sexta-feira, 14 de agosto de 2009

17 de agosto - Dia do Patrimônio Histórico

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Dia 17 de agosto é dia do Patrimônio Histórico. A data foi escolhida na ocasião do centésimo aniversário de nascimento do advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 17 de agosto de 1988.

.O mineiro Rodrigo (1898/1969) foi o criador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional– IPHAN (http://www.iphan.gov.br/) em 1937, e diretor da Instituição durante mais de 30 anos (1937/1968).
"a educação popular é o meio mais eficaz de assegurar a defesa do
patrimônio histórico e artístico nacional".
Rodrigo Melo Franco de Andrade
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Da esquerda para a direita: Portinari, Antonio Bento, Mário de Andrade e Rodrigo Melo F. de Andrade, em 1936.

A maior importância das datas alusivas é a oportunidade de divulgação de informação, reflexão e conscientização. Concordando plenamente com a frase de Rodrigo, o presidente do Conselho de Preservação da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, o professor Lauro Ratti, sempre diz que:

"conversar sobre o assunto com as partes interessadas (ou não), com os alunos, com políticos, autoridades, enfim, com toda a comunidade é a melhor forma de desenvolver nos cidadãos a consciência sobre a importância, respeito e amor pelo nosso patrimônio."

E ele sabe o que diz, pois, infelizmente, durante o período de atividade desse Conselho, temos a registrar que sucessivamente ele perdeu as atribuições legais que possuia, não tendo hoje praticamente nenhuma força legal ou regulatória. Resta, então, fazer um trabalho educativo, contínuo, insistente, como por exemplo várias ações que são feitas pela própria Fundação Pró-Memória sob a gestão operacional do superintendente Marcelo Cerdan, por educadores, por cidadãos simpatizantes à causa, e -como destaque entre estes- apontaria Antonio da Cunha Penna (com a construção de seu acervo fotográfico) e Paulo Lui, que sempre disponibiliza suas salas de cinema (entre outras ações) para eventos de valorização do nosso patrimônio. (Perdoe-me os outros que hora não cito).

A Fundação Pró-Memória, merece nobre citação e merecido reconhecimento. O trabalho da organização, identificação, manuseio, preservação e disponibilização dos substratos que compõem o arquivo permanente (haja pó!), o cotidiano na biblioteca do Casarão, as exposições preparadas com critério e carinho pelo pessoal do museu e demais eventos culturais são hoje um motivo de orgulho para nossa Indaiatuba no esforço concreto da valorização do nosso patrimônio. Foi pela ação (ou melhor, pressão) da Fundação, que no ano de 2008 o prefeito José Onério ratificou os processo de tombamento de 7 bens de nossa cidade (veja em http://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2009/02/patrimonio-tombado-em-indaiatuba.html). Uma vitória e tanto para nosso patrimônio!

E para tudo isso acontecer, temos que reconhecer e agradecer especialmente a persistência e dedicação de Antonio Reginaldo Geiss, o "Rodrigo Melo" de Indaiatuba, presidente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, aquele que sempre e incansavelmente trabalhou para viabilização e agora trabalha para o fortalecimento da Fundação. Na contra-mão vemos o descaso de parte do poder público para com o patrimônio. Mas não é sobre a portaria e o portão do cemitério, a venda da casinha de Itaici, as casas históricas que ruem da noite para o dia, a falta da presença efetiva das autoridas na audiência pública sobre a obra de ampliação do Aeroporto, etc. etc... que quero falar hoje.

Hoje é dia de valorizar as pessoas comprometidas, os voluntários e funcionários da Fundação Pró-Memória, os professores de História e demais educadores que aplicam ferramentas educativas em pról à valorização do nosso patrimônio, o Linho, que é um vereador que sabemos lutar transparentemente pela causa, os jornalistas que denunciam, fiscalizam...

É dia de valorizar quem preserva nossas igrejas, templos, praças, monumentos, árvores.

É dia de reconhecer o esforço das comunidades negra, suiça, alemã, italiana, nordestina e japonesa de nossa Indaiatuba em preservar seus costumes e seu passado. É dia de parabenizar quem disponibiliza seus documentos e imagens particulares para arquivos públicos.
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É dia de lembrar que quem não tem memória, não tem identidade. E sem identidade... quem somos nós?
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Anexo a seguir o texto que foi publicado no Correio Popular no dia 17/08/2009, do juiz de Direito de Campinas Fábio Henrique Prado de Toledo
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PATRIMONIO, FOLCLORE E DIGNIDADE

.Hoje se celebra o Dia do Patrimônio Histórico e, no próximo 22 de agosto, comemoramos o folclore. Ainda que com conotações diferentes, ambos possuem notáveis pontos comuns, na medida em que buscam preservar dados da cultura e do modo de viver de um povo para as futuras gerações. Poucos ousariam sustentar que não é importante cultivar os costumes e tradições populares transmitidos de geração em geração (folclore) ou mesmo preservar os bens que possuam valor significativo para uma sociedade, no caso o patrimônio histórico. Mas para que de fato estejamos convencidos, há de se buscar razões suficientemente fortes para isso.
Certa vez, num desses seriados de TV, uma mulher se empenhou com todas as suas energias em evitar que fosse demolida uma casa antiga que havia em seu bairro. Após muito insistir sem que lhe dessem ouvidos, tomou um megafone e passou a discursar diante do imóvel a uma pequena plateia que, na verdade não procurava por ela mas por um grupo de rock que se apresentaria logo após. E, então, ela começou a elencar uma série de argumentos. E todos eles começavam com a mesma frase: “essa casa é muito importante para mim porque...”. Isso ilustra uma postura egoísta e não raras vezes interesseira que muitas vezes se esconde por detrás de ideais mais nobres. Com efeito, expunha essa personagem do filme que a preservação era importante para ela. Antes disso, porém, há de se perguntar se a iniciativa é relevante para a comunidade como um todo, e não se simplesmente lhe proporcionaria uma satisfação pessoal.
E quando a preservação histórica é objetivamente relevante? Penso que quando está a serviço da promoção da dignidade humana. As formas de vida, os costumes, a comida, a cultura, enfim, o modo de ser das pessoas que nos antecederam apontam para aspectos que foram específicos de uma determinada época. E é interessante que conheçamos isso, pois então poderemos, ao confrontar com o nosso modo de vida atual, apontar os aspectos positivos e negativos do progresso. Por exemplo, comparando nosso modelo de sociedade atual com o de algumas décadas atrás, poderemos constatar que muito se evoluiu na rapidez da comunicação, porém, que muito se perdeu no convívio familiar. Portanto, há de se fomentar uma visão crítica do desenvolvimento, que nos permitirá avaliar o que houve de bom nisso, para então aprimorar, e o que se produziu de prejudicial ao homem, para então retificar.
Mas nesse debruçar sobre o modo de vida dos antepassados, assim como sobre a cultura, se soubermos olhar em profundidade, também notaremos que há algo de universal e imutável nos seres humanos de todos os tempos e locais. Notaremos, por exemplo, em todos um anseio de vida e felicidade, ainda que diversos tenham sido os caminhos concretos pelos quais buscaram concretizar esses anseios. E aqui encontraremos, então, o mais importante patrimônio histórico: o próprio homem, em sua integralidade.
Essa visão do homem e da história se mostra tanto mais importante de ser salientada num mundo em que, como adverte o Papa Bento XVI, ganha força o fenômeno do nivelamento cultural, que ele define como uma “homogeneização dos comportamentos e estilos de vida”, no qual se perde “o significado profundo da cultura das diversas nações, das tradições dos vários povos, no âmbito das quais a pessoa se confronta com as questões fundamentais da existência” (Carta Encíclica Caritas in veritate).
De fato, a nossa juventude é massacrada por uma forma de vestir que se traduz no jeans bem abaixo do umbigo, numa linguagem eletrônica bem definida sem a qual ninguém lhe dá ouvidos e numa “necessidade vital” de um aparelho celular, sem o que se estará condenado a ser um excluído.
A preservação das tradições folclóricas e do patrimônio histórico, nesse contexto, revela-se como algo essencial. É que com isso se formarão organismos vivos que apontam para diferentes formas de vida, de cultura, de gostos das gerações passadas, e serão então um convite a uma saudável rebeldia contra a imposição massificadora da cultura atual. Mas há de se traduzir também em algo que aponta para uma essência universal e imutável no ser humano: a sua condição de filho de Deus e, como tal, dotado de uma infinita e incondicional dignidade.
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