segunda-feira, 4 de abril de 2022

O prédio do Correio

 Nossa linda Agência dos Correios da Praça Prudente de Morais

Texto de Charles Fernandes

Arquiteto e Urbanista


A atual "Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos", ou simplesmente "Correios", empresa pública federal responsável pela execução do sistema de envio e entrega de correspondências no Brasil iniciou seu processo de modernização a partir de 1931 quando Getúlio Vargas criou o Departamento de Correios e Telégrafos (DCT). 

Nesta época, seus edifícios são caracterizados pelo estilo eclético ART DECO que utiliza volumes e composições geométricas. Assim como diversos outros edifícios públicos de meados do século XX, as novas unidades do DCT vão sofrendo influência do Movimento Modernista e assumindo uma nova linguagem arquitetônica. Somente em 1969 o DCT torna-se a Empresa de Correios e Telégrafos subordinada ao Ministério das Telecomunicações.

O prédio do correio de Indaiatuba foi projetado no ano de 1947, tendo sofrido seguidas paralizações na obra, somente foi entregue no ano de 1962, quando a responsabilidade da construção foi passada para o engenheiro Abílio Aranha. 

Longe de Indaiatuba,  na primeira metade do século XX, o Edifício do MEC no Rio de Janeiro, torna-se o primeiro prédio corbusiano no mundo e um marco para a arquitetura modernista mundial, tendo sido projetado em 1936 por Lucio Costa e tendo na equipe o jovem arquiteto Oscar Niemeyer,  definitivamente concluído e entregue em 1945. Isso ilustra como o uso dos pilotis, e de outros elementos modernistas, no prédio do correio de Indaiatuba, já no ano de 1947, apenas dois anos após a entrega do prédio do MEC, acompanha a vanguarda da arquitetura mundial. 

Na agência de Indaiatuba podem ser observadas ideias inovadoras, e que se mantém extremamente atuais, e tornam o prédio referência para a época e local. São destaques no edifício: o uso de estrutura em pilotis, que se remetem a Le Corbusier, famoso arquiteto que influenciou Niemeyer e Lúcio Costa no Brasil; planta livre, janelas contínuas, brise soleil e estrutura independente do pavimento superior. Estas soluções fizeram com que este prédio fosse influência para muitas construções da época, tanto residenciais, quanto comerciais. 

O movimento modernista na arquitetura do início do século XX apresenta oposição ao ecletismo já em declínio na época. As plantas ecléticas baseadas em cômodos, são substituídas pelo "espaço livre" enquanto a "composição de fachada eclética" em geral adotando algum "estilo" da moda, foi substituída pela estrutura aparente, espaços, volumes geométricos que derivam da função e aberturas contínuas, típicos de uma construção que tende ao racionalismo. 

No prédio modernista indaiatubano, o uso de telhado de telhas de marselha, as esquadrias em ferro fundido pequenas dentro de molduras largas e o excesso de vedações no pavimento térreo, expõe algumas dificuldades, tanto de projeto em lotes urbanos, quanto de disponibilidade de materiais e mão de obra na época, para se implantar ideias modernistas.

Assim como muitas construções de uso público, ou prédios executados para receber equipamentos importados, em um país em constante desenvolvimento, Indaiatuba conta com vários ícones de sua arquitetura, construídos a partir de um projeto TIPO, ou um projeto padronizado, criado para ser implantado em várias localidades que, em determinada ocasião, necessitavam do mesmo serviço. O mais importante projeto TIPO de nossa cidade é a Estação Ferroviária Urbana, cujo projeto também foi implantado com pequenas diferenças nas cidades de Angatuba e Piapara; outros exemplos são a Caixa d'água metálica da Estação de Itaici, a Estação Pimenta, a tuia do Casarão do Pau Preto e o Pontilhão Ferroviário da rua 9 de Julho. Não seria de se espantar, que um prédio tão à frente de sua época, como os correios de Indaiatuba, não tivesse similares no país, indicando que nossa cidade embarcou no projeto de desenvolvimento dos correios iniciado por Getúlio Vargas em 1931. Ao que se sabe nossa agencia dos correios de Indaiatuba, possui alguns similares no país, ao menos nas cidades de Montenegro e Lajeado no Rio Grande do Sul, Missão velha no Ceará e Lapa no Paraná.

Lajeado (RS) 

Missão Velha (CE)

 Lapa (PR)

 Montenegro (RS)

O edifício dos Correios foi reformado na década de 90 e perdeu muito de sua linguagem original, paradoxalmente recebendo molduras e adornos, elementos aos quais, a renúncia de seu projeto original conferiu-lhe originalidade e vanguarda. Ilustrando como símbolos antigos da arquitetura vernacular podem prevalecer, apesar da modernidade e de forma tão tardia.


Vista aérea da Praça Prudente de Morais, prédio do Correio está na esquina do lado esquerdo



A construção do prédio do correio de Indaiatuba foi interrompida várias vezes, e em seguida retomada. Essa imagem é de uma das vezes que a obra estava parada. O local servia de moradia para um conhecido "tipo popular" da cidade: o Dito de Jeró, que o primeiro sentado, à esquerda.



Correio de Indaiatuba - Praça Prudente de Morais
Na rua Candelária, onde se vê o ônibus estacionado, era a "Rodoviária"




Rua Candelária, do lado esquerdo é o prédio do Correio. Nessa época, do lado direito era a Barbearia do Clóvis e a loja do Chain (produtos expostos na calçada).
Acervo pessoal de Jaime José Pozzan (Dinossauros de Indaiá)



Esquina das ruas Candelária e Cerqueira César. Do lado do prédio do Correio, vê-se o antigo estacionamento da Prefeitura Municipal


Correio de Indaiatuba -  década de 1960



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