sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A SOCIEDADE DE TIRO HELVETIA

Eliana Belo Silva

Texto publicado no Jornal Exemplo

Coluna 'Identidade Indaiatubana" em 14/08/2015


Como Tell, atiradores  por natureza

Em seu livro ‘A Colônia Suiça Helvetia no Brasil’, Franz Weizinger afirma com veemência:  ‘o suíço autêntico é atirador, não só por simples tradição, mas por impulso interno e necessidade externa’. Essa marcante característica do caráter nacional suíço, que faz com que onde tenha uma comunidade de suíços no mundo tenha um clube de tiro, é influenciada, segundo esse escritor, pelo herói mítico Guilherme Tell - que teria sido obrigado por um tirano a atirar contra um objeto (talvez uma maçã) na cabeça de uma criança (talvez seu filho). Após ter acertado o objeto e salvo a criança, segundo algumas vertentes do mito (que alguns ainda reivindicam ser um fato verídico), depois de um tempo, Tell – célebre pela sua pontaria -  matou o tirano e se transformou numa espécie de Robin Hood suíço, justiceiro que dava aos pobres o que os ricos tinham demais.


O embrião na Sociedade do Tiro

Quando os primeiros imigrantes suíços vieram para nossa região em 1854, foram trabalhar como colonos na Fazenda Sítio Grande, do cafeicultor escravocrata Francisco de Queiroz Telles e até que a Colônia Helvetia fosse fundada em abril de 1888, sucessivamente todos os que vieram e ali trabalharam até que fossem proprietários da própria terra, já tinham o sonho de viabilizar uma Sociedade de Tiro ao Alvo. No início, com poucas armas e munição, praticavam, mesmo que discretamente e em pouco número, a caçada ao redor da fazenda, nos domingos de manhã. Mas os apadrinhados de Tell não se contentavam com isso e foi ali onde hoje estão os municípios de Itupeva e Jundiaí, naquele enorme latifúndio onde os pés de café iam até onde os olhos enxergavam a linha do horizonte, que aconteceu a Primeira Festa do Tiro ao Alvo, marco da fundação do que seria mais tarde a Sociedade de Tiro ao Alvo da Helvetia.


José Amstalden há 130 anos atrás

Foi José Amstaldem (*1850 †1912) que liderou a organização da Festa em Sítio Grande. Inicialmente construíram em uma valeta entre palmeiras e o extenso cafezal, um estande de arco e flecha (boga und bolz), a modalidade que as condições econômicas do então colonos podiam alcançar. Consta que José Amstalden intermediou diálogos com brasileiros e suíços, feitores e escravos, até que foi viabilizada, no dia 24 de agosto de 1885, portanto há 130 anos atrás, com a autorização do patrão, a primeira Festa do Tiro ao Alvo da comunidade suíça em nossa região, cujo grande campeão foi  Bannwart, o jovem Arnoldo. A partir de então, foi feita todos os anos inicialmente de maneira bem simples, mais tarde de forma mais abastada, exceto em 1892, por causa de doenças.




Tradição

A Festa ficou famosa rapidamente. Em 1910 o Correio Paulistano publicou que um trem veio do Rio de Janeiro com o Sr. Alberto Gertsch, encarregado de negócios da Suiça junto ao governo brasileiro e seguiu em ‘vagão reservado” para a Estação de Itaicy junto com o cônsul suíço Achilles Isella para participar da Festa do Tiro, na qual também participariam sócios das associações de tiro da capital e contingentes do exército.

Quando, em 1917 o Brasil entrou na guerra mundial, e houve uma reação negativa contra os alemães, consta que o então Major Alfredo de Camargo Fonseca, líder político de Indaiatuba, impediu que a festa do tiro acontecesse. Ela fora ameaçada pelo preconceito, pois os helvetianos falavam alemão e por alguns desavisados, foram, de certa forma, hostilizados. 

Mas tudo passou. 

E parafraseando o que escreveu o suíço Anton (‘Antonio’) Ambiel,  termino este artigo: que a manutenção da sociedade de tiro ao alvo tenha a função, também, de “lembrar com respeito de vossos antepassados, dos fundadores... Permanecei fielmente solidários, sede pacíficos, tolerantes, unidos, sempre unidos, valorizai e praticai o amor.”


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