Seja esse o nosso "intróito", para usarmos de um lugar comum.

Aliás, dizem os poetas, dizem-nos os sentimentais, dizem-nos os materialistas, em suma, dizem todos.

Lembrar os velhos tempos, os costumes, as tradições populares, os fatos e as coisas do nosso berço natal, é da essência da arte e da poesia; é dar os respingos da história, o que vale dizer, dar relevo, que às vezes tem faltado em muita cidade, eis que não houve quem os louvasse.

Tem-se conhecimento de muitos povos que tiveram seus personagens populares, anônimos a princípio, confundido-se logo após, nos anais da própria história. Assim é que nos vemos gostosamente empenhados, em rápido bosquejo, a falar sobre história, numa celebração sincera e agradável.

De gratidão e ternura, à terra que nos viu nascer, talvez de mais valia que certas homenagens convencionais e inexpressivas. Não se trata, é certo, de história com H maiúsculo, porque a tanto não queremos chegar e porque seria veleidade que não temos. Trata-se sim, de narrativa pobre da vida dos tipos populares que existiram em nossa terra, ou melhor, diríamos, da biografia desses elementos humanos, cuja existência por vezes amesquinhada, contudo, compartilharam em parte, da formação do nosso patrimônio histórico...

E não seria para menos. O nosso desejo destina-se, isto o reafirmamos, a imprimir nossas afetuosas manifestações de amor ao nosso berço natal. E porque vêem quase todas acompanhadas de expressões de saudade e de louvável jacobismo, acreditamos ter correspondido aos sentimentos de nossos amáveis e queridos conterrâneos.

Foi com esse intuito que aqui viemos, sem preocupações literárias, sem pretensões, copiando ao natural, sem traços e cores convencionais.

Indaiatuba, pobre embora na sua formação histórica, teve o seu quinhão respeitável no que tange aos elementos populares que medraram meio século atrás*, até os nossos dias. Remontêmo-nos, de início, aos velhos tempos dos lampeões à queresone, que o "Nenê do Lampião" ou Nenê Pedroso, placidamente, escada ao ombro, acendia ao cair da noite e apagava aos primeiros clarões do dia seguinte.

Saudosos lampiões que moldavam as noites da nossa velha e silenciosa Indaiatuba!


Era comum ouvir-se falar dessas noites tipicamente indaiatubanas, como se quisessem glorificar os vetuscos lampeões com seus jatos de luz mortiça. Em realidade, eram noites de reçumante poesia, de românticas serenatas com o Raul Bicudo à frente, Hilário, Miloca e outros velhos e entusiastas corifeus da música. Esquecê-los, quem há de?

Dizem os saudosistas que a boemia, por esse tempo, pontificava na velha Indaiá. Segundo relatos da época, aí pelos idos de 1900, havia aqueles que compraziam em "pregar peças" e algumas delas se revestiam de cunho malévolo ou acintoso.

Conta-se, que de uma feita, um grupo de moços em "travesti", depois de haver penetrado em certa casa, pela calada da noite, surrupiou de lá uma escrivaninha, levando-a em seguida, atrás da igreja matriz, tendo ali deixado, não só o imóvel, como também numa das gavetas, um bilhete assim concebido: "foram seus amigos do inferno".


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* o autor se refere a primeira metade do século XX.

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