O 'vasto e
bonito' Distrito Industrial
Apesar de,
em seu hino, ser lembrado pelo seu 'campo florente tão vasto e bonito', a
principal vertente econômica do 'mais lindo recanto do Brasil' é hoje
proveniente do setor industrial, que faz da cidade uma das principais potências
em exportação do país. Tamanha importância demanda atenção e cuidados dos
órgãos públicos, exatamente como teve Romeu Zerbini, Clain Ferrari e José
Carlos Tonin que viabilizaram a criação de uma área exclusiva para promover a
industrialização da cidade nas décadas de 1970 e 1980.
O resultado dos projetos
é o que hoje conhecemos como Distrito Industrial. Localizado na Zona Sul, ele
abriga cerca de 87,8% das indústrias instaladas na cidade.
Entretanto, não foi sempre
assim…
Imagem Aérea do Distrito Industrial
Crédito: Eliandro Figueira *
O processo de
industrialização na cidade, segundo a historiadora Eliana Belo, compreende um
período que vai do início do século 20 até o fim da década de 1960, ou seja,
antecede a criação do Distrito Industrial. “O início do processo de industrialização em Indaiatuba pode ser pautado na década de 1920 e até 1960 podemos consta-se que eram pouquíssimas indústrias e todas localizadas no centro da cidade”, observa, “não havia burocracias,
exigências da Cetesb, nem preocupação com impacto ambiental, então as
indústrias se confundiam com o espaço urbano”.
Dentre as poucas instalações, dois exemplos
podem ser citados: a Mazzoni e a Indústria de Bengalas e Muletas. As exceções,
segundo a historiadora, eram as cerâmicas e olarias, mais afastadas da região
central. “As olarias ficavam próximas aos locais nos quais já havia
matéria-prima para fazer tijolo”, explica. Nesse caso, quem representa essa
necessidade é a Cerâmica Capovilla, que se afastou do Centro após o crescimento
proporcionado ao passar a enviar materiais para a construção de Brasília.
Imagem da Indústria Mazzoni S/A (cabos de guarda-chuvas)
Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba
No fim da
década de 1960, houve o primeiro zoneamento industrial que a cidade conheceu.
“Ele estava entre as avenidas Presidente Kennedy e Conceição, na região do
Cidade Nova”, situa Eliana. A área nasceu com uma lei de uso do solo, anunciada
no Plano Diretor de 1969, como mostram arquivos da Fundação Pró-Memória de
Indaiatuba. “Ali não era um distrito, pois não excluía a construção de
residências e comércios. Na época era como ainda é hoje: casas,
estabelecimentos comerciais e indústrias - algumas que restaram na região”,
analisa a historiadora.
Como motivação
para a instalação dos industriários no local, a Prefeitura concedeu alguns
incentivos. As empresas que se instalassem na zona não precisariam pagar pelo
terreno, mas em compensação, deveriam cumprir exigências quanto ao número de
funcionários e área construída. Isso trouxe empresas como a Crovel e as Metalúrgicas Ilma, Puriar, a Wolf, entre outras. Na época, Dal Canton abriu a Flex Cord (fios e cabos), mas, ao contrário dos outros
proprietários, fez questão de pagar pelo terreno. “Ele aceitou se firmar
ali mas quis pagar, não se sabe o porquê. Talvez medo de não cumprir as
exigências ou receio de ter o terreno”, revela Eliana.
Metalúrgica ILMA
Instalada na década de 1960, em funcionamento até hoje no mesmo local
Crédito: Revista Exemplo
Para a
historiadora, o que possivelmente atraiu o zoneamento para a região foi a
implantação da Yammar. “A maior parte das indústrias forneciam materiais para
ela”, observa. “E a Yammar foi o grande marco da industrialização da cidade na década de 1960. Em
uma visão macro, ela é o símbolo e fez a diferença no desenvolvimento, atraindo
migração e gerando empregos”, opina.
Yannmar
Instalada na década de 1960, em funcionamento até hoje no mesmo local, atraiu pessoas e outras empresas para Indaiatuba
Crédito: Revista Exemplo
Zona Sul e
os distritos
Com a evolução
das cidades, começou a brotar uma preocupação ambiental em todo o mundo. Em
Indaiatuba, uma cidade que estava em pleno desenvolvimento na década de 1980,
não foi diferente.
Como aparece no
Plano Diretor de 1990, o zoneamento do Cidade Nova já não estava mais de acordo
com o que era ecologicamente correto, portanto “pela proximidade da zona de
preservação da captação de água da Bacia Cupini, esta localização foi revogada,
definindo-se a Zona Sul, através de várias legislações sucessivas (1973, 1977 e
1979), como área preferencial para indústrias”.
A primeira lei
que mencionou a criação de um distrito foi criada pelo prefeito Romeu Zerbini,
que encaminhou a proposta à Câmara dos Vereadores em julho de 1973. Pouco tempo
depois, quatro indústrias já haviam se instalado no local.
Tal como no zoneamento
do Cidade Nova, foram concedidos benefícios às empresas que se instalassem no
local. A lei garantia isenção de IPTU por dez anos, além de ISSQN (Imposto
Sobre Serviços de Qualquer Natureza) e taxa de licença para construção e
funcionamento. Em contrapartida, as indústrias deveriam ter pelo menos 30 funcionários.
Entrada (antiga) para o Distrito Industrial da Zona Sul, em imagem de 2009
Atualmente este trevo já foi modificado devido ao aumento de indústrias.
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO
Cenário em 2009
Em 2009, o então secretário municipal do Desenvolvimento, Edmundo José Duarte, informou que eram cinco os distritos que compunham o Distrito
Industrial: Recreio Campestre Joia, Domingos Giomi, João Narezzi, Nova Era e
Vitoria Martini/American Park. “Também está saindo um sexto distrito, com cerca
de 200 lotes industriais”, anuncia Duarte.
O mais
conhecido deles é o Campestre Joia, mas como conta a historiadora Eliana, ele
não nasceu com essa finalidade. “O Recreio Campestre, como o próprio nome diz,
era um campo, um espaço com chácaras, com o objetivo de recreação. Como os
lotes eram baratos, algumas empresas se instalaram ali, de início
irregularmente, mas depois foram se adequando e hoje são legais”, revela. O
Campestre Joia aparece também nos números do Distrito, sendo o que mais tem
funcionários.
Placa de Identificação (antiga) para o Recreio Campestre Jóia, em imagem de 2009
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO
Em 2009, a soma de todos
os distritos resulta em 28 mil funcionários, que trabalham em 651 indústrias –
o total de Indaiatuba é de 741 indústrias. Tudo isso correspondia um valor de
R$ 100 milhões arrecadados em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços).
Em matéria de
exportações, a área também representa bem a cidade. Indaiatuba é a segunda da
Região Metropolitana de Campinas (RMC) em exportações, como mostram os dados
do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior através da
Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Apenas em maio de 2009, a cidade
exportou US$ 62.566.158.
Dentro
do Estado, a posição indaiatubana em 2009 era de 12° lugar e na lista nacional,
Indaiatuba era a 52ª cidade. Segundo a secretaria de Desenvolvimento, os cinco
países que Indaiatuba mais exporta são Argentina, Venezuela, Chile, México e
Estados Unidos. Duarte comenta que “em pouco tempo Indaiatuba será a primeira da RMC em
exportações. Um negócio muito bom vem por aí e irá tornar a cidade uma potência
no setor” **, diz.
Os
bons desempenhos refletem ainda no número de novas vagas de emprego do
município. Mantendo a vice-liderança na RMC, Indaiatuba perdeu apenas para
Campinas em quantidade de novos empregados em maio de 2009. Segundo balanço do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Indaiatuba teve 625 novas vagas de
emprego - 3.120 admissões contra 2.495 demissões. No período de janeiro a maio
do ano citado como referência, foram contratadas 14.519 pessoas contra 11.652 desligamentos,
culminado com 2.867 novas vagas preenchidas.
Placas de Identificação (antigas) para o Distrito Industrial da Zona Sul, em imagem de 2009
Atualmente este trevo já foi modificado devido ao aumento de indústrias.
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO
AIMI
A Associação
das Indústrias do Município de Indaiatuba nasceu em 1974,
antes mesmo da
criação do Distrito, para auxilar e poder subsidiar as indústrias que já
existiam na cidade.
acordo com a presidente (em 2009), Carla Borges, a Aimi participou
ativamente da criação do Distrito Industrial na Zona Sul da cidade.
SENAI
Para bons
resultados de uma indústria é necessário que a empresa possua mão-de-obra
qualificada.
Pensando nisso, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial) se instalou em Indaiatuba, na década de 1990.
Duas décadas mais
tarde, a confiança em seu trabalho continua.
Segundo o secretário do Desenvolvimento, em 2009 a Prefeitura conseguiu R$ 10 milhões para investir na escola. “Serão R$ 3
milhões para a expansão - irá dobrar a capacidade do Senai – e R$ 7 milhões
para equipamentos”, revela.
CIESP
O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo é
uma sociedade civil,
sem fins lucrativos, que congrega indústrias, suas
controladoras e empresas que possuem interesses relacionados aos da indústria.
A Regional de Indaiatuba é uma das 43 Diretorias do Estado e tem como objetivo,
preservar os interesses da indústria e seus associados.
Foi inaugurada em
novembro de 1994 e tem grande representatividade na região.
Pedras no caminho
Como nem tudo são 'flores', o Distrito enfrenta alguns problemas, comuns a qualquer espaço urbano. Em 2009,a presidente da Associação das Indústrias do Município de Indaiatuba (AIMI), comentou sobre a falta infraestrutura no local. “Nossos associados sentem falta de sinalização, segurança, bombeiros, ampliação de atendimento aos filhos de funcionários, posto de saúde e transporte urbano”, aponta.
Na
opinião da historiadora Eliana, com o números de indústrias instaladas na
cidade, Indaiatuba já sofre com as consequências do tráfego pesado das
estradas. Uma medida que deveria ser adotada para solucionar o problema é o
melhor aproveitamento da nossa malha ferroviária. “Já temos a Estação de
Pimenta e a linha do trem passa por trás do Distrito. Essa linha sai de
Sorocaba e vai direto para Santos, seria muito mais prático para enviarmos nossa
produção para a exportação”, argumenta. “Sem contar que não haveria impacto
ambiental, pois ela está pronta; os riscos trabalhistas são baixos, pois
acidentes são raros; e para completar, a estação poderia ser mais um ponto
histórico na cidade”, sugere.
Mesmo diante
da crise econômica instalada no mundo após 2008, Indaiatuba foi uma das poucas cidades que cresceu
no âmbito empresarial. Nos 19 meses que antecederam maio de 2009, mais de 2600 empresas não só se
estabeleceram em Indaiatuba como aquelas que já estavam na cidade se
regularizaram motivando uma maior geração de renda e emprego para o município.
De acordo com
a Secretaria de Desenvolvimento e a Secretaria da Fazenda de Indaiatuba, foram
exatamente 2614 empresas entre indústrias, comércios e serviços que se
instalaram ou se regularizaram na cidade. No período de janeiro de 2009 até
julho deste ano foram instaladas e regularizadas 117 indústrias, 716 comércios,
1080 prestadores de serviços (pessoa jurídica) e 101 prestadores de serviços
(pessoa física).
Para o
secretário de Desenvolvimento da época, a vinda da indústria para o município movimenta
toda a cadeia produtiva, não só da área dela, mas também do setor de comércio e
serviços. “Esses números refletem muito bem o acolhimento que a cidade tem dado
aos empreendedores ao longo desse período, proporcionando boas condições de
trabalho, infraestrutura, mão de obra especializada, malha viária e qualidade
de vida”, ressalta Duarte.
Alguns fatores
foram determinantes para o crescimento da instalação de empresas na cidade como
regularização e implantação do Dimpe (Distrito Industrial das Micros e Pequenas
Empresas), o aumento da oferta de mão de obra especializada por conta da Fiec,
Fatec e Senai, rodadas de negócios, feiras, seminários, núcleo de comércio
exterior, implantação do MEI (Micro Empreendedor Individual) pelo Sebrae entre
outros. Ainda tentando fazer de Indaiatuba uma cidade mais competitiva, a
administração está estudando uma reforma na Lei de Incentivo Fiscal.
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Quer completar esse post com imagens ou informações?
Escreva para elianabelo@terra.com.br
Há uma carência sobre a história da indústria e do comércio de Indaiatuba.
O Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba aceita doações de documentos e imagens de comércios e indústrias de nossa cidade.
Não jogue nossa história no lixo!
* Eliandro Figueira é um fotógrafo profissional. Não utilize imagens feitas por ele sem CITAR A FONTE.
** Duarte referia-se ao Porto Seco, mas ele não foi viabilizado.
Texto originalmente publicado na REVISTA EXEMPLO IMÓVEIS
Agradecimentos: Sr. Aluísio William, presidente do Grupo AWR
e Débora Andrades, jornalista.
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