segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Distrito Industrial de Indaiatuba


O  'vasto e bonito'  Distrito Industrial

Apesar de, em seu hino, ser lembrado pelo seu 'campo florente tão vasto e bonito', a principal vertente econômica do 'mais lindo recanto do Brasil' é hoje proveniente do setor industrial, que faz da cidade uma das principais potências em exportação do país. Tamanha importância demanda atenção e cuidados dos órgãos públicos, exatamente como teve Romeu Zerbini, Clain Ferrari e José Carlos Tonin que viabilizaram a criação de uma área exclusiva para promover a industrialização da cidade nas décadas de 1970 e 1980. 
O resultado dos projetos é o que hoje conhecemos como Distrito Industrial. Localizado na Zona Sul, ele abriga  cerca de 87,8% das indústrias instaladas na cidade. 
Entretanto, não foi sempre assim…



Imagem Aérea do Distrito Industrial
Crédito: Eliandro Figueira *



O processo de industrialização na cidade, segundo a historiadora Eliana Belo, compreende um período que vai do início do século 20 até o fim da década de 1960, ou seja, antecede a criação do Distrito Industrial. “O início do processo de industrialização em Indaiatuba pode ser pautado na década de 1920 e até 1960 podemos consta-se que eram pouquíssimas indústrias e todas localizadas no centro da cidade”, observa, “não havia burocracias, exigências da Cetesb, nem preocupação com impacto ambiental, então as indústrias se confundiam com o espaço urbano”.

 Dentre as poucas instalações, dois exemplos podem ser citados: a Mazzoni e a Indústria de Bengalas e Muletas. As exceções, segundo a historiadora, eram as cerâmicas e olarias, mais afastadas da região central. “As olarias ficavam próximas aos locais nos quais já havia matéria-prima para fazer tijolo”, explica. Nesse caso, quem representa essa necessidade é a Cerâmica Capovilla, que se afastou do Centro após o crescimento proporcionado ao passar a enviar materiais para a construção de Brasília.














                                                                                                                   Imagem da Indústria Mazzoni S/A (cabos de guarda-chuvas)
            Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba                                                               


No fim da década de 1960, houve o primeiro zoneamento industrial que a cidade conheceu. “Ele estava entre as avenidas Presidente Kennedy e Conceição, na região do Cidade Nova”, situa Eliana. A área nasceu com uma lei de uso do solo, anunciada no Plano Diretor de 1969, como mostram arquivos da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba. “Ali não era um distrito, pois não excluía a construção de residências e comércios. Na época era como ainda é hoje: casas, estabelecimentos comerciais e indústrias - algumas que restaram na região”, analisa a historiadora.

Como motivação para a instalação dos industriários no local, a Prefeitura concedeu alguns incentivos. As empresas que se instalassem na zona não precisariam pagar pelo terreno, mas em compensação, deveriam cumprir exigências quanto ao número de funcionários e área construída. Isso trouxe empresas como a Crovel e as Metalúrgicas Ilma, Puriar, a Wolf, entre outras. Na época, Dal Canton abriu a Flex Cord (fios e cabos), mas, ao contrário dos outros proprietários, fez questão de pagar pelo terreno. “Ele aceitou se firmar ali mas quis pagar, não se sabe o porquê. Talvez medo de não cumprir as exigências ou receio de ter o terreno”, revela Eliana.



Metalúrgica ILMA
Instalada na década de 1960, em funcionamento até hoje no mesmo local
Crédito: Revista Exemplo


Para a historiadora, o que possivelmente atraiu o zoneamento para a região foi a implantação da Yammar. “A maior parte das indústrias forneciam materiais para ela”, observa. “E a Yammar foi o grande marco da industrialização da cidade na década de 1960. Em uma visão macro, ela é o símbolo e fez a diferença no desenvolvimento, atraindo migração e gerando empregos”, opina.



Yannmar
Instalada na década de 1960, em funcionamento até hoje no mesmo local, atraiu pessoas e outras empresas para Indaiatuba
Crédito: Revista Exemplo


(Veja a relação de indústria que existiam em Indaiatuba na década de 1970 aqui)

Zona Sul e os distritos

Com a evolução das cidades, começou a brotar uma preocupação ambiental em todo o mundo. Em Indaiatuba, uma cidade que estava em pleno desenvolvimento na década de 1980, não foi diferente.

Como aparece no Plano Diretor de 1990, o zoneamento do Cidade Nova já não estava mais de acordo com o que era ecologicamente correto, portanto “pela proximidade da zona de preservação da captação de água da Bacia Cupini, esta localização foi revogada, definindo-se a Zona Sul, através de várias legislações sucessivas (1973, 1977 e 1979), como área preferencial para indústrias”.

A primeira lei que mencionou a criação de um distrito foi criada pelo prefeito Romeu Zerbini, que encaminhou a proposta à Câmara dos Vereadores em julho de 1973. Pouco tempo depois, quatro indústrias já haviam se instalado no local.

A segunda foi em 1977 e a terceira em 1979, ambas sob incentivo do então prefeito Clain Ferrari (1977/1982 e 1989/1992). O primeiro distrito de fato legalizado foi, de acordo com Eliana, o Domingos Giomi. “Ele começou a ser feito no fim da década 1970 mas foi efetivamente ativado no início da década de 1980, já com o prefeito Luiz Carlos Tonin [1983/1988]”, comenta. O projeto de lei 50/85 foi aprovada com dez votos contra cinco na Câmara dos Vereadores, concedendo 33 alqueires para essa finalidade.

Tal como no zoneamento do Cidade Nova, foram concedidos benefícios às empresas que se instalassem no local. A lei garantia isenção de IPTU por dez anos, além de ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) e taxa de licença para construção e funcionamento. Em contrapartida, as indústrias deveriam ter pelo menos 30 funcionários. 



Entrada (antiga) para o Distrito Industrial da Zona Sul, em imagem de 2009
Atualmente este trevo já foi modificado devido ao aumento de indústrias.
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO


Cenário em 2009

Em 2009, o então secretário municipal do Desenvolvimento, Edmundo José Duarte, informou que eram cinco os distritos que compunham o Distrito Industrial: Recreio Campestre Joia, Domingos Giomi, João Narezzi, Nova Era e Vitoria Martini/American Park. “Também está saindo um sexto distrito, com cerca de 200 lotes industriais”, anuncia Duarte.
O mais conhecido deles é o Campestre Joia, mas como conta a historiadora Eliana, ele não nasceu com essa finalidade. “O Recreio Campestre, como o próprio nome diz, era um campo, um espaço com chácaras, com o objetivo de recreação. Como os lotes eram baratos, algumas empresas se instalaram ali, de início irregularmente, mas depois foram se adequando e hoje são legais”, revela. O Campestre Joia aparece também nos números do Distrito, sendo o que mais tem funcionários.



Placa de Identificação (antiga) para o Recreio Campestre Jóia, em imagem de 2009
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO

Em 2009, a soma de todos os distritos resulta em 28 mil funcionários, que trabalham em 651 indústrias – o total de Indaiatuba é de 741 indústrias. Tudo isso correspondia um valor de R$ 100 milhões arrecadados em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Em matéria de exportações, a área também representa bem a cidade. Indaiatuba é a segunda da Região Metropolitana de Campinas (RMC) em exportações, como mostram os dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior através da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Apenas em maio de 2009, a cidade exportou US$ 62.566.158.

Dentro do Estado, a posição indaiatubana em 2009 era de 12° lugar e na lista nacional, Indaiatuba era a 52ª cidade. Segundo a secretaria de Desenvolvimento, os cinco países que Indaiatuba mais exporta são Argentina, Venezuela, Chile, México e Estados Unidos. Duarte comenta que  “em pouco tempo Indaiatuba será a primeira da RMC em exportações. Um negócio muito bom vem por aí e irá tornar a cidade uma potência no setor” **, diz.

Os bons desempenhos refletem ainda no número de novas vagas de emprego do município. Mantendo a vice-liderança na RMC, Indaiatuba perdeu apenas para Campinas em quantidade de novos empregados em maio de 2009. Segundo balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Indaiatuba teve 625 novas vagas de emprego - 3.120 admissões contra 2.495 demissões. No período de janeiro a maio do ano citado como referência, foram contratadas 14.519 pessoas contra 11.652 desligamentos, culminado com 2.867 novas vagas preenchidas.



Placas de Identificação (antigas) para o Distrito Industrial da Zona Sul, em imagem de 2009
Atualmente este trevo já foi modificado devido ao aumento de indústrias.
Crédito da imagem: REVISTA EXEMPLO


AIMI
A Associação das Indústrias do Município de Indaiatuba nasceu em 1974, 
antes mesmo da criação do Distrito, para auxilar e poder subsidiar as indústrias que já existiam na cidade. 
 acordo com a presidente (em 2009), Carla Borges, a Aimi participou ativamente da criação do Distrito Industrial na Zona Sul da cidade.

SENAI
Para bons resultados de uma indústria é necessário que a empresa possua mão-de-obra qualificada. 
Pensando nisso, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) se instalou em Indaiatuba, na década de 1990. 
Duas décadas mais tarde, a confiança em seu trabalho continua. 
Segundo o secretário do Desenvolvimento, em 2009 a Prefeitura conseguiu R$ 10 milhões para investir na escola. “Serão R$ 3 milhões para a expansão - irá dobrar a capacidade do Senai – e R$ 7 milhões para equipamentos”, revela.

CIESP
O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo é uma sociedade civil, 
sem fins lucrativos, que congrega indústrias, suas controladoras e empresas que possuem interesses relacionados aos da indústria. 
A Regional de Indaiatuba é uma das 43 Diretorias do Estado e tem como objetivo, preservar os interesses da indústria e seus associados. 
Foi inaugurada em novembro de 1994 e tem grande representatividade na região.



Pedras no caminho

Como nem tudo são 'flores', o Distrito enfrenta alguns problemas, comuns a qualquer espaço urbano. Em 2009,a presidente da Associação das Indústrias do Município de Indaiatuba (AIMI), comentou sobre a falta infraestrutura no local. “Nossos associados sentem falta de sinalização, segurança, bombeiros, ampliação de atendimento aos filhos de funcionários, posto de saúde e transporte urbano”, aponta.

Na opinião da historiadora Eliana, com o números de indústrias instaladas na cidade, Indaiatuba já sofre com as consequências do tráfego pesado das estradas. Uma medida que deveria ser adotada para solucionar o problema é o melhor aproveitamento da nossa malha ferroviária. “Já temos a Estação de Pimenta e a linha do trem passa por trás do Distrito. Essa linha sai de Sorocaba e vai direto para Santos, seria muito mais prático para enviarmos nossa produção para a exportação”, argumenta. “Sem contar que não haveria impacto ambiental, pois ela está pronta; os riscos trabalhistas são baixos, pois acidentes são raros; e para completar, a estação poderia ser mais um ponto histórico na cidade”, sugere. 



Imagem Aérea do Distrito Industrial
Crédito: Eliandro Figueira *


DADOS SOBRE O CRESCIMENTO - 2009

Mesmo diante da crise econômica instalada no mundo após 2008, Indaiatuba foi uma das poucas cidades que cresceu no âmbito empresarial. Nos 19 meses que antecederam maio de 2009, mais de 2600 empresas não só se estabeleceram em Indaiatuba como aquelas que já estavam na cidade se regularizaram motivando uma maior geração de renda e emprego para o município.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento e a Secretaria da Fazenda de Indaiatuba, foram exatamente 2614 empresas entre indústrias, comércios e serviços que se instalaram ou se regularizaram na cidade. No período de janeiro de 2009 até julho deste ano foram instaladas e regularizadas 117 indústrias, 716 comércios, 1080 prestadores de serviços (pessoa jurídica) e 101 prestadores de serviços (pessoa física).

Para o secretário de Desenvolvimento da época, a vinda da indústria para o município movimenta toda a cadeia produtiva, não só da área dela, mas também do setor de comércio e serviços. “Esses números refletem muito bem o acolhimento que a cidade tem dado aos empreendedores ao longo desse período, proporcionando boas condições de trabalho, infraestrutura, mão de obra especializada, malha viária e qualidade de vida”, ressalta Duarte.

Alguns fatores foram determinantes para o crescimento da instalação de empresas na cidade como regularização e implantação do Dimpe (Distrito Industrial das Micros e Pequenas Empresas), o aumento da oferta de mão de obra especializada por conta da Fiec, Fatec e Senai, rodadas de negócios, feiras, seminários, núcleo de comércio exterior, implantação do MEI (Micro Empreendedor Individual) pelo Sebrae entre outros. Ainda tentando fazer de Indaiatuba uma cidade mais competitiva, a administração está estudando uma reforma na Lei de Incentivo Fiscal. 


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Quer completar esse post com imagens ou informações?
Escreva para elianabelo@terra.com.br

Há uma carência sobre a história da indústria e do comércio de Indaiatuba.
O Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba aceita doações de documentos e imagens de comércios e indústrias de nossa cidade. 
Não jogue nossa história no lixo!



* Eliandro Figueira é um fotógrafo profissional. Não utilize imagens feitas por ele sem CITAR A FONTE. 
** Duarte referia-se ao Porto Seco, mas ele não foi viabilizado.



Texto originalmente publicado na REVISTA EXEMPLO IMÓVEIS 
Agradecimentos: Sr. Aluísio Williampresidente do Grupo AWR
Débora Andradesjornalista.





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