quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Um post para os historiadores do futuro: a pandemia do Covid 19 e a cloroquina em Indaiatuba

A pandemia do vírus Covid-19 abalou o mundo no ano de 2020 e continua abalando em 2021. 

Pelo que se sabe até agora, a doença teve origem provável em animais hospedeiros e foi inicialmente detectada na China. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em 30 de janeiro de 2021, que era um surto de emergência de importância internacional, mas em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada, pela mesma organização, como sendo uma pandemia.

No Brasil, o primeiro caso notificado da doença foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020 e hoje, dia 16 de setembro de 2021, o número de vítimas no país é mais de 588.640, sendo mais de 21.032.268 casos.  Em Indaiatuba, o número de casos soma-se 27.119 e o de óbitos é de 717, com uma letalidade acima da média nacional (a média no Brasil é de 2,42% de número de mortos em relação aos infectados  em Indaiatuba é de 2,64%).

Além de todas as questões relacionadas a saúde pública na esfera mundial, o que se testemunhou e ainda se testemunha é uma combinação de desinformação e ataques à ciência, elevada como inimiga da economia por políticos diversos, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e do Brasil, Jair Bolsonaro, que influenciaram, por sua vez, uma grande parcela da classe média - que embarcou na falácia de que “produzir é mais importante do que viver” em um período em que não tínhamos vacinas nem remédios comprovados, agravando os índices de óbitos pela doença – sendo que um dos parcos recursos para se evitar esses números elevados era (e ainda é, somado a vacina que foi desenvolvida em tempo recorde) o máximo de isolamento social possível, aliado ao uso de máscaras e higienização das mãos. 

Neste cenário, espalharam-se rapidamente as fake news sobre um tratamento não comprovado: o uso dos medicamentos cloroquina/hidroxicloroquina; que, inclusive, passou rapidamente do status imediato de “não comprovado” para “ineficaz e prejudicial” não só por vários cientistas em publicações reconhecidas por seus pares, mas na prática médica. Milhares de pessoas foram (e ainda são) expostas às mentiras e desinformação dessas fake news em proporções também pandêmicas através, principalmente, do Instagram, Facebook e Whatsapp. Atualmente, as duas primeiras plataformas citadas fazem uma anexação automática em postagens sobre a pandemia - avisando sobre o cuidado que se deve ter quanto a tratamentos com remédios ineficazes e sobre a importância da vacina; mas até chegarmos aí, o número de vítimas das duas pandemias – a do Covid e a produzida por dos mentirosos compulsivos e irresponsáveis – é gigantesco, revoltante, triste - e as consequências jamais poderão ser mensuradas com acurácia.


O presidente Jair Bolsonaro foi o maior influenciador digital da cloroquina no Facebook. Em todo o mundo, nenhum usuário da plataforma provocou tanto engajamento ao citar o remédio – o resultado foi uma onda de desinformação sobre seu uso no tratamento de covid-19. As postagens que ele publicou sobre o assunto geraram 11 milhões de interações e 1,7 milhão de compartilhamentos na rede social. Bolsonaro foi também um dos políticos que geraram mais engajamento ao fazer postagens sobre outros medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19: ivermectina (157 mil interações); azitromicina (750 mil) e nitazoxanida (231 mil). Depois de tudo isso, ele negaria descaradamente que fez lobby para tratamentos ineficazes.

Quando o verme é pior do que o vírus.


O prefeito, a pandemia e o tratamento precoce

Já em Indaiatuba, o prefeito Nilson Alcides Gaspar, em suas muitas e necessárias declarações sobre a pandemia (inclusive em muitas notas e lives que você pode conferir no Facebook da Prefeitura Municipal) não embarcou insistentemente na defesa acirrada de nenhum tratamento medicamentoso e também não defendeu ofensivamente a ineficácia da cloroquina ou outro placebo/recurso charlatão. 

Pelas suas manifestações públicas, podemos concluir que ele acatou o discurso de liberdade de cátedra, transferindo para os médicos a responsabilidade por receitar ou não o medicamento. Mas registre-se que, mesmo sofrendo pressões políticas advindas da turminha do “a fonte do meu sustento é mais importante do que tudo”  o prefeito defendeu o isolamento social, a higienização das mãos, uso de máscara e foi - e ainda é - o garoto-propaganda do plano de vacinação municipal, defendendo e incentivando o uso de todas as vacinas, independente da marca. Por outro lado, foi muito criticado por deixar de comandar fiscalizações em intensidade adequada em pontos comerciais, festas clandestinas e outros locais onde havia aglomerações.



O prefeito municipal Nilson Gaspar defendeu o plano de vacinação contra a Covid-19 e declarou, em entrevista à Rádio Jornal de Indaiatuba no dia 15/09 que a pandemia foi pior momento de sua carreira de 25 anos na vida pública, excedendo de longe somente outros três fatos: (1) a destruição provocada pelo tornado de 2005, (2) a crise hídrica de 2014 que desafiou a implementação do rodízio de abastecimento e (3) a greve dos caminhoneiros em 2018 (uma paralisação política, hoje sabemos) - que ameaçou o abastecimento de produtos para tratamento da água e insumos médicos e hospitalares, entre outros.


400 cruzes foram fincadas no entorno da Prefeitura Municipal de Indaiatuba em alusão as 400 vítimas de Covid de Indaiatuba em março de 2021. Após o protesto organizado por Carleans Brito, a população se manifestou, (a) parte desaprovando a "invasão de uma área pública" - reproduzindo o argumento utilizado pela prefeitura para retirar as cruzes no mesmo dia - e  (b) parte - a maioria - aprovando por ser um meio de homenagem póstuma e conscientização.



A Câmara Municipal e a APM - Associação Paulista de Medicina Indaiatuba

Quando se pesquisa as fontes documentadas da Prefeitura Municipal, mais especificamente da Secretaria de Saúde, encontra-se as evidências de que medicamentos de uso não comprovado foram adquiridos e distribuídos (veja um dos pregões abaixo).

Já a Câmara Municipal - e seus vereadores -, que tem como dever fiscalizar, debater e até denunciar as ações do Poder Executivo - se manteve calada, exceto pela documentação que você pode conferir abaixo, que corrobora com a "defesa de cátedra" dos médicos. 




Ofício emitido em agosto de 2020, pelo gabinete do vereador Alexandre Peres, solicitando informações sobre a "invermectina". Abaixo, cópia da Imprensa Oficial do Município referenciada.




 
Resposta ao Ofício supra, relatando sobre a invermectina, cloroquina e hidroxicloroquina. O conteúdo do Ofício da Câmara Municipal como a resposta da Associação Paulista de Medicina de Indaiatuba não foram para plenário, ficou restrito ao Gabinete do vereador solicitante.


Conclusão

A História não tem em si apenas a função narrativa baseada em evidências; mais do que isso, ela deve ser uma lição para entender o presente e evitar os mesmos erros no futuro. 

Essa lição não está sendo aprendida de forma eficaz uma vez que  "pandemia" é um conceito que vem sendo tratado não com a objetividade científica requerida a favor da VIDA, mas como um acontecimento discursivo onde forças contrárias disputam a verdade - ou optam pelo silêncio ou posicionamentos relativos, leigos, incompletos, dissimulados, ingênuos, manipulados e manipuladores, oportunistas e/ou mentirosos e até violentos para obter vantagens e prover desvantagens.

A crise no jornalismo investigativo e as redes sociais colaboraram - e muito - não só para o fortalecimento e divulgação dessa linguagem leiga e perversa que só agravou o desentendimento e a desconstrução dos laços sociais - mas que provocou a MORTE de incontáveis vítimas da Covid.


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Ultimamente, com o avanço da vacinação, os defensores do "tratamento precoce" foram sumindo paulatinamente das mídias, de onde nunca deveriam ter aparecido, a não ser para servirem de lição que nunca mais deve ser feita.

Viva a Ciência.

Viva o SUS.



Pós escrito (1) - 22/05/2022


No domingo, dia 22 de maio de 2022, o Presidente Bolsonaro anunciou  o fim do estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), decretado em função da pandemia no Brasil. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, havia assinado a portaria em 22 de abril, com prazo de 30 dias para a medida entrar em vigor. O documento revoga o texto que estava valendo desde fevereiro de 2020.
E no dia seguinte, o presidente Jair Bolsonaro revogou,  o Decreto 10.659, de 2021, que instituiu o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da covid-19. Entre os membros do grupo estavam representantes da Presidência da República e os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, respectivamente. Ao todo, 23 decretos de combate à pandemia foram revogados por Bolsonaro e governo estima que, em consequência disso, mais de duas mil normas relacionadas ao assunto serão suspensas em todo o país.

Fonte: Agência Senado


Pós escrito (2) - 17/09/2022




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